Roger Waters encerrou a perna brasileira de sua primeira turnê de despedida neste domingo, no estádio do Palmeiras, quando celebrou seus 80 anos em ótima forma ao misturar o repertório pós-Dark Side of the Moon do Pink Floyd com algumas músicas solo e ticar em praticamente todos os itens da esquerda no século 21 no espetáculo audiovisual que acompanhou o show. A apresentação já começou com esse tom no talo, em uma mensagem no telão em que o próprio Roger mandava quem acha que sua antiga banda não falava de política para fora do show. E como o assunto não é (apenas) política institucional, o velho inglês fez das suas ao abrir o show com um dos principais números de sua antiga banda, “Comfortably Numb”, retirando cirurgicamente (e politicamente) um dos grandes momentos do hino à dor, o solo de guitarra feito pelo ex-amigo David Gilmour. Isso não chegou a comprometer o show, mas é meio triste ver que Waters prefere se referir à antiga banda apenas no período de 1973 em diante, quando tornou-se o único letrista. E por mais que se refira ao fundador da banda, seu amigo de infância Syd Barrett, de forma tenra, é chato não ouvirmos músicas que o grupo fez antes do disco que completa meio século neste 2023. Em vez disso, tome músicas do The Wall e até uma do último disco do grupo, o fraco The Final Cut. Mas por outro lado, fomos presenteados com uma apoteótica versão de “Sheep”, a íntegra do lado B do Dark Side (mas sem “Time”? Pô) e quase todas do Wish You Were Here, enquanto o telão misturava o imaginário que o grupo criou nos anos 70 com animações e frases de efeito, que Roger Waters disparava sem poupar alvos – até Barack Obama apareceu no telão como “criminoso de guerra” (como todos os presidentes dos EUA desde Reagan), mas não falou nada sobre os líderes de seu país, Benjamin Netanyahu (embora tenha falado sobre o genocídio palestino constantemente) ou talvez uma alfinetada em seu desafeto local. Por outro lado, citou George Floyd e Marielle Franco, fez porco e ovelha infláveis passearem pelo estádio e segurou um showzaço de mais de duas horas – que certamente não será o último que fará por aqui. Toca “Dogs” na próxima, Roger!
O anúncio da “última canção dos Beatles”, que será lançada na semana que vem com as duas coletâneas clássicas do grupo (a vermelha e a azul) em versões expandidas, é mais um exemplo que a geração baby boom, nascida durante a Segunda Guerra Mundial e responsável por mexer na história da cultura e do comportamento nos anos 60, segue à toda e sem dar sinal de aposentadoria à vista. Nomes como Rolling Stones, Pink Floyd, Roger Waters e os brasileiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola endossam sua vida criativa mesmo entrando na oitava década de vida. Foi sobre isso que escrevi na matéria que fiz nesta quinta-feira para o site da CNN Brasil.
Enquanto o U2 deixava todo mundo de queixo caído no sábado passado com sua apresentação hi-tech no Sphere em Las Vegas, a torcida do time italiano Salernitana fazia a mesma coisa no mesmo dia, mas de forma artesanal, ao homenagear os 50 anos do Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Mandaram bem…
Mais um tijolo na reconstrução que Roger Waters está fazendo do disco mais clássico do Pink Floyd, que será lançado no próximo dia 6 de outubro. Em The Dark Side of the Moon Redux ele parte da premissa que o texto do disco do prisma é responsável por seu status histórico e recria as canções como se fossem poemas com bases sonoras. Nos dois maiores hits do disco (“Time” e “Money“, que ele escolheu para serem seus primeiros singles), Waters despiu quase por completo as canções de suas melodias, deixando apenas sua voz recitando as letras sobre bases sonoras etéreas que ecoam as músicas originais. Nesta sexta-feira, o ex-baixista do grupo lançou mais uma versão, recriando como um single duplo as faixas que abrem o disco original, “Speak to Me” e “Breathe”. No disco original, a primeira é uma colagem sonora de vários trechos que são tocados no decorrer do álbum, funcionando como uma rapsódia de introdução ao disco. Sem referir-se à sonoridade do disco de 1973, Waters prefere recitar uma faixa de outro disco que a banda gravou no ano anterior, “Free Four” do Obscured by Clouds. Trilha sonora composta às pressas enquanto o grupo viajava pelos Estados Unidos e Europa tocando Dark Side of the Moon antes de este ter sido lançado, Obscured by Clouds também carrega o tema do disco clássico em várias canções em que Waters filosofa sobre a existência. Assim, na nova versão de seu Redux, “Speak to Me” é uma versão falada de “Free Four”, que canta sobre “as lembranças do homem em sua idade avançada são os feitos de sua vida em seu auge” e que “a vida é um curto e quente momento e a morte é um longo e frio descanso”, para depois cair em “Breathe”, a primeira canção de fato do disco e também a primeira canção cantada por Waters – e não recitada – de seu novo projeto. Apesar da ótima lembrança à faixa do sempre esquecido Obscured… (um dos melhores discos do Floyd), é o single mais fraco até agora.
