Eu nunca havia pensado em ser jornalista. Sempre fui viciado em jornais e revistas de papel e por informação e conhecimento, viesse de onde viesse; além de ser fissurado tanto por ler quanto por escrever. Fiz fanzines e jornaisinhos de escola desde que nasci, em Brasília, mas o destino me levou a fazer Ciências Sociais na Unicamp e lá também fiz um jornal, desta vez com meus amigos de faculdade. Uma edição foi parar na redação de um dos jornais da cidade, que me chamou para colaborar com o caderno para o público adolescente à época, peculiarmente chamado de Diário Pirata. Fiquei quase um ano no Pirata, quando soube que o caderno ia ser extinto. Me deram duas opções: jornalista de cidades ou cobrir automóveis. Pedi demissão e voltei pra academia.
Mas o bicho do jornalismo já havia me mordido e eu sabia que era um caminho sem volta. Em menos de uma semana, há vinte anos, estava rascunhando digitalmente meu primeiro fanzine de fato, escrevendo no Word, diagramando no PageMaker, ilustrando no Corel Draw e escaneando e recortando fotos no Photoshop. Ele não se concretizou como eu havia pensado, mas depois de ser abduzido mentalmente pelo jornalismo, fui absorvido comercialmente pelo mesmo e comecei a publicar meu fanzine na contracapa do caderno de cultura do Diário do Povo às segundas-feiras. Depois, como já escrevi, passei para a central do caderno de domingo, a contracapa do caderno de sábado, um link entre a seção de suplementos do primeiro site do jornal, depois um site no Geocities, depois no Gardenal, que me levou a fundar OEsquema, que morreu este ano. Vinte anos depois, o site está na própria URL bem como nas principais redes sociais – e eu cada vez mais distante das engrenagens da ainda principal força-motriz do jornalismo brasileiro, mas não do jornalismo.
Mais:
Em grande parte destes vinte anos de Trabalho Sujo – que coincidem também com meus 21 anos de profissão – sempre tive o Sujo como uma atividade paralela, um hobby descompromissado, uma atividade mais prazeirosa do que profissional. O que pagava as minhas contas era o trabalho em redação, seja nas duas concorrentes locais que frequentei em Campinas (primeiro como repórter, depois como ilustrador e editor de arte no Diário do Povo e como editor do caderno de cultura do Correio Popular), em redações de espírito startup em empresas em ascensão (como editor-executivo e editor da falecida Play na editora Conrad e como editor-chefe de conteúdo do projeto Trama Universitário, da gravadora Trama) ou em redações tradicionais (até dizer chega) no Estadão (onde editei o Link) e na editora Globo (onde dirigi a redação da Galileu).
Mas foi a partir de uma provocação do Wagner “Mr. Manson” Martins (com quem hoje divido dois projetos paralelos, que conto em breve) que me fez entender a importância do Trabalho Sujo em minha carreira. Em uma mesa sobre cultura digital (em uma das primeiras edições do YouPix, se não me engano), Manson soltou que quando alguém tem um blog bom, é quase certeza de que ele está desempregado – pois quando ele tem um emprego ele não tem tempo para o blog. Entendi a mensagem como um desafio, pois isso foi um pouco antes de sair da Trama ou logo depois de entrar no Link, e lembro que comecei a manter a regularidade e a constância no Trabalho Sujo quase como uma resposta à provocação de Manson. Mas ao mesmo tempo era uma forma – como ainda é hoje – tanto de organizar as áreas que acompanho quanto de me forçar a caçar novidades e exercer meu espírito crítico, a treinar meu texto e explorar formatos de edição. Muitas coisas que apliquei nos empregos que tive na última década foram testadas anteriormente no Trabalho Sujo ou em seus braços nas redes sociais (que não existiam há dez anos).
Mas a frustração quase constante com a maioria das empresas de comunicação brasileiras e uma inquietação que me incomoda a cada vez que alguém menciona o fim do jornalismo a partir de um sintoma de má adminstração de uma destas empresas me fez entender que meu papel como jornalista independe de quem está me contratando. Mais do que isso: o Trabalho Sujo é o meu veículo e ele me abre tantas portas – ou mais – do que quaisquer empregos anteriores. Isso sem contar que é um sobrenome que eu escolhi. Não preciso me apresentar como sendo “do jornal tal” ou “da revista tal” para que me reconheçam.
