Vida Fodona #554: Vida Fodona de resistência

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O único Vida Fodona de março de 2017.

!!! – “The One 2”
Spoon – “Whisperilllistentohearit”
Katy Perry – “Chained to the Rhythm (Hot Chip Remix)”
Bruno Mars – “24k Magic”
Dr. Dre – “Let Me Ride”
Mano Brown + Dom Pixote + Seu Jorge – “Dance Dance Dance”
Daryl Hall & John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Roxy Music – “Oh Yeah”
Paralamas do Sucesso – “Nebulosa do Amor”
Lorde – “Liability”
George Michael – “Careless Whisper”
Boogarins – “Olhos”
Feist – “Pleasure”
Velvet Underground + Nico – “All Tomorrow’s Parties”
Black Angels – “I’d Kill for Her”
Underworld – “Slow Slippy”
A Tribe Called Quest – “We the People”
Danny Brown – “White Lines”
Negro Léo – “O Céu dos Otários é Neutro”
Sambanzo – “Capadócia”
Sebadoh – “Vampire”
Giovani Cidreira – “Crimes da Terra”
Karina Buhr – “Esôfago”
Ney Matogrosso – “Freguês da Meia-Noite”

E aqui a versão do Spotify, com menos músicas:

Chegou a Charanga!

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Thiago França mais uma vez lança o novo repertório de sua exuberante Charanga, um dos blocos-símbolo do novo carnaval paulista. Com quatro canções, o disco Chão Molhado da Roça pode ser baixado de graça no site do músico.

Tudo Tanto #23: Metá Metá impiedoso

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A minha coluna Tudo Tanto da edição de julho da revista Caros Amigos foi sobre o terceiro disco do Metá Metá e o show deles que assisti na infame noite do golpe.

Música inquieta
Como o Metá Metá desintoxicou a noite do golpe e mostrou a luz no fim do túnel – a música

No ensurdecedor silêncio que baixou sobre a noite do golpe, tive de sair de casa. Mariana, minha cara-metade, estava viajando a trabalho em outra cidade e a indignação após a notícia de que haviam derrubado a democracia brasileira no tapetão e que estávamos prestes a voltar, com sorte, há três décadas, me deixava inquieto em casa. Não dava pra ficar remoendo o golpe sozinho naquela noite. Mandei mensagens para alguns amigos perguntando o que fazer e a Roberta me avisou: tem Metá Metá na Casa de Francisca. Nem pensei duas vezes e em poucos minutos já estava no metrô rumo ao minúsculo sobrado nos Jardins.

Formado pelo trio Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França, o Metá Metá é uma das inúmeras facetas da nova música de São Paulo, herdeiros diretos da geração da vanguarda que criou-se ao redor do saudoso Lira Paulistana. Os três, como outros músicos, cantores, compositores e intérpretes da mesma geração, participam dos discos uns dos outros, lançam projetos paralelos e discos de improviso e vivem uma constante reinvenção de suas personalidades a partir desses encontros e reencontros musicais.

Mas o Metá Metá é o epicentro mais forte dessa cena.

São três personalidades distintas e cada uma puxa para um extremo: Juçara é veterana dos grupos Vésper e A Barca, professora de canto e de uma intensidade ímpar no palco, deixando sua voz vibrar suave ou nos atacar como uma força da natureza. Kiko vem do punk rock e do samba paulistano, fez fama liderando o grupo Afromacarrônico que tocava no Ó do Borogodó, inferninho do samba na Vila Madalena, e transita entre a guitarra e o violão sem a menor cerimônia, tratando ambos instrumentos com a mesma intimidade. Thiago é saxofonista de salão, seja de jazz ou de gafieira, e explora os limites de seu instrumento indo do hard bop à doce melodia, além de peregrinar pela flauta e por engenhocas que disparam efeitos.

Encontrei a Roberta antes do show e subimos para o andar sobre o palco, no camarim em que o público, lá de baixo, pode ver os músicos antes de eles começarem a tocar. Os três, normalmente falantes e sorridentes, estavam grudados cada um em seu celular, olhando tensos para a tela brilhante e levantando a cabeça para cada nova notícia que liam sobre os desdobramentos da política brasileira indo para o brejo. Na hora do show, no entanto, tudo mudou. A princípio sérios e introspectivos, o trio cumprimentou o público e começou um lento e fugaz exorcismo de más vibrações. Kiko transformando o violão em instrumento de percussão ou emulando distorção elétrica ao entortar suas cordas. Thiago desembesta-se no sax como se fosse possível viajar até Saturno na velocidade de seu som. E Juçara, entre os dois, entrega-se à musa do trio – a própria música – num misto de sacerdotisa e mestra de cerimônias. Juntos despoluíram toda a má sorte que havia caído sobre o dia e, mesmo que tenham conseguido fazer piadas para desanuviar o clima, mostraram o rumo da luz com música. Intensa música.

