Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Adeus ao Azul

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Lembro que quando Luiza Lian me chamou para escrever o texto de apresentação de seu ótimo Azul Moderno, ela já estava produzindo os clipes para o álbum – e o primeiro que começou a ser produzido, que sabia-se que não seria o primeiro da fila (escolhendo o subaquático curta da faixa-título para mostrar o disco), foi o da deliciosa “Geladeira”, todo feito a partir de fotografias analógicas. E é muito sintomático que tenha sido ele o escolhido para fechar o ciclo do disco, ainda mais que sua letra ainda acaba refletindo a sensação estranha deste 2020, e agora finalmente ela lança essa última página de seu disco, dois anos depois de seu lançamento.

Agora é saber o que ela fará a seguir…

From Hell… colorido?

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A notícia não é nova, já que a reedição dos dez volumes que compõem a clássica graphic novel From Hell, em que Alan Moore e Eddie Campbell tentam decifrar o enigma de Jack o Estripador enquanto a Inglaterra vitoriana prepara-se para entrar no século, começou quando a série original completou 20 anos, em 2018. Seria apenas mais uma reencarnação editorial de outro clássico dos quadrinhos não fosse o pequeno detalhe desta edição ter… cores. A surpreendente notícia nos remete à infame versão colorizada de Casablanca que foi lançada no final dos anos 90, mas há um diferencial crucial: quem coloriu os quadrinhos foi o próprio Campbell, seu ilustrador original, que prefere inclusive se referir à nova versão como “colorida” em vez de “colorizada”, como a própria editora Top Shelf chama a versão na capa do volume que reúne as dez edições num só tomo, este sim lançado no mês passado.

Campbell aproveitou para corrigir defeitos que lhe incomodavam, nada que mudasse substancialmente para o leitor e que mais mexiam com seu perfeccionismo. Mas por mais que a versão colorida não seja tão ofensiva quanto parece conceitualmente, ela perde o tom sombrio e pesado que atravessa as páginas da versão original – em que manchas de sangue viram borrões pretos de nanquim. Dá para ver algumas páginas abaixo, mas este equivalente visual de uma versão do diretor não chegou a me comover… Embora não seja, felizmente, uma heresia como este notícia fazia parecer.

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Dá pra comprar o volume completo deste From Hell colorido no site da editora Top Shelf.

Um dueto de Prince com… Bonnie Raitt?

FILE – In this May 14, 1987 file photo, American singer Prince performs during his Sign of the Times Tour in West Berlin, Germany. A rare Prince music film, “Sign O’ the Times,” will air on Showtime beginning Sept. 16. (AP Photo/Andreas Schoelzel, File)

Às vésperas do lançamento da extensa caixa que esmiuça o clássico que Prince lançou em 1987, Sign O’ The Times, surge mais uma das 63 63 faixas inéditas da nova coleção. “I Need a Man” foi composta originalmente para o grupo feminino The Hookers, que Prince ajudou a criar e que depois assumiu o nome de Vanity 6. Mas como ela tinha ficado de fora do disco do grupo, o mestre funk a guardou para o momento certo e este aconteceu quando sugeriu à heroína do blues elétrico Bonnie Raitt um dueto, regravando a canção para mostrar à cantora, mas a colaboração acabou por não acontecer. E assim podemos ouvir à versão que o príncipe roxo fez para Raitt.

Que sonzeira.

Um Anthology só para Get Back

Get Back - The Beatles

Tido com o período mais desgastante da história dos Beatles, janeiro de 1969 não apenas acompanhou a primeira gravação de um disco da banda longe de Abbey Road, o familiar estúdio da gravadora EMI em que gravaram todos seus discos, como culminou com a última apresentação ao vivo da banda, quando tocam músicas destas gravações no topo do prédio de sua gravadora Apple. Mas o diretor Peter Jackson, contratado para afundar-se no material registrado neste período – centenas de horas de áudio e vídeo que pouquíssimos puderam ter contato -, afirma textualmente que irá mudar a cara que este período tem na história dos Beatles, ao apresentar o documentário The Beatles: Get Back, cujo lançamento foi adiado para agosto do ano que vem.

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A novidade é que junto com o filme, o grupo lançará seu primeiro livro desde que resumiram sua história na Bíblia oficial do grupo que acompanhou o projeto audiovisual Anthology. O livro The Beatles: Get Back tem 240 páginas, capa dura e traz a transcrição de diálogos tirados das mais de 120 horas do grupo no estúdio, primeiro no Twickenham Film Studios e depois no novíssimo Apple Studio do próprio grupo, centenas de fotos inéditas, tiradas por Ethan A. Russell e Linda McCartney, introdução escrita pelo romancista Hanif Kureishi e prefácio assinado pelo diretor do filme. Escreve Kureishi reafirmando a impressão de Jackson: “Na verdade, este foi um momento produtivo para eles, quando criaram alguns de seus melhores trabalhos. E é aqui que temos o privilégio de testemunhar seus primeiros rascunhos, os erros, as derrapagens e digressões, o tédio, a empolgação, a interferência alegre e as descobertas repentinas que levaram ao trabalho que agora conhecemos e admiramos.”

O livro já está em pré-venda, mesmo que chegue apenas em agosto do ano que vem.

Bom Saber #020: Ava Rocha

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Mais do que cantora e compositora, Ava Rocha é uma artista completa. Seu olhar e sensibilidade vão para além da canção ou do palco e incluem outras disciplinas, fazendo que ela naturalmente ultrapasse barreiras artísticas e de linguagem sem que isso pareça um empecilho ou uma novidade. Convidei-a para a edição desta semana do Bom Saber para ouvi-la falar sobre como ela está atravessando este estranho 2020 e como isso está impactando em sua vida e, portanto, em sua arte. É o início de uma conversa sobre o papel da arte e do artista, redes sociais, mercado de entretenimento, vocação e expressão, novas tecnologias, preconceito artístico e hegemonia de padrões e, claro, sobre seus planos futuros, que incluem o lançamento do disco que gravou na temporada que passou na China.

O Bom Saber é meu programa semanal de entrevistas que chega primeiro para quem colabora com meu trabalho, como uma das recompensas do Clube Trabalho Sujo. Além da Ava, já conversei com Bruno Torturra, Dani Arrais, Negro Leo, Janara Lopes, Tatá Aeroplano, Ana Frango Elétrico, João Paulo Cuenca, Eduf, Pena Schidmt, Roberta Martinelli, Dodô Azevedo, Matias Maxx, Larissa Conforto, Ian Black, Fernando Catatau, Pablo Miyazawa, Mancha, André Czarnobai e Alessandra Leão – todas as entrevistas podem ser assistidas aqui no Trabalho Sujo – ou no meu canal no YouTube, assina lá.

Angel Olsen: “I have nobody for my own”

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Nossa musa Angel Olsen libera a íntegra da belíssima versão que fez para “Mr. Lonely” de Bobby Vinton ao lado de Emile Mosseri para o novo filme de Miranda July, Kajillionaire.

Avalanches com data marcada

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A dupla australiana Avalanches finalmente marca o lançamento e apresenta o título de seu terceiro disco, We Will Always Love You, que deverá sair em dezembro, depois de quase um ano dando dicas de que viria aí. E depois de mostrar as faixas “Wherever You Go“, “Running Red Lights” e a faixa que agora sabemos que é a faixa-título, o grupo lança mais duas, “Take Care In Your Dreaming”, que conta com as participações de Tricky, Denzel Curry e Sampa The Great, e “Music Makes Me High”, além de mostrar a capa do disco – aí em cima (que já está em pré-venda):

Tá fino, hein.

O disco de versões do Lambchop

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O grupo norte-americano Lambchop, mestres do country moderno, acaba de anunciar o lançamento de seu décimo quarto álbum, um disco inteiro dedicado a versões de músicas alheias, uma escolhida por cada integrante do grupo. Trip começou a partir de uma ideia do líder e principal compositor do grupo, Kurt Wagner, que queria “ver o que aconteceria se eu me retirasse do processo o máximo que pudesse” e assim seus companheiros de banda escolheram músicas do Stevie Wonder, das Supremes, de George Jones, dos Mirrors e de James McNew, do Yo La Tengo. Para abrir o disco e os trabalhos do álbum que será lançado em novembro, o grupo foi com a música escolhida pelo baterista do grupo, Matthew McCaughan, que pinçou “Reservations” do Wilco. Ele comentou sobre sua escolha:

“Gosto de dizer que ‘Reservations’ do Wilco é uma música que sempre quis fazer uma versão, mas, honestamente, depois que um amigo mencionou isso em uma história, tive que voltar e ouvi-la novamente. Escolher uma versão é estressante para mim. É uma coisa meio idiota para se estressar, mas tantas músicas têm memórias ligadas a elas, e eu não quero obscurecer essas memórias. Geralmente escolho uma daquelas músicas que eu sinto que se encaixaria na banda, mas então vou e volto, pensando na melhor maneira de abordar o arranjo. Devemos honrar o original e tentar recriar fielmente todos os sons e feitos que tornam a música especial para mim ou devemos desmontá-la e começar de novo? Em seguida, acrescente o fato de que a versão será gravada e preservada para sempre. Eu não conseguia pensar em uma música que não pudesse servir de argumento para ambas as abordagens, então sempre terminava em um impasse para uma só pessoa. Então decidi que escolheria uma música que, embora eu a ame e saiba disso, não fosse uma que tivesse sido repetida por meses em algum momento da minha vida, nem que estivesse permanentemente ligada a alguma lembrança minha própria. Em vez disso, usei as memórias e lembranças de minha família e amigos com ou sem a permissão deles. Assim eu estragaria tudo para eles. Mas é o pensamento que conta.”

E a versão ficou linda, mesmo esticando-se por treze minutos:

Trip já está em pré-venda e abaixo segue sua capa e a ordem das músicas.

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“Reservations” (do Wilco)
“Where the Grass Won’t Grow” (de George Jones)
“Shirley” (dos Mirrors)
“Golden Lady” (de Stevie Wonder)
“Love Is Here and Now You’re Gone” (das Supremes)
“Weather Blues” (do James McNew do Yo La Tengo)

Que tal um Malkmus aí?

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Stephen Malkmus retomará a turnê que teve que cancelar por conta da quarentena no ano que vem e para anunciar as datas desta novo passeio pelos EUA a partir de março de 2021, sacou uma faixa que ficou de fora do ótimo Traditional Techniques que ele lançou no início do ano, a ótima “Juliefuckingette”.

Sempre foda.

Esquece os shows

Fui entrevistado pela Camila, do site Brasil Econômico, sobre a possibilidade de volta de apresentações musicais ao vivo seis meses depois de declarada a pandemia e não acho nada legal a ideia de ter shows com público antes de termos domado o coronavírus – confere a íntegra da matéria aqui.