Às vésperas de lançar disco novo, Ava Rocha ainda encontrou tempo para revisitar mais um clássico da música brasileira que completa meio século neste 2023 neste fim de semana, no Sesc Ipiranga: o sexto disco de Gal Costa, Índia, que viu ela reunir uma constelação de nomes da música brasileira de seu tempo (Duprat, Verocai, Dominguinhos, Toninho Horta, Luizão, Wagner Tiso, Chico Batera, Wagner Tiso) para cantar um repertório repleto de canções modernas e tradicionais, de Lupicínio Rodrigues a Caetano Veloso, passando por uma música do folclore português arranjada por Gil, Tom Jobim, Luiz Melodia, Jards e Waly, Tuzé de Abreu e a guarânia que batiza o disco. Ava reuniu uma banda à altura do desafio e surfou na intensidade daquela onda e o show conduzido pelo violão de Negro Leo e o teclado de Chicão Montorfano, ainda contou com a bateria de Alana Ananias, o baixo de Pedro Dantas e a guitarra de Fernando Catatau. O resultado daquela egrégora de entidades fez o disco soar tão moderno e ousado quanto em seu lançamento e Ava, no centro daquele altar, invocou a presença de Gal com toda sua graça e força. Foi lindo – e tomara que ela possa voltar a esse repertório de vez em quando.
Juçara Marçal levou mais uma vez seu Delta Estácio Blues para a Casa de Francisca e eu nunca nem tinha visto esse show soando tão alto nem nenhum show tão barulhento como este no palacete do centro de São Paulo. O quarteto formado por Juçara, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Alana Ananias deixa esse disco ao vivo cada vez mais afiado e dessa vez veio em minitemporada, com dois velhos camaradas do grupo dividindo respectivas noites. Não pude ver a participação de Maria Beraldo na terça-feira, mas vi quando Fernando Catatau juntou-se ao quarteto não apenas para tocar sua “Lembranças Que Guardei” que dividiu com Juçara no já clássico disco de 2021 como visitar mais uma vez “Os Monstros”, do primeiro disco solo do guitarrista cearense, como já haviam feito no show de lançamento do disco há quase um ano e meio no Sesc Pinheiros. Mas a grande surpresa da noite foi quando Catatau pegou o contrabaixo elétrico e apresentou uma parceria com Juçara que deverá estar em seu próximo disco solo, que foi fermentado na temporada Frita que ele fez em outubro do ano passado lá no Centro da Terra. Catatau ainda voltou pro bis quando tocou mais uma vez sua parceria com Juçara no Delta Estácio Blues, além de ele mesmo anunciar que o disco terá mais do que uma parceria com a dona do show desta quarta. “Aguarde e confie”, como brincou a própria Ju.
Jadsa encerrou seu Big Buraco no Centro da Terra com duas sumidades no palco: primeiro chamou Juçara Marçal, que trouxe sua kalimba, e depois Alessandra Leão, no toque de seu tambor. As surpresas ficaram por conta da vinda do compadre e conterrâneo João Milet Meirelles, metade do projeto Taxidermia que os dois têm juntos, que pilotou efeitos nas vozes e instrumentos do palco desde as primeiras músicas (que Jadsa fez sozinha com sua guitarra), e da surpresa da vinda de Fernando Catatau, que subiu para fazer as últimas músicas da noite. De brinde, Jadsa saiu do palco sem fazer o bis, como é de praxe, e deixou Juçara e Catatau tocando juntos pela terceira vez “Lembranças que Guardei”, que o compositor cearense escreveu para o disco mais recente da cantora paulista. Uma noite milagrosa.
“Aqui é o Centro da Terra, a gente pode saltar”, comemorou Alessandra Leão após um das muitas piruetas musicais no escuro que se propôs ao lado de Rafa Barreto com sua banda Punhal de Prata (“não é duo, é banda!”, esbravejou a pernambucana), que retomou as atividades nesta terça-feira. Criado para celebrar os primeiros discos de Alceu Valença, o Punhal ampliou seu repertório ao incluir canções de outros autores contemporâneos daquela safra de discos, incluindo canções de Zé Ramalho, Cátia de França e Ave Sangria, e nesta primeira apresentação convidou Bella, Thiago Nassif e Fernando Catatau para explorar estas novas fronteiras musicais – foi a primeira vez inclusive que Alessandra e Fernando dividiram o palco! Primeiro tocando com cada um dos convidados para encerrar a apresentação com “A Dança das Borboletas” de Zé Ramalho, com todos no palco, Alessandra e Bella entrelaçando efeitos enquanto Nassif, Catatau e Barreto empinavam suas guitarras no céu. E semana que vem tem mais…
Nas últimas duas terças-feiras de abril, Alessandra Leão retoma a dupla que fazia com o guitarrista Rafa Barreto para afiá-la com convidados muito especiais no Centro da Terra. Quase dez anos depois de criar esta apresentação em que saúdam grandes nomes da psicodelia pernambucana como Alceu Valença, Cátia de França e Ave Sangria, os dois músicos visitam a programação original com a interferência de nomes de novos parceiros: Fernando Catatau, Bella e Thiago Nassif os acompanham neste dia 18, seguidos por Siba e Josyara, os convidados do dia 25, em apresentações inéditas que prometem deixar todos em ponto de bala. Os espetáculos começam pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados aqui.
