Um século em uma aula

Na primeira aula do curso Do Disco ao Ouvido, que dei nesta quarta-feira no Sesc Vila Mariana, condensei parte do meu curso anterior – O Ecossistema da Música -, contando a história de como a música gravada criou um novo mercado ao redor do disco e como esse mercado foi se moldando às novas transformações tecnológicas – como o rádio e a televisão – até ser desmantelado pela internet, o que deu origem ao mercado independente em escalas nacioanais e global. Mas a rede aos poucos foi sendo cooptada pelo antigo mercado de discos e em parceria com os gigantes da tecnologia e a pandemia só acelerou um processo contrário ao que estava acontecendo até então – e este é o tema da segunda aula, que acontece nesta quinta-feira, gratuitamente, no auditório daquela unidade do Sesc, a partir das 19h – e nem precisa se inscrever, só retirar os ingressos meia hora antes.

Do disco ao ouvido: Comunicação e música

Nesta quarta e quinta-feira faço parte da programação do projeto VEM – Venha Experimentar Música, que o Sesc está desenvolvendo em várias de suas unidades, misturando shows, oficinais, cursos e atividades que visam trazer mais gente para a discussão sobre música. Este curso foi dado originalmente de forma online durante a pandemia e o adaptei para este momento que atravessamos. São duas aulas realizadas entre os dias 24 e 25 de julho, a partir das 19h, em que abordo as transformações do ecossistema da música impulsionadas pelo surgimento da internet (na primeira aula) e a influência da pandemia nessas mesmas transformações (na segunda). O curso é gratuito e acontece no auditório do Sesc Vila Mariana. Não é preciso fazer inscrições previamente, bastando comparecer meia hora antes da aula para retirar a senha para garantir sua participação.

Entre a sinfonia e a sonoplastia

Sábado teve a primeira das duas apresentações que o duo O Grivo realizou no Sesc Vila Mariana, fazendo trilha sonora para filmes com um século de idade. O projeto experimental fundado pelos músicos e luthiers mineiros Nelson Soares e Marcos Moreira mistura instrumentos eruditos, populares e criados por eles mesmos para superpor camadas sonoras que se complementam de forma ímpar, transformando suas apresentações em instalações sonoras que conversam também com as artes visuais – como teatro e dança. O fim de semana da dupla em São Paulo foi dedicado à sétima arte e se a apresentação do domingo ficou por conta da trilha sonora do clássico do expressionismo alemão O Gabinete do Dr. Caligari, de 1920, a apresentação que vi no dia anterior teve múltiplas facetas, uma vez que os dois músicos optaram por musicar curtas surrealistas daquela década um século atrás, que incluíam obras de Marcel Duchamp (Anemic Cinema, 1926), Man Ray (Emak Bakia, 1926), René Clair (Entr’acte, de 1924), Hans Richter (Rhythmus 21 e Rhythmus 23, ambos de 1921) e Walter Ruttmann (Opus III, de 1924), além de um curta temporão desta geração feito por Orson Welles (The Hearts of Age) em 1934. O clima onírico surrealista das peças pairava sobre músicas tocadas por instrumentos pouco ortodoxos como gongos e outros instrumentos de percussão de orquestra, cordas e teclas superpostas a loops de computador, entre a sinfonia e a sonoplastia e ao casamento reto e direto – mas nem por isso menos vago – quando os dois assumiam guitarra e bateria. Para viajar sem sair do lugar.

Assista a um trecho aqui.