Ao mesmo tempo, o caráter multiplataforma do Sujo me fez batizar minha festa com o nome do site e que começasse a organizar cursos que levassem seu nome como carimbo autoral. Isso me fez escolher trabalhar diretamente com meu público, que eu conheço dos comentários e em algumas situações pessoalmente, em vez de ter que imaginar um público-alvo fictício ou ter de dar satisfações para este ou aquele patrocinador. Até hoje eu não tenho plano de negócios nem media kit porque não fiz o que faço pensando neste tipo de ação. É uma escolha pessoal, uma estética própria, um caminho que aponto e que pode ser seguido por quem quiser, pagando ou não por isso ou não.
E, cada vez mais a partir de agora, é o meu negócio. É o meu veículo, o meu emprego, o que me satisfaz tanto pessoal quanto profissionalmente. É o meu jornal, minha rádio, minha emissora de TV, minha revista e meu portal – meu vínculo com um público que tem mais ou menos a minha idade e que gosta mais ou menos do mesmo tipo de coisas do que eu. Não estou me referindo a rótulos como “cultura pop”, “indie rock”, “mashup”, “ficção científica”, “mercado independente”, “seriados”, “dance music”, “filmes alternativos”, “remix” ou “internet”. Há uma intersecção gigantesca entre essas tags e outras que por ventura posso agregar a elas e essas intersecções formam a teia editorial do Trabalho Sujo. Falo sobre um monte de coisas que todo mundo fala, meu diferencial é o meu sotaque, meu tom de voz, meu ponto de vista, meu senso de humor, minha linha editorial, que tento deixar clara, sem cair na conveniente armadilha da isenção e da imparcialidade que as empresas de comunicação costumam armar.
O aniversário de 20 anos de Trabalho Sujo, portanto, marca o início de uma série de ações e novidades que começo a anunciar hoje e que continuo até para além da data do aniversário, dia 20 de novembro. A festa de aniversário já está marcada para o dia seguinte desta data, que deve trazer mais novidades. Antes desta, começo a antecipar algumas das coisas que bolei para este ano, começando pelo curso O Outro Lado da Música, que estou fazendo na Unibes Cultural e cuja primeira aula começa nesta terça-feira, gratuitamente, com aula sobre psicodelia brasileira ministrada pelo Fernando Rosa, do site Senhor F.
Este curso é só o começo: muitas novidades vêm por aí. E cada vez mais, meu lema faz mais sentido: só melhora!
(E a intervenção dos “20 anos” sobre o logotipo feito pelo Jairo é da Juj Azevedo, que está me ajudando numa dessas novidades.)
Este blog dá uma reduzida em sua velocidade de postagens pois vou pra Parati pelo segundo ano consecutivo cuidar das mídias sociais da Flip. Dou notícias de lá. Hasta!
Desde que o Trabalho Sujo era uma ideia eu já me acostumei ajustá-lo de acordo com a situação.
Chego agora a essa nova fase pensando no que o site pode ser nos próximos anos sendo que ele nunca foi planejado para ser um site, um conceito que mal existia quando o Trabalho Sujo nasceu. Fora que não dá pra saber o que esperar dos próximos anos – quem sabe? As mudanças que aconteceram na minha vida nos últimos 20 anos mostraram que não adianta fazer muitos planos nem tentar agarrar o controle da vida, é melhor deixar levar com o fluxo, ser levado pela corrente da vida, que não é só sua. O fim dOEsquema e o novo layout do Sujo é uma forma de organizar um pouco a casa e as ideias antes do aniversário de 20 anos que acontece em novembro. Não sei o que vou fazer em novembro, mas me parece uma boa meta de tempo.
