Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Chama Laerte

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Desenterrando uma tira de junho de 2013 (pois é) pra tentar arrefecer os ânimos.

Dodô Azevedo em Doze Cidades

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O velho compadre Dodô Azevedo, pedra fundamental do indie carioca, resolveu gravar seu segundo disco enquanto perambulava pelo mundo divulgando e produzindo seus livros e filmes. Ex-baterista da PELVs, Dodô era do núcleo-duro do Midsummer Madness e comandava o programa de rádio College Radio, além de ter participado do já clássico encontro com Kurt Cobain quando o Nirvana passou pelo Brasil. Mas isso foi nos anos 90. De lá pra cá, Dodô assumiu um papel mais polivalente: coordenou o projeto Pessoas do Século Passado (que era site, livro e disco), refez o percurso de Jack Kerouac em On the Road no livro Fé na Estrada, ministrou cursos sobre Kubrick e lançou longas e curtas em festivais de cinema alternativo pelo mundo. Essa mudança de chave aconteceu justamente no lançamento do Alguma Coisinha, seu primeiro disco, composto apenas em cima de bases sampleadas de clássicos da música brasileira de todas as épocas – Dodô me mostrou esse disco quando o Trabalho Sujo estava começando a transição do impresso pra internet e ainda não tinha tanta certeza de sair nessa carreira solo. Felizmente mudou de ideia e agora lança o crowdfunding para materializar doze músicas gravadas em doze capitais pelo mundo todo em vinil vermelho, cantando a saudade do Brasil em cada uma das músicas.

A campanha para transformar Doze Cidades em vinil já está online e eu conversei com ele sobre a nova fase do trabalho. Dodô ainda liberou o clipe de uma das músicas (“Los Angeles”), dirigido por ele, exclusivamente para o Trabalho Sujo.

Conta a história da tua carreira solo, para além da PELVs? Ou melhor: como o Alguma Coisinha virou o Doze Cidades? O que aconteceu entre os dois lançamentos?
Minha carreira solo em música acontece toda a vez que outras atividades de expressão artística – fazer filmes, escrever livros – não dão conta de responder quem eu sou no mundo. Isso aconteceu duas vezes. No meio dos anos 90, com o Alguma Coisinha e agora, com o Doze Cidades. Entre os dois, um modus operandi punk, nos anos 90 um uso radical, sujo, faça você mesmo, de samplers – a ponto do disco ser pirata até hoje – para fazer algo que não fosse música eletrônica. Agora, duas décadas depois, o uso radical, sujo, faça você mesmo, da tecnologia para carregar na mochila um estúdio portátil e levá-lo a onze cidades do mundo. Entre um trabalho e outro, outras formas de arte me foram suficientes. Principalmente ter começado, em 2010, a fazer cinema, e filmar de modo radical, sujo, faça você mesmo. E levar longas metrages a festivais aqui e lá fora e, estupefato, receber prêmios por isso. O romance autobiografico Fé na Estrada, também tomou me ocupou por uma década. Mas faltava dizer alguma coisa sobre o mundo que não conseguia dizer na literatura ou no cinema.

Como sugiu a ideia do novo disco?
Cada um dos seis curtas e quatro longas que fiz nos últimos cinco anos foi filmado em uma cidade diferente do mundo: me impus a velocidade de produção de meus ídolos: a turma da No Wave americana Nova Iorque 70’s, Jim Jarmush, Lydia Lunch etc e a dupla Bressane/ Sganrzerla, que produziu uma dúzia de filmes em três anos, aqui no Brasil, no início dos anos 70. Botei na cabeça que estava na hora de invertermos um jogo de observação e diagnóstico. Fomos acostumados, desde às gravuras de Debret aos escritos de Verger, a sermos estudados e definidos por estrangeiros. E que tal se o brasileiro passasse a observar e diagnosticar os países do mundo? O que o olhar e um diagnóstico de um brasileiro poderia trazer de novo e útil para outras culturas. O Doze Cidades é isso: um brasileiro ao observar-se estrangeiro, consequentemente diagnosticar o lugar onde está. Um brasileiro dizendo para um londrino o que Londres é. Dizendo para um japonês o que Tóquio é. Dizendo para um português o que Portugal é. Nos intervalos de filmagens, principalmente nas horas ociosas de insônia por causa do jetlag, pegava um violãozinho ou nem isso, um iPad com fones e começava a fazer programações de baixo e bateria, gravava a voz com o microfone do celular. O mesmo processo criativao, repito, do artista de garagem. Ano passado finalmente acreditei que tinha, dentre as dezenas de músicas compostas e gravadas lá fora, uma dúzia de canções que daria um disco bonito, um disco triste, um disco de saudade da sua terra, um disco de observação sobre a terra dos outros. Então finalizei-o no Brasil e começei a mostrar para gravadoras. A Embolacha comprou a briga antes mesmo de escutar o disco.

Como o papel do artista tem mudado neste século? Se todo mundo produz cultura todo mundo consome cultura? Não chega uma hora que esse ciclo se esgota?
Quando eu estava num acampamento nômade na fronteira do Irã com o Iraque, há dois anos, observei que naquele grupo de 150 pessoas no deserto, naquele pequeno vilarejo primal, todo mundo era produtor de cultura. Havia as tecelãs com seus métodos milenares, os senhores fulineiros, produzindo peças maravilhosas como jogos de chá pintados à mão, quase todo mundo pintava, quase todo mundo sabia um instrumento, quase todo mundo escrevia. Era assim que todos vivíamos muitos milhares de anos atrás: todos, repito, todos produzindo cultura e consumindo cultura 24h. Este ciclo não se esgota. E, na verdade, só não se esgota se for praticado desta forma na qual estamos agora – do “todo mundo pode ser artista”. O papel do artista, neste início de século, é, como no início de cada século, segundo a História da Arte, fazer um balanço do quanto o progresso adquirido no século anterior nos afastou do que somos. E, nisso, o século 20 foi prodigioso. Daqui uns 20 anos eu liberaria o artista para olhar pra frente. Agora, como em todo início de século, repito, a hora é de olhar para atrás e organizar tudo o que foi feito. Ser um bibliotecário de tudo o que foi escrito no século 20, ser um arquivista de todas as imagens produzidas no século passado, ser DJ de toda a música produzida neste período e por aí vai.

Como você tem avaliado a atual cena musical brasileira?
Falando da cena indie: Sabe a onda atual do parto humanizado? Da comida orgânica? Da decoração DYU? Da maconha plantada em casa? Do chá verde detox? A cena atual da música brasileira é, hoje isso, parto humanizado, comida orgânica, coisas que façam bem. Uma cena que busca a desintoxicação dela própria e de quem consome a sua produção. Que impõe, empoderada porque não precisa mais de grandes gravadoras, sua própria velocidade, à despeito das demandas de mercado. E há a grande novidade desta década. A cena indie experimental carioca, da turma que se apresenta, produz e comercializa seus produtos no Audio Rebel. É estonteante a quantidade de artistas novos e interessantes que aparecem todos os dias, de segunda a segunda, nos palcos do Rebel.
Falando da atual cena brasileira continental, vejo-a muito pouco elitizada, muito pouco bossa-nova, onde Ivete Sangalo, Wesley Safadão e MC Bin Laden influenciam gente como Figeroas, e não causam urticárias, como o popular fazia com a cena indie de todo o século passado. A coisa mais bonita foi ver o Sepultura tocando no trio de Brown, carnaval passado. Até porque o rock, o rock mesmo, recusou-se a renovar-se neste século no Brasil. Hoje, rock é nostalgia. Tributo à Legião Urbana, show só com Hits dos Paralamas do Sucesso, volta do Planet Hemp, culto ao Charlie Brown, culto aos Los Hermanos, aos clássicos do Skank, do Jota Quest, que já viraram cássicos. Mas rock é um gênero careta, que se renova muito lentamente e sempre com os dois pés atrás. É meu gênero favorito. Mas é careta.

E este revival indie que aos poucos vem crescendo, como você encara isso?
Com a naturalidade de quem concluiu, nos anos 90, quando começou o revival dos anos 80, que no século 21 iria chegar a hora do revival do indie anos 90. Com a mesma naturalidade de quem tem certeza que em 2030 teremos um revival de Kayne West e Rihanna. O consumidor fica mais velho, com grana, e cria uma demanda pelos artistas que ele consumia quando jovem e não tinha grana. Por isso, na verdade, são falsos revivals. Você não ve nenhuma garota de 20 anos num show do My Bloody Valentine. A garotada ainda está descobrindo Joy Division, The Smiths, Arto Lyndsay – este um verdadeiro herói, guru, da garotada que hoje produz música indie no Rio -, Talking Heads. Deste ponto de vista, é um falso revival, esse indie. São só os consumidores de sempre, agora velhos e barrigudos, tendo condições de bancar o retorno disso. E isso não é nada ruim. Embora eu gostaria muito ver uma banda de moleques de 23 anos dizendo que fazem um som inspirado em Killing Chainsaw. Não vai acontecer. Não aqui no Brasil, não agora. Talvez quando pegar de vez o revival indie, este sim completo, que acontece hoje na América, onde as meninas de 20 anos adoram a Kim Gordon, a Joan Jett, onde bomba o instragram da filha do Kurt Cobain e da própria Kim Gordon. Será lá, na América, onde, a qualquer momento vai aparecer uma banda nova inspirada no Dinosaur Jr. Só quando nossa garotada ver isso, aí sim há a possibilidade disso acontecer. Embora eu ache, no fim das contas que, entre a garotada, o que vai prevalecer será a demanda por arte tipo parto humanizado. Nesse sentido, Doze Cidades é meu trabalho menos anacrônico, menos excludente, mais chega-junto.
É que de uns tempos pra cá “vamos” tem sido minha palavra favorita.

Todo o Disco: Rodrigo Ogi fala sobre Rá!

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Hoje é dia de mais um curso da segunda temporada do curso Todo o Disco, no Espaço Cult, e o convidado desta terça é o rapper Rodrigo Ogi, que vai dissecar seu segundo disco, Rá!, em um bate papo sobre seu conceito e criação. As inscrições podem ser feitas no site do Cult.

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O segundo disco do rapper Rodrigo Ogi, um dos principais nomes da nova geração do rap paulistano, é uma descida às profundezas de sua alma. Depois de dissecar as contradições da cidade grande em seu primeiro disco solo, ele agora olha para si mesmo em busca destas mesmas tradições – e Rá! é um mergulho terapêutico dentro da própria alma do MC, além de ser o melhor disco de rap brasileiro do ano passado.

Vagas limitadas, garanta a sua no site do Espaço Cult

Todo o Disco – Segunda Temporada

Nunca se produziu tanto, nunca tantos artistas brasileiros lançaram tantos discos bons em tão pouco tempo mas ao mesmo tempo nunca se discutiu tão pouco sobre música. A overdose de informação e a concorrência por atenção apenas trata discos como notícias e mesmo com a amplitude da internet, estes discos não são tratados como obras importantes na carreira do artista e sim como mero gancho para notícias.

A partir desta constatação, o jornalista Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo, junto com o Espaço Cult, propõe uma investigação musical ao lado dos autores de importantes discos lançados recentemente. A série Todo o Disco foi iniciada em novembro do ano passado com encontros com o grupo Cidadão Instigado, o músico Siba, o rapper Emicida e a cantora Karina Buhr. Em março, a segunda temporada do curso reúne nomes como Mariana Aydar, Ava Rocha, Tulipa Ruiz, Rodrigo Ogi e Instituto todas as terças-feiras de março, do dia primeiro ao dia 29, sempre a partir das 20h.

01/03 – Tulipa Ruiz fala sobre Dancê

08/03 – Instituto fala sobre Violar

15/03 – Rodrigo Ogi fala sobre Rá!

22/03 – Ava Rocha fala sobre Ava Pátrya Yndia Yracema

29/03 – Mariana Aydar fala sobre Pedaço Duma Asa

Revista Trabalho Sujo: uma pausa

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Problemas de percurso me obrigaram a dar uma pausa no crowdfunding da revista Trabalho Sujo – o que me dá tempo também pra repensar uma série de questões relacionadas ao projeto, que volta em abril. Deixa seu nome no mailing (clicando aqui) que eu te aviso quando o financimanto coletivo recomeçar.

Céu – Tropix

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A Céu me chamou pra escrever o release do disco novo dela, o inacreditável Tropix, disco que tenho ouvido sem parar há mais de um mês e que cada vez tenho mais certeza de que é seu melhor trabalho. Tropix é um desvio inusitado via pista de dança, um disco noturno e digital, gravado com um “power trio de teclado”, formado por Lucas Martins, Pupillo e Hervé Salters (do General Eletriks), estes dois últimos produtores do álbum. Ele ainda conta com cover de Fellini (“Chico Buarque Song”, que timing!), participações de Tulipa Ruiz e Pedro Sá, timbres sintéticos, harpeggiator e tamba, além de cordas inacreditáveis em sua reta final, três músicas incríveis. “Perfume do Invisível” é só um gostinho. Um dos grandes discos do ano, maior satisfação fazer essa apresentação que vem a seguir. O disco chega ao Spotify na sexta-feira.

Tropix

Céu brinca com beats. Debruçada sobre a luz do monitor, ela move o cursor de lá para cá, clicando e arrastando frases musicais traduzidas em gráficos horizontais. E por mais fluidos e quentes que sejam os sons que ela manipula, eles se traduzem em uma linguagem dura, reta, quadrada e fria. Graves encorpados, vocais sussurrados, ritmos malemolentes – todo calor humano desaparece quando visualizado por gráficos de programas de edição de áudio. Foi quando ela percebeu a constância do ritmo na sequência de picos de uma determinada onda sonora e um clique soou – dentro dela.

Foi a partir deste insight que ela começou a mais ousada reinvenção de sua carreira. Tropix é um disco sintético, noturno, reluzente. “Perfume do Invisível”, a faixa de abertura, começa com a cadência mole e vocais de apoio que remetem diretamente à faixa-título de seu segundo disco, Vagarosa. Mas logo em seguida entra a guitarra disco music e o beat de pista de dança. De repente ela se desvencilha das diferentes camadas orgânicas que compunham seu universo musical para entrar num mundo de timbres frios, linhas de baixos pontiagudas, viço robótico, ciclos repetitivos, eletrônica vintage.

Tropix é um mergulho neste universo de texturas artificiais que atravessa diferentes experimentos sônicos da segunda metade do século passado: o trip hop dos anos 90, a discoteca do final dos anos 70, o R&B dos anos 80, o casamento do hip hop com a música eletrônica. No entanto, não é uma viagem no tempo. O novo disco de Céu é um olhar do século 21 e traça uma genealogia pessoal de um mundo musical específico, um processo semelhante à viagem jamaicana feita em seu disco-irmão Vagarosa. Mas este era um disco que habitava o vasto e imponente cânone do reggae, e sua conexão com o sotaque brasileiro da musicalidade de Céu fazia um sentido sentimental lógico, devido à conexão entre as tradições musicais dos dois países.

Já este disco de 2016 é uma incógnita. Mais um desafio autoproposto como todos seus discos, Tropix é um salto num escuro que Céu sequer havia flertado anteriormente. E em vez de cercar-se diferentes músicos e produtores para lhe auxiliar nessa jornada, ela preferiu liderar trabalhar com a banda enxuta como a que vinha excursionando após o lançamento de seu DVD ao vivo, em 2014, com apenas três músicos. A cozinha deste grupo era a mesma que a acompanhou neste período, com Pupillo, o maestro do ritmo da Nação Zumbi, e o seu fiel escudeiro, o baixista Lucas Martins. Mas em vez da guitarra, Céu queria um power trio com teclado – e chamou o francês Hervé Salters, com quem já haviam tocado em outras oportunidades, para assumir esse papel.

Líder do grupo de funk eletrônico General Eletriks, Hervé tocou com Femi Kuti, Mayer Hawthorne e DJ Mehdi e passou por São Francisco na virada do século, quando começou a trabalhar com a cena de hip hop local (com nomes como Lyrics Born, Blackalicious e outros integrantes do coletivo Quannum). Sua sensibilidade sintética – e notória compulsão por colecionar teclados e instrumentos eletrônicos antigos – já lhe rendeu o rótulo de “o Ennio Morricone do século 21” e encaixou-se perfeitamente como na nau vislumbrada por ela. Os dois começaram a falar em trabalhar juntos depois que ela o convidou para tocar teclados em “Rainha” num show que fez em Berlim (onde Hervé mora atualmente) em novembro de 2014.

Porque por mais que Céu tenha Lucas, Pupilo e Hervé (os dois últimos produzindo o disco) como integrantes de seu time, é ela quem pilota essa nave. A cantora e compositora se estabeleceu como uma das principais vozes da atual música brasileira ao quebrar uma série de paradigmas relacionados ao papel da mulher neste cenário. Ela não é a musa inspiradora, nem intérprete à mercê de produtores e compositores nem sequer uma cantora cuja escola foi a bossa nova. Ela mesma compõe suas músicas, ela mesma escolhe seus rumos musicais e as fronteiras por onde pode desbravar e sua formação musical vai do jazz ao hip hop, passando pelo samba, reggae, música caribenha, africana e nordestina.

E a cada novo disco ela ampliava o território de abrangência. No homônimo disco de estreia, cozinhou suas influências musicais num peculiar e suave caldo sonoro, temperado principalmente com samba, reggae e música africana. No disco seguinte, Vagarosa, fez a nuvem da influência jamaicana dominar o ambiente e assim aumentar sua área de atuação. No cinematográfico Caravana Sereia Bloom – uma espécie de “road movie” de som -, fez os horizontes da estrada ampliarem ainda mais seus domínios sonoros. Mas por mais que sejam universos diferentes – e concêntricos -, os três primeiros discos têm um calor sonoro que se mistura com uma textura musical de leve aspereza, que alinha o sussurro aos estalos do vinil e amplificadores valvulados.

Daí a ousadia de Tropix. Nele Céu despede-se por completo daquela estética que funcionou como porto seguro em seus primeiros passos como artista. Ao fechar esse ciclo com o lançamento do DVD ao vivo, ela viu-se pronta para explorar os universos musicais que quisesse. E escolheu a noite néon, dos beats e timbres eletrônicos antigos, da pista de dança e do pulsar de ciclos repetitivos do harpeggiator.

Não é, no entanto, negação de seu passado – muito pelo contrário. Ao trazer essa nova sonoridade para sua paleta, ela consegue equilibrar perfeitamente sua sensibilidade neste cenário plástico e conseguimos perceber cada vez mais forte quem é a autora Céu, onde está esta cabeça musical para além das camadas estéticas que a envolvem. E assim o minimalismo eletrônico que abre “Arrastar-te-ei” enrola-se no contratempo da tamba inventada pelo baterista Helcio Milito (que atravessa outras parte do disco); o lirismo inicial de “Amor Pixelado” engata num groove funk seco e sintético e o tecnopop que abre “Etílica” funde-se à guitarra disco music de Pedro Sá (um dos poucos convidados do disco) para desembocar num caleidoscópio de vocais psicodélicos num dueto cantado e falado ao lado da outra convidada, a cantora e parceira Tulipa Ruiz.

E entre os timbres frios podemos ver cores de outros gêneros, como o xaxado eletrônico de “Minhas Bics”, o bolero futurista “Sangria” e o indie ambient “Chico Buarque’s Song”, versão do obscuro grupo alternativo paulistano Fellini, um universo lo-fi dos anos 80 recém-descoberto pela cantora. Outros momentos são puramente íntimos, como a levada caribenha 8-bit de “Varanda Suspensa” que recria os nostálgicos encontros com seu avô no litoral norte de São Paulo e cujos vocais ao final foram criados por sua filha Rosa Morena. A mesma Rosa serviu de inspiração para a música de ninar “A Menina e o Monstro”, composta quando Céu começou a perceber o susto que a filha levou quando começou a aprender a ler – ao perceber que tudo ao redor dela era texto.

O disco encerra com suas três faixas mais quentes, a sinuosa “Camadas”, o jazz funk “A Nave Vai” (composta por Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi) e a borbulhante “Rapsódia Brasilis”, as três ornadas por cordas tão alheias ao universo musical de Céu quanto os timbres eletrônicos que abrem Tropix, mostrando que ela está disposta a ir muito mais além. Em sua capa, pela primeira vez, Céu encara o mundo de frente, diferente do olhar tímido do primeiro, do perfil absorto do segundo e do retrato distante do terceiro. Em Tropix ela nos olha fixamente, sem ter medo de mostrar que sabe que já está em um novo estágio – e, mais do que nunca, é ela quem decide isso.

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Como foi a edição de março das Noites Trabalho Sujo

Scorsese curtiu

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Conversei com o carioca Leandro Copperfield, que fez uma montagem dos filmes do Scorsese com os do Kubrick e foi parabenizado pelo próprio Martin lá pro meu blog no UOL.

Finalmente o Homem Aranha num filme da Marvel

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E o trailer do novo Capitão América revelou o tão guardado Homem Aranha do universo Marvel no cinema – e dá pra ver bem lá no meu blog no UOL.

Noites Trabalho Sujo | 12.03.2016

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A missão do nosso simpósio semanal de experimentos psíquico-físicos é tão simples quanto ousada: afastar as más vibrações que pairam sobre a maior cidade da América do Sul. Para isso reunimos um já conhecido elenco de pesquisadores e fenomenólogos para reverter o quadro magnético pesado que paira sobre a cidade. O local do encontro novamente é a antena de concreto Trackertower, no coração histórico da metrópole, que estará em plena fotossíntese de astral para emitir ondas gravitacionais positivas para desintoxicar o domingo. O estudo central será conduzido pelo trio de pesquisadores Alexandre Matias, Danilo Cabral e Luiz Pattoli, do centro de estudos aplicados Noites Trabalho Sujo, que recebem o convidado PhD Fabio Bianchini diretamente de uma ilha mágica do Atlântico Sul. Os quatro residem no auditório azul, trabalhando os efeitos do som e da luz sobre indíviduos sãos e voluntários a partir da repetição do ritmo para despertar a atividade cerebral inconsciente que dispara enzimas que mexem no humor, na adrenalina e na libido dos candidatos ao êxtase. Na sala de pesquisas preta, a dupla Karen Ercolin e Acacio Mendes aplicam soluções sonoras de rápido engajamento psíquico para lentamente dominar todo o andar fazendo os presentes se mover. Outra dupla, do instituto de psicologia noturna Missin Link, formados pelos pós-graduados Daniel Prazeres e Vanessa Gusmão, mantém a velocidade da informação ativa para nunca desacelerar quadris e corações. A programação desta parte da madrugada encerra-se com a defesa de tese do doutorando Carlos Costa, dedicado a mostrar como a fusão entre diferentes frequências sonoras pode causar impactos em áreas ainda desconhecidas do córtex humano. Na área de entrada, a estudiosa de campo Ana Freitas assume o comando da improvável sala de experimentações na recepção do evento e chamou o estudioso Eric Coelho para ajudá-la na aplicação de suas teorias antropológicas. O exorcismo lógico começará a receber seus convidados a partir das 23h45 do dia 12 de março de 2013, mas apenas serão recebidos os que enviarem seus nomes para o endereço eletrônico noitestrabalhosujo@gmail.com até quatro horas antes do início da sessão. O preço de admissão é de 30 reais mas os 100 primeiros voluntários a comparecerem pagam apenas 20 reais para submeter-se à experiência transformadora. Pede-se que o valor de entrada seja levado em espécie.

Noites Trabalho Sujo @ Trackers
Sábado, 12 de março de 2016
No som: Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral (Noites Trabalho Sujo), Fabio Bianchini, Ana Freitas, Eric Coelho, Karen Ercolin, Acacio Mendes, Vanessa Gusmão e Daniel Prazeres (Missin Link)
A partir das 23h45
Trackertower: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
Entrada: R$ 30 só com nome na lista pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com (e chegue cedo – os 100 que chegarem primeiro na Trackers pagam R$ 20 pra entrar)

“Sorry” no samba

sorry

Um remix bem brasileiro explica porque “Sorry” do Justin Bieber gruda tanto: é um pagodaço disfarçado!

Ah, mas eu vou tocar essa versão na edição de sábado das Noites Trabalho Sujo, viu…