Pude assistir no cinema a nova versão para o show que o Pink Floyd gravou sem público nas ruínas da cidade italiana no início de outubro de 1971. Batizada de Pink Floyd at Pompeii – MCMLXXII a nova edição não traz um centímetro de novidades em relação à versão que conhecemos, à exceção de uma excelente restauração de imagem e de som – por isso assistir ao show no cinema foi praticamente obrigatório. Um dos registros de show mais clássicos da história, o filme de Adrian Maben flagra o Pink Floyd em um momento decisivo de sua carreira, quando, depois de anos experimentando possibilidades sônicas após a terem substituído seu fundador, o príncipe psicodélico Syd Barrett, pelo novato David Gilmour, o quarteto finalmente consegue chegar a um equilíbrio musical que vislumbra tanto a atmosfera viajandona dos primeiros anos da banda e os delírios de megalomania que experimentaram nos anos seguintes. A própria ideia de filmar um show em um anfiteatro secular sem a presença do público (e em, várias cenas, de dia), mostra como o Pink Floyd queria mostrar que não era uma banda qualquer e que queria ser reconhecida como clássica numa época em que o rock começava a ter esse tipo de aspiração (o baixista Roger Waters chega inclusive a falar sobre isso no filme). Além das apresentações ao vivo, o filme também traz cenas do grupo nas gravações e na cantina do estúdio de Abbey Road, gravando aquela que seria sua obra-prima, The Dark Side of the Moon, lançado no ano seguinte. Mas são as músicas tocadas ao vivo (em especial as duas partes de “Echoes”, “One of These Days”, “A Saucerful of Secrets” e “Careful with That Axe, Eugene”) o grande trunfo do filme, que ao ser projetado na telona com o som a todo vapor (no Imax então, nem se fala), ganha uma dimensão e uma importância ainda maior. Tanto que o grupo resolveu oficializar esse registro em sua discografia e lança ao mesmo tempo, pela primeira vez, este show como disco, tanto em vinil quanto em CD duplo, quanto como em Blu-ray e DVD (tudo já à venda online), além de disponibilizar seu áudio nas plataformas digitais.
Um dos shows mais clássicos da história do rock volta às telas de cinema em 2025 – inclusive no Brasil! Pink Floyd at Pompeii MCMLXXII traz o grupo britânico tocando nas ruinas de Pompeia em 1971, sem público, numa das apresentações mais memoráveis da história e será relançado pela primeira vez em áudio (em versões em vinil, CD e Dolby Atmos com áudio remixado e remasterizado); além de versões em Blu-ray, DVD e projeções em salas Imax por todo o mundo, no dia 24 de abril. As vendas começam no dia 6 de março e basta cadastrar-se no site do grupo para saber mais informações sobre as salas de exibição e sobre as vendas. É preparar-se do jeito certo e ir pro cinema. Vamo?
Tirei o domingo cedo pra prestigiar o Sonoriza do Belas Artes, sessão do cinema de rua mais tradicional de São Paulo que convida artistas para fazer a trilha sonora ao vivo de um filme que é exibido na telona, que recebeu mais uma vez a improvável mas já clássica junção do filme O Mágico de Oz (de 1939) com o disco Dark Side of the Moon do Pink Floyd (de 1973), desta vez conduzida pela ótima banda cover Pink Floyd Dream. O mashup inusitado teria sido um experimento feito pelo Pink Floyd original quando estava produzindo seu disco mais emblemático, sincronizando as passagens das músicas, interligadas umas às outras no álbum conceitual, com as mudanças de cenas de um dos filmes mais tradicionais da era de ouro de Hollywood, mas a banda já desmentiu sem sucesso tantas vezes esse rumor que acabou aceitando – e incluindo os personagens do filme na montagem da capa de seu disco ao vivo de 1995 (Pulse) – e o que era uma lenda urbana tornou-se um ritual feito pelos fãs ao longo das décadas seguintes. Lembro de ter escrito para o Estadão, ainda nos anos 90, uma matéria sobre o feito que exigia que o espectador colocasse o disco para tocar quando o leão da Metro Goldwyn Meyer rugisse pela terceira vez para que a sincronização acontecesse, e de ter conduzido esse experimento de maneira analógica (com vinil e VHS) inúmeras vezes para visitas em casa. Por isso foi muito legal voltar para Oz ao som de Roger, David, Ricky e Nick mais uma vez numa tela de cinema de fato e com músicos tocando o disco ao vivo – duas vezes e meia! Claro que a primeira sincronia é a que soa melhor (especificamente quando “The Great Gig in the Sky” torna-se a trilha sonora para o furacão ainda em preto e branco e “Money” sonoriza a chegada de Dorothy a uma colorida Oz), mas a sessão – lotada! – encantou todos os presentes, elevando a sensação de viver uma nota de rodapé de um dos grupos mais importantes da história do rock a um experimento multimídia. Parabéns ao Belas e especialmente ao Pink Floyd Dream, que aceitou o desafio e o cumpriu à risca.