O Test é uma das bandas mais singulares da cena musical brasileira hoje. Só o fato de ser uma dupla de grindcore criada para tocar na rua antes de shows de metal e hardcore clássicos que aconteciam em São Paulo já merecia um lugar na história. Mas a união de João Kombi (guitarra e vocal) e Barata (bateria) vai muito além disso e cada vez mais eles expandem as fronteiras das possibilidades que podem fazer a partir da premissa inicial da banda – lembro quando chamei os caras para tocar no Centro Cultural São Paulo em 2017 quando eles vieram com sua versão big band, com 14 músicos no palco, incluindo um pianista num piano de cauda. O período pandêmico atingiu os dois como a todo o mercado da música e a solução encontrada por eles foi gravar um disco chamado Um Disco Normal, que seria gravado em áreas externas públicas, com o desafio de captar bem o som fora do estúdio. As gravações foram filmadas e geraram o extremo documentário de mesmo nome, dirigido por João e por Tomás Moreira, que mostra como registraram o novo disco em uma edição frenética e imagens superpostas, saturadas, granuladas, distorcidas, deixando tudo tão intenso quanto a sonoridade dos dois (confira o trailer abaixo). Como de praxe, o Test convidou diferentes letristas para cada uma das músicas, como Vitor Brauer da Lupe de Lupe, Jonnata Doll, China, Jair Naves, Kiko Dinucci, entre outros. Nesta quarta-feira, o grupo lançou a faixa de abertura do disco que finalmente será lançado no próximo mês de março. “Derrama Outro” reúne duas músicas, a primeira com letra de Fernando Catatau e a segunda com letra de Aran Carriel, e dá um pouco do gostinho do que podemos esperar do novo disco. Ouça abaixo:
Eis a lista com os 50 melhores álbuns de 2022 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do qual faço parte. A seleção reflete o quanto a produção musical brasileira ficou represada nos últimos anos e esta seleção saiu de uma lista de mais de 300 discos mencionados por mim e pelos integrantes do júri, Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Eis a lista completa abaixo:
Convidado para assumir as segundas-feiras de outubro no Centro da Terra, o cantor, compositor e guitarrista Fernando Catatau inventou Frita – uma série de encontros com velhos e novos compadres e comadres através de apresentações ao vivo em que visita composições que ainda não saíram da gaveta, engrena novas parcerias e revisita velhas canções com novas roupagens. Nas próximas semanas, ele se encontra com Juçara Marçal, Edson Van Gogh, Jadsa, Mateus Fazeno Rock, Yma e Anna Vis em apresentações feitas para o palco do teatro do Sumaré – e a temporada começa nesta segunda, dia 10, com o encontro entre Catatau e Kiko Dinucci, numa noite que reúne dois dos maiores nomes da música brasileira contemporânea. Os ingressos podem ser comprados neste link e o espetáculo começa pontualmente às 20h.
Vamos começar mais uma viagem por universos diferentes da música brasileira, quando outubro chegar para dar início a uma nova fase de nossas vidas. A primeira segunda do mês (que tem cinco segundas-feiras) ainda faz parte da temporada do selo Matraca, quando Lau e Eu encerra a leva de apresentações Tempo Presente, e a partir da outra segunda, dia 10, começamos a temporada em que Fernando Catatau convida compadres e comadres para shows únicos a partir de encontros inéditos – sua temporada, batizada apenas de Frita, conta com quatro noites que prometem ser históricas: na primeira, dia 10, ele recebe Kiko Dinucci; na outra, dia 17, é a vez de Juçara Marçal; no dia 24, ele convidou Anna Vis para dividir o palco, e na última, dia 31, é vez de ele receber Yma e Edson Van Gogh, guitarrista dos Garotos Solventes que acompanham de Jonnata Doll. Como se isso fosse pouco, a primeira terça do mês, dia 4, é com a banda Corte, liderada por Alzira E, que fez uma apresentação especial para o teatro a partir do documentário Aquilo Que Nunca Perdi, que Marina Thomé fez sobre sua história – e quem for ao show na terça pode assistir ao documentário de graça na quarta-feira, dia 5, no próprio Centro da Terra. No dia 11 de outubro é a vez da baiana Paula Cavalcante mostrar seu projeto acústico Corpo Expandido pela primeira vez em São Paulo ao mesmo tempo em que prepara o lançamento de seu primeiro álbum. No dia 18 de outubro recebemos, diretamente de Portugal, o carioca Ricardo Dias Gomes, integrante da banda Do Amor, que chega à cidade para apresentar um espetáculo solo motivado pelo momento em que o Brasil está atravessando, e no final do mês, dia 25, é a vez da irresistível banda Eiras e Beiras mostrar todo seu encanto no pequeno palco do Sumaré. Noites mágicas para inaugurar uma nova fase – garanta seus ingressos antecipadamente neste link.