Titãs ao mesmo tempo agora
Em mais uma colaboração para o caderno Eu& do jornal Valor Econômico, escrevi sobre os bastidores da tão aguardada volta dos Titãs, que começou neste fim de semana. Conversei com os diretores da empresa novata 30E, Pepeu Correa e Gustavo Luveira, que fazem os festivais Knotfest, Ultra, Mita e GPWeek e no último ano trouxeram Jungle, Wu-Tang Clan, Killers, Two Door Cinema Club, Gorillaz, Hot Chip e Kooks para o Brasil, e eles me contaram como conseguiram convencer esse bicho de sete cabeças voltar à ativa.
Titãs: Como uma produtora novata convenceu os sete integrantes a retornar aos palcos
Banda dos anos 80 está de volta para uma turnê de mais de 20 datas em estádios por dez cidades do Brasil, incluindo pelo menos uma passagem pelo exterior
O mercado de música ao vivo pós-pandemia está de vento em popa: o país vive um momento intenso não apenas em termos de quantidade de shows, mas também na quantidade de público que vem frequentando esses novos shows. E um dos principais eventos desta nova retomada que começou ainda no final de 2021 ocorre agora, quando o grupo paulistano Titãs volta aos palcos com sua formação quase completa: à exceção do guitarrista Marcelo Fromer, que morreu em junho de 2001, todos os integrantes originais voltam para uma enorme turnê de mais de 20 datas em estádios por dez cidades do Brasil, incluindo pelo menos uma passagem pelo exterior.
Os Titãs nunca chegaram a acabar de verdade, apenas foram perdendo integrantes. A primeira saída aconteceu ainda no auge da banda, quando Arnaldo Antunes deixou o grupo no início dos anos 90. Dez anos depois era a vez do baixista Nando Reis sair do grupo para abraçar a carreira solo, logo após a trágica morte de Fromer num acidente de trânsito em São Paulo. Em 2010 foi a vez do baterista Charles Gavin deixar a banda que viu, seis anos depois, a saída do guitarrista e vocalista Paulo Miklos. Desde então o grupo foi reduzido a Branco Mello, Tony Bellotto e Sérgio Britto, que resolveram inclusive assumir a nova formação ao chamar o trabalho mais recente de Titãs Trio. A última vez que os sete remanescentes do grupo estiveram juntos no palco foi em 2012, quando se reuniram para comemorar os trinta anos da banda num show que gerou a gravação de um DVD.
Mas a reunião que foi anunciada no final do ano passado é algo que nunca aconteceu na história da banda e começou a ser ventilada, ainda que apenas como especulação, em entrevistas no meio do ano, quando o trio remanescente começou a ser perguntado se havia algum projeto para comemorar os 40 anos da banda, completos em 2022.
Foi quando a produtora 30E entrou em ação. “A gente ouvia no mercado que algumas pessoas haviam tentado, mas diziam que era impossível”, comenta o CEO da empresa, Pepeu Correa, à frente da produtora desde sua fundação, em 2021. De lá pra cá, a 30E foi se estabelecendo ao mesmo tempo em que o mercado de shows voltava à atividade. Com um investimento inicial de 400 milhões de reais, a empresa fechou parceria com a BonusTrack Entretenimento de Luiz Oscar Niemeyer, um dos principais executivos do país nessa área, que começou ainda nos anos 80 com Roberto Medina no Rock in Rio, fundou o Hollywood Rock e trouxe nomes para o país como Paul McCartney, Rolling Stones, U2 e Elton John.
Desde então, a empresa trouxe artistas como Jungle, Wu-Tang Clan, Killers, Judas Priest, Two Door Cinema Club, Gorillaz, Hot Chip, Kooks, Bring Me the Horizon e Pantera, sejam em shows solo ou em um dos quatro festivais que lançaram no ano passado: Knotfest, Ultra, Mita e GPWeek. Mas faltava algo que os conectasse com o mercado de música feita no país. “Foi um grande amigo do mercado que me levantou essa hipótese há um ano, quando a gente começou a entender quais seriam os melhores caminhos para conseguir juntá-los”, continua Gustavo Luveira, vice-presidente de marketing da empresa. “Queríamos oferecer para eles não um modelo de negócios, mas um projeto, em que o grande desafio seria ter um propósito que unisse todos eles.”
Foi quando começou o processo de convencimento da banda de que este retorno seria possível, começando a partir do trio remanescente Pepeu e Gustavo se encontraram primeiro com Tony, Sérgio e Branco para depois abordar cada um dos ex-integrantes do grupo, nesta ordem: primeiro Arnaldo, depois Paulo, Charles e finalmente Nando. “Todos foram bem pessimistas, sem exceção. Achavam que a gente estava louco. Mas aos poucos a gente foi entendendo o que passava na cabeça de cada um deles e fazíamos perguntas: ‘O que você pensa disso? O que pensava sobre isso lá atrás e o que pensa hoje?’ e aos poucos eles foram se abrindo…”, continua Pepeu.