No show, algumas músicas funcionavam como aperitivo para o assombroso MM3, terceiro disco que o trio lançou de supetão no mês de junho. Gravado quase ao vivo com o baixista Marcelo Cabral e o baterista Serginho Machado, o disco expande ainda mais o universo explorado no pequeno palco da Casa de Francisca. E mesmo sem dar nomes aos bois, é um disco – como a banda – de natureza política. Um disco descontente – para mencionar Let’s Play That, de Jards Macalé, tocada ao vivo na noite daquele fatídico 12 de maio. Um disco de protesto.

“A gente quando pensa em música de protesto, pensa em letras diretas. Mas cada gesto seu como artista pode ser um protesto”, me explicou Kiko depois; “Por exemplo, o som do Metá pode ser um protesto contra a música brasileira careta, comercial ou inofensiva. A gente pensa muito nisso. O jeito como autogerimos nossos negócios também pode ser um protesto contra os artistas conformados que se deixam ser explorados. Acho que fazemos mais política do que protesto. No momento em que disponibilizamos o disco de graça num País pobre, e qualquer pessoa que mora em uma cidade com menos infra-estrutura pode baixar o disco, isso pode ser encarado como democracia cultural ou uma espécie de reforma agrária da cultura. Não é só o Estado que deve dar acesso à arte, os artistas também podem contribuir.”

“A gente não usa a música pra fazer protesto, a gente usa pra fazer arte”, continua Thiago. “Contamos a nossa história, o que vemos e percebemos do mundo ao redor. É possível você abstrair completamente os significados, reinterpretá-los, assim como a gente ouve muita música que não tem ideia do que a letra diz, e fruímos mesmo assim. Mas sim, somos pessoas inquietas, politizadas e incomodadas com a realidade em que vivemos, sobretudo em São Paulo. Nos envolvemos em questões sociais e políticas, somos simpáticos a vários movimentos.”

“Fazer arte, primar pela liberdade, pela experimentação e pela independência, no que diz respeito à criação e à produção, se tornou algo quase proibitivo na atual realidade cultural brasileira”, completa Juçara. “Mas o protesto se dá de uma maneira muito diferente daquela que marcou os anos 60 e 70. Nossa música não tem palavras de ordem. O discurso mais político, se o utilizamos, aparece na nossa fala durante o show. É a sonoridade, a poesia, a proposta libertária que se estabelece em cada show que fazemos, onde o indivíduo se vê levado pelo som a se expandir, a se soltar, a se transtornar também! -, é isso uma forma de protesto. Talvez a mais forte forma de protesto que existe.”

“Abram caminho para o rei”, ela cantou durante o show. “Sorriam em vez de se curvar / Ele é justiça, ele é a lei / Que fez pra nos levantar / Pra nos pôr em pé, nos erguer / E lançar pra orum nosso olhar.” A plateia estava estática e extasiada, sendo levada num transe com uma descrição crítica do atual cenário político brasileiro – “Não há justiça se há sofrer / Não há justiça se há temor / E se a gente sempre se curvar”, culminando com uma saudação em ioruba ao rei de verdade que ainda há de chegar: “Kawó kabiecilè xangô oba iná!”

Voltei para casa mais leve. O pesar da noite que se abateu sobre o País persistia, mas havia um horizonte à espera, me disse a música. Ela mesma.

Metá Metá Metá

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O terceiro disco de Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França vem aí – e “Mano Légua” é só um teaser do que vai ser MM3.

Vish!

A vez do Fióti

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O sucesso de Emicida é uma parceria fraterna: enquanto Leandro rima e dá a cara a tapa pelos palcos da vida, seu irmão Evandro Fióti administrava sua carreira, construindo as fundações de seu escritório a partir de CDs vendidos de mão em mão no metrô. Hoje o escritório Lab Fantasma é um pequeno império, que administra as carreiras de Emicida e Rael e se tornou uma distribuidora digital, além de referência para uma nova geração de rappers pelo Brasil que viu que é possível ser bem sucedido artisticamente e nos negócios ao mesmo tempo. Como Emicida, Fióti sempre esteve envolvido com música e além de habilidoso violonista agora começa a colocar suas mangas artísticas de fora, ao anunciar o lançamento de seu primeiro EP ainda essa semana. Já gostei de cara por causa do título do trabalho: Gente Bonita (que era o mesmo nome da festa que eu fazia com o Luciano Kalatalo entre 2006 e 2010). Ele já mostrou o teaser do novo trabalho:

