23 anos de Trabalho Sujo

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E lá se vão 23 anos em que vi a primeira vez um projeto inteiramente meu se materializando. No dia 20 de novembro de 1995, uma segunda-feira, tive o prazer de ver que uma página que havia idealizado mentalmente e diagramado (mal e porcamente) no PageMaker no computador 486 que tinha no pequeno apartamento em que habitava no cruzamento da Coronel Quirino com a Moraes Salles, em Campinas, havia sido publicada por um jornal local. Essa foi uma entre várias outras epifanias daquele período. Tinha me mudado para a cidade do interior paulista para fazer Ciências Sociais e nem imaginava que fosse parar no jornalismo, bicho que me mordeu sem perceber para mostrar que eu já o conhecia desde sempre.

Nestes 23 anos, o Trabalho Sujo já foi impresso, digital, entrevista, presencial, em áudio, vídeo, playlist, sessão de cinema, podcast, curso, festa. Minhas redes sociais acabam se integrando a este enorme processo individual que nos últimos anos puxou para a música independente brasileira para escolher um foco para uma nova fase que começou em 2014 e que tem movido meus trabalhos como curador e diretor artístico. Já contei essa história várias vezes, além de explicar as motivações deste trabalho (bem como produzindo os frutos deste processo) e tudo indica que estes processos vão se intensificar em breve, à medida em que o próprio site cada vez traz mais referências ao que faço fora dele. A produção dos próximos anos, como nos mais recentes, deverá ser mais presencial que digital – uma boa direção para retomarmos discussões que possam ser mais produzidas e menos vazias que estas publicadas nesse tamagochi gigante que se transformou a internet.

O Trabalho Sujo é jornalismo, é pessoal e é individualista, mas também é um processo coletivo que conta com a presença de pelo menos uma outra pessoa: o leitor. Por isso aproveito para agradecer todos que me ajudaram nesta construção pessoal. Não vou citar nomes porque senão passaria dias listando e inevitavelmente esqueceria de alguéns. Mas todo mundo que colaborou de alguma forma com este site, seja produzindo textos (eventualmente publico texto dos outros), ilustrações ou dado entrevistas, quem discotecou comigo, que me chamou pra fazer um frila ou pra um almoço ou pra um café ou pra um sorvete, que me cumprimentou no meio de um show ou quando estava discotecando, que eu chamei para participar de algum curso ou fazer alguma palestra ou que me chamou para algum debate ou fazer mediação de mesas redondas, quem eu chamei para fazer shows nos lugares em que faço curadoria e quem foi assistir a estes shows, quem foi às minhas festas e aos meus cursos. Viagens, passeios, discussões, shows e festas, encontros presenciais que me aproximaram de pessoas que desconhecia ou que conhecia apenas via internet. O Trabalho Sujo é fruto destes encontros e eles são uma motivação e tanto para continuar nessa. Agradeço a todos que encontrei neste caminho, pessoas incríveis que me ajudaram a ver o mundo de outra forma.

Seguimos juntos, porque, apesar de parecer contraditório, o mantra segue firme: só melhora!

Trabalho Sujo no Budweiser Basement: como foi

Aquela pausa antes do fim do ano

2016

Deixo o Trabalho Sujo no piloto automático até a segunda semana de 2017. Antes de voltar à ativa, a já tradicional lista dos 75 melhores discos e 75 melhores músicas do ano que termina, a partir da segunda-feira. Enquanto isso, fiquem com esse panda destruindo um boneco de neve, feliz natal e que o ano que vem seja melhor que esse infame 2016.

Mas continuo na ativa tanto na página do Facebook quanto na conta do Twitter e no meu Instagram. Segue lá!

Trabalho Sujo 75

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Pode ir me dando os parabéns. O Trabalho Sujo completa 21 anos neste dia 20 de novembro de 2016 e para comemorar apresento uma playlist perene. A Trabalho Sujo 75 elenca 75 músicas que você precisa ouvir agora, de acordo com a pauta aqui do site. Vai desde singles que acabaram de aparecer a flashbacks motivados por relançamentos, óbitos ou reedições, além de lançamentos de toda espécie. É uma lista finita que vai sendo atualizada constantemente, por isso sigam-me os bons.

Reaquecendo as turbinas

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Férias tiradas, cabeça zerada, um monte de vídeos do Primavera pra subir (alguns deles já estão no ar) e muita novidade à vista. Religo o Trabalho Sujo aos poucos a partir de hoje – e neste sábado já tem Noites Trabalho Sujo!