Algumas novidades vão ficar mais evidentes com o tempo, mas já antecipo umas de cara. Aos poucos o Leitura Aleatória (aquela coleção diária de links) vai voltar, Facebook e Twitter passam a funcionar de forma diferente em relação a postagem de conteúdo do Trabalho Sujo e externo (o Instagram é uma conta cada vez mais pessoal, tô quase pensando em botar o cadeado na porta e não replicar pro Facebook); haverá uma newsletter e seções específicas com periodicidade a definir; além de explorar mais a relação do site com eventos ao vivo. Ah, o 4:20 acabou (por isso aquele monte de “The End”) pois ter cumprido seu papel e disseminado a hora mágica para o mundo. É como as fotos da tapioca: continuo comendo-as todas as manhãs, mas depois que eu lancei o hype não preciso insistir mais nisso, né? E ainda tem uma coluna pra você mandar suas dicas pra cá.
O Sujo começou depois de uma demissão. Tinha sido demitido do jornal que trabalhava, o Diário do Povo, e estava naquela encruzilhada entre retomar o curso de Ciências Sociais na Unicamp, fazer um fanzine e continuar publicando de alguma forma em algum jornal – o vírus do jornalismo havia me infectado e quem conhece sabe como é essa cachaça. Antes de ser demitido eu publicava num caderno voltado para o público adolescente chamado Diário Pirata (justo esse nome!) que fazia sucesso na cidade por ser a única publicação em Campinas que não falava ou com adultos ou com crianças – e a equipe liderada pela gênia Adriana Villar aproveitava-se dessa zona cinzenta para inventar pautas e abordagens que gostaríamos de ler, uma das minhas primeiras grandes lições da profissão: só faça uma matéria que você queira ler.
Havia acabado de comprar meu primeiro computador, um trambolho Compacq comprado numa promoção da Fenasoft de 1994, e brincava com versões dos programas que os jornais usavam pra diagramar e ilustrar suas páginas, os arcaicos Aldus PageMaker e Corel Draw. Meu primeiro fanzine começou a ser rascunhado digitalmente, usando um scanner de mão e fotos que já vinham no computador para ilustrar matérias sobre diferentes assuntos. O nome havia surgido numa névoa matutina dessas e vinha com sobrenome: o subtítulo “Porque alguém tem de fazê-lo” margeava tanto a versão original de um zine que nunca existiu quanto as primeiras edições do Trabalho Sujo de fato.
Um dos motivos do sucesso do Diário Pirata era a literal ausência de concorrência – o principal jornal da cidade, o Correio Popular, não tinha nada que se parecesse com o Diário Pirata – e anos depois quando começou a sua versão (chamada de… “Geração”) não chegava aos pés do trabalho que fazíamos na redação da Vila Industrial. E foi ali que o editor-chefe do jornal – ou em algum terceiro tempo no Bar Azul ou no City Bar – ficou sabendo que eu iria vender uma coluna para o correio. E depois me chamou na redação para outra daquelas grandes lições do jornalismo que carrego pra vida: ele fechou o caderno não por falta de interesse, mas porque tinha de cortar papel, e ao saber que eu toparia trabalhar como frila – minha proposta original para o Correio -, me convidou para trazer aquela coluna para o jornal. E me deu a contracapa do caderno de cultura das segundas-feiras. Eu simplesmente reempacotei meu fanzine para um formato de página de jornal e, diagramando no PageMaker e editando no Corel, levei a coluna num disquete para a redação, que ainda não tinha internet. Descia à sala de produção para escanear fotos e aplicá-las na página e aos poucos fui me ficando familiarizado com todo o lado industrial do jornal. Até então só sabia o que acontecia até que o texto chegava à página. Como frila, passei a frequentar a gráfica.