#ogrivo #sescvilamariana #trabalhosujo2024shows 150

Uma orquestra de ritmo

De cair o queixo o ritual rítmico que o grupo Aguidavi do Jêje promoveu neste fim de semana no Sesc Vila Mariana. Pude ver a apresentação de domingo desta orquestra percussiva baiana que já tem 20 anos de atuação e só agora conseguiu apresentar-se pela primeira vez em São Paulo. Também pudera, só no palco são 16 cabeças atracadas ao ritmo do terreiro de Bogum, um dos mais longevos do país, que há quase 200 anos teve papel central na histórica – e pouco difundida – Revolta dos Malês, um dos principais levantes dos africanos escravizados na história do Brasil e palco para a gravação de seu primeiro álbum, homômino, lançado no ano passado, motivo de sua vinda para São Paulo. O grupo é um asombro percussivo cujo único instrumento harmônico – o violão de seu maestro e fundador, Luizinho do Jêje – é tocado de maneira percussiva e funciona como batuta para essa orquestra de ritmos. Entre os músicos, além do filho de Luizinho Kainã do Jêje (que toca uma bateria de atabaques chamada atabaqueria e acompanha artistas como Caetano Veloso e Ivete Sangalo), ainda temos músicos que acompanham diferentes artistas baianos de todas vertentes, de Bel Marques a Baco Exu do Blues, passando por BaianaSystem, Carlinhos Brown, Timbalada, Orquestra Afrosinfônica, entrre outros. O coletivo é um dos muitos filhotes espirituais deixados pelo mestre Letieres Leite, da Orkestra Rumpilezz – Luizinho era percussionista do Quinteto Letieres Leite e já tocou com Olodum, Mateus Aleluia, Virgínia Rodrigues, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Margareth Menezes, Daniela Mercury, entre outros. À esquerda do palco, ele rege com seu violão e canto, as vozes e peles vibradas por seu time, um grupo de músicos de idades distintas e dividido em grupos por instrumentos, embora entre agogôs, pandeiros, caxixis e berimbaus a predominância seja de atabaques. O ataque dos couros do grupo é único na música brasileira e sua força hipnótica de timbres ancestrais atrelada ao canto uníssono de 16 homens foi um dos espetáculos mais impressionantes que vi nos últimos tempos. Mágico.

Assista a um trecho aqui.

#aguidavidojeje #sescvilamariana #trabalhosujo2024shows 131

Dez anos de Quartabê

Seria só o show de lançamento de um EP, mas o Quartabê aproveitou para transformar a apresentação dessa sexta-feira no Sesc Vila Mariana em um espetáculo celebrando sua primeira década, numa sessão de tirar o fôlego. A primeira parte da noite foi baseada em Repescagem, disco que lançaram há pouco e que funciona como um complemento do álbum de 2018, que celebra a obra do mestre Caymmi e a primeira surpresa da noite surgiu logo que as cortinas se abriram, revelando apenas as silhuetas de suas integrantes, todas empunhando um violão, que não é o instrumento de nenhuma delas – e sim de Dorival. Aos poucos, cada um desceu da bancada em que começaram a brincar com o instrumento-base da música brasileira e tomou seus lugares à frente de suas ferramentas musicais: Chicão entre teclados e piano de cauda, Maria Beraldo e Joana Queiroz entre saxes, clarinetes e clarones e Mariá Portugal pilotando sua bateria. E assim começamos a colocar os pés na praia do baiano, envoltos pelo transe instrumental conduzido pelas quatro. A próxima surpresa veio como um voz do além, quando outra silhueta surgiu atrás do grupo – era a primeira convidada da noite, Ná Ozzetti, improvisando antes de sua entrada formal, quando participou da música que canta no recém-lançado EP, “Maricotinha”, esta misturada com “Batuque no Morro”, de Herivelto Martins, uma favorita do saudoso Zé Celso Martinez Correa, que o grupo homenageou nesta inclusão, como Chicão explicou. Depois foi a vez de receber a antiga integrante Ana Karina Sebastião e seu contrabaixo elétrico parecia nunca ter saído da banda, quando visitaram o autor homenageado do disco que gravaram quando a carioca integrava o grupo, Li​ç​ã​o #1: Moacir, em homenagem a Moacir Santos. A musicalidade e o carisma da segunda convidada engrossou ainda mais o caldo da noite e o público, boquiaberto, assistia em silêncio tanto os momentos mais intensos quanto os mais silenciosos, transformando a celebração da primeira década da banda em uma festa para os ouvidos – e olhos, este graças à integrante honorária do grupo, a iluminadora Olivia Munhoz, que brilhou mais do que o normal, como é quando apresenta-se com o grupo. “A gente faz uma linda trilha pra luz da Olivia”, brincou Beraldo, ao apresentar o time que faz o show e não estava no palco. A noite terminou com nova participação de Ná Ozzetti, quando as quatro voltaram à bancada de trás do palco com os violões, a luz destacou suas silhuetas e pudemos ver a participação sensível da cantora veterana que, na segunda volta ao palco, apenas dançou – lindamente. Fácil fácil um dos melhores shows do ano.

