Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

“Qual que é essa mesmo?”

10 do Guab

Integrante do coletivo Reco:Head, Gustavo Abreu participa da banda Labo, mas é mais conhecido como Guab (a contração das duas primeiras letras de seus nomes) e é um dos DJs mais pop de São Paulo -que diga sua festa Mixtape, que acontece todo sábado no Milo Garage, cuja fila se estende longamente até as três da madruga. Guab dá a letra de seu atual set.

“Atoms for Peace on a Doom’s Night” – Thom Yorke + Azzido da Bass
“Depois + Over and Over” – Druques + Hot Chip
“Banquet for Jo” – The Streets + Bloc Party
“Chuva Negra + Cara Valente” – Hurtmold + Maria Rita
“Rock And Roll Rat” – Beatles + The Walkmen
“Yeah, Vai Passar” – Chico Buarque + LCD Sound System
“We Travel The Space Ways Rmx” – Guab + Guilherme Granado
“Keep On Rocking In The Free World, Sugar Kane” – Neil Young + Sonic Youth
“Deceptacon Reptilia” – Le Tigre + Strokes
“Charles Jr. + Vivão Vivendo + Abrindo O Coração Para Uma Cadela Chapada” – Racionais Mcs + Jorge Ben + Mundo Livre S/A

O feitiço da repetição está sobre você

O Ronaldo tava comentando que havia comentado com alguém como esse ano tá bom de singles – algo que eu já tinha comentado por aqui (não lembro) e com o Miranda, o Dago, o Bruno e o Luciano. Poucos discos inteiramente bons, mas no quesito música, vários. Seria a vitória do formato canção graças a uma mãozinha do MP3? É cedo pra arriscar.

Enquanto isso, outra jóia de 2006: “Over and Over”, do Hot Chip.

Laid back,
Laid back,
Laid back we’ll give you play back.
Laid back,
Laid back,
Laid back I’ll give you play back.
Over and over and over and over and over,
Like a monkey with a minuture symbol,
The joy or repetition really is in you.
Under and under and under and under and under,
The spell of repetition really is on you,
And when I feel this way I really am with you.

Laid back,
Laid back,
Laid back We’ll give you play back.
Over and over and over and over and over,
Like a monkey with a minature symbol,
The joy of repetition really is in you,
Under and under and under and under and under,
The spell of repetition really is on you,
And when you look this way I really am with you.

I started thinking what you wanted him to you (hell you)
I got to thinking and I knew just what to do (hell you)
I started thinking what you wanted him to do (hell you hell you hell you)

K-i-s-s-i-n-g-s-e-x-c-a-s-i-o-p-o-k-e-k-i-s-s-i-n-g-s-e-x-c-a-s-i-o-p-o-k-e-
K-i-s-s-i-n-g-s-e-x-c-a-s-i-o-p-o-k-e-c-u-n-t-a–s-s-b-u-m–s-e-x-n-o-w-
K-i-s-s-i-n-g-s-e-x-c-a-s-i-o-p-o-k-e-y-o-u-m-e-i

Ay caramba…

A TV parece estar mesmo com seus dias contados

Não me agradeça, agradeça ao Piangers.

Play back

Há pouco mais de um ano, saiu numoutra Bizz…

Moby, Espaço das Américas, São Paulo – 20 de setembro de 2006

Filas, preço do ingresso, cambistas, pilastras, acústica ruim, política, desorganização, segurança truculenta… Muito se falou sobre a passagem de Moby pelo Brasil em setembro, quando se apresentou duas vezes em São Paulo: a primeira em um hotel com formato de fatia de melancia e outra num galpão do bairro Barra Funda, com ingressos variando entre R$ 140 e R$ 300. Mas pouco se falou sobre música.

Talvez porque não houvesse muito o que falar. Desde que sua pontualidade vegan exigiu começar o segundo show, que aconteceu no Espaço das Américas, nas mesmas 23 horas anunciadas na programação, a apresentação soou profissa e eficaz como um relógio, mas sem um mínimo de calor emocional, pelo menos que viesse do palco. É claro que a música de Moby é muito maior do que o show apenas correto que trouxe ao Brasil – e foi o reconhecimento de seus hits pelo público responsável pela pequena fresta de entusiasmo que se viu naquela terça-feira fria.

O produtor passa boa parte do tempo com uma guitarra pendurada no corpo, cuspindo riffs e tentando solar como se estivesse num show de rock. Mas prestenção: atrás dele tem uma tecladista que tocou “Fur Elise” (a música do caminhão de gás) em versão pseudo-dance, ao seu lado um baterista com permissão para solar (em pleno século XXI, vê se pode!); à frente um guitarrista de verdade e uma cantora virtuose negra. Todos solam, todos dão o sangue e todos conseguem – cada um por vez – empolgar o público. Menos o distante Moby que, como band-leader, não conseguiu grande coisa. Talvez ao protestar contra a Guerra do Iraque e exigir dedos em riste para uma foto em “homenagem” ao presidente norte-americano Bush (qual o endereço do fotolog dele?) foram os poucos momentos em que se comunicou diretamente com o público.

E não foi por falta de tentativa. Fora a boa obviedade de seus hits, Moby teve idéias infelizes e sem-noção, como tocar covers de clássicos do rock como “Sweet Child’O Mine” dos Guns’N’Roses (anunciada como “uma versão samba-jazz” que de samba-jazz não tinha nada – parecia uma versão piorada da versão do Luna), “Break on Through” do Doors e “Creep” do Radiohead. Ainda teimou em tocar uma música do Sepultura, para constrangimento geral da nação.

O lance é que Moby é compositor, e não maestro, embora seu nerd interior ache que seja. Pior: a auto-imagem que ele faz de si é a de popstar, o roqueiro trintão comandando um dos braços da indústria de entretenimento. E por melhores que sejam os músicos, carisma não é algo que se consegue fácil. E Moby, por mais simpático que tente ser, não tem carisma.

O mesmo não pode ser dito sobre suas músicas. Pequenas sinfonias pós-disco, elas fundem cordas de teclado, soul music, beats sintéticos e letras contemplativas, e provocam suspiros coletivos, ondas de urros e mãos jogadas para cima em hits como “Porcelain”, “Why Does My Heart Feel So Bad?”, “Find My Baby”. Além dos sucessos, ele ainda lembrou do tempo em que era um nome importante para a música de pista – bem antes de ser um major player do showbusiness – tocando seus próprios clássicos como “Go!” e “Feeling So Real”. Suas músicas são o cerne da noite, o motivo de quase 5 mil pessoas assistirem a um show pelos telões, porque não dava pra ver o palco direito. E nem parecem ter saído da cabeça daquele carequinha pagando de roqueiro.

E, de repente, não é mais um show de música eletrônica, e sim um evento de pop rock. Dinossauro por opção, o show de Moby faz lembrar dos medalhões do rock’n’roll durante os anos 80, quando Phil Collins, Pink Floyd, Sting e Dire Straits, por mais diferentes entre si na origem, pareciam soar parte de uma mesma tendência musical. Mecânico, correto, inerte – sem alma. Eu não sei ele chegou a vende-la, mas pelo preço do ingresso…

Video Game Boy

Outra resenha de uma Bizz no ano passado.

Artificial – Free U.S.A.
A primeira vez que Kassin trouxe seu GameBoy a público foi na festa de aniversário do site Urbe, em 2003, quando, escudado pelo compadre Berna Ceppas, transformou a pequena pistinha do Zero Zero no Rio em um pesadelo IDM Atari anti-Guerra do Iraque. De lá pra cá, a brincadeira tomou tento, ganhou nome, centralizou-se no próprio produtor e optou pelo groove. Mas a tensão robótica e retrô continua dando o tom do projeto que, mesmo quando apela para o eletro-suingue branco lo-fi (em beckismos princeanos como “Time to Change”, “Nurse”, “Feel Like Makin'”, “Dirty Disco” e a vampiros lesbos “Let’s Make”), ainda mantém o clima de paranóia digital que o videogame portátil craqueado carrega nos circuitos (mesmo quando descamba pro dada – em “Pa Pa Pa” e “Joy”). Timbres Devo convivem com teclados Casiotone e beats oitentistas rachados por distorção como pedaços de um muro Tetris destruídos pela bolinha do Arcanoid. O clima político daquela primeira apresentação, no entanto, se mantém, do título do disco a faixas como “My Sound Will Kill You” e “Palestina”.

Esse fogo

Enquanto eu não arrumo tempo pra atualizar isso aqui direito, vou postar umas coisas velhas só pra “ir manteno”, como diz um conhecido meu. Pra começar, a resenha do segundo disco do Franz, que saiu em alguma Bizz do ano passado.

You Could Have it So Much Better With Franz Ferdinand – Franz Ferdinand
Felizmente, esse papo de “síndrome do segundo disco” é coisa dos anos 90. A linha oitentista do Franz Ferdinand não segue apenas padrões de riff angulosos e jogos de vocais das bandas pós-punk, mas também o saudável hábito de caminhar para frente. Como seus ancestrais diretos (Talking Heads, Devo, Jam, Blondie, Fall), o grupo prefere deixar os clichês consagrados no primeiro disco e mudar o rumo. É claro que o choque é gradual – a ótima “Do You Want to” (o melhor “dju-dju-ru-dju” do século 21) é a ponte perfeita entre “Take Me Out” e o disco novo. Mas à medida em que se atravessa You Could Have it So Much Better, percebemos que o grupo saiu pela tangente na disputa pela autenticidade que o tal rock pós-Strokes parece buscar. Indo para as sombras (“Fade Together” e “Eleanor Put Your Boots On” parecem sair tanto dos primeiros discos do Lou Reed como dos últimos do XTC) sem perder a pegada quadrada de disco rock (“What You Meant”, “I’m Your Villain”, “Outsiders”), emblemática de seu disco de estréia, o grupo tira onda com gosto, fazendo um dos melhores discos gringos deste ano. Faixas como “The Fallen”, “Evil and the Heathen”, “Well That Was Easy”, “This Boy”, a faixa-título e a balada “Walk Away” (a “Boulevard of Broken Dreams”/ “Wonderwall” deste ano) se sustentam sozinhas. Juntas, fazem o disco brilhar.

Vida Fodona #053: Aperta o play

O Stereolab do Recife, Kylie de travesseiro, o quarteto do Brubeck, eu fui atrás das linhas da minha família, Led pra dançar, talvez amanhã eu ache meu rumo, Paul do Ram, New Order circular, Franz triplo, George deixa cair, deu branco, Sgt. Pepper’s com OK Computer e o Beck dando pinta.

– “Writer’s Block” – Just Jack
– “Keep´Tomorrow Hanging” – FuTuro
– “Pára-Quedas” – Mombojó
– “Karma in the Head” – Go Home Productions
– “Dancing Days” – Led Zeppelin
– “Heart of the Country” – Paul McCartney
– “Motion Suggests” – Pavement
– “Can’t Get You Out of My Head” – Helena
– “Accidentally Kelly Street” – Frente!
– “Polly” – The Long Blondes
– “This Fire (Live in Santiago)” – Franz Ferdinand
– “This Fire (Playgroup Remix)” – Franz Ferdinand
– “Auf Asche (Official Live Bootleg)” – Franz Ferdinand
– “Round and Round” – New Order
– “Let it Down” – George Harrison
– “I Think I’m in Love” – Beck
– “Take Five” – Dave Brubeck Quartet

Simba?

Três e meio

URBe3.jpg

Natal comemora o aniversário de sua cria com presenças ilustres no lainâp de sua já tradicional feshteenha. Eu fecho a naite, pra variar, tocando mashup, pra variar (Bruno até me entrevistou sobre o tema). Mas antes tem o Apavoramento mandando no Bass Commando, o Cooper Cobras, o Nego Moçambique, o Rogério Flausino (é, é!) e o próprio URBeman, além da presença do Presença.

Em outras palavras: tou chegando no Rio, cariocada.

PKD PhD

Olhe fixamente para o Terceiro Olho

Resgatei a tradução e letreiração que eu e o Mateus (que, ao que consta, está em um retiro espiritual trance na Bahia) fizemos para essa HQ do Crumb sobre o Momentum em que Philip K. Dick percebeu que havia algo a mais do outro lado

Cinco Perguntas Simples: Pedro Alexandre Sanches

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Não acabou, e acredito que não acabará, mas isso é opinião de dinossauro – se compro disco de vinil até hoje, como posso acreditar que acabará o CD, ou qualquer outro suporte físico? Agora, tirando a visão de dinossauro, não dá mais para tapar o sol com a peneira: não acabou e pode ser que não acabe, mas nunca foi tão minúsculo, tão encolhido, tão pouco importante. E ainda tem espaço de sobra para encolher mais ainda…

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
Incógnita total, né? É claro que tudo indica que vai ser virtual, do modo como for, mas quem pagará a conta? Se tudo ficar grátis, quem vai financiar a produção da música que depois a gente irá consumir gratuitamente? É uma equação que não fecha, eu não tenho a menor idéia de qual será o balanceamento de extinções e criações que vai fundar a música do futuro. Me vem à cabeça umas idéias que o João Marcello Bôscoli divulga, que, se não me engano, têm alguma coisa a ver com o David Bowie: a música distribuída feito água de torneira, luz elétrica, gás encanado – está no ar, você paga um consumo mensal (mas para quem?), essas coisas… Enfim, estou elucubrando. A minha resposta mesmo é a primeira: incógnita total.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Puxa são várias, inúmeras. Não consigo eleger uma só, mas se puder tirar da cartola só umas poucas que me ocorrem de imediato, eu citaria algumas. A desmonetarização geral de tudo que conhecíamos como “indústria”. A ruína progressiva das maracutaias que “construíam” o sucesso “musical” em gravadoras, rádios, TVs, imprensa etc. A gratuidade que a internet está concedendo a música, imagem, texto etc. A perda progressiva, ainda que vagarosa e temerosa, dos indivíduos em expressarem o que pensam sobre o mundo, inclusive na hora de produzir arte e cultura. A liberdade de criação que vem crescendo maravilhosamente em função desses itens anteriores todos.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Ai, Matias, você sabe que eu sou dinossauro, né? Amo os progressos tecnológicos e cibernéticos quase na mesma medida que resisto a eles… Não conheci o Cansei de Ser Sexy pela internet, até hoje ainda não ouvi o Bonde do Rolê, continuo com preguiça de assistir no computador o show de volta dos Mutantes em Londres. Eu vibro com todas essas coisas, mas seria mentiroso se dissesse que descobri algum artista genial pelos meus próprios méritos exploratórios combinados com as ferramentas que ganhamos nesse incrível início de século XXI… Mas eu ainda chego lá!

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Ops, esta é a minha pergunta favorita! Realizou muitos, inúmeros, gigantescos. Ver a música funcionando a pleno vapor mesmo quando o jabá e o caixa 2 e as mamatas e as tramóias da indústria fonográfica vão se desmilinguindo é um sonho realizado. Perceber como a música está cada vez mais inteligente e liberta de convenções paralisadoras e limitadoras (à parte a avalanche de sósias de Los Hermanos que não páram mais de surgir) é um sonho realizado. Ver linhas diretas de diálogo sendo abertas, via internet, entre artistas, produtores, críticos e “eles”, os consumidores, os “cidadãos civis”, que até há pouco eram mera platéia passiva (e abobalhada, na opinião dos “formadores”), é um grande sonho se realizando pouco a pouco. Testemunhar uma nova leva de pujança e força de músicas criadas nas periferiasq (hip hop, funk carioca, tecnobrega etc.) é um sonho que eu nem sabia que tinha, mas que vai se realizando à medida que eu o descubro. Falo tudo isso a respeito da música, que é o que eu mais gosto de acompanhar como jornalista, mas acho que já começa a valer também para o jornalismo, que é a minha “real” área de atuação. E paro para não ficar comprido demais, porque teria mais uma montanha de sonhos realizados para citar, antes de começar a falar da montanha dos ainda não realizados, hahaha.

Pedro Alexandre Sanches escreve na Carta Capital e é autor dos livros Tropicalismo – Decadência Bonita do Samba e Como Dois e Dois São Cinco.