Assim começou o Trabalho Sujo que, em menos de seis meses, já teve que aprender a se adaptar, quando o Correio simplesmente comprou o Diário e passou a sucatear o antigo concorrente, levando a linha editorial para o pior estilo espreme-sai-sangue. Consegui manter o Sujo a duras penas, pois ele saiu da contracapa de cultura para dar espaço à nova colunista Sônia Abrão (é…) e foi para o alto da página dois, em cima dos quadrinhos e do horóscopo, em versão preto e branco. A fase trevas do Diário durou um ano e aos poucos sua autoestima foi sendo retomada, mesmo sempre abaixo da do ex-concorrente e atual “casa grande” de uma tentativa de império dos jornais do interior que mal conseguia chegar às cidades vizinhas. Nesse meio-tempo me tornei ilustrador do jornal (pois era o único na redação que sabia usar o Corel Draw), contratado e fazendo o Trabalho Sujo na paralela, sem receber a mais por isso. Em pouco tempo, tornei-me editor de arte do jornal, quando fiz um novo projeto gráfico para o Diário (que morreu em 2012 com o logotipo que eu havia feito) e ajudei o jornal a criar seu primeiro site. E ali plantei também a primeira versão digital do Trabalho Sujo, que devia ter um link do tipo http://www.diariodopovo.com.br/suplemen/TrabSujo/index.htm. A versão em papel tinha voltado a ganhar espaço e como o Rio Fanzine n’O Globo passava a ocupar a página dupla central da edição de domingo. Eu que diagramava e escrevia tudo, sempre, mas nessa época já tinha colaboradores fiéis como o grande Roni César, comparsa de editoria de arte e ilustrador de primeiríssima, e o mestre Sérgio Carvalho, o Serjão, até hoje um dos meus fotógrafos favoritos.
Em 1999, o Sujo foi para a contracapa de sábado e, no meio daquele ano, fui chamado para ser o editor de cultura do Correio Popular. Pra evitar problemas de autoria, em vez de levar o Trabalho Sujo para o Correio, simplesmente fechei a coluna impressa e abri o site no Geocities, onde começava a publicar textos que escrevia para o Correio e para outros veículos – na época eu já colaborava com O Globo, o Estadão e a Gazeta do Povo de Curitiba -, mas aos poucos fui entendendo a lógica daquela nova mídia. E antes de eu mudar para São Paulo já havia transformado o Trabalho Sujo do Geocities em meu site pessoal. Depois veio o Gardenal, veio OEsquema e aquela história que eu tava contando e, aos poucos o Trabalho Sujo também foi mudando.
De lá pra cá passei pelas redações da Conrad, da Trama, do Estadão e da Editora Globo sempre levando o Sujo como uma atividade paralela, um misto de hobby e missão, mas ao mesmo tempo ele ia ressaltando qualidades e manias que sempre fiz questão de prezar. Ao assumir o próprio domínio do Trabalho Sujo, o site segue como coluna de novidades e notícias, misturando opiniões e nichos diferentes para tentar acompanhar as transformações que estão acontecendo atualmente. Mas também começa uma produção ainda mais autoral, de produzir conteúdo específico pra cá e levar o site como meu principal veículo. Vai ser um processo lento porque ele requer uma baita organização em vários aspectos, mas o primeiro passo é esse novo site, que ainda tem uma série de coisinhas pra resolver e ajustes para serem feitos, além de outras novidades que prefiro ir apresentando com o passar do tempo.
O Trabalho Sujo é um trabalho em andamento e pode assumir outros formatos em encarnações futuras e por mais que ele seja um projeto individual, ele não funciona sozinho. Essa mudança estética e organizacional de agora, por exemplo, só aconteceu graças ao nobre auxílio dos mestres Jairo e Cauê: Jairo foi editor de arte do Estadão na época em que eu estava no Link e sempre que podíamos fazíamos páginas juntos; é dele esse logo Ralph Steadman que marca o site em diferentes plataformas; Cauê eu conheço das internas da internet como um dos caras que mais manjam de WordPress que eu conheço; é ele quem me ajudou na migração e adaptação de um tema inteiro para esse site que você está vendo agora.
E claro, você, leitor. Conheci algum dos meus melhores amigos desta forma: lendo textos deles e delas ou elas e eles lendo meus textos, pois esse contato por escrito é mais superficial que do o contato por rádio ou por vídeo, mas provoca uma intimidade e aproximação que conecta cabeças. Estou no fundo escrevendo como uma longa terapia em fluxo de consciência, organizando ideias e teorias em textos sobre produtos de cultura pop pra que consiga exprimir melhor o que está acontecendo ao nosso redor. Essa conexão, que antes só acontecia no papel, agora pode acompanhar o leitor em qualquer situação. E acho que essa é a graça disso que estamos fazendo aqui – seja nesse início de renascença dos blogs (o que é o Medium senão isso?), nas redes sociais ou nos aplicativos em que adicionamos uns aos outros – e que me faz crer que possa ser a saída pra essa profissão que a maioria lamenta. Falta paixão e sobra estatística, eu quero mais o jornalismo-arte.