Engatando a marcha lenta

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Fico duas semaninhas offline (ma non troppo): vou passear em Amsterdã e Barcelona com meu amor e deixo o Trabalho Sujo no piloto automático com eventuais atualizações nas minhas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter. Sigo conectado por lá, mas num ritmo bem menor. Quem quiser mandar notícias, mande nos comentários aí. Até a volta!

Trabalho Sujo @ Spotify

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Não é só o Vida Fodona que deixou de ser um podcast para virar uma série de playlists no Spotify. Fechei uma parceria com o maior aplicativo de streaming de música do mundo e agora tenho uma conta na rede deles e alimentos diferentes playlists – dá pra me seguir aqui:

Lá criei algumas playlists fixas, que sempre serão atualizadas, além de outras temporárias. Funciona assim:

  • Na playlist Trabalho Sujo eu reúno as músicas que aparecem nos posts do site. Vai pelo lado mais noticioso mesmo e pode misturar aniversários de discos com singles recém-lançados. É o meu recorte editorial do conteúdo musical do site. Ouça aqui.
  • Na playlist Vida Fodona eu reúno todas as músicas que já foram tocadas nas mais de 500 edições do antigo podcast. Ainda estou adicionando músicas e vai demorar pra encher tudo – são dez anos de mixes, afinal. Ouça aqui.
  • Na playlist Noites Trabalho Sujo está a trilha sonora da sua festa favorita, naquela vibe de acabação feliz que você bem conhece. Ouça aqui.
  • Na playlist Sussa a vibe, óbvio, é mais tranquila e conversa com a minha festa vespertina de verão. Ouça aqui.

Além destas, que são fixas e estão sempre sendo alimentadas, ainda há versões periódicas de algumas delas: quase toda semana tem playlist nova do Vida Fodona, sempre antes de qualquer Noite Trabalho Sujo alimento uma playlist que dá o tom da próxima festa e o mesmo vale com a Sussa, que é mais esporádica. Fizemos – eu, Danilo, Klaus e Babee – uma Sussa inclusive pra selar a parceria com o Spotify, tocando na sede do aplicativo aqui em São Paulo. E a trilha sonora foi essa:

E ainda vem aí os Spotify Talks, em que vou conduzir conversas sobre música com gente que manja de música. Faço a curadoria e a apresentação destes encontros, que devem começar em julho. Depois eu falo mais sobre isso.

E vem mais novidade dessa parceria por aí, aguardem!

Revista Trabalho Sujo: Um papo com o Miranda

Entro na reta final do crowdfunding da versão impressa do Trabalho Sujo conversando com os colaboradores da primeira edição – e o primeiro deles é velho compadre Carlos Eduardo Miranda, que fala sobre porque uma revista impressa em 2016. Saiba mais sobre o projeto e colabore com a campanha no site do Catarse – e se você já colaborou, espalhe para os amigos.

Vamos fazer a versão impressa do Trabalho Sujo?

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Comecei o financiamento coletivo da revista do Trabalho Sujo lá no site do Catarse – qualquer dúvida é só perguntar aí!

Trabalho Sujo: 20 anos – e agora?

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É oficial: passei metade da minha vida fazendo isso. E daí?

E daí que 2015 me comprovou uma teoria que vinha me azucrinando desde que eu ainda trabalhava no Estadão, um processo terapeutico de autorreconhecimento que me fez repensar várias coisas em relação à minha produção: por que eu preciso depender de um grande veículo de comunicação para fazer as coisas que quero, levantar os questionamentos que acho interessantes, passar as informações que realmente fazem sentido pra mim? O próprio Trabalho Sujo começou nessa lógica da brecha, de aproveitar uma determinada posição para conseguir passar informações que normalmente não estariam ali.

Por todos empregos que tive aproveitei essa situação, seja virando um caderno de cultura do avesso como editor aos 25 anos, seja subvertendo as intenções originais da revista de entretenimento e tecnologia, fazendo a iniciativa privada publicar Lawrence Lessig e distribui-lo em dezenas de milhares de bibliotecas do Brasil, puxando política e cultura para dentro de um caderno de tecnologia ou tentando abrir a cabeça de uma revista CDF. Ao mesmo tempo fui entendendo que é assim que eu sei trabalhar, colocando meu olhar, minha assinatura, minha marca. Mesmo quando fui chamado para outros trabalhos fora de redação levava uma inquietação, uma provocação, uma vontade de misturar e um olhar em perspectiva. O problema é que os trabalhos em redação (processos criativos prazeirosos em que conheci algumas das melhores pessoas da minha vida) inevitavelmente me arrastavam para intermináveis reuniões que não iam dar em nada, decisões absurdas de RH, passaralhos e invencionices que claramente não iam dar certo, além de uma desagradável sensação de cumplicidade com gente que você não queria nem conhecer.