“​​Foi tudo orgânico”, me conta o novo artista: “Antes de montarmos a Lab, eu e o Leandro sempre se encontrava pra fazer algumas coisas. Mesmo trabalhando, quando eu fazia a produção de estrada, eu levava o violão e íamos compondo quando dava, mas as coisas foram ficando cada vez mais apertadas e isso deixou de ser possível. Porém, duas das parcerias que tenho com ele nesse disco já existem aproximadamente há oito anos,​ e eu até insisti algumas vezes pra ele lançar ‘Gente Bonita’ porque todo mundo a quem eu mostrava a música gostava. É um outro lado do Emicida como compositor que acho que vai surpreender o público. Mas na verdade Deus escreve certo por linhas tortas, ainda bem que ele não me ouviu e deixou mesmo para eu gravar porque essa música é linda.”

A música acabou batizando o novo disco: “O projeto não tinha nome no começo, mas depois me dei conta de que essa faixa sintetizava tudo o que eu queria passar, acho que é uma das letras mais fortes do trabalho. Dentro do estúdio, com os músicos, me veio esse nome. Tem a ver com a ideia que quero transmitir e até com o momento que eu estou vivendo, de um exercício de me apegar mais às coisas boas e positivas. E tem a ver também com uma coisa de enxergar o melhor nos outros; gente bonita são todas as pessoas que toparam estar comigo no projeto, colaboraram para que eu chegasse a este ponto. E num contexto mais amplo espero que sirva como uma mensagem positiva para todos que se identificarem com a faixa, para o povo da periferia, nosso povo, que todo dia precisa buscar motivação para levar a vida do jeito que ela é. Mesmo com todas as adversidades, continua sendo um povo alegre, feliz e bonito.”

Mas não é um disco de rap, já adianta: “Quem espera um disco de rap vai dar com os burros n’água!”, ri o compositor-empresário. “É um disco para que ouçam e pensem, reflitam e se divirtam. Ficou bem fincado nas raízes da música brasileira, está bem brasuca e isso reflete o meu gosto musical, me vejo nele inteiro, quem me conhece de longa data também vai compreender isso mais facilmente. Quem só conhece o Emicida vai ter a oportunidade de conhecer esse lado mais compositor dele também. Esse disco é vida que segue. Eu senti a necessidade de gravar essas músicas e fazer algo que as pessoas me cobravam há muito tempo, fui lá e fiz, sendo público do Emicida ou não, espero que as pessoas sintam e se identifiquem com a mensagem musical do trabalho. Estamos passando dias tão difíceis que vejo neste disco a possibilidade de as pessoas verem como nosso povo e nossa música são ricos e lindos e que isso sirva de combustível na luta diária de cada um. Se conseguir isso, já estou satisfeito. E quem não gostar não precisa falar nada, pode ir ouvir o que gosta.”

Também gravei a primeira vez que Fióti apresentou uma música ao vivo deste novo disco, quando juntou-se ao Rodrigo Ogi, ao Kiko Dinucci e ao Thiago França para tocarem o samba “Vacilão”, que estará no EP, num show de Ogi na Casa de Francisca.

“Gente Bonita”, a primeira faixa de trabalho, será lançada oficialmente nesta sexta-feira, dia 1° de abril. Não é mentira. O disco todo aparece em maio.

O último carnaval de Thiago França

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O incansável Thiago França queimou a largada e deu a partida no carnaval 2016 ao lançar no primeiro dia do ano o primeiro disco de marchinhas de sua inacreditável Espetacular Charanga do França. O saxofonista assumiu o papel de puxador de bloco de rua e chamou uma turma da pesada para se juntar ao seu coro, incluindo nomes como Rodrigo Campos, Tulipa Ruiz, Clima, Luiz Chagas, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Juliana Perdigão, Douglas Germano, Tika, entre outros. As composições têm títulos como “Marchinha do Pitbull (homo pitbullicus)”, “Gourmetizada”, “Cara do Apetite” e “Ferro na Boneca” e trazem o astral das velhas marchinhas para o século vinte e um: “Eu sou compositor, preciso dar o meu parecer sobre a coisa, senão não faz sentido pra mim”, ele me explica. “O repertório clássico é maravilhoso, realmente é, mas também porque dialoga com a nossa memória. A gente cresceu cantando, mas muitos assuntos precisam ser revistos, atualizados. Não quero ficar o resto da vida cantando “se a cor não pega, mulata quero seu amor”, por mais que seja um sucesso, que cumpra a sua função de fazer o povo cantar, é ofensivo. Aqui em SP estamos inventando nosso carnaval, tá tudo no começo. Os blocos mais tradicionais têm 10 anos, é muito pouco! Por que não criar do nosso jeito, como a gente acredita?”