Vamo pra festa?
Hora de fechar mais um capítulo.
Hoje desligamos o site por diferentes motivos, mas principalmente por estarmos sintonizados em frequências diferentes em relação à produção de cada um de nós. E por termos chegado a uma fria conclusão no fim do ano passado.
OEsquema nasceu da necessidade. Eu, Bruno e Arnaldo nos conhecemos online, no início do século, quando o URBe e o Mau Humor ficavam no Blogger e eu pendurava o Trabalho Sujo no já moribundo Geocities. Até que o Pablo e dois amigos vieram com uma história de criar um portal de blogs pra hospedar todo mundo que estava pendurado em servidores gratuitos e tentar criar uma fricção criativa entre diferentes produtores de conteúdo. O Pablo queria o Trabalho Sujo, que nem tinha completado uma década de vida e tinha mais história impressa do que digital, e eu vi uma oportunidade boa de chamar o URBe e o Mau Humor para aquela confusão alto astral.
Mas o Gardenal, o primeiro coletivo de blogs do Brasil, começou a crescer junto com a vida profissional de seus sócios, que não conseguiram gerir o servidor nem como plataforma digital, muito menos como negócio. Entre os problemas técnicos houve um hoje clássico servidor frito que nos fez perder pelo menos dois anos de produção online, uma pequena tragédia que, se por um lado me escaldou a me tornar menos acumulador digital, nos motivou a tentar buscar uma casa própria.
E no dia 8 do 8 do 8, eu, Bruno e Arnaldo convidamos o Mini para inagurar OEsquema. Não tinha plano de negócios nem linha editorial – era simplesmente um lugar para podermos escrever o que quiséssemos de acordo com a nossa vontade. Por assim seguimos os primeiros anos até que começamos a pensar em ampliar a festa, convidando um monte de amigos e amigas pra começar a se publicar sob a nossa marquise. Em comum tínhamos a vontade de distribuir conhecimento e opinião sobre assuntos diferentes, que não eram facilmente classificáveis nas prateleiras ainda utilizadas do século passado, e sermos personalidades individuais em vez de nomes que se escondem atrás de um todo. OEsquema era mais um processo do que um produto. Reunimos jornalistas, escritores, músicos, quadrinistas, fotógrafos, DJs, designers, palpiteiros, deslumbrados e céticos que tivessem uma mentalidade parecida com a nossa, urbanos de vinte e tantos ou trinta e poucos anos entendendo a relação da cultura e do comportamento modernos com as novas cidades e as novas mídias e tecnologias.
Nesses últimos sete anos vieram as redes sociais, a tecnologia móvel, a cultura em streaming e o início de maturidade política brasileira, processos que quase sempre se assemelhavam ao que havíamos pensado quando começamos a por OEsquema em prática. Não pioneiros – fomos os últimos representantes de uma cultura de clusters que foi atomizada e acelerada pelo impacto do mundo online e digital desta segunda década do século 20. Uma cultura que fez artistas se unirem em prol de causas estéticas, comunicadores criar os primeiros jornais, escritores se reconhecer coletivamente através das ideias. Um link que aproximou os primeiros modernistas, os primeiros anarquistas, os primeiros hippies, os primeiros punks, os primeiros hackers e os primeiros indies. E também os primeiros blogueiros, os primeiros videomakers, as primeiras bandas de rock, os primeiros fanzineiros.
OEsquema pertence a essa tradição de querer ficar junto dos outros. Somos a última espécie de uma época em que essa aproximação ocorria de maneira analógica e bem mais lenta. Mesmo que tenhamos nos conhecido primeiro virtualmente para depois nos conhecermos pessoalmente, nós dOEsquema temos os pés no século 20 e, como grupo, nos movíamos mais lentamente que a velocidade exigida pela internet no início desta década.