Assista a um trecho aqui.

#quartabe #sescvilamariana #trabalhosujo2024shows 130

De volta ao Opinião

Híbrido de peça e apresentação musical, o espetáculo Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião, que foi exibido em duas sessões neste fim de semana no Sesc Vila Mariana, foi concebido por Paulo Tó ao lado do Instituto Augusto Boal antes mesmo do período pandêmico, que acabou por adiar sua existência. Retomada dentro da programação Territórios do Lembrar que aquela unidade do Sesc está fazendo para que não esqueçamos da tragédia política e cultural que foi o golpe empresarial-militar de 1964, a peça musical aproveitou a infame efeméride para realçar a importância de um espetáculo que hoje é lembrado mais como o palco para os primeiros passos das carreiras de Nara Leão e Maria Bethania do que como o que realmente foi: a primeira obra artística a se revoltar contra o revolução de araque que as forças armadas e parte do empresariado brasileiro deu contra a democracia brasileira sob o pretexto de “interromper o avanço comunista”, mentira repetida até hoje por seus agentes até para justificar crises políticas do país neste século. Montado pelo herói do teatro brasileiro Augusto Boal, Opinião foi revisitado por seu filho Julian Boal e a dramaturga Mariana Mayor, companheira de Tó, que assina a direção musical do espetáculo, dirigido por Jé Oliveira. À frente da apresentação, Xis, Ellen Oléria, Xeina Barros, Alessandra Leão e o próprio Tó, apresentavam-se como os integrantes da montagem original, assumindo personalidades que ajudavam o público entender o contexto da época ao mesmo tempo em que desfilaram tanto as canções do espetáculo original (“Peba na pimenta” de Dominguinhos, “Guantanamera” que foi cantada pela viúva de Boal, Cecília Boal, “Borandá” de Edu Lobo e, claro, a faixa de Zé Kéti que batizou o espetáculo original e a de João do Valle que trouxe o verso que batiza esse novo espetáculo) quanto músicas contemporâneas que conversam com a alma do espetáculo, como “História Para Ninar Gente Grande” (samba-enredo da Mangueira em 2019), “Lama” (de Douglas Germano), “Zumbi” (de Jorge Ben) e “Obá Iná” (do Metá Metá), além de músicas dos próprios intérpretes: Tó (contemplado em “Samba do Perdoa” e “De Cara no Asfalto”), Ellen (que trouxe “Testando” e sua versão para “Miss Celie’s Blues”), Xis (“De Esquina” e “Us Mano e As Mina”) e Alessandra (com “Exu Chega”, “Atirei” e sua versão para “Xangô”). Na banda que acompanhou o grupo de perto, um grupo pesado formado por Marcelo Cabral, Thiago Sonho, Lua Bernardo e Rodrigo Caçapa. Pena só terem rolado duas apresentações, temporada curta para uma apresentação deste porte ganhar corpo e lacear entre os intérpretes. Vamos torcer para outras edições pintarem em outras unidades do Sesc.

Assista abaixo:  

