Densa e hipnótica. Assim foi a apresentação que Fernando Catatau e Isadora Stevani fizeram neste primeiro dia de outubro no Centro da Terra, quando reuniram suas ferramentas para criar uma instalação em movimento chamada Outra Dimensão. A descrição do que acontecia no palco – em que o guitarrista desdobrava seu instrumento com auxílio de sintetizadores e pedais para ter sua sonoridade traduzida em movimento pelas imagens em movimento reativas da artista visual – parece simples mas criava um espaço imaginário único, em que coordenadas cartesianas fluidas buscavam firmar alguma referência no que chegava em forma de som, conduzindo o público a um transe que por vezes era idílico e onírico e em outras era pesado e incômodo, sem nunca perder sua natureza abstrata, mesmo quando a guitarra soava apenas como uma guitarra. Um encontro artístico a dois ao mesmo tempo introspectivo e expansivo, este mapa de um não-território me pareceu apenas o primeiro passo numa parceria que pode abrir ainda mais fronteiras a cada nova apresentação. Por isso, que venham outras!
Começamos o outubro de música no Centro da Terra abrindo um portal para o encontro de linguagens, quando o músico e produtor Fernando Catatau e sua companheira, a artista plástica Isadora Stevani, misturam som em imagem num espetáculo inédito concebido especialmente para o teatro, que batizaram de Outra Dimensão. Nesta realidade não-existente, os dois dialogam sobre a experiência do tempo, a percepção da realidade e os mistérios da existência em uma noite que une texturas sonoras elétricas e eletrônicas a visuais de diferentes naturezas que convergem-se no mesmo espaço imaginário. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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O ano está chegando ao fim e outubro já começa na semana que vem, quando trazemos uma série de novidades e experimentos musicais no palco do Centro da Terra. Quem toma conta das segundas-feiras é o cantor e compositor Pélico, que apresenta a temporada Cá com Meus Botões, em que começa a mostrar o que será seu próximo disco ao mesmo tempo em que volta ao passado para rever suas composições anteriores à luz deste novo momento, sempre com diferentes convidados a cada nova apresentação. A primeira terça-feira do mês, dia 1°, ficou com Fernando Catatau, que convidou sua companheira Isadora Stevani, que reúnem música e imagem no que chamam de “um encontro a partir do não-existente” no espetáculo chamado de Outra Dimensão. Na terça seguinte, dia 8, dois nomes do hardcore paulistano – a cantora Carox (das bandas Carox e Miami Tiger) e e o guitarrista Flávio Particelli (das bandas Fullheart, Falante e Anônimos Anônimos) – reúnem-se para apresentar o primeiro show de seu novo projeto, a dupla folk A Ride for Two, que apresenta o espetáculo intimista Hey Life com outros músicos convidados. Dia 15 é a vez da mineira Julia Guedes apresentar seu primeiro show solo em São Paulo, quando mostra Vermelho e Sem Nome acompanhada da banda Terceira Margem. Na terça-feira dia 22 é a vez de Bianca Godoi, Guilherme Held, Otto Dardenne, Joana Bergman e Rubens Adati mostrarem, pela primeira vez, o projeto pós-punk recém-criado que chamaram de CØMA. E a programação de outubro termina com a primeira apresentação solo no Brasil de Francisca Barreto, que apresentava-se como Chica quando tocava ao lado de Nina Maia, mas assumiu seu nome de batismo depois que acompanhou o músico Damien Rice em turnês pelos cinco continentes. Ela mostra suas primeiras composições autorais no espetáculo chamado Bico da Proa e vem acompanhado de músicos convidados, entre eles a própria Nina. Lembrando que as apresentações sempre começam pontualmente às 20h e os ingressos já podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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De volta aos palcos em grande estilo, Soledad apresentou o espetáculo Desterros nesta terça-feira no Centro da Terra quando passeou por um repertório cearense que contemplava tanto a praia quanto o sertão, tanto clássicos quanto a contemporaneidade, acompanhada de uma banda afiadíssima, quase toda sua conterrânea, mesmo que por convivência: o baterista Xavier e o guitarrista e baixista Davi Serrano são do Ceará, enquanto a tecladista brasiliense Paola Lappicy tem raízes paraibanas, o guitarrista e baixista Allen Alencar é do Sergipe e o percussionista Clayton Martin vem da Moóca, mas como único não-cearense do grupo Cidadão Instigado, já tem dupla cidadania. Além destes subiram ao palco o guitarrista Fernando Catatau – que tocou uma música ao violão e as outras numa curiosíssima guitarra tenor canadense verde-limão – e a cantora Paula Tesser, também conterrâneos de Sol, que pinçou um repertório mágico para uma noite intensa, que passou por Mona Gadelha (“Cor de Sonho”), Clodo, Climério e Clésio (“Tiro Certeiro”), Amelinha (“Santo e Demônio”), Belchior (“Meu Cordial Brasileiro”), Fagner (“Postal do Amor”), Rodger Rogério (“Ponta do Lápis” e “Quando Você Me Pergunta”), Chico Anysio (“Dendalei”, do projeto Baiano e Os Novos Caetanos), Ednardo (“Beira Mar”, do clássico Meu Corpo Minha Embalagem Todo Gasto Na Viagem), além de duas de Vitor Colares, seu cantor favorito, que encerraram a noite: “Vermelho Azulzim” numa versão emotiva e a canção “Jardim Suspenso”, que reuniu todos no palco. Foi lindo.