Por isso desde o ano passado resolvi abandonar de vez as redações. Fui demitido da Galileu com uma desculpa esfarrapada qualquer (e bem no mesmo mês em que colocava na capa da revista a importância de se consertar algo que não está dando certo em vez de jogar fora) mas não via a menor perspectiva em voltar para qualquer redação. Recebi convites que em outras épocas fariam meu olho brilhar e os declinei sem o menor remorso. Toda a possibilidade de desenvolver um bom trabalho era ofuscada pela rotina sem graça de plantões, horas extras, fechamentos e ter que utilizar o Outlook.

Enquanto isso, o Trabalho Sujo deixava de funcionar só como hobby e terapia e seus filhotes começavam a caminhar: as Noites Trabalho Sujo se estabeleceram em São Paulo, depois vieram os cursos Trabalho Sujo e OEsquema acabou. Tudo conspirando para que eu assumisse o site como meu principal veículo, Ainda mantenho um blog no UOL, uma coluna na Caros Amigos e me chamam vez por outra para escrever aqui e ali, mas cada vez percebo que isso é que é o acessório. Não que os veículos de comunicação tradicional não importem, mas eles estão se afunilando cada vez numa imensa descartabilidade, medindo sucesso e desempenho por clique, view e like, reverberando notícia ruim, requentando release, pensando em ganchos bobos para conseguir falar de assuntos legais, correndo atrás de discussões das redes sociais (quando deveriam pautar a discussão), tomando o tom das pessoas que comentam em sites (você já comentou em alguma notícia de site grande na vida?) como se esse fosse o tom de todo seu leitorado, entrevistando as mesmas pessoas que entrevistam há vinte, trinta, quarenta anos e regurgigando pessimismo como se viver fosse uma merda.

O Trabalho Sujo me mostra que é justo o contrário e todo o dia eu descubro uma história incrível, uma pessoa foda, um trabalho formidável, algo que realmente merece atenção. Às vezes é uma banda, um show, um entrevistado, uma música, um filme, um remix; outras vezes é uma pessoa, uma história, uma festa, um comentário, um causo, um link, um dado, um texto, uma informação. Muitas vezes publico sem explicar demais, outras puxo como fio da meada de algo maior, outras tantas não publico, apenas guardo – e tudo isso vai ajudando as coisas a fazerem mais sentido ainda.

E tudo, como sempre repito, é jornalismo. É pesquisar, checar, fuçar, descobrir, redigir, editar e mostrar – seja num curso, num post, numa matéria, num comentário em vídeo, num podcast, numa discotecagem. Mas não é o jornalismo caxias que se leva mais a sério do que o assunto nem o jornalismo propaganda que só funciona com tudo mastigadinho na mesa do dito “repórter”, que não vai atrás de nenhuma informação. Chamo isso de jornalismo-arte como brincadeira mas também como provocação. Porque eu sentia falta de um romantismo jornalístico que permitia humor, otimismo e vínculo com a rua, que não era pautado em esporros, publicidade disfarçada, morosas burocracias e o descaso com o leitor. Não sinto mais falta disso, pois com o foco no Trabalho Sujo isso tudo foi retomado. Falta ainda uma redação, um lugar constante para trocas de experiências coletivas, mas isso é algo que eu vou resolver depois, sem pressa.

Por enquanto prefiro ir tocando minha vida sem stress, cuidando dos pequenos detalhes da vida além do trabalho (cozinhando o próprio almoço, tomando sorvete, lendo um livro ou indo pro cinema durante a semana à tarde, encontrando amigos, caminhando pelo prazer de caminhar, namorando), enquanto vejo um hobby virando ofício, fonte de renda e de inspiração. Os cursos O Outro Lado da Música e Todo o Disco são só as primeiras novidades desta nova fase. A festa do sábado – mais uma edição da já clássica Analógicodigital, um dos primeiros indícios dessa mudança – era o mínimo que eu podia fazer. Mas tem pelo menos três grandes novidades vindo aí que anunciarei até o meio de dezembro – nenhum frila, tudo relacionado ao próprio Trabalho Sujo – que mostram como vão ser as coisas daqui pra frente.

Quer dizer, de uma certa forma você já sabe. Pode não saber o que é, mas como vai ser está meio implícito.