Refazendo o rock

, por Alexandre Matias

Domingo passado fui ao lançamento do novo disco do Mateus Fazeno Rock na Casa Natura Musical e escrevi sobre o show em mais uma colaboração para o Toca UOL.

Mateus Fazeno Rock ressignifica o gênero mesmo com duas guitarras no palco

O artista chama-se Mateus Fazeno Rock, há duas guitarras no palco – uma delas com um dos maiores guitarristas brasileiros deste século, Fernando Catatau, líder do grupo Cidadão Instigado -, ele canta sobre fazer “rock de favela”, mas é redutor demais chamá-lo apenas de roqueiro.

Embora a postura e a marra sejam características do gênero que já tem mais de sessenta anos, o que o cearense fez ao lançar seu terceiro álbum no palco da Casa Natura Musical, em São Paulo, no último domingo (28) ressignifica o rock para além de baixo, guitarra e bateria ou da fusão de country com blues norte-americanos que deram origem ao gênero.

Acompanhando-o no palco, além do conterrâneo Catatau, a vocalista Mumutante e o DJ Viúva Negra, fiéis companheiros que o seguem há anos, e que eram a base de uma banda maior que tocou naquele mesmo palco um ano atrás. Sem convidados, o minimalismo da nova formação deixava clara a força musical do artista, que tocou guitarra praticamente toda a apresentação, diferente da anterior.

Era o lançamento de “Lá Na Zárea Todos Querem Viver Bem” e o fato do guitarrista do Cidadão Instigado estar entre os integrantes da banda – e soar menos como solista, como era de se esperar – reflete-se na produção musical do disco, que Catatau dividiu com o artista e Rafael Ramos, capo do selo Deckdisc, responsável pelos discos mais recentes de Mateus. Era como se Fernando supervisionasse o trabalho do pupilo bem de perto, funcionando como rede de segurança caso algo fugisse de controle.

O que não aconteceu. Cada vez mais à vontade com o palco, Mateus tem o domínio tanto da palavra quanto do carisma que precisa para levantar seu público e mostrou durante a apresentação o quanto evoluiu como guitarrista, dominando quase todos os solos ouvidos do instrumento.

Só que não estamos ouvindo rock. O canto de Mateus até chega perto da matriz do gênero que carrega no nome, mas estamos em território essencialmente negro, em que reggae, soul, dub, funk e R&B se misturam como um enorme hibrido fruto da diáspora negra. Tudo isso se encontra com gêneros musicais brasileiros, mais tímidos que as referências estrangeiras, que vem às vezes literais, seja citando Sister Nancy (“Bam Bam”) ou Nirvana (“Smells Like Teen Spirit”).

A brasilidade vem nas letras, quando Mateus descreve a dor e o desafio de ser jovem favelado na periferia brasileira, mas sem cair em clichês que já conhecemos, projetando quase sempre uma esperança distante que faz suas canções dramáticas e doloridas ganharem novos contornos.

E aí as guitarras vêm presentes, como se acentuassem a carga emotiva das músicas, mais do que meros veículos para instrumentistas exercitar virtuosismo, carregam os sentimentos que os solos e riffs de guitarra pareciam ter esquecido. Então não é que Mateus Fazeno Rock não faça rock – ele sim faz rock, mas sem a expectativa óbvia do que se espera quando falamos sobre esse gênero.

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