Roger Waters começou mostrando sua nova versão do Dark Side of the Moon com “Money” e agora, dois meses antes do lançamento do disco, confirma que esta edição batizada de Redux do clássico disco do Pink Floyd será sua incursão pelo mundo do canto falado, ao regravar “Time” dessa forma radical. Em vez da sonoplastia dos relógios, da bateria de Nick Mason e da carga dramática do canto e da guitarra de David Gilmour, o ex-baixista do Pink Floyd volta-se para o texto da canção, acrescenta um novo monólogo à introdução e segue o padrão de quase spoken word grave e arrastado adotado por outros anciões do mundo do rock e da poesia, como Leonard Cohen e Lou Reed. É exatamente isso que Waters está fazendo: movimentando-se para o mundo das letras para mostrar que o que carregava o disco de 1973 era o texto mais do que a interpretação musical do grupo, o que é uma bobagem egoísta, mas tudo bem, porque o resultado funciona. Só quero ver como é que ele vai fazer com “The Great Gig in the Sky” ou se tem coragem de trocar as versões quase cover que faz nas turnês pelo mundo por uma dessas variantes soturnas…
Mais uma vez Roger Waters volta-se ao seu passado no Pink Floyd para dar continuidade à sua carreira, mas em vez de ficar apenas nos espetáculos ao vivo, ele preferiu recriar o clássico Dark Side of the Moon em uma versão solitária. E estreia a cara de seu Dark Side of the Moon Redux com uma versão lenta, grave e quase soturna de “Money”, lançada nessa sexta-feira, para antecipar o lançamento do disco que sairá no meio deste semestre. “O Dark Side of the Moon original parece de alguma forma o lamento de um ancião sobre a condição humana”, explicou o autor do disco em uma declaração, “mas Dave, Rick, Nick e eu éramos tão jovens quando o fizemos e quando você vê o mundo ao nosso redor, é claro que a mensagem não ficou. É por isso que eu comecei a considerar o que a sabedoria de um octagenário poderia trazer para esta versão reimaginada.” O disco sai em outubro e já está em pré-venda. Ouça a nova versão de “Money” abaixo:
Mais uma edição especial da Rolling Stone Brasil a que presto meus serviços e desta vez temos uma revista inteirinha dedicada a discos que completam 50 anos neste 2023. Escrevi sobre o principal disco de 1973, o cinquentenário que adorna uma das capas da edição com lombada quadrada que chega às bancas esta semana, com oito páginas dedicadas à história do disco-símbolo do Pink Floyd, Dark Side of the Moon. Também passeei por outros tantos discos gringos e nacionais, dividindo as páginas mais uma vez com os compadres Marcelo Ferla, Pedro Só e Pablo Miyazawa, este último no comando desta embarcação épica: falei sobre meu disco favorito do João Gilberto (o disco que muitos conhecem como sendo seu álbum branco), o Let’s Get it On do Marvin Gaye, o Future Days do Can, o Quem é Quem do Donato, o Berlin do Lou Reed, p disco do Pessoal do Ceará, o Head Hunters do Herbie Hancock, o ex-Calabar do Chico, o do Edu Lobo que tem “Missa Breve” e outras dezenas de discos. Isso que eu nem falei dos discos que meus chapas escreveram (como a estreia dos Secos e Molhados, que o Ferla escreveu para a outra capa da revista) – é muito disco bom pra um ano só, diz aí…