Com o mundo cada vez mais conectado, cada vez mais pessoas se conhecem simultaneamente, formando grupos que incluem anônimos e celebridades entre listas de amigos, seguidos e seguidores em diferentes plataformas sociais. O volume coletivo está cada vez mais intenso e são raros os maestros que se fazem entender no meio dessa cacofonia geral.
O fim de 2014 trouxe uma sensação de esgotamento para as pessoas no mundo todo relacionado a uma série de fatores diferentes. E, para nós, essa sensação não veio com um gosto feliz de missão cumprida mas também sem o amargor de um relacionamento mal resolvido. Seguimos amigos e próximos e vai ser inevitável que nos encontremos em novas parcerias – talvez agora mais intensas – num futuro próximo. Mas há um sentimento inevitável de falta de propósito, ao menos coletivamente, como cogitamos há quase uma década.
Seguimos cada um em nossos cantos, uns em seus próprios sites, outros firmes em redes sociais, mais alguns aproveitando o período para repensar sua relação com o digital. O Trabalho Sujo a partir dessa sexta assume seu próprio domínio como casa, quando começo uma enorme faxina editorial rumo ao aniversário de vinte anos, em novembro.
OEsquema pode ter terminado, mas a ligação que estabelecemos nestes anos é pro resto de nossas vidas.
Agradeço a todos que estiveram nessa enorme festa – nos encontramos por aí!
Beijos
Matias
PS – A carta de despedida do Bruno tá aqui . Linko as outras quando outras vierem.
Aos poucos vou desligando as máquinas por aqui, mas deixando um monte de coisa engatilhada: começamos agora a contagem regressiva dos 75 melhores discos de 2014, que será seguida de outra lista, a das 75 melhores músicas de 2014. Entre elas, poderão pintar uma ou outra notícia, um ou outro Vida Fodona perdido e outras listas – de melhores filmes, livros e acontecimentos do ano. Já já zarpo pra praia e só devo voltar lá pelo meio da primeira semana de 2015 (e a internet por lá não é das melhores – como a vontade de usar a internet, por isso pode ser que uma ou outra coisa fique faltando). E não custa lembrar que esse papo de “melhores do ano” é bem relativo e essencialmente pessoal. Por mais que um disco, música ou filme possa ter significado muita coisa pra muita gente, a relação diz respeito a como esses acontecimentos bateram pra mim – isso sem contar as coisas desse ano que só vamos ver, ouvir e conhecer depois que o ano acabar (como há alguns representantes de 2013 na lista desse ano, sinto dizer). Então o início da retrospectiva também é o fim da programação normal – desligo até os 4:20 que nas últimas semanas vieram lembrando do melhor do ano que está chegando ao fim. Bom natal pra quem é de natal e lembrem-se do lema principalmente na hora da virada: só melhora! 2015 vai ser “o” ano!
Tô criando uma categoria pros melhores do ano, quem quiser ver tudo na ordem clica aqui.
Guardem bem a cara deste site: a partir de segunda-feira ela não existirá mais. É quando daremos a largada rumo à fase 3 dOEsquema. Começamos OEsquema no dia 8 de agosto de 2008, eu, Bruno, Mini e Arnaldo, foragidos de um Gardenal caindo aos pedaços, buscando construir um novo teto para nossos quatro blogs. No final de 2011 começamos a importar novos blogs pra nosso condomínio (são 29 ao todo) e a partir de segunda começamos uma nova fase: com novo layout e nova home, OEsquema começará a se mexer mais conjuntamente, trabalhando melhor pautas e conteúdos a dois, três ou, quem sabe, todo mundo ao mesmo tempo. É uma mudança que começa em câmera lenta, a partir dessa primeira mexida visual e, aos poucos, vai passar pela linha editorial do site. Isso não mudará nossos rumos e nossa área de atuação permanece a mesma, neste espectro que engloba mudanças comportamentais, hábitos de consumo, cultura digital e música pop. Mas a abordagem vai se transformando lentamente e contamos com a participação de vocês. Por enquanto, as atividades ficam suspensa até a semana que vem, quando voltamos com tudo – e muito mais. Até lá!