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A preocupação política com o carnaval vem estampada no título do disco, colocado para download no site do músico, que chama-se O Último Carnaval de Nossas Vidas: “Tem dois sentidos: um, no sentido de brincar o carnaval como se não houvesse amanhã, se entregar, se permitir sem julgar, experimentar, se jogar mesmo; todo carnaval tem potencial pra ser histórico. O outro, é que, em se tratando de São Paulo, com essa onda conservadora que vem por aí, o nosso direito de fazer a festa tá sempre ameaçado. se a gente não fizer direito e não cuidar do que é nosso pode ser que seja mesmo o último carnaval de nossas vidas.” A seguir o resto da entrevista que fiz com Thiago:

Conta a história da ideia da Charanga até a realização dela no carnaval do ano passado.
Em 2013, quando a banda surgiu, já fazia uns anos que havia me distanciado de tocar samba no dia a dia, e a vontade era retomar esse repertório, fazer um furdúncio no pré-carnaval. Mas a sonoridade do sopro com a percussão, sem instrumentos harmônicos, me impactou tanto que imediatamente eu comecei a compor pra essa formação, e entendi que seria mais um projeto constante. Mesmo tendo o Pimpa tocando bateria, eu falo “percussão”, porque ele é um grande percussionista, essa linguagem tá impregnada no jeito dele de tocar, é por isso.
Imediatamente, todo mundo começou a pedir um bloco da Charanga. A princípio fui reticente, não imaginava que pudesse rolar tão bem quanto rolou. Queria que fosse tudo acústico, no chão, sem carro, sem equipamento, e não imaginava que teria quorum. Daí numa brincadeira com um grandessíssimo fundo de verdade, no finalzinho de 2014, fiz uma convocação via Facebook pro bloco, e a resposta foi imediata e muito positiva, tanto de músicos afim de tocar quando de gente querendo ajudar a coisa a acontecer. Foi lindo, desfilamos com a rua lotada, quase 2.500 pessoas, com uns 20 sopros e mais uns 30 percussionistas. Cumprimos nosso trajeto debaixo de um dilúvio bíblico e ali, debaixo daquela água toda, o Espetacular Bloco da Charanga virou pra mim um compromisso definitivo.

O que dá pra esperar da saída da Charanga esse ano?
Cara, não sei. Ano passado eu imaginei umas 400 pessoas, deu 2.500. Esse ano, o pessoal tá dizendo que vai ter mais gente. Só vamos saber depois que passar… Mas a idéia é a mesma. não tem patrocínio de cerveja de milho transgênico, não tem carro de som, é a gente no chão, todo mundo junto e misturado. Mas esse ano vai ter corda pra proteger a banda, pra evitar contar demais com a sorte como foi o ano passado.

O carnaval em SP tá melhorando?
Sim. Em comparação com os outros carnavais que conheço, Rio, Salvador e Recife, aqui o pessoal ainda é mais contido, se fantasia pouco. A retomada, aqui, passa muito por um lance político, de ocupar espaços públicos, da demanda por cultura, por eventos gratuitos ao ar livre, pra gente poder sair de casa, tirar o limo do apartamento. Esse lado a gente já aprendeu, mas agora precisa desenvolver mais o lado musical, artístico: compor, se fantasiar, começar um movimento cultural. Ainda tem muito pouco músico/artista envolvido nessa parte de criação, e é um terreno vasto, frutífero, muita coisa boa pode surgir disso.

E a Space Charanga, toca no carnaval?
Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que a gente faça o SpaceFreeBloco no sábado, tocando coisas absurdas, pode ser que não. A Space é um mistério…

E o que mais você tem feito com previsão de lançar esse ano?
Depois do carnaval a gente lança a continuação do disco da Charanga, outro compacto com 4 músicas, como foi o primeiro, com repertório não-carnavalesco. Tem o disco do meu duo de sax barítono e bateria com o Sergio Machado. Deve rolar também pro meio do ano o terceiro do Metá Metá. Pro primeiro semestre é isso, mas ainda tem 2015 rendendo assunto, foram 4, entre eles o Coisas Invisíveis, que assinei como Sambanzo, você viu? E um projeto de rap com o Síntese. Mas certamente a gente vai inventar mais coisa.

