Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Depois de emplacar Mr. Manson no festival Burning Man, Diego manda mais uma foda no G1: Arnaldo e Dahmer assinando tiras semanais.
‘- Estética online
– Vinil convive bem com a era do MP3
– Blogosfera em debate
– Supermercado hi-tech
– Novos GPSs testados
– SecondLife tenta se reinventar
– Pedro Dória: Ainda a blogosfera
– Vida Digital: Nego Moçambique
Começamos a contagem regressiva para a segunda primavera da existência Gente Bonita com uma apresentação hoje em plena HitParade, feshteenha quinzenal da Bia Pattoli ali no Bar 8 (entre a Brigadeiro e a 23, nos Jardins). O esquema é mais light e lounge – afinal, é domingueira, mas a bola não pára. Começa com a dupla recém-criado Luiz Pattoli + Raphael Caffarena, passando pelo casal popscenester Hector Lima + Flávia Durante e a discotecagem Gente Bonita Clima de Paquera. A vaibe do inverno vai ficando pra trás (ó o solzão de hoje) e o primeiro aniversário vai ser incrível.
Gente Bonita @ HitParade
Domingo, dia 2 de setembro de 2007
CDJs convidados: Luiz Pattoli + Raphael Caffarena, Hector Lima + Flávia Durante (Popscene) e Luciano Kalatalo & Alexandre Matias (Gente Bonita Clima de Paquera)
A partir das 20h
Local: 8 Bar, rua José Maria Lisboa, 82, Jardins.
R$ 10,00 com nome na lista (mail para festahitparade@gmail.com )
Nick Drake caminha pelo enorme jardim nos fundos da casa de seus pais, onde quase sempre viveu, em Tanworth-in-Arden, uma pequena e típica cidadezinha inglesa com casas feitas de pedra margeando ruas pavimentadas sobre pastos de um verde que parece ser a única cor viva no local. É primavera, as flores estão abrindo e Drake observa com cuidado cada desabrochar. Olha para o botão no exato momento em que ele abre-se, revelando a beleza que escondia no início da