Estes são os melhores discos de 2013 e estas são as melhores músicas do ano passado (pra quem não ouviu, as reuni todas num mesmo Vida Fodona). Não caiam na armadilha de achar que esses são os discos que considero mais importante pra história da música ou os discos que mudaram o panorama musical no ano que passou. Tem disco que entrou em lista de melhores do ano que eu nem ouvi nem mesmo me dei ao trabalho ou discos de 2013 que só fui ouvir em 2014 (como o excelente disco do Saint Pepsi que o Tomás pinçou em sua lista ou disco do Men, citado pelo Silvano), do mesmo jeito que a maioria das revistas (que fecham sua edição de janeiro no meio de dezembro) não conseguiram incluir o disco da Beyoncé, lançado aos 45 do segundo tempo do ano passado.
Os discos escolhidos são os que mais ouvi e gostei durante o ano que passou. É critério de eleger melhores obras de arte produzidas num período determinado de 365 dias é arbitrário – e com a série de camadas culturais que coexistem hoje em dia, talvez estejamos ouvindo discos que soem como 1931, 1968, 1985 ou 2032 em pleno 2013. Foi-se o tempo que um único disco ou uma única música regia o zeitgeist, o mundo de nichos interligados que hoje formam o panorama do pop (em que até o mainstream – ou os mainstreams – virou um nicho) permite que cada um eleja sua trilha sonora como pano de fundo para sua vida. Muita gente passou o ano ouvindo músicas de outras épocas, resgatando as referências citadas no disco do Daft Punk, dissecando a discografia de Bruce Springsteen porque ele veio ao Brasil, desbravando a música africana graças à recente conexão África-São Paulo ou ouvindo as composições eruditas que Kubrick escolheu para musicar seus filmes. Foi-se o tempo em que uma publicação decidiu que o disco do fulano ou o filme do beltrano era quem melhor capturava o espírito daquela época e pronto, todos deviam acatar calados.
Hoje todos temos vozes, fazemos nossas listas e trilhas sonoras. Você pode gostar da minha lista, mas não da ordem dos discos. Ou talvez prefira separar os brasileiros dos gringos. Ou que na minha lista não entrou nenhum disco que entrou na sua. Tudo bem, não vou grilar com isso e espero que você também não grile. Me incomodo mais com o fato de não ter escrito ao menos um parágrafo para cada um dos discos e músicas ou de linkar pra onde dá pra ouvir esse ou aquele álbum como gostaria de ter feito, mas o tempo urge e prefiro deixar apenas a lista na íntegra do que deixar o trabalho pela metade.
E com esse post, começo a pisar de fato em 2014. O Trabalho Sujo volta aos poucos às atividades normais e, já adianto, mudanças virão.
Afinal, elas sempre vêm.
Ah, o verão… A melhor estação do ano, aquela em que o calor humano e o solar se unem numa celebração de cores, sabores e sons… E o verão de 2014 tá daqueles – por isso vamos celebrá-lo daquele jeito, com mais um capítulo de nosso experimento pop na sede da Associação Brasileira de Empresários de Diversões, no centro da maior cidade da América do Sul, em pleno aniversário de 460 anos. Desta vez, nosso happening psicodélico transdimensional movido a música e alto astral vem capitaneado pelos condutores da Noite Trabalho Sujo (Alexandre Matias + Luiz Pattoli + Babee + Danilo Cabral), que convidaram as duplas Missin Link (Daniel Prazeres e Vanessa Gusmão) e os célebres Selvagem (Augusto Olivani e Millos Kaiser) para transformar a noite do sábado para o domingo em uma comemoração ao prazer de estar vivo. Nosso experimento coletivo começa a partir das 23h45 no mesmo lugar de sempre, a querida Trackers (R. Dom José de Barros, 337). Só entra no evento quem confirmar a presença pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com até às 20h do dia do acontecimento.
TRABALHO SUJO VERÃO 2014
Sábado, 25 de janeiro de 2014
Pista 1: Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Babee e Danilo Cabral
Pista 2: Daniel Prazeres e Vanessa Gusmão + Augusto Olivani e Millos Kaiser
Trackertower: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
A partir das 23h45.