As conversas seguiram no âmbito individual à medida em que os executivos iam entendendo o funcionamento do cérebro de cada titã sobre essa possível volta. “Era algo complexo, mas ao mesmo tempo muito simples, porque eles se amam, são amigos, mas ficam preocupados sobre como vai ser, sobre estrutura e sobre os outros integrantes”, continua o CEO da empresa, “até que virei pra cada um e perguntei o que eles queriam.”
“Não colocamos todos numa sala de reunião e botamos todo mundo pra resolver ao mesmo tempo”, lembra o empresário, “fomos tratando individualmente, até que apresentamos um plano, ainda sem reuni-los ao mesmo tempo”. Correa conta que à medida em que ia apresentando o plano para cada um, todos se diziam satisfeitos, mas perguntavam se os outros haviam concordado. A empresa não confirmava. “Todos gostaram do nosso plano mas ficavam com uma pulga atrás da orelha em relação aos outros, perguntando se todos haviam topado, e a gente não respondia, só queria saber se cada um deles topava as condições que estabelecemos no nosso plano. E quando eu vi, tínhamos sete confirmados.”
O plano envolvia a grandiosidade da turnê, que passaria por pelo menos dez cidades e idealmente aconteceria em estádios, numa escala que nunca foi vista no país. “A gente sabia que ia encher o Allianz Park em São Paulo, mas teríamos que ter uma estratégia de marketing”, continua Pepeu. “E eles deram a liberdade pra gente poder criar toda estratégia. Cada ponto foi decidido em conjunto. Assinamos o contrato para fazer os dez shows, mas para eles tudo parecia muito frio, porque eles estavam felizes mas muito apreensivos, pois não haviam sentado os sete numa mesa e comemoraram dizendo ‘vambora!’ Eles fecharam com uma empresa.”
A confirmação aconteceu em outubro do ano passado, quando os sete se reuniram pela primeira vez para tratar da reunião, batizada de Titãs Encontro. O reencontro aconteceu no primeiro compromisso profissional da velha banda, quando foram fazer as fotos de divulgação com o fotógrafo Bob Wolfenson.
“Foi quando caiu a ficha para cada um”, lembra o diretor-executivo. “A gente preparou um ambiente muito acolhedor e quando eu cheguei, dois já estavam lá e aos poucos os outros foram chegando. Quando eu vi, três deles estavam aos prantos de tamanha emoção. Todos super emocionados. Aí os caras criaram um grupo no Whatsapp e tudo andou.”
De dez, a turnê passou para 21 shows entre abril e junho, com passagens pelo Rio de Janeiro (27 e 28 de abril), Belo Horizonte (29 e 30 de abril), Florianópolis (5 de maio), Porto Alegre (6), Manaus (11), Belém (12), Aracaju (26), Salvador (27), João Pessoa (1° de junho), Recife (2), Fortaleza (3), Brasília (7), Goiânia (8), Curitiba (10), São Paulo (16, 17 e 18), Vitória (23) e Ribeirão Preto (30). Além disso, o grupo já fechou uma data em Portugal, quando tocam na Altice Arena, em Lisboa, dia 3 de novembro. “Eles também querem fazer algo nos EUA”, explica Pepeu, lembrando que a primeira data no estádio de São Paulo teve ingressos esgotados em duas horas. “Eu tenho demanda para fazer seis Allianz lotados, mas a turnê tem data para acabar”.
A empresa recebeu proposta para registrar a turnê dos principais canais de streaming, mas preferiu ela mesma fazer a captação de áudio e vídeo de todos os shows para pensar em um lançamento posterior. Além de pacotes VIP que inclui encontros dos fãs com a banda e um show que deve ter em média duas horas e meia de duração, a 30E também se propõe a fazer uma turnê como nenhuma realizada no Brasil até então. “Teremos um palco com uma estrutura de telões de LED que nenhum artista trabalhou no Brasil”, explica Luveira.
Depois do anúncio da volta dos Titãs, a empresa também anunciou a turnê de retorno do grupo emo NXZero e Pepeu explica que receberam propostas de artistas de diferentes épocas e estilos musicais para tentar algo do tipo, mas prefere fazer mistério sobre os nomes. “Iremos anunciar em maio vários shows internacionais e algumas turnês nacionais”, conta o diretor executivo, sem dar nenhuma pista, além dos números: “Queremos fazer 200 shows esse ano e atingir 1,5 milhão de pessoas.”
Tags: 30e, frila pro valor economico, titas, valor economico