Show

Mais uma pérola não-lançada da música brasileira aparece online, dessa vez o mitológico show que não apenas reuniu no mesmo palco Tom, João, Vinícius e Os Cariocas como apresentou ao mundo uma de suas músicas mais conhecidas, “Garota de Ipanema”. Organizado pelo produtor Aloysio de Oliveira, o show, batizado de O Encontro, foi realizado na casa Au Bon Gourmet, em Copacabana, no Rio de Janeiro, no dia 2 de agosto de 1962. O momento era crucial – Tom e João estavam de malas prontas para os Estados Unidos e Vinícius começava sua parceria etílica com Baden Powell. Se esse show não acontecesse, os três nunca mais se reencontrariam no palco. Para contrapor o trio de ouro da nova cena carioca, Aloysio chamou o grupo vocal Os Cariocas para criar certo atrito criativo entre as duas gerações – e fizeram isso não apenas com seu canto de apoio ao mesmo tempo sofisticado e nostálgico como na canção “Bossa Nova e Bossa Velha”, em que brincam com a mudança de valores proposta pelos bossanovistas. E além da estréia mundial de “Garota de Ipanema” (cuja introdução tem forma de bate-papo), o show ainda conta com performances impecáveis dos três. Histórico é pouco – baixa aqui.

E eu lembrei que tenho que escrever sobre o show dele no ano passado – e, mais, sobre os 10 melhores shows do ano passado (incluindo o do Dylan). Mas segue a retrospectiva…

E o Lost, hein?

Assistiu? Curtiu? Eu achei bom, mas não tão bom. Mas agora vou pro Little Joy, amanhã a gente continua isso:

Mais Of Montreal ao vivo, dessa vez tocando ELO.

Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está

Embora muita gente entorte a cara, uma das principais bandas da história do pop brasileiro pode estar às vésperas de renascer para toda uma nova geração. Com o anúncio ano passado que a EMI finalmente vai disponibilizar online o catálogo do Legião Urbana, aos poucos começa uma espécie de Anthology brasileiro, idealizado por Renato Russo desde antes de sua banda existir, que em seus últimos anos de vida idealizava uma caixa com todo o material não-oficial do grupo lançada com o título de Material.

Mas o Legião continua firme e forte, rendendo não apenas dinheiro para sua gravadora e detentores de direitos autorais como reverberando no imaginário coletivo sempre de alguma forma – seja numa regravação, numa peça, num programa de TV. A presença de Renato Russo no imaginário coletivo brasileiro é uma constante maior do que ídolos mais incensados – como Cazuza, Raul Seixas ou os Mutantes – mesmo que não haja o oba-oba característicos dos fãs destes grupos.

Veja por exemplo, um festival realizado em Montevidéu no Uruguai que foi responsável, pela primeira vez depois do fim da banda, por reunir Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá de novo num palco – e para tocar Legião Urbana. Organizado no final de 2008 por bandas fãs uruguaias do grupo de Brasília, o evento teve um público de 2 mil pessoas que teve a oportunidade de assistir, entre outras atrações, ao Dado desafinando no vocal de “Índios”.

O Bruno do Sobremúsica entrevistou o Dado sobre o show no Uruguai:

Assisti da platéia, quente e lotada o Sebastián (vocalista da banda Vela Puerca) cantar “Se fiquei esperando meu amor passar”. Chorei! Muito emocionante, nunca mais tinha ouvido essa música ao vivo… E assim foi até a décima-primeira música quando eles nos chamaram ao palco e o La Trastienda (casa de shows) foi abaixo. Cantei “Índios” acompanhado do pessoal do Bajofondo, Juan, Luciano , Gabriel e Bonfá na bateria… Foi incrível. Na sequência Bonfá cantou “Pais e filhos” e mais uma vez a casa caiu… E assim se deu até o fim, momentos de grande emoção e comoção generalizada, todos acabaram em êxtase numa grande confraternização sulamericana. O melhor é que está tudo filmado. Lavamos a égua…

Isso no Uruguai. Por aqui, mal se fala num grupo que é a única banda pop brasileira que chega aos pés de Chico, Caetano ou Gil no critério quantidade de hits no inconsciente coletivo nacional. Nenhum outro grupo de rock brasileiro teve uma trajetória tão particular e uma aceitação tão instantânea – e massiva – de seu trabalho. Mais do que “porta-voz de sua geração”, Russo teve um papel crucial na história da música pop brasileira, quando ensinou a várias safras diferentes de ouvintes que era possível compor letra de música que não tivesse necessariamente cara de letra de música. Boa parte dos hits do Legião tem letras que parecem ter saído de conversas, de bate-papos, em vez de terem sido propriamente compostas.

