Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Ah o destino… PJ Harvey anunciou que lançaria seus discos em vinil no começo do ano, sempre trazendo material extra de cada um deles, muito antes de Angel Olsen anunciar que tornaria pública a versão crua de seu magistral All Mirrors, do ano passado. Calhou do terceiro disco da cantora inglesa, que completa um quarto de século neste ano, vir em nova versão justamente com todas as versões demo das canções do disco como um disco extra, que chega às plataformas nessa sexta-feira, poucas semanas depois da cantora norte-americana revelar seu Whole New Mess. E as demos de To Bring You My Love chegam a um lugar próximo do disco mais recente de Angel Olsen, mesmo que não traga nenhuma canção inédita ou tenha alternado a ordem das músicas. E embora as versões originais mudem muito pouco e quase não tenha alterações no que diz respeito aos arranjos, elas ganham corpo com a produção final, assinada por PJ ao lado dos compadres Flood e John Parish, dando volume, profundidade, brilho e sombras que às versões espartanas originais, como se a produção do disco da inglesa equivalesse à orquestração do disco da norte-americana. To Bring You My Love – Demos ´é quase um outro disco: cru e intenso, é como se conseguíssemos registrar o momento em que a fotografia analógica é revelada, sem que seja preciso sair do quarto escuro. Um disco que te pega pelo tato, na pele.
A presença de dois Uma Enorme Perda de Tempo – o baterista Theo Cecato e o guitarrista Vicente Tassara -, a banda que acompanha a querida Sophia Chablau, ajudou a ficar atento aos Pelados, grupo que ainda conta com a Manu Julian, vocalista do grupo Fernê, na formação. O primeiro single, “O Fim“, ao mesmo tempo doce e melancólico, já dava um gostinho do que poderia vir, mesmo a banda sendo só um projeto de estúdio e nunca ter tocado ao vivo. Entre o indie rock, a soul music, a música eletrônica e o pop clássico, o quinteto tem sua formação completa com as presenças da baixista Helena Cruz e do tecladista Luiz Martins. O disco de estreia, batizado de Sozinhos e gravado no ano passado, originalmente estava planejado para o primeiro semestre e só sai agora devido à pandemia do coronavírus. Produzido pelo pai de Manu, o produtor e músico Antonio Pinto, Sozinhos chega em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.
“Apesar de nunca ter rolado shows, a gente já tava ensaiadinho”, conta o baterista. “Acho que num certo sentido o show humaniza o disco, que é super produzido, trazendo versões mais cruas de algumas músicas e opções mais ‘bandísticas’ para alguns arranjos do disco. Assim conseguimos também fazer com que o show e o disco sejam duas experiências diferentes da mesma coisa. Como ainda não estamos em nenhum momento de normalidade, temos optado por fazer vídeos de nós tocando em casa as versões que faríamos nos shows e montado clipes quase ao vivo que estão no nosso youtube e igtv, e vamos continuar lançando esses clipes/shows de uma música só até se tornar viável nos encontramos de novo.”
O nome da banda veio da primeira ideia que tiveram para batizar o grupo. “Veio de uma brincadeira de dar o nome o mais idiota o possível para a banda”, lembra Theo. “Vale pontuar que chamava Pelados Escrotos antes. Quando o disco ficou pronto achamos que fazia mais sentido Pelados, mas acho que o ponto principal do nome é ele ser quase aleatório, ou melhor, ser a primeira ideia que veio na nossa cabeça. A mais idiota, é claro.”
A aura de indie sério da banda mistura-se com referências de dance music e trip hop, mas eles vão além. “Acho que temos as referências centrais como Flaming Lips, Jerry Paper, todos os ícones pops desse mundo, mas também o disco tem um pouco de Roberto Carlos, um pouco de Madonna, um pouco de Mutantes e até um pouco de coisas que nem sacamos que estavam lá”, continua Theo, que aponta as referências de games (em músicas como “Pokémon GO” e “Pousar Lá em Casa”) para o tecladista, embora “esse mundo também tem muito a ver com o universo lírico que trazemos pro disco que é esse mundo da adolescência, das frustrações amorosas e dos momentos solitários dessa vida.”
Não por acaso o disco chama-se Sozinhos, o que conversa ironicamente com o momento que estamos atravessando com a quarentena. “Acho que as letras flertam com temáticas por vezes bobas e outras vezes muito sérias, e acho que é essa mistura que dá a verdadeira temática do disco, nem sempre o que é juvenil é bobo”, conclui Theo. “Acho que poeticamente, o disco imprime nossos traumas, aflições, felicidades, brincadeiras nesse meio que ele fica. Brincadeiras sérias e seriedades debochadas.”
A mestra canadense Joni Mitchell mergulha em seu próprio passado e apresenta uma caixa com cinco discos que viaja aos seus anos 60. É o primeiro volume da série Joni Mitchell Archives, que resgata um dos primeiros registros da cantora ao vivo, quando apresentou-se na rádio canadense CFQC AM em 1963. É o ponto de partida da caixa, que passeia por outros shows, demos e gravações caseiras até 1967, incluindo uma apresentação na casa Canterbury, em Ann Arbor, próximo a Detroit, em outubro daquele ano, com quase quatro dezenas de canções divididas em três entradas ao vivo. Tanto este show quanto a primeira apresentação de rádio serão lançados como discos à parte e a caixa, que chega ao público no fim de outubro (e já está em pré-venda), ainda traz um encarte de 40 páginas com textos escritos pelo crítico e cineasta Cameron Crowe. Uma versão que ela gravou para “House Of The Rising Sun” dos Animals naquela primeira emissora, foi liberada para audição.
Eis todas as faixas que entrarão na caixa:
Disco 1
Radio Station CFQC AM, Saskatoon, Saskatchewan, Canada (ca. 1963)
“House Of The Rising Sun”
“John Hardy”
“Dark As A Dungeon”
“Tell Old Bill”
“Nancy Whiskey””
“Anathea”
“Copper Kettle”
“Fare Thee Well (Dink’s Song)”
“Molly Malone”
Live at the Half Beat: Yorkville, Toronto, Canada (October 21, 1964)
First Set
“Introduction”
“Nancy Whiskey”
“Intro to The Crow On The Cradle”
“The Crow On The Cradle”
“Pastures Of Plenty”
“Every Night When The Sun Goes In”
“Intro to Sail Away”
“Sail Away”
Second Set
“John Hardy”
“Dark As A Dungeon”
“Intro to Maids When You’re Young Never Wed An Old Man”
“Maids When You’re Young Never Wed An Old Man”
“The Dowie Dens Of Yarrow”
“Deportee (Plane Crash At Los Gatos)”
“Joni’s Parents’ House: Saskatoon, Saskatchewan, Canada (February 1965)”
“The Long Black Rifle”
“Ten Thousand Miles”
“Seven Daffodils”
Disco dois
Myrtle Anderson Birthday Tape: Detroit, MI (1965)
“Urge For Going”
“Born To Take The Highway”
“Here Today And Gone Tomorrow”
Jac Holzman Demo: Detroit, MI (August 24, 1965)
“What Will You Give Me”
“Let It Be Me”
“The Student Song”
“Day After Day”
“Like The Lonely Swallow”
Let’s Sing Out, CBC TV: University of Manitoba, Winnipeg, MB, Canada (October 4, 1965)
“Favorite Colour”
“Me And My Uncle”
Home Demo: Detroit, MI (ca. 1966)
“Sad Winds Blowin’”
Let’s Sing Out, CBC TV: Laurentian University, London, ON, Canada (October 24, 1966)
“Just Like Me”
“Night In The City”
Live at the 2nd Fret: Philadelphia, PA (November 1966)
“Brandy Eyes”
“Intro to Urge For Going”
“Urge For Going”
“Intro to What’s The Story Mr. Blue”
“What’s The Story Mr. Blue”
“Eastern Rain”
“Intro to The Circle Game”
“The Circle Game”
“Intro to Night In The City”
“Night In The City”
Disco três
Folklore, WHAT FM: Philadelphia, PA, (March 12, 1967)
“Intro to Both Sides Now”
“Both Sides Now”
“Intro to The Circle Game”
“The Circle Game”
Live at the 2nd Fret: Philadelphia, PA (March 17, 1967)
Second Set
“Morning Morgantown”
“Born To Take The Highway”
“Intro to Song To A Seagull”
“Song To A Seagull”
Third Set
“Winter Lady”
“Intro to Both Sides Now”
“Both Sides Now”
Folklore, WHAT FM: Philadelphia, PA (March 19, 1967)
“Intro to Eastern Rain”
“Eastern Rain”
“Intro to Blue On Blue”
“Blue On Blue”
A Record Of My Changes – Michael’s Birthday Tape: North Carolina (May 1967)
“Gemini Twin”
“Strawflower Me”
“A Melody In Your Name”
“Tin Angel”
“I Don’t Know Where I Stand”
“Joni improvising”
Folklore, WHAT FM: Philadelphia, PA (May 28, 1967)
“Intro to Sugar Mountain”
“Sugar Mountain”
Disco quatro
Home Demo: New York City, NY (ca. June 1967)
“I Had A King”
“Free Darling”
“Conversation”
“Morning Morgantown”
“Dr. Junk”
“Gift Of The Magi”
“Chelsea Morning”
“Michael From Mountains”
“Cara’s Castle”
“Jeremy (Incomplete)”
Live at Canterbury House: Ann Arbor, MI (October 27, 1967)
First Set
“Conversation”
“Intro to Come To The Sunshine”
“Come To The Sunshine”
“Intro to Chelsea Morning”
“Chelsea Morning”
“Intro to Gift Of The Magi”
“Gift Of The Magi”
“Play Little David”
“Intro to The Dowie Dens Of Yarrow”
“The Dowie Dens Of Yarrow”
“I Had A King”
“Intro to Free Darling”
“Free Darling”
“Intro to Cactus Tree”
“Cactus Tree”
Disco 5
Live at Canterbury House: Ann Arbor, MI (October 27, 1967)
Second Set
“Little Green”
“Intro to Marcie”
“Marcie”
“Intro to Ballerina Valerie”
“Ballerina Valerie”
“The Circle Game”
“Intro to Michael From Mountains”
“Michael From Mountains”
“Go Tell The Drummer Man”
“Intro to I Don’t Know Where I Stand”
“I Don’t Know Where I Stand”
Third Set
“A Melody In Your Name”
“Intro to Carnival In Kenora”
“Carnival In Kenora”
“Songs To Aging Children Come”
“Intro to Dr. Junk”
“Dr. Junk”
“Morning Morgantown”
“Intro to Night In The City”
“Night In The City”
“Both Sides Now”
“Urge For Going”
A banda psicodélica paulistana Applegate me convidou para conversar com eles em mais um episódio de sua sessão Fluir, que acontece nesta quinta, às 21h, em sua conta no Instagram – aparece lá. Tá aqui o papo com o Rafa, um dos guitarristas da banda.
Começa dançando e termina calminho.
Kid Creole & The Coconuts – “Stool Pidgeon”
Daryl Hall & John Oates – “Kiss On My List”
4-Track Valsa – “Festa”
Maglore – “Clonazepam 2mg”
Bonifrate – “Hora do Almoço”
Garotas Suecas – “Bucolismo”
Ween – “Freedom Of ’76”
Delgados – “Clarinet”
Grandaddy – “Miner At The Dial-A-View”
Beth Orton – “Hippy Gumbo”
Elliot Smith – “Let’s Get Lost”
Flaming Lips – “If I Only Had A Brain”
Mopho – “Não Mande Flores”
Letuce – “Todos os Lugares do Mundo”
Ana Frango Elétrico – “Chocolate”
Of Montreal – “Death Is Not a Parallel Move”
Paralamas do Sucesso – “Nebulosa do Amor”
Ao lançar o single “CTRL”, a cantora cingalesa M.I.A. mostra que está mesmo saindo de sua aposentadoria precoce, que anunciou em 2016, para anunciar um novo álbum, chamado de 111111th. O novo single é o terceiro que ela lança desde o início do ano (“OHMNI 202091“, lançada em março, e “Up Inna“, em agosto) e tem a produção assinada mais uma vez pelo inglês Cadenza, nome de trabalho do Oliver Rodigan, que assinara o single anterior com o ganense GuiltyBeatz e agora divide o novo single com Fern. Depois que aposentou-se, M.I.A. segue o contato com seu público através de sua conta no Patreon, onde ela mostra seu material sempre em primeira mão.
Morre um dos alicerces da música eletrônica, o norte-americano Simeon Coxe, fundador do grupo Silver Apples. Foi um dos primeiros nomes a fazer música usando apenas sintetizadores, ao criar um instrumento que empilhava nove osciladores de áudio com noventa e seis botões para regular o som, que era tocado ao vivo, sem nada pré-gravado. O grupo, formado por Simeon e pelo baterista Danny Taylor, foi uma sensação rápida no final dos anos 60, embora tenha vendido poucos discos e tenha sido forçado a se aposentar mais cedo após ter sido processado por uma companhia aérea, ao copiar seu logo na capa de seu segundo disco. A dupla foi redescoberta nos anos 90 e, mesmo após Simeon sofrer um acidente que quase o tornou inválido, conseguiu retomar as atividades e gravar mais discos. Ele morreu em casa, vítima de uma condição pulmonar que já o acompanhava há tempos.
Um dos principais repórteres do Brasil atualmente, Matias Maxx é também um dínamo de produção contracultural e um ímã de malucos e histórias hilárias. Encerrando um ciclo com a quarentena, quando fechou as portas da lendária La Cucaracha, a primeira head shop do Rio de Janeiro, ele refaz sua trajetória desde os primórdios da web no século passado, passando pelo seu apreço pela América Latina, suas conexões com o submundo do quadrinho brasileiro e suas coberturas de guerrilha dos protestos da década passada – entre várias reflexões sobre jornalismo, cultura e seus próximos projetos.
O Bom Saber é meu programa semanal de entrevistas que chega primeiro para quem colabora com meu trabalho, como uma das recompensas do Clube Trabalho Sujo. Além do Matias, já conversei com Bruno Torturra, Dani Arrais, Negro Leo, Janara Lopes, Tatá Aeroplano, Ana Frango Elétrico, João Paulo Cuenca, Eduf, Pena Schidmt, Roberta Martinelli, Dodô Azevedo, Larissa Conforto, Ian Black, Fernando Catatau, Pablo Miyazawa, Mancha, André Czarnobai e Alessandra Leão – todas as entrevistas podem ser assistidas aqui no Trabalho Sujo – ou no meu canal no YouTube, assina lá.
“Fake Plastic Trees”, clássica balada do segundo disco do Radiohead, já havia sido revisitada há pouco tempo pela vocalista do Paramore, Hayley Williams, e agora é a cantora folk norte-americana Phoebe Bridgers quem traz uma versão de chorar da música gravada para o programa Piano Session, da rádio inglesa BBC. Ela já tinha revisitado “Everything is Free”, da Gillian Welch, em parceria com a nossa querida Courtney Barnett nesta quarentena e agora ela divide o palco com a novata inglesa Arlo Parks, que acompanha a balada ao piano.
Lindaço hein.