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Shannen Doherty (1971-2024)

Conhecida como a Brenda do seriado Barrados no Baile, que fez sucesso no início dos anos 90, a atriz norte-americana Shannen Doherty morreu neste sábado. Com parcos 53 anos, ela foi vítima de um câncer que lhe acompanha desde 2015. Ao contrário de todo o resto do elenco do seriado, ela ainda conseguiu emplacar um segundo personagem em sua breve carreira, ao viver uma das jovens bruxas da série Charmed. No ano passado, ela anunciou a doença, que incialmente começou como um câncer de mama, havia espalhado para seu corpo, primeiro para os ossos e depois para o cérebro.

Bill Viola (1951-2024)

“A câmera de vídeo deu algo que a caneta, o lápis e o papel ou o pincel e a tela não deram: a habilidade de olhar para o mundo real com o olho aberto e gravar os eventos enquanto eles iam acontecendo – e esse tipo de conexão direta com a vida me libertou demais”, disse o recém-falecido artista norte-americano Bill Viola, pioneiro da vídeo-arte que nos deixou nesta sexta-feira no programa do entrevistador Charlie Rose em 1995. Ele começou a experimentar com o vídeo como uma forma de expressão no final dos anos 70, anos depois de formar-se em artes na faculdade de Syracuse, nos EUA, uma das primeiras a tratar novas mídias como estudo artístico, e trabalhar com performance, música e arte contemporânea. Seu principal feito foi recriar uma experiência de quase morte que teve ainda quando criança na série de vídeos que batizou de The Reflecting Pool, que deu a tônica do resto de sua carreira, sempre misturando registros em vídeo com uma experiência quase espiiritual ou religiosa. Isso vinha de sua educação junto à igreja, o que fez com que obras do Renascimento fossem referências recorrentes em seu trabalho. Morreu depois de complicações devido a um Alzheimer, que começara a desenvolver há pouco tempo.

Nelson Brito (1960-2024)

Fundador de uma das principais bandas de hard rock do Brasil, o baixista Nelson Brito faleceu nesta sexta-feira. Único remanescente da formação original, Nelson carregava a banda paulistana que, apesar de criada nos anos 80, pouco tinha a ver com os grupos de sua geração e tentava seguir a tradição de outros grupos de São Paulo da década anterior, como Casa das Máquinas, Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Tutti Frutti, Sindicato e Terreno Baldio, e teve seus primeiros discos lançados pela clássica gravadora independente Baratos Afins. O grupo manteve a mesma formação até a virada do século, quando seu clássico vocalista Catalau deixou a banda. Dez anos depois foi a vez do baterista Paulo Zinner sair do grupo, que só foi encerrar as atividades quando outro de seus fundadores, o guitarrista Helcio Aguirra, faleceu. Brito retomou a banda em 2016 e seguia como motor do grupo, que gravou apenas dois discos desde então, mas seguia fazendo shows. O baixista, no entanto, foi internado às pressas após descobrir que tinha um tumor no intestino no início do mês passado e não resistiu à doença, falecendo nesta sexta-feira, um dia após seu aniversário.

Shelley Duvall (1949-2024)

Uma das maiores atrizes de sua geração, Shelley Duvall nos deixou nesta quinta-feira, depois de anos de reclusão longe da vida artística, v vivendo bem e sem rancores. Apesar de mais conhecida por sua soberba (e polêmica) atuação no filme O Iluminado, de Stanley Kubrick, grande parte de seu trabalho foi feito ao lado do diretor Robert Altman, que sempre a chamou para fazer filmes nos anos 70. Ao lado de Altman atuou em filmes como Quando os Homens São Homens, Renegados até a Última Rajada, Nashville e Três Mulheres, este último lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes por melhor atuação. Também fez Noivo Neurótico, Noiva Nervosa de Woody Allen, Roxanne com Steve Martin e Bandidos do Tempo com Terry Gilliam. Se aproximou do teatro no final do século e seguiu fazendo atuações pontuais em filmes até se aposentar em 2016.