E, bem ou mal, Renato Russo foi o arquetípico indie brasileiro. O moleque que não gosta de samba nem de praia, que fica ouvindo suas bandas desconhecidas no quarto, vivendo fantasias rock’n’roll. Renato imitava Morrissey e Ian Curtis quando se apresentava, líderes de duas bandas essencialmente indies, além de ter posado para a foto interna de um disco (V) com a camiseta do Jesus & Mary Chain. Nunca gravou cover, fez apenas citações de músicas alheias no meio de suas músicas. Quando fez concessões à música estrangeira, saiu em carreira solo, foi atrás de um tema para reunir grandes compositores americanos e outro para juntar breguices italianas. “Feche a porta do seu quarto porque se toca o telefone pode ser alguém com quem você quer falar por horas e horas e horas” é uma letra que fala de um comportamento típico do nerd atual – e isso antes da internet ou celulares existirem.

O indie, como tribo, é o nerd do rock (e não necessariamente só do rock inglês pós-86, mas de toda história do rock) – o cara que sabe a ordem das faixas de qualquer disco (pode ser dos Beatles, do My Bloody Valentine, do Engenheiros do Hawaii ou dos Ramones) equivale sua nerdice com gente disposta a aprender a falar orc ou klingon. A sutil diferença entre o indie e o nerd clássico é que os ídolos do primeiro aspiram por algo que os ídolos do segundo ignoram: estilo. Se bem que tem gente que acha que os uniformes dos Beatles (seja na Beatlemania ou no Sgt. Pepper’s) eram mais brega do que os de Jornada nas Estrelas (tudo bem – mas as únicas pessoas que eu vi fantasiadas de Beatles na vida eram bandas cover).

O Legião Urbana podem ser uma peça que está faltando no cenário pop brasileiro atual, que una tanto a geração dos festivais independentes com a cadavérica safra insistente das bandas de rock dos anos 80, aos grupos dos anos 90 que estão cada vez mais perdidos, aos indies ortodoxos que só ouvem bandas em inglês e aos emos cujas bandas podem aprender que compor em português permitem rimas que não são apenas verbos no infinitivo. O fato de Russo ter morrido pode ser crucial para não virar apenas mais um revival – substitui-lo por qualquer vocalista para uma volta do Legião me parece ainda mais risível do que colocar alguém para cantar no lugar de Freddie Mercury e chamar a banda de Queen – e fazer com que o cenário pop brasileiro finalmente se enxergue como um só.

Mais festival…

E agora saiu a escalação do Bonnaroo, que rola em junho, nos EUA. Em negrito, o que eu veria…

Bruce Springsteen and the E Street Band
Phish (2 shows)
Beastie Boys
Nine Inch Nails
David Byrne
Wilco
Al Green
Snoop Dogg
Elvis Costello Solo
Erykah Badu
Paul Oakenfold
Ben Harper and Relentless7
The Mars Volta
TV on the Radio
Yeah Yeah Yeahs
Gov’t Mule

Andrew Bird
Band of Horses
Merle Haggard
MGMT
moe.
The Decemberists
Girl Talk

Bon Iver
Béla Fleck & Toumani Diabate
Rodrigo y Gabriela
Galactic
The Del McCoury band
of Montreal
Allen Toussaint
Coheed & Cambria
Booker T & the DBTs
David Grisman Quintet
Lucinda Williams
Animal Collective
Gomez
Neko Case
Down
Jenny Lewis
Santogold
Robert Earl Keen
Citizen Cope
Femi Kuti and the Positive Force
The Ting Tings
Robyn Hitchcock & The Venus 3