Os 75 melhores discos de 2015: 30) Thiago França + Space Charanga – R.A.N.

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Rumo a Saturno.

Encarnado em vinil

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Um dos melhores discos do ano passado (quarto colocado, na minha contagem), o Encarnado de Juçara Marçal vai ser lançado em vinil pela Goma Gringa, em versão que inclui uma sobrecapa que estica a arte original feita por Kiko Dinucci – já está em pré-venda. O selo também está lançando um dos grandes discos deste ano em vinil, o R.A.N., do Space Charanga, a versão Sun Ra da Charanga de Thiago França, parceiro de Juçara no Metá Metá.

A Charanga de Thiago França vai para o espaço sideral

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A usina de som chamada Thiago França não para e faz sua Espetacular Charanga deslocar-se para o espaço sideral seguindo a trilha do explorador do som galáctico Sun Ra. O saxofonista onipresente não contenta-se em ser um dos pilares do Metá Metá e da atual vanguarda paulistana e traça diferentes percursos com projetos paralelos que formam sua impressionante obra, que também inclui uma força da natureza chamada Sambanzo. Desta vez, ele levou sua tradicional charanga – um dos destaques do carnaval desse ano em São Paulo – para sair do cercado do samba e explorar outras dimensões.

“O movimento é cíclico, né?”, ele me explica, comentando seus projetos. “O Sambanzo era mais solto, bastante improviso; a Espetacular Charanga é mais comportada nesse sentido. Depois de um tempo afastado de roda de samba, deu vontade de revisitar esse repertório. Daí vem o desdobramento, a mesma galera mas num contexto diferente.” A mesma galera no caso é a Charanga que está lançando sua versão sideral, o Space Charanga, que é ele tocando sax tenor, alto, pvsax, percussão e instrumentos eletrônicos, Sergio Machado na bateria, Marcelo Cabral (outro onipresente) no baixo acústico e percussão, Anderson Quevedo (no sax barítono, atabaque, percussão), Amilcar Rodrigues (no trompete e flughelhorn) e Allan Abbadia (no trombone e percussão), além da participação de Juliana Perdigão no clarone em duas faixas. O primeiro disco – R.A.N. (rhythm and noise) – já está pra download gratuito no site do saxofonista. “A Space é um desdobramento da Charanga de carnaval, a mesma metaleira com um jeito de tocar diferente, mais solto, mas com o mesmo espírito festivo. Sun Ra é uma influência óbvia, o “space” vem daí”, explica.

O disco foi gravado em agosto do passado no Red Bull Station e impressiona a paciência do prolífico Thiago para lança-lo: “Tem aquela coisa de mixagem e masterização que é sempre mais delicada, leva um tempo, e nesse meio tempo o Metá ocupou bastante a agenda, com viagens e o EP. No começo do ano teve o bloco, que foi um parto, janeiro e fevereiro eu só tinha isso na cabeça. Eu poderia ter soltado o disco antes, porque tá pronto faz um tempo, mas preferi sincar com a chegada do vinil, que já está em pré-venda no site da Goma Gringa.” O show de lançamento vai acontecer dia 23 de agosto, no Sesc consolação ,”com vinil na mão!”, comemora.

O resultado é um amálgama sonoro de sopros e percussão (sobre o baixo torto de Cabral) em transe que começa quase abstrato e aos poucos vai perseguindo padrões e cores sonoras específicas, como se visitasse planetas. O jazz é o inevitável ponto de partida, mas R.A.N. percorre mares caribenhos, africanos e polinésios, por vezes revoltos, por outras plácidos e serenos, mas nunca sem parar. O movimento é sempre contínuo, por mais bucólica que seja a passagem. O som segue à deriva por lugares reconhecíveis e inusitados da alma e do cérebro, usando a música apenas como pretexto para impulsionar uma viagem de autoconhecimento. Houston, você tem um problema – nós não.

Dá pra baixar o disco aqui, encomendar o vinil aqui e ouvir o disco abaixo:

E o disco novo do Passo Torto chama-se Thiago França

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Você já sabia que o quarteto Passo Torto – formado por Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos – estava prestes a lançar um disco com a Ná Ozzetti e a presença do saxofonista Thiago França na primeira foto de divulgação do trabalho alertava que ela não seria a única participação no disco lançado nesta terça, que chama-se… Thiago França – mas a participação Thiago resume-se ao título. O disco pode ser baixado gratuitamente no site da banda, que lança o álbum nos dias 7 e 8 do mês que vem no Sesc Santo Amaro.