Luiz Chagas (1952-2024)

Arrasado com a notícia da morte do Chagasm que chegou como uma bordoada no fim desta terça-feira, não só pela perda de um caubói do jornalismo cultural, de um dos compositores mais subestimados de sua geração e de um samurai da guitarra elétrica, mas, principalmente, de um amigo, mistura de mestre zen e cúmplice cultural, que, mesmo nos encontrando rapidamente, era uma fonte de causos, anedotas, ensinamentos e lições de vida, muitas vezes tudo ao mesmo tempo, posto como quem conta uma piada ou revela um segredo, olhando por cima dos óculos com um olhar ao mesmo tempo sério e cínico, e em muitas vezes guardando um sorriso pro final, pra quando a ficha caísse do lado de cá. Sim, ele cobriu cultura em plena ditadura militar, foi guitarrista do Itamar Assumpção e parceiro de tantos monstros sagrados do underground de São Paulo, autor de uma das minhas músicas favoritas (a gigantesca “Às Vezes”), pai da Tulipa e do Gustavo, marido da Mônica e compadre de tantos compadres e comadres, mas a lembrança que fica é de uma das pessoas mais gente boa que conheci na vida, um dos raros “meu” ditos por um paulistano (na verdade, goiano, mas não espalha) que não doía nos meus ouvidos, que por vezes engrenava em papos que duravam horas, à mesa de alguma longa reifeição, passeando pelas ruas do centro, pelos arredores da Paulista ou indo de um lado para o outro de metrô. Não importava o assunto, podia ser uma música nova, uma história velha dos Beatles ou uma fofoca envolvendo alguém famoso da época em que era apenas jornalista – um assunto puxava o outro e era sempre um prazer estar em sua presença. Fico feliz de ter conseguido realizar alguns shows com ele – especialmente a temporada que fizemos no Centro da Terra em agosto de 2019, ao redor de seu ainda não lançado Música de Apartamento – e de ter podido ter umas dicas de guitarra quando comecei a levar mais a sério esse papo de tocar um instrumento: “os Beatles são óbvios, ou melhor, simples. Copiam todo mundo, ótimo para aprender”, disse citando nossa paixão comum como luz para a guitarra elétrica. Lamento imensamente ter perdido sua festa junina de aniversário, há exatamente um mês, mas sei que o Belo estará sempre olhando pela gente, lá do alto. Vai em paz, professor!

Assista abaixo à íntegra dos shows que fiz com ele (cinco no Centro da Terra e um no Estúdio Bixiga), três deles ao lado de sua eterna amiga Suzana Salles e à entrevista que fiz com ele durante a pandemia, em que ele conta parte de sua trajetória.  

Laércio de Freitas (1941-2024)

Um dos maiores nomes da música instrumental brasileiro despediu-se de nós nesta sexta-feira. O mestre Laércio de Freitas – o “Tio”, para os mais chegados – pode ter se tornado conhecido do grande público ao interpretar um pianista na novela da Globo Mulheres Apaixonadas, em 2003, mas décadas antes disso já tinha deixado sua marca em nossa música. Nascido em Campinas, estudou no Conservatório Carlos Gomes e enveredou pela música erudita antes de ser apresentado ao chorinho, do qual tornou-se maestro. Seus primeiros trabalhos profissionais foram ao lado de gigantes de nossa música – participou da Orquestra Tabajara de Severino Araújo e do Sexteto de Radamés Gnatalli, muito por conta de sua excelência às teclas, que o transformaram em músico internacional e gabaritado o suficiente para substituir Luiz Eça no Tamba Trio no final dos anos 60. Entre este período e o começo dos anos 70 esteve em discos-chave daquele novo gênero musical que aos poucos começavam a chamar de MPB: tocou nos discos homônimos de estreia de Clara Nunes e de Elza Soares, no Mustang Cor de Sangue de Marcos Valle, em Carlos Erasmo de Erasmo Carlos, Quem é Quem de João Donato e Contrastes de Jards Macalé, além de ter acompanhado em shows nomes do peso de Maria Bethânia, Emilio Santiago, Ivan Lins, Ângela Maria, Wilson Simonal, Martinho da Vila, entre outros. Apaixonado fervoroso pelo choro, encabeçou uma série de projetos com o gênero a partir dos anos 70, quando começou a gravar seus próprios discos, aproximando o gênero da música erudita e do jazz. Tal ponte o tornou arranjador e parceiro de outro pianista, Arthur Moreira Lima, com quem trabalhou em diferentes discos. Trabalhou com instrumentista, arranjador e diretor musical de projetos que celebravam o choro brasileiro e seus grandes nomes, como Pixinguinha e Jacob do Bandolim e junto a instituições como o Museu da Imagem e do Som de São Paulo, Centro Cultural Banco do Brasil e Sesc Pompéia. Também atuou como regente e arranjador junto à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e Banda Mantiqueira, além de fazer trilhas para cinema e trabalhar em diferentes gravadoras. Segundo sua filha, a cantora e atriz Thalma de Freitas, “morreu dormindo”. Axé!