Entrada: R$ 25 (até a 1h) e R$ 35 (da 1h em diante) apenas com nome na lista através do email noitestrabalhosujo@gmail.com
Quem foi sabe como a primeira conjunção Trabalho Sujo + Casa do Mancha para além dos domínios da Trackers foi o primeiro grande sábado de 2014. Os Garotas Suecas estão em ponto de bala e o Gorky incendiou a pista a seguir com funk que muita gente nem lembrava que existia. Abaixo, os vídeos do show que fiz do show (o grave tá estourado porque filmei com o celular, mal aê) e na sequência, as fotos do Bira. Outras virão…
O aniversário é hoje: há 18 anos saía a primeira edição do Trabalho Sujo, ainda no jornal Diário do Povo, de Campinas, que fechou suas portas no ano passado. Comecei minha carreira jornalística em 1994 naquele diário da Vila Industrial, quando comecei a colaborar com o caderno Diário Pirata ainda aos 19 anos. A colaboração virou contratação (quem apostou foi a Adriana Villar, minha primeira chefe : ) ) mas não durei nem um ano no emprego porque o caderno fechou. O jornalismo-cachaça, por sua vez, já havia feito nova vítima e botei na cabeça que queria fazer uma página de jornal – não apenas escrever, mas editar, diagramar, tudo. E quando comecei a conversar com o Correio Popular, o concorrente, fui chamado pelo editor-chefe do Diário, o João Paulo, que me explicou numa simples equação que o fim de um caderno (um corte industrial) não significava o fim do interesse naquele assunto, e perguntou se eu não queria publicar a coluna que estava vendendo para o Correio no próprio Diário. Topei e no dia 20 de novembro de 1995, o Trabalho Sujo foi publicado pela primeira vez como uma página inteira na contracapa do caderno de cultura do Diário.
No Diário, o Sujo assumiu diferentes formatos, de acordo com as mudanças de linha editorial que novos editores-chefes imprimiam ao jornal, até que se estabeleceu como uma página dupla na central do caderno de cultura de domingo. Na mesma época (1997, 1998…), me envolvi com a criação do primeiro site do Diário do Povo e consegui uma brecha para o Trabalho Sujo ali, que me deu uma visibilidade para além das bancas de Campinas e quando percebi que minha comunicação com público, artistas e outros veículos havia se tornado ágil como uma troca de emails. O Sujo seguiu nesse formato até seu último ano, 2000, quando fui contratado pelo jornal corrente, o Correio Popular, para editar seu caderno de cultura. Nessa época, transformei o Trabalho Sujo num site no Geocities e o alimentava com o que escrevia no Caderno C (principalmente com a coluna de discos que editava, chamada Termômetro). Do Correio Popular mudei-me para São Paulo, quando fui trabalhar na Conrad e conheci o Pablo Miyazawa, hoje na Rolling Stone brasileira, que à época queria criar um portal de blogs para reunir todo mundo que andava espalhado pelos Geocities e Blogspots da vida. Ele criou o Gardenal e mudei-me com o Trabalho Sujo para lá. E nesses tempos da infância da blogosfera, conheci o Bruno e o Arnaldo – dois blogueiros de Blogspot – e os chamei para o Gardenal.
Em 2008, depois de ter passado três anos trabalhando no Trama Universitário e após o primeiro ano de Link Estadão, a situação no Gardenal havia tornado-se insustentável do ponto de vista técnico – havíamos perdido dois anos de conteúdo por problemas no servidor e o cenário futuro não parecia animador, com o site fora do ar quase o tempo todo. Saímos eu, Bruno e Arnaldo, chamamos o Mini, que conhecíamos também de internet (eu acompanho o trabalho do Mini desde que os Walverdes eram uma banda promissora de Porto Alegre), para fundarmos OEsquema, que, além dos blogs dos quatro, desde 2011 recebe novos blogueiros, velhos amigos e novos talentos, como vocês têm acompanhado. O Sujo já virou festas e canais em redes sociais, misturando-se naturalmente com minha produção jornalística. E além das novas festas (Sussa e Naites, além das Noites do Alberta, que voltam em breve, e das noites na Trackers), a maioridade traz novidades no horizonte.
Vamos nessa, pois está só começando… E você sabe o mantra: só melhora!
PS – E você, lembra-se de como conheceu o Trabalho Sujo?