Sandra Sá não deixa ninguém parado

Dos maiores nomes da música preta brasileira (e ela mesma responsável por criar esse rótulo, no disco ao vivo de mesmo nome lançado há vinte anos), Sandra Sá arrasou como de praxe na segunda de suas duas apresentações que fez neste fim de semana no Sesc Vila Mariana. Acompanhada de uma banda enxuta e pesada (Junior Macedo na guitarra, Misael Castro no baixo, Maikon Pereira na batera e Bebeto Sorriso na percussão), ela atravessou pouco mais de uma hora de show reunindo um rosário de hits invejável. Ela abriu a noite pesando seu “Soul de Verão” (sua versão para a música-tema do filme Fama, de 1980) passou por “Demônio Colorido” e depois emendou baladas irresistíveis como a imortal “Retratos e Canções”, “Sozinho”, “Solidão” e “Certas Coisas” (de Lulu Santos, que a levou às lágrimas). Depois passeou por sucessos alheios ao citar dois exemplos de música preta brasileira que transcendem a cor da pele ao emendar uma música “de um neguinho do interior das Alagoas” (“Flor de Lis” de Djavan) com outra de “um branquelo playba, carica e universitário” (“Madalena” de Ivan Lins), puxando depois um Sérgio Sampaio (a clássica “Eu Quero Botar Meu Bloco na Rua”), um Cazuza (“Blues da Piedade”, em que fez referência à prisão dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, “já começou…”) e uma Marina Lima (“Uma Noite e Meia” calibrada no samba). Na segunda metade da noite, voltou ao seu próprio repertório, passando pela gigante “Bye Bye Tristeza” (definida por ela mesma como “uma oração”, quando regeu o público dividindo-o em dois corais durante o refrão), “Dançando com a Vida”, “Boralá” e encerrando com seu primeiro grande sucesso, a irresistível “Olhos Coloridos”. E como essa mulher segue cantando pacas: além de rimar raps em várias músicas, também declamou poemas novos sobre velhas canções e soltou sua voz mostrando-a intacta em vários momentos. Se tiver a oportunidade de assistir a um show da mestra, não titubeie: Sandra Sá – que tirou mais uma vez o “de” do meio de seu nome artístico – ao vivo faz jus ao seu legado e não deixa ninguém parado, seja fazendo dançar ou rolar lágrimas. Uma divindade da música que nos move com seus pulmões.

Assista abaixo:  

O melhor show de Juçara Marçal

Ainda impactado pelo que presenciei nessa sexta no Sesc Vila Mariana, arrisco dizer que a celebração ao vivo do aniversário de dez anos do disco de estreia de Juçara Marçal tenha sido a melhor apresentação que assisti dessa mulher – e olha que a vi no palco algumas dezenas de vezes. Repetindo a exata formação (“banda original”, brincou nossa musa) de uma década atrás no mesmo lugar que viu o show de lançamento de Encarnado, ela entregou-se ao álbum na íntegra, repetindo exatamente a mesma ordem das faixas do registro original e deixando-o fluir como o clássico instantâneo que sempre foi. “Esses dez anos os tornaram todos mais gatos ainda”, brincou ao apresentar seus compadres Kiko Dinucci, Thomas Rohrer e Rodrigo Campos sublinhando como a experiência dos quatro deixava o show ainda mais denso e coeso, como se só a beleza os tivesse melhorado – sem contar a própria Juçara, toda de vermelho em referência à capa do disco, que estava deslumbrante. O crescendo emocional do disco avançava a cada nova canção e, como na ordem do álbum original, culminou com a intensa “Ciranda do Aborto” cuja parede noise final desapareceu para revelar a delicadez de “Canção para Ninar Oxum” (em que até agora lamento quem bateu palma bem na hora em que o acalanto cairia em segundos do puro silêncio). Entre as faixas de fora do disco, vieram uma versão inacreditável de “Xote de Navegação” de Chico Buarque, em que Juçara foi acompanhada apenas por Rohrer tocando um fouet (!) com o arco de sua rabeca; a clássica “Comprimido” de Paulinho da Viola (em que ela transformou “um samba do Chico” em “um samba do Kiko”) e “Odumbiodé”, do EP que acompanha seu disco mais recente, o igualmente soberbo Delta Estácio Blues, o que me fez cogitar uma versão do DEB tocada com aquela formação (algo que já havia passado pela minha cabeça no início do show, pois a primeira canção, “Velho Amarelo”, faz parte do repertório do show do disco de 2021). Dois detalhes técnicos e artísticos agigantaram ainda mais essa noite: o som perfeito pilotado pelo Alex Pina (deixando o mínimo sussurro e o mais explosivo ruído igualmente cristalinos) e a luz (como sempre) maravilhosa de Olívia Munhoz (trabalhando com poucas cores, equilibrando luz e escuridão na mesma medida e jogando luzes na cara do público, difundindo até as silhuetas). “A gente tem muitas presenças importantes aqui hoje”, disse Juçara nos poucos momentos em que conversou, bem à vontade, com o público, “mas devo confessar que a mais importante pra mim é uma senhorinha de 90 anos que tá ali”, apontando para sua mãe. Ela ainda lembrou que o show de lançamento do disco original aconteceu no dia 15 de abril de dez anos atrás, aniversário de casamento de seus pais. Uma apresentação irrepreensível e a hipérbole não é em vão: estamos acompanhando a melhor fase da melhor cantora do Brasil atualmente. Não é pouca coisa. E sabe o que mais? Outros melhores virão.

#jucaramarcal #encarnado #sescvilamariana trabalhosujo2024shows 27

Assista abaixo:  

Uma viagem pesada com os Boogarins

Show dos Boogarins é sempre um acontecimento transcendental – a liga desenvolvida entre os quatro filhos do Centro Oeste transforma qualquer momento de entrosamento musical dos quatro em um delírio particular que pode ser esticado por horas se eles quiserem. Às vésperas da primeira turnê pelos EUA desde o período pandêmico, o grupo passou pelo Sesc Vila Mariana neste fim de semana celebrando os dez anos do aniversário de seu disco de estreia, Plantas Que Curam, que finalmente ressurgiu em vinil após anos fora de catálogo, e assistir a Dinho, Benke, Rapha e Ynaiã passeando por um repertório que já tem uma década não só reforça a importância do grupo na história da psicodelia brasileira como mostra que sua evolução é coesa, intensa e ampla, fluindo quase organicamente. A apresentação deste domingo contou com a íntegra do disco de 2013 – em ordem diferente -, trazendo ainda faixas que não entraram na edição original e que ressurgem nesta nova versão (como “Resolvi Ir”, que, como faziam há dez anos, fazia o show começar já engatado, “Olhos”, “A Sua Frente” e “Refazendo”), “Foi Mal” e uma faixa inédita, do próximo disco (“Cais dos Olhos” – é isso, Benke?). Por uma hora e meia de transe, o quarteto do cerrado nos submeteu a uma hipnose sonora auxiliada pelo time-família titular para além do palco (Renatão e Alejandra no som, Chrisley como roadie, Rolinos nas imagens e Igor na luz) que expandia minutos por horas psíquicas. O final da primeira parte do show, em que “Infinu”, “Fim”, “Doce” e “Eu Vou” se fundiram em uma só, foi só um dos vários exemplos que eles colocaram em prática a natureza psicodélica de seu som. Uma viagem pesada.

#boogarins #sescvilamariana #trabalhosujo2024shows 12

Assista abaixo:  

Pelados de fim de ano

Com o ano chegando ao fim, precisava ver alguns shows pra arrematar alguns ciclos. Foi o caso da show dos Pelados, uma das minhas bandas contemporâneas favoritas, que não via ao vivo desde que fizemos aquele show no Inferninho Trabalho Sujo há quase um semestre. O quinteto paulistano participou do evento Sacola Alternativa, que a Balaclava Records faz em parceria com o Sesc Vila Mariana e que traz debates e feira de material independente, além dos shows neste sábado e domingo – com todas as atividades gratuitas. A feliz coincidência os colocou no mesmo palco em que lançaram seu excelente disco Foi Mal no fim do ano passado, no Auditório daquela unidade, com quase um ano de diferença – e quanta diferença um ano de shows faz com uma obra. Comparando com o show de um ano atrás, em que o grupo parecia tenso com a estreia e ainda contava com três participações especiais, desta os Pelados estavam voando só os cinco no palco e trabalhando o mesmo repertório com uma intimidade ainda mais intensa. A entrega dos primeiros Manu Julian e Vicente Tassara aos seus instrumentos (voz e guitarra, respectivamente) está cada vez mais plena, enquanto a base formada pela cozinha pós-moderna que inclui a baixista Helena Cruz, o baterista Theo Cecato e o tecladista e programador Lauiz está vez mais firme e coesa, consagrando o grupo com o melhor grupo indie de São Paulo atualmente, fechando o show com seu épico intimista “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, canção que não sai do meu rádio mental e que fez o público levantar-se das cadeiras do teatro. Foi foda.

Assista aqui: