Um Dia na Vida, de Eduardo Coutinho

, por Alexandre Matias

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O penúltimo filme do mestre documentarista recém-falecido Eduardo Coutinho chama-se Um Dia na Vida e não pode ser exibido comercialmente, devido a questão de direitos autorais. O motivo é óbvio: o filme é uma edição de uma hora e meia de dezenove horas de material registrado no Rio de Janeiro entre a manhã do dia 1° e a madrugada do dia 2 de outubro de 2009 em diferentes canais da TV aberta. O resultado é uma colcha de retalhos bizarra e contraditória, o tecido esquizofrênico que mistura família, violência, consumo, obsessão por forma física e religião que constitui o espelho cruel que nossa televisão serve à brasilidade.

Propagandas de brinquedos, cervejas, dietas e remédios, Marca Goldsmith, telenovelas brasileiras e mexicanas, Wagner Montes, câmeras escondidas ou postas em helicópteros, Chaves e o Jornal Nacional, crimes reencenados, Sandra Annenberg, Ana Maria Braga tocando Guitar Hero, uma entrevista com Dr. Rey e outra com Lula, Sônia Abrão, televangélicos de todos os tons, Sílvio Santos dormindo com uma cachorra, panicats, infomerciais e Amaury Júnior – tudo tirado de contexto e dando ao Brasil uma aura de mosaico de bestas mitológicas. Tudo ainda ganha contornos ainda mais surreais quando nos deparamos com reportagens sobre a candidatura do Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016 ou o Massacration tocando com o Falcão fantasiado de faraó em um premiação da MTV.

Com a morte do cineasta no último domingo, o filme foi parar no YouTube – e funciona como uma apresentação à queima-roupa de um Brasil pouco vendido lá fora. É tão hilário quanto desagradável e constrangedor – o que dá uma boa medida do longo caminho que temos pela frente como nação. Assista antes que tirem do ar:

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