Um outro Giovani Cidreira
“É pura experimentação pra mim, pela primeira vez escrevi músicas a partir de batidas, escrevi sobre minha cor, a iminência da guerra de todo dia escancarada na nossa porta, deixei a porta aberta pra receber direções que não daria, músicas que não ouvia, tentando mudar de verdade, arrumando meu quarto, mais cuidadoso”, Giovani Cidreira se escancara ao falar de sua nova fase, que começa a ser apresentada agora, com seu primeiro single, “Pode Me Odiar”, lançado aqui no Trabalho Sujo. Depois de sair de Salvador com seu disco de estreia Japanese Food debaixo do braço, ele mudou completamente sua abordagem musical ao viver na correria dos festivais independentes pelo Brasil e o corre-corre diário de São Paulo, onde está morando. A faixa é o prenúncio do novo disco, Nebulosa Baby, que está programado para sair no meio do ano e será precedido pela Mixtape/Mistake, complementar ao álbum, que será lançada ainda em março.
Uma balada R&B em câmera lenta, seu ar contemplativo contrasta com a poluição digital sugerida por seu “lírico-vídeo”, feito por Gabriel Rolim, que superpõe o ambiente visual do Whatsapp com suas trocas de mensagens, áudios, vídeos e selfies. “Rolim trouxe o visual no meio pro fim do processo – isso foi louco. Você vai ouvir a mix e vai ver o visual, parece que foram feito juntos”, conta. Citados no vídeo, alguns dos cúmplices da nova faceta do cantor e compositor baiano, como o guitarrista dos Boogarins Benke Ferraz (produtor do novo disco), o diretor do vídeo, a cantora sergipana Marcelle Equivocada, a multinstrumentista baiana Jadsa Castro, a cantora e compositora baiana Josyara e Rafaela Piccin, uma das donas da Casa Vulva. Não são os únicos: “A mixtape tem seis componentes: Jadsa Castro que canta em ‘Mano Sereia’ e ‘Oceano Franco’, parceria com Caio Araujo – feat com o melhor Frank deste século -; Benke, que fez toda a parte musical comigo; Letícia Brito e Gabriel Rolim sao os outros dois componentes dessa banda. Letícia foi quem olhou esse caminho até antes da gente e juntou todas as ideias, as cartas na mesa, pistola sem trava, aquela coisa.” O disco, gravado no início deste ano, ainda conta com participações de nomes como Ava Rocha, Luiza Lian, Fernando Catatau, Luê, Lucas Martins (baixista que toca com a Céu e com Curumin), Dinho Almeida e Ynaiã Benthroldo (dos Boogarins), Obirin Trio e integrantes da banda Maglore.
“Tudo começa ao mesmo tempo: as mudanças internas refletem na nossa roupa, no jeito de falar. O caminho mais difícil é o do espelho. Deixei rolar bem mais, Benke e eu trocamos algumas ideias e ele foi lá em casa, a gente não sabia de nada, fomos fazendo na doida, tendo ideias e jogando elas pro ar, eu, ele e Jadsa que participou desde o primeiro encontro e é figura essencial nessa compilação. Algumas músicas foram gravadas em casa ou na rua, por áudio de Whatsapp. Coisas que gravei na Casa Vulva de reuniões que fazíamos lá, tem uma faixa que Benke misturou parte desses áudios que gravei em casa com gravação em estúdio que fizemos na Red Bull. A mixtape tem isso de apresentar retalhos de coisas que vão surgir na segunda parte dela que virá em forma de disco ou clipe ou sei lá”, divaga o baiano sobre esta nova fase.
“Você só percebe que tá entrando num onda quando você está nela”, continua Giovani, falando sobre o processo. “Quando terminei ‘Pode me Odiar’ olhei pra trás, pro caminho que eu estive criando com esse grupo de músicas que vai entrar na mixtape, e vejo como ela sintetiza o que fui e o que sou agora sonoramente, as novas escolhas sem jogar nada fora. Foi um desabafo, mais uma vez fugindo do pensamento de como eu machuco tanto até quem amo tanto. Ano passado encontrei Benke no Recife, entre shows e entrevistas nos gravamos a música no modo bem Benke: primeiro o beat do teclado Casio e os acordes também ao estilo Roberto, depois da voz gravada no celular e Benke foi adicionando efeitos, percussão, vocoder, graves e todo lance que levou a música pra o que ela é agora. E soa leve. Ele é foda, adoro as escolhas dele, admiro sua sagacidade.”
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