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Roger Waters encerrou a perna brasileira de sua primeira turnê de despedida neste domingo, no estádio do Palmeiras, quando celebrou seus 80 anos em ótima forma ao misturar o repertório pós-Dark Side of the Moon do Pink Floyd com algumas músicas solo e ticar em praticamente todos os itens da esquerda no século 21 no espetáculo audiovisual que acompanhou o show. A apresentação já começou com esse tom no talo, em uma mensagem no telão em que o próprio Roger mandava quem acha que sua antiga banda não falava de política para fora do show. E como o assunto não é (apenas) política institucional, o velho inglês fez das suas ao abrir o show com um dos principais números de sua antiga banda, “Comfortably Numb”, retirando cirurgicamente (e politicamente) um dos grandes momentos do hino à dor, o solo de guitarra feito pelo ex-amigo David Gilmour. Isso não chegou a comprometer o show, mas é meio triste ver que Waters prefere se referir à antiga banda apenas no período de 1973 em diante, quando tornou-se o único letrista. E por mais que se refira ao fundador da banda, seu amigo de infância Syd Barrett, de forma tenra, é chato não ouvirmos músicas que o grupo fez antes do disco que completa meio século neste 2023. Em vez disso, tome músicas do The Wall e até uma do último disco do grupo, o fraco The Final Cut. Mas por outro lado, fomos presenteados com uma apoteótica versão de “Sheep”, a íntegra do lado B do Dark Side (mas sem “Time”? Pô) e quase todas do Wish You Were Here, enquanto o telão misturava o imaginário que o grupo criou nos anos 70 com animações e frases de efeito, que Roger Waters disparava sem poupar alvos – até Barack Obama apareceu no telão como “criminoso de guerra” (como todos os presidentes dos EUA desde Reagan), mas não falou nada sobre os líderes de seu país, Benjamin Netanyahu (embora tenha falado sobre o genocídio palestino constantemente) ou talvez uma alfinetada em seu desafeto local. Por outro lado, citou George Floyd e Marielle Franco, fez porco e ovelha infláveis passearem pelo estádio e segurou um showzaço de mais de duas horas – que certamente não será o último que fará por aqui. Toca “Dogs” na próxima, Roger!
O anúncio da “última canção dos Beatles”, que será lançada na semana que vem com as duas coletâneas clássicas do grupo (a vermelha e a azul) em versões expandidas, é mais um exemplo que a geração baby boom, nascida durante a Segunda Guerra Mundial e responsável por mexer na história da cultura e do comportamento nos anos 60, segue à toda e sem dar sinal de aposentadoria à vista. Nomes como Rolling Stones, Pink Floyd, Roger Waters e os brasileiros Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola endossam sua vida criativa mesmo entrando na oitava década de vida. Foi sobre isso que escrevi na matéria que fiz nesta quinta-feira para o site da CNN Brasil.
Enquanto o U2 deixava todo mundo de queixo caído no sábado passado com sua apresentação hi-tech no Sphere em Las Vegas, a torcida do time italiano Salernitana fazia a mesma coisa no mesmo dia, mas de forma artesanal, ao homenagear os 50 anos do Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Mandaram bem…
Mais um tijolo na reconstrução que Roger Waters está fazendo do disco mais clássico do Pink Floyd, que será lançado no próximo dia 6 de outubro. Em The Dark Side of the Moon Redux ele parte da premissa que o texto do disco do prisma é responsável por seu status histórico e recria as canções como se fossem poemas com bases sonoras. Nos dois maiores hits do disco (“Time” e “Money“, que ele escolheu para serem seus primeiros singles), Waters despiu quase por completo as canções de suas melodias, deixando apenas sua voz recitando as letras sobre bases sonoras etéreas que ecoam as músicas originais. Nesta sexta-feira, o ex-baixista do grupo lançou mais uma versão, recriando como um single duplo as faixas que abrem o disco original, “Speak to Me” e “Breathe”. No disco original, a primeira é uma colagem sonora de vários trechos que são tocados no decorrer do álbum, funcionando como uma rapsódia de introdução ao disco. Sem referir-se à sonoridade do disco de 1973, Waters prefere recitar uma faixa de outro disco que a banda gravou no ano anterior, “Free Four” do Obscured by Clouds. Trilha sonora composta às pressas enquanto o grupo viajava pelos Estados Unidos e Europa tocando Dark Side of the Moon antes de este ter sido lançado, Obscured by Clouds também carrega o tema do disco clássico em várias canções em que Waters filosofa sobre a existência. Assim, na nova versão de seu Redux, “Speak to Me” é uma versão falada de “Free Four”, que canta sobre “as lembranças do homem em sua idade avançada são os feitos de sua vida em seu auge” e que “a vida é um curto e quente momento e a morte é um longo e frio descanso”, para depois cair em “Breathe”, a primeira canção de fato do disco e também a primeira canção cantada por Waters – e não recitada – de seu novo projeto. Apesar da ótima lembrança à faixa do sempre esquecido Obscured… (um dos melhores discos do Floyd), é o single mais fraco até agora.