Donald Sutherland (1935-2024)

O cinema e a televisão perderam um de seus atores mais versáteis. O canadense Donald Sutherland fez de tudo nessa área, de filmes premiados a séries esquecidas, passando por clássicos na maioria dos gêneros, sempre com seu rosto comprido e olhos gigantescos tomando conta de personagens que poderiam ser frios e tensos, brincalhões e amorosos, desesperadores ou maus. Passou por filmes emblemáticos como Os Doze Condenados, M.A.S.H., Inverno de Sangue em Veneza, 1900, Casanova de Fellini, Prova de Fogo, Gente como a Gente, JFK, Jogos Vorazes e meus dois favoritos, ainda nos anos 70: o policial Klute (de Alan J. Pakula) e a comédia Clube dos Cafajestes (de John Landis). Também atuou na TV em seriados de toda espécie, do clássico inglês Avengers nos anos 60 a Buffy – A Caçadora de Vampiros (nos anos 90), embora tenha recusado um papel que faz falta em sua filmografia: o de pai do agente Jack Bauer, na série 24, protagonizada por seu filho, Kiefer Sutherland. Já estava doente há tempos e foi saudado pelo filho, que publicou online: “Com o coração pesado, digo que meu pai, Donald Sutherland, fez sua passagem. Eu pessoalmente o considero um dos atores mais importantes da história do cinema. Nunca se intimidou com nenhum papel, bom, mau ou feio. Ele amava o que fazia e fazia o que amava e ninguém pode pedir mais do que isso. Uma vida bem vivida.” Salve!

Chrystian (1956-2024)

Morreu nesta quarta-feira José Pereira da Silva Neto, mais conhecido como Chrystian, da dupla sertaneja Chyrstian & Ralf. Mais velho que o irmão que fazia a segunda voz, ele começou na carreira musical antes de abraçar o sertanejo, mas já com o pseudônimo americanizado, que adotou quando lançou-se como cantor que cantava em inglês nos anos 70 (quando isso era bem comum no país). Montou a dupla que o consagrou com o irmão Ralf Richardson da Silva, cinco anos mais novo, em 1982 e aos poucos foi trilhando a carreira que o tornou um dos principais nomes do gênero. Ao lado de Ralf, vendeu mais de 15 milhões de discos e emplacou músicas que estão no imaginário brasileiro até hoje, entre elas a imortal “Chora Peito”. A dupla foi pioneira na gravação de CDs no Brasil e no início do século propôs uma solução para a pirataria de CDs quando lançou o formato SMD (Semi Metalic Disc), que seria mais difícil de ser copiado, mas que não colou.Separou-se do irmão no início do século, mas logo voltaram a tocar juntos, até 2021, quando lançou-se em carreira solo. Apesar de divergências (entre elas políticas, Chrystian era bolsonarista, Ralf não), a separação aconteceu sem brigas e Chrystian cogitava voltar a trabalhar com o irmão num futuro próximo, mas somente após 2026, quando encerrava o contrato que havia assinado nesta nova fase. A morte de Chrystian segue a nefasta maldição que paira sobre os sertanejos, vitimando sempre o primeiro nome da dupla. Sua causa da morte não foi revelada pela família, mas ele já vinha passando por problemas de saúde, recentemente.

James Chance (1953-2024)

Triste saber da morte de James Chance nesta terça-feira. Um dos grandes nomes da cena nova-iorquina do final dos anos 70, ele primeiro fez parte do grupo Teenage Jesus and the Jerks, que projetou a carreira de sua então companheira, a madre superiora do pós-punk norte-americano Lydia Lunch, como depois de terminar o relacionamento por diferenças artísticas (ele queria um som mais expansivo e solar, ela mais introspectivo e noturno), lançou sua própria banda liderando o James Chance and the Contortions. Figura central na cena no wave, começou tocando versões de Velvet Underground e Stooges numa banda chamnada Death em Michigan, quando mudou-se para Nova York abraçando, ao mesmo tempo, duas vertentes musicais distintas da cidade – o free jazz e o punk. Com seus Contortions (que ganharam esse nome pois o crítico Robert Christgau disse que ele não tocava, mas “se contorcia”), alternava suas performances entre os vocais berrados e o sax estridente, quase sempre saindo na porrada com o próprio público. A banda foi escolhida para participar da primeira edição da coletânea No New York, produzida por Brian Eno (ao lado dos próprios Teenage Jesus and the Jerks, Mars e da primeira banda de Arto Lindsay, DNA) e seu primeiro álbum, Buy, é um dos principais registros daquela cena, inspirou artistas como Sonic Youth, Birthday Party, Swans, Konk, Big Black, Jon Spencer Blues Explosions, Liars, LCD Soundsystem, Black Midi, entre outros, além de seguir atualíssimo até hoje.