Kaki King
Grizzly Bear
King Sunny Adé

Okkervil River
St. Vincent
Zac Brown Band
Raphael Saadiq
Ted Leo and the Pharmacists
Crystal Castles
Tift Merritt
Brett Dennen
Mike Farris and the Roseland Rhythm Revue
Toubab Krewe
People Under The Stairs
Alejandro Escovedo
Vieux Farka Touré
Elvis Perkins in Dearland
Cherryholmes
Yeasayer
Todd Snider
Chairlift
Portugal. The Man.
The SteelDrivers
Midnite
The Knux
The Low Anthem
Delta Spirit
A.A. Bondy
The Lovell Sisters
Alberta Cross

4:20

Piratas no Caribe

Little Joy
Clash @ São Paulo
29 de janeiro de 2009


Little Joy – “Keep Me in Mind”

Os piratas do Caribe não eram de lá. Europeus, os saqueadores que desestabilizaram a economia e a política de seu continente nos século 16 e 17 trabalhavam em alto mar e na costa da África, quase sempre pilhando navios que voltavam das colônias do Novo Mundo cheio de riquezas para suas coroas colonizadoras. O Caribe, com seu excelente clima e inúmeras ilhotas inexistentes nos mapas da época, por outro lado, era um refúgio perfeito para o descanso de piratas de diferentes origens, que reuniam-se nos arquipélagos tropicais para recarregar as baterias antes de voltar à rotina de saques e destruição.

E se vale a velha metáfora da banda de rock como navio pirata – eternizada pelos Rolling Stones, mas que está na essência de qualquer grupo, aquela sensação de caos e tumulto aliada à excitação de chutar tudo para o alto -, o Little Joy é o encontro de alguns piratas num desses entrepostos caribenhos para alguns meses de descanso, longe do trabalho. Piratas de férias, Rodrigo Amarante e Fabrizio Moretti deixaram as naus de seus grupos principais para juntarem-se a outras almas perdidas na noite tropical e deixar a festa rolar à luz da lua e da fogueira.


Little Joy – “No One’s Better Sake”

Tá certo que Moretti (brasileiríssimo, sotaque largado incluso) pode ser o capitão da empreitada e que Binki Shapiro traga uma inesperada graça indie para a corja de bucaneros do roque, mas todo o brilho do Little Joy ao vivo vem de Amarante. Longe da responsabilidade de ser um Hermano, Rodrigo está completamente à vontade no papel de guitarrista de um projeto paralelo. E por mais que a banda soe um pouco Strokes aqui ou um tantinho indie demais quando Binki assume o vocal (ela esconde-se entre a timidez de duas bateristas-vocalistas, Maureen Tucker e Georgia Hubley), é sua voz preguiçosa e arrastada e sua guitarra dedilhada quem dão personalidade ao Little Joy – e ele é onipresente, quando menos se espera lá está o timbre de voz meio bêbado ou a indefectível guitarrinha trôpega.

Tranqüila, a banda toca como se estivesse na casa de um dos integrantes e trata o público – composto essencialmente fãs do Los Hermanos e, provavelmente, pelos mesmos fãs que foram no dia anterior – como se fossem um deles. O clima de cumplicidade é constante e a cada intervalo entre as músicas eles trocam gracinhas e carinhos – “amanhã às cinco horas eu estou na sua casa, hein Juliana”, avisava Moretti, que ainda chamou São Paulo de “cidade maravilhosa”.


Little Joy – “This Time Tomorrow”

Além da íntegra do disco de estréia, a banda ainda tocou duas versões de músicas alheias, que, sem querer, acabam mapeando musicalmente sua área de atuação. “Walking Back to Happiness”, um dos hits da mãe de Binki, Helen Shapiro, vem do tempo em que a Inglaterra desconhecia os Beatles e aspirava por um pop comportado, sério e quase europeu continental – da mesma importância que a surf music californiana e dos ritmos latinos (bossa nova inclusa) que flertaram com as paradas de sucesso antes dos Beatles reinventarem a roda. “This Time Tomorrow”, cover de Kinks que Fabrizio arriscou-se no vocal, data de 1970, o ano em que os Beatles partem para a história – e lembrando que essa é uma das três faixas do Kinks que fazem parte da trilha sonora do filme indie Viagem a Darjeeling, vemos uma história contada sem a presença dos Beatles, em que o rock florescesse ao lado de outros gêneros musicais sem necessariamente se impor como protagonista central.


Little Joy – “Walking Back to Happiness”

Eis a praia do Little Joy. Flertam com a surf music e com o folk, com o indie rock e com ritmos latinos – a vaibe é aquela que se espreguiça na rede, sem pressa, escondendo os olhos do sol – como se fossem uma banda de rock, mas só os instrumentos e a formação é propriamente rock. Fora um riff numa introdução aqui ou um solinho maroto acolá, o que se ouve é música pop tocada com guitarras. E, o principal, sem dar-se a menor importância. O desleixo e sossego com que tocam a apresentação contagiam quem se dispõe a entrar na onda da banda. Se ela tem alguma importância? Quem se importa com isso? Curte aí…


Little Joy – “Brand New Start”

Joinha, Joinha

A última música do show do Little Joy de ontem. Daqui a pouco escrevo mais. Cabem duas perguntas, no entanto:

1) O Little Joy é um dos melhores projetos paralelos de todos os tempos?
2) O jeito brasileiro do Fabrizio Moretti parece mais o Max B.O. ou alguém de uma banda de Pernambuco?

Nem Blur, nem Pavement, nem Stone Roses, mas olha só a escalação do Coachella desse ano… Em negrito, o que eu não perderia…

Sexta, 17 de abril
Paul McCartney
Morrissey
Franz Ferdinand
Leonard Cohen

Conor Oberst and the Mystic Valley Band
Beirut
The Black Keys
Girl Talk

Silversun Pickups
The Ting Tings
The Crystal Method
Ghostland Observatory
Crystal Castles
The Airborne Toxic Event
We Are Scientists
N.A.S.A.
Patton & Rahzel
M. Ward
The Presets
The Hold Steady

A Place to Bury Strangers
Felix da Housecat
Buraka Som Sistema
Ryan Bingham
Bajofondo
Peanut Butter Wolf
Noah & the Whale

White Lies
The Bug
Alberta Cross
Los Campesinos!
Craze & Klever
Molotov
Switch
Gui Boratto
Steve Aoki
The Aggrolites
People Under the Stairs
The Courteeners
Cage the Elephant
Dear and the Headlights

Sábado, 18 de abril
The Killers
Amy Winehouse

Thievery Corporation
TV on the Radio
Band of Horses
Fleet Foxes
MSTRKRFT

Michael Franti & Spearhead
Atmosphere
Mastodon

TRAV$DJ-AM
Henry Rollins
Crookers
Turbonegro
Hercules and Love Affair
Superchunk

Glasvegas
Dr. Dog
Drive-By Truckers
Booker T & the DBT’s
Amanda Palmer
The Bloody Beetroots
Surkin, Para One (Live)
Calexico
Liars
Bob Mould Band

Zane Lowe
Electric Touch
Blitzen Trapper
James Morrison
Drop the Lime
Glass Candy
Thenewno2
Gang Gang Dance
Billy Talent
Ida Maria
Ariel Pink’s Haunted Graffiti
Zizek
Cloud Cult
Tinariwen

Domingo, 19 de abril
The Cure
My Bloody Valentine

Yeah Yeah Yeahs
Throbbing Gristle

Lupe Fiasco
Paul Weller
Antony & the Johnsons
X
Roni Size
Public Enemy
Jenny Lewis
Groove Armada
Paolo Nutini
Christopher Lawrence
Lykke Li
The Kills
Okkervil River
M.A.N.D.Y.
Clipse
Sebastien Tellier

Fucked Up
Perry Farrell
The Horrors
Late of the Pier
K’naan
Junior Boys
Brian Jonestown Massacre
Supermayer
No Age
Vivian Girls
Shepard Fairey
Themselves
Gaslight Anthem
The Knux
Mexican Institute of Sound
The Night Marchers
Marshall Barnes