Maior satisfação em receber mais uma vez no palco do Centro da Terra a querida Soledad, que volta a fazer shows depois de um tempo distante, debruçando-se na história e glória da música cearense das últimas décadas. Desterros, o espetáculo que ela apresenta nesta terça-feira no Centro da Terra espalha-se por gerações de músicos, intérpretes e compositores conterrâneos que remontam desde Patativa do Assaré, Belchior, Ednardo, Fausto Nilo e Amelinha a seus contemporâneos, muitos destes convidados desta apresentação. Além da banda que conta com Allen Alencar (guitarra e violão), Davi Serrano (guitarra e violão), Clayton Martin (percussão), Paola Lapiccy (teclados e piano), Xavier (bateria) e Klaus Sena, como técnico de som, a noite ainda terá a presença de Fernando Catatau, Julia Valiengo e Paula Tesser. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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O cearense Mateus Fazeno Rock sentiu o peso da responsabilidade na apresentação que fez nesta quinta-feira na Casa Natura Musical. Reunindo um time de peso para mostrar seu Jesus Ñ Voltará, um dos grandes discos do ano passado, em grande estilo, ele quase escorregou na saída e bambeou quando um problema técnico o fez parar a apresentação para recomeçar do zero. Podia ter atropelado o erro e seguido em frente, mas sabendo da importância da apresentação, preferiu fechar as cortinas e voltar com tudo – invertendo inclusive o repertório para não simplesmente repetir a abertura original. E nestes momentos que você percebe a grandeza de um artista. Visivelmente nervoso na abertura que deu errado, ele voltou com sangue nos olhos e crescia a cada nova música – e a cada novo convidado. E que time: Fernando Catatau, Don L, Jup do Bairro, Brisa Flow e Mumutante, todos eles entrando no universo dramático do autor da noite, mesmo quando cantavam músicas próprias. A vocalista Mumutante era mais que participação especial e esteve durante todo o show com o grupo de Mateus (que ainda conta com os excelentes dançarinos Larissa Ribeiro e Raffa Tomaz e o DJ Viúva Negra), funcionando como segunda voz e calçando perfeitamente com o domínio que Mateus ia tendo do palco, seja só rimando ou tocando guitarra ou violão. E ele segue vindo…
Ao começar a apresentação com “Fim de Festa”, do clássico disco que reuniu Itamar Assumpção e Naná Vasconcellos, a banda convocada por Fernando Catatau para celebrar o cancioneiro romântico brasileiro no espetáculo Pra Falar de Amor, que aconteceu no Sesc Pinheiros neste sábado, mostrou que não estava pra brincadeira. Um time de músicos, autores e intérpretes que pertence à nata da música popular contemporânea escancarou o teste de DNA que prova que sua musicalidade descende deste cânone que une uma parte importante da produção cultural brasileira do último século mas que não é visto como tal. A gênese desta celebração começou ainda no ano passado, quando Fernando fez algumas apresentações intimistas levantando este repertório que atravessa a própria genealogia de suas canções. E foi esperto ao manter esse clima mínimo mesmo com uma banda grande num palco tão amplo como a sala Paulo Autran. O minimalismo dos arranjos e das vozes contrastava com os sentimentos rasgados nas interpretações originais e com o visual da apresentação, em que as luzes de Cris Souto (que pareciam vir de Oz) equilibrava-se perfeitamente com as cores fortes do figurino de cada um e as imagens épicas projetadas por Isadora Stevani, que também assinava a direção de arte da noite. No palco, Catatau puxava um grupo que trazia Ava Rocha, Curumin (entre a bateria e o violão), Jasper, Bruno Berle, Paola Lappicy, Clayton Martin e Beatriz Lima que deslizaram por canções que rasgavam o corpo por dentro fazendo verter lágrimas, seja de paixão ou de fossa, sempre afundando aquele aço frio no peito dos ouvintes enquanto cutucava nosso subconsciente com músicas de Raul Seixas (“A Maçã”) Roupa Nova (“Bem Maior”), Roberto Carlos (“Amor Perfeito”), Jards Macalé (“Sem Essa”), Joanna (“Tô Fazendo Falta”), Djavan (“Um Amor Puro”), Lulu Santos (“Certas Coisas”), Eliane (“Amor ou Paixão”) e Alcione (“Você Me Vira A Cabeça”), colocando cada um dos integrantes no centro emotivo daquelas canções, além de passear pelo próprio repertório, sempre com outro intérprete cantando suas músicas, como “Quero Dizer”, “Solidão Gasolina”, “Transeunte Coração” e “Completamente Apaixonado”. A noite terminou num momento épico revisitando o momento mais romântico do repertório de Catatau, quando todos revisitaram a clássica “O Tempo” do Cidadão Instigado antes de encerrar a noite com “Hackearam-me”, do baiano Tierry, eternizada por Marília Mendonça. Foi de chorar – e tem que ter mais!
Às vésperas de lançar disco novo, Ava Rocha ainda encontrou tempo para revisitar mais um clássico da música brasileira que completa meio século neste 2023 neste fim de semana, no Sesc Ipiranga: o sexto disco de Gal Costa, Índia, que viu ela reunir uma constelação de nomes da música brasileira de seu tempo (Duprat, Verocai, Dominguinhos, Toninho Horta, Luizão, Wagner Tiso, Chico Batera, Wagner Tiso) para cantar um repertório repleto de canções modernas e tradicionais, de Lupicínio Rodrigues a Caetano Veloso, passando por uma música do folclore português arranjada por Gil, Tom Jobim, Luiz Melodia, Jards e Waly, Tuzé de Abreu e a guarânia que batiza o disco. Ava reuniu uma banda à altura do desafio e surfou na intensidade daquela onda e o show conduzido pelo violão de Negro Leo e o teclado de Chicão Montorfano, ainda contou com a bateria de Alana Ananias, o baixo de Pedro Dantas e a guitarra de Fernando Catatau. O resultado daquela egrégora de entidades fez o disco soar tão moderno e ousado quanto em seu lançamento e Ava, no centro daquele altar, invocou a presença de Gal com toda sua graça e força. Foi lindo – e tomara que ela possa voltar a esse repertório de vez em quando.
Juçara Marçal levou mais uma vez seu Delta Estácio Blues para a Casa de Francisca e eu nunca nem tinha visto esse show soando tão alto nem nenhum show tão barulhento como este no palacete do centro de São Paulo. O quarteto formado por Juçara, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Alana Ananias deixa esse disco ao vivo cada vez mais afiado e dessa vez veio em minitemporada, com dois velhos camaradas do grupo dividindo respectivas noites. Não pude ver a participação de Maria Beraldo na terça-feira, mas vi quando Fernando Catatau juntou-se ao quarteto não apenas para tocar sua “Lembranças Que Guardei” que dividiu com Juçara no já clássico disco de 2021 como visitar mais uma vez “Os Monstros”, do primeiro disco solo do guitarrista cearense, como já haviam feito no show de lançamento do disco há quase um ano e meio no Sesc Pinheiros. Mas a grande surpresa da noite foi quando Catatau pegou o contrabaixo elétrico e apresentou uma parceria com Juçara que deverá estar em seu próximo disco solo, que foi fermentado na temporada Frita que ele fez em outubro do ano passado lá no Centro da Terra. Catatau ainda voltou pro bis quando tocou mais uma vez sua parceria com Juçara no Delta Estácio Blues, além de ele mesmo anunciar que o disco terá mais do que uma parceria com a dona do show desta quarta. “Aguarde e confie”, como brincou a própria Ju.