Lindo o show que Gui Amabis fez nesta quinta-feira no Sesc Pompeia para mostrar, em grande estilo, o seu ótimo quinto disco, lançado no primeiro semestre deste ano, Contrapangeia. Escudado por dois velhos compadres cada um a seu um lado no palco – o violonista Regis Damasceno e o tecladista Zé Ruivo – ele foi acompanhado por um orquestra de câmara de 18 músicos e transpôs ao vivo o disco na íntegra, incluindo as participações de Manu Julian e Juçara Marçal, que encerrou a apresentação com a bela “Nesse Meio Tempo”, que também encerra o disco. Gui aproveitou a oportunidade única para reler naquela formação algumas músicas de discos anteriores (como “O Deus Que Mata Também Cura” de seu disco de estreia, Memórias Luso-Africanas, de 2011; e “Pena Mais Que Perfeita”, esta com Juçara, que a regravou em seu disco de estreia, e “Merece Quem Aceita”, do disco seguinte, Trabalhos Carnívoros, de 2012) e encerrou com um bis com uma versão deslumbrante para “Graxa e Sal”, de seu terceiro álbum, Ruivo em Sangue, de 2015, e fez todo mundo sair flutuando.
Eu sabia que ia ser bom, mas não estava preparado pra tanto. Desde a primeira vez que vi Chica – que agora assina Francisca Barreto – tocar seu violoncelo e soltar sua voz, sabia que ela tinha tudo que precisava para ser uma cantora forte e intensa, mesmo que, pessoalmente, seu jeito meio tímido e inseguro, a forma como acompanha as conversas com o olhar e a hora improvável que solta piadas inusitadas, desse uma ideia de alguém que ainda está tateando seu rumo artístico – e de alguma forma, ela ainda está, afinal acabou de fazer seu primeiro show solo da vida nesta terça-feira. Mas há uma luz, uma certeza, uma força tanto na forma como apresenta as canções, como na entrega que se joga nos instrumentos que toca que mostram que ela está segura num degrau acima, com a consciência de sua presença artística, mas ainda desacreditada de onde seu potencial pode levá-la. Nos últimos anos, ela tomou um choque de realidade que mostrou que ela está pronta para dar saltos mais ousados, ao ser descoberta pelo irlandês Demian Rice, conhecido por tocar sozinho nos palcos pelo mundo, não pestanejou a dividir os holofotes com o músico solitário. Em turnês por diferentes partes do planeta, ela ganhou confiança suficiente para topar algo que propunha a ela há tempos, mas que ela titubeava em saber se era a hora certa, mas na hora em que subiu no palco sozinha para mostrar sua faceta artística sem estar em dupla ou num grupo, o palco era dela. Começou a noite com a mesma resposta que deu ao próprio Rice quando ele a colocou para começar seus shows antes de sua entrada, entregando seu cello e voz a uma das canções mais emblemáticas de Milton Nascimento, “Ponta de Areia”. Dali em diante, ela estava em pleno voo, seja defendendo suas próprias canções ao lado de músicos com quem vem tocando há pouco tempo (como o guitarrista Victor Kroner, o violinista Thalis Hashiguti e a baterista Bianca Godoi), seja tocando cello, violão ou piano. seja dividindo canções com suas irmãs de palco Sophia Ardessore (em “Copo D’Água”) e Nina Maia (em “Gosto Meio Doce”) ou fazendo todos se arrepiar com uma versão de “Little Green” de Joni Mitchell. Mas o ápice da noite foi o final do show, quando fez uma versão inacreditável para “Teardrop” do Massive Attack com sua banda, deixando sua voz soar plena, como deve ser, num momento único de 2024 que quem viveu sabe. O bis veio com a mesma formação e com as presenças de Nina e Sophia numa versão linda e intensa para “Habana” de seu professor de cello, Yaniel Matos. Obrigado por essa noite mágica, mulher – e você pode assinar seu nome completo, mas vou estar aqui como desde o início aplaudindo e pilhando: voa Chica!
E reunindo sua atual banda para repassar seu repertório e visitar algumas músicas alheias, Pélico encerrou a sua temporada Cá Com os Meus Botões no Centro da Terra com o astral lá em cima. Acompanhado por Richard Ribeiro (bateria), Jesus Sanchez (baixo), Regis Damasceno (violão e guitarra) e Pedro Regada (piano e teclados), o cantor e compositor também cantou músicas que alguns fãs pediram anteriormente (como “Se Você Me Perguntar” e “Descaradamente”, ambas tocadas no bis) visitou Lô Borges via Milton Nascimento (“Para Lennon e McCartney”) e Renato Russo (“Vinte e Nove”, desta vez só com Regis) e contou com a presença surpresa do novato Kaboom 23, com quem dividiu uma música (“Coração Congelado”, que fizeram no palco) lançada em 2021. Uma noite quente para encerrar uma temporada emotiva – e rejuvenescedora, para o público e para o artista.
A casa de shows Áudio estava lotada neste sábado quando Marcelo D2 veio com seu grupo Um Punhado de Bambas para a festa de lançamento do Toca UOL, nova editoria de música brasileiro do portal citado, transformando sua apresentação numa roda gigante de samba, em que ele era o único músico de pé na maior parte do show, enquanto todos os músicos o cercavam sentados em roda. Usando seu disco mais recente, Iboru, como base da apresentação, ele também visitou seus sambas de discos anteriores (como “1967” de seu disco de estreia e “Pode Acreditar (Meu Laiá Laiá)”, parceria com Seu Jorge no disco A Arte do Barulho) e passeou por clássicos do gênero, cantando Zeca Pagodinho (“Maneiras” e “Cabô Meu Pai”, que usou para encerrar o show), Fundo de Quintal (“Lucidez”), Beth Carvalho (“Água de Chuva no Mar”, que dividiu os vocais com sua companheira Luiza Machado, que também é vocalista na banda) e Leci Brandão (numa versão da pesada de “Zé do Caroço”). fazendo todo mundo cantar junto. Sempre falando pacas entre as músicas – afinal, é o D2 – ele estava abalado pela morte de duas pessoas próximas à banda e ainda deu sua alfinetada no atual prefeito de São Paulo para deixar claro sua posição política na véspera da eleição paulistana, mas nem isso tiro o gás da apresentação, que só pecou por ser curta e não ter um bis. Showzaço.
E a primeira edição do Inferninho Trabalho Sujo na Porta Maldita seguiu exatamente a premissa que cogitei quando bolei a festa há pouco mais de um ano, reunindo três bandas novíssimas que não se conheciam e que trouxeram seus pequenos públicos para assistir inclusive aos shows das outras bandas, criando aos poucos a sensação de que aquilo que está acontecendo ao redor de cada grupo é mais extenso do que a amplitude pontual de cada um deles. A noite começou com o show cru e entrosado do trio Los Otros, fazendo sua sexta apresentação em público. A simbiose do casal vocalista, o guitarrista Tom Motta e a baixista Isabella Menin, dá a tônica da banda e a sua dinâmica entre vozes e instrumentos – e com o público – é acompanhada com empenho pelo baterista Vinicius Czaplinski, que também faz alguns vocais de apoio. Além de suas primeiras composições, o grupo ainda tocou uma música do Elvis Costello (“Pump It Up”), uma da Rita Lee (“Papai me Empresta o Carro”), outra do Charly Garcia (“La Sal No Sala”) e T-Rex (“20th Century Boy”), esta tocada num bis improvisado.
Depois deles foi a vez da banda Florextra, também em um de seus primeiros shows ao vivo, fazer sua primeira apresentação no Porta Maldita, puxando mais a linha para a MPB, principalmente devido à presença de sua vocalista, a sempre sorridente Giu Sampaio. Mas a dinâmica entre os outros músicos (Gabriel Luckmann, guitarrista que também faz vocais de apoio, o baixista e flautista Ma Vettore, o tecladista Alê London e o baterista Pepito – que trocou de instrumentos com Gabriel na última música) caminha entre uma MPB que equilibra-se entre a bossa nova e a Jovem Guarda e um indie rock dócil, cativando o público presente.
A terceira atração da noite foi o grupo de mais estrada naquele palco, embora também seja uma banda em seus primeiros dias. O trio Jovita orbita entre o rock psicodélico nitidamente influenciado por Boogarins e viagens instrumentais que conversam com fortes ecos de Clube da Esquina (principalmente a partir dos vocalizes em falsete do guitarrista João Faria), música brasileira tradicional e eletrônica (esses cortesias do synth e das percussões do baixista Nicolas “Bigode” Farias) e grooves instrumentais nascidos entre as décadas de 60 e 70. A bateria de Guilherme Ramalho aterra com vontade os devaneios do guitarrista e do baixista e juntos os três propõem voos quase instrumentais que mostram que a banda tem um futuro próximo promissor – ainda mais agora prestes a gravar seu primeiro disco. Um Inferninho didático, que ainda contou com o ar familiar e underground característicos do Porta Maldita, um lugar com pouco tempo de vida mas muita história pra contar… E quando eu tava discotecando madrugada adentro, temperado por algumas doses de Amaral, eis que surgem vários conhecidos perdidos na noite em busca de uma saideira, o que transformou a pisa do Porta Maldita numa boa viagem ao passado, com direito a Television, Smiths e Elvis Costello – e há quanto tempo eu não tocava “A Forest” na pista…?
Nesta quarta-feira o Sesc Pompeia assistiu à mais um reencontro do mitológico grupo pós-punk paulistano Voluntários da Pátria, com a mesma formação que gravou seu único disco, que completa quatro décadas neste 2024. A apresentação reuniu mais uma vez os guitar heroes Miguel Barella e Giuseppe “Frippi” Lenti, o baixista Ricardo Gaspa, o baterista Thomas Pappon e o vocalista Nasi na primeira vez em que o grupo tocou ao vivo as duas músicas que gravaram, à distância, durante o período pandêmico, “Ainda Estamos Juntos” e “O Voluntário”. Mesmo entrando na sexta década de vida, seus integrantes mantém o pulso firme dos bons tempos, à exceção do vocalista, que parece menos dedicado ao retorno que os outros quatro, mas que fez um show melhor do que o que assistimos em 2019, quando o grupo tocou pela última vez, quando era curador do Centro Cultural São Paulo. E sempre que um evento desse porte acontece é uma oportunidade ótima para cruzar com diferentes ícones da cena paulistana de diversas épocas, todos vindo saudar o legado de uma banda única no rock brasileiro – além de Pappon ter revelado quem é o homenageado na música “O Homem Que Eu Amo” – quem foi, sabe.
Corro dali pro centro de São Paulo pra participar da comemoração de um ano do Matiz, bar no terraço do Edifício Carlos Rusca, na Martins Fontes. Com um dos melhores equipamentos de som da cidade, o lugar tem seu foco nos drinks e na audição e eventualmente chama músicos para apresentações ao vivo, como foi o caso desta terça-feira de aniversário, quando contaram com Arto Lindsay em show solo na abertura, seguido do trio MTZ, liderado por um dos responsáveis da noite, Rodrigo Coelho, que assume o baixo e que iria receber Marina Lima, mas hoje sabemos porque ela não foi, sendo substituída por Fernanda Abreu. Não consegui ficar no segundo momento da noite, mas pude ver mais uma apresentação do americano-brasileiro Arto Lindsay, que novamente apenas com sua guitarra no wave, transformou o terraço do Matiz em uma câmara de ruídos elétricos, disparando microfonia, efeitos e seu toque frenético sobre composições próprias e até uma do sambista Batatinha. Surreal poder ver esta apresentação do ângulo que vi, entre uma pequena multidão de descolados modernos paulistanos e o horizonte cinza noturno de fachadas de prédio aparentemente sem alma, algo que casou bem com as frequências soltas disparadas pelo guitarrista noise.
Uma sexta-feira com um coração imenso: assim foi a edição de outubro do Inferninho Trabalho Sujo no Picles. A noite começou com a usina de força que é a banda Tietê. Ancorada no reggae, o novíssimo septeto paulistano tempera sua mistura de ritmos com funk, soul, grooves latinos e música brasileira e a energia que transborda no palco inevitavelmente contagia o público. Atiçados pelo carisma inacreditável da vocalista e saxofonista Dodô, os integrantes da banda trocam de instrumentos enquanto passeiam por diferentes vibes, sempre carregando a expectativa do público junto, seja nos momentos mais introspectivos ou na fritação completa. E eles estão só começando: acabaram de gravar o segundo disco (no estúdio Abbey Road, em Londres, olha só) e o repertório da noite ficou por conta destas músicas ainda inéditas, que deverão vir a público apenas em 2025.
A banda deixou o o caminho pronto para a estonteante Soledad enfeitiçar o público com o repertório de seu novo trabalho, chamado de Desterros, que misturas suas composições às da geração clássica do cancioneiro cearense, como Fagner, Fausto Nilo, Ednardo (revisto em uma versão apaixonante para “Beira Mar”), Rodger Rogério, entre outros. Seu terreiro é encantado com a ajuda de bruxos da música, com Davi Serrano e Allen Alencar revezando-se entre o baixo e a guitarra, Xavier e Clayton Martins trocando lugares entre a bateria e a percussão (acústica e eletrônica), enquanto Paola Lappicy serpenteava pelos teclados e sintetizadores. E entre estes hinos, ela ainda contou com as participações de Julia Valiengo (com quem dividiu “Santo ou Demônio”, de Fagner) e de Fernando Catatau, que ainda puxou duas músicas próprias, “Completamente Apaixonado” de seu primeiro disco solo e a clássica “Homem Velho” do grupo Cidadão Instigado. No centro de tudo, a voz e a o corpo de Sol, completamente entregues à emoção e à música, hipnotizava o público, que embarcava naquela viagem intensa de sentimentos e sons. Quando eu e a Bamboloki assumimos o som depois de seu show – e fomos de dance music a rock clássico, passando por clássicos da disco music, do funk e aquela mistura de summer eletrohits com o disco novo da Charli. E depois eu contei pra Bam o que o público que não estava na pista tinha mais… Que noite!
Lembro do exato momento: estava fritando no desafio proposto pela Marina do Belas Artes de transpor o Dummy do Portishead para o palco do cinema em mais uma sessão Trabalho Sujo Apresenta e montando um lego mental entre instrumentistas, produtores e vocalistas que fizesse sentido ao mesmo tempo em que topasse o desafio quando, no meio dum show da Manu Julian no Bar Alto, olhei para o lado e lá estava o Lauiz assistindo à apresentação de sua parceira de Pelados. Ela no palco repetia mais uma vez o riscado do primeira show solo de sua vida, quando aceitou a provocação que fiz para exercitar seu músculo criativo fora das duas bandas que encabeça, a Pelados e a Fernê, e topo fazer um show com seu próprio nome (à época ainda Manuella, num exercício de alteridade com seu nome de batismo, para além do encurtamento típico paulistano) no Centro da Terra. E nesta empreitada, chamou o compadre Thales Castanheira para acompanhá-la tocando guitarra. Vi Manu e Thales no palco sendo observados por Lauiz e caiu a ficha: são os três que vão fazer esse disco. Fiz o convite, os três toparam curtindo a ideia e que felicidade descobrir que mais do que encarar como um frila, os três aproveitaram para debruçar-se sobre o processo criativo do Portishead e recriaram o disco depois de desconstruí-lo, adaptando o disco de 1994 para a realidade sonora de 2024 sem necessariamente virar do avesso as canções. Era uma releitura que respeitava os arranjos originais mas sem tratá-los de forma sacra, tirando elementos que hoje soam datados (como os scratches de vinil, que Lauiz substituiu por glitches digitais a partir de sua devoção aphextwinana ao ruído desta natureza) e acrescentando outros que soavam mais próximos à sonoridade atual, trazendo a força original das canções a uma energia vital sem nostalgia, com foco no presente. Enquanto Thales dividia-se entre as bases recriadas e a guitarra à John Barry, Manu soltava sua voz sem usar a de Beth Gibbons como referência – e o que nos ensaios parecia confortável e aconchegante no palco pegou fogo, graças à presença de palco e ao canto seguro e dramático desta que é minha cantora favorita de sua geração. Mas o mais legal deste processo foi descobrir o nerdismo e o profissionalismo do trio aliados ao completo escracho e cumplicidade de uma irmandade de alma. Suspeitava que os três tinham uma sintonia desta natureza mas nem nos meus sonhos mais otimistas podia supor o quanto eles funcionavam bem. O que vimos no palco do Belas Artes nesta quinta foi apenas o reflexo de quatro meses de trabalho que, como Manu comentou em uma de suas poucas intervenções, começou com o curta To Kill a Dead Man, thriller nouvellevagueano abstrato e tenso que o grupo produziu e lançou antes do disco e que pautava suas opções estéticas, que exibimos no início da sessão e que batizou a versão que fizemos, chamada Dummy 30 anos – Matar Um Homem Morto. E na hora do vamo ver, o show cresceu vertiginosamente, ainda mais com a distorção lisérgica da textura VHS que Danilo Sansão fazia na tela de cinema ao misturar imagens do curta com outras que sua parceira Vitoria Trigo captava na hora. Reto e sem bis, o show do disco lotou a sala 2 do Belas Artes de um público que apaixonou-se pelas versões que os três fizeram. É tão bom quando um plano dá certo…
Chega um momento em que as pessoas parecem desdenhar do privilégio que é receber Sir Paul McCartney cada vez mais no Brasil. Piadinhas que falam sobre o número de seu CPF ou a casa que comprou no litoral paulista fazem parecer que o ex-beatle é um artista decadente que sobrevive fazendo shows em países subdesenvolvidos. Nada mais distante da realidade: Paul frequenta o Brasil constantemente há mais de dez anos porque descobriu que tem um público fiel e cativo no país, que vai assisti-lo sempre. E mesmo que só tenha atinado para isso no que muitos vão assinalar como “fim de carreira”, encantou-se com o país que conheceu ainda na última década do século passado, quando fez dois shows no Rio de Janeiro (em 1990, no Maracanã) e em São Paulo (em 1994, no Pacaembu, minha estreia em uma de suas apresentações). Nove shows depois daquele histórico momento no Pacaembu, cá estou eu mais uma vez lendo o setlist antes de começar meu décimo show do Paul McCartney, e me perguntando se ele faria alguma alteração no repertório que vinha apresentando. As mudanças foram mínimas. O show foi idêntico ao último que fui, em dezembro do ano passado, no mesmo estádio do Palmeiras, sob chuva de canivetes, mas havia surpresas: “All My Loving” tocada pela primeira vez ao vivo desde a pandemia, a estreia de “Day Tripper” nesta turnê e, claro, a rendição de “Now and Then”, última música lançada pelos Beatles, no ano passado. E esse pequeno detalhe final foi a pedra solta no dique das emoções, me fazendo chorar copiosamente como há muito não havia chorado num show do senhor McCartney. E mesmo saudando sua esposa atual (em “My Valentine”) e a anterior (em “Maybe I’m Amazed”), seus colegas falecidos de banda (John em “Here Today”, George em “Something”) e tendo mais de dois terços da apresentação dedicadas à maior banda de todos os tempos, Paul reforçava o tempo em que estamos vivendo, seja fazendo piadinhas infames em português, atiçando o público para cantar junto e repetindo várias vezes o nome do país e da cidade em que estava (sem tomar um mísero copo d’água nas quase três horas de show que fez). A voz por vezes falha, mas segue tocando muito tanto guitarra, piano e baixo – além do indefectível assobio. “Meu tempo é hoje”, parece sublinhar citando outro Paulo, mesmo nadando num mar de nostalgia. Não por acaso termina o show citando nominalmente os músicos e sua equipe, ignora seu grande hit “Yesterday” e despede-se dizendo “até a próxima!”. Estaremos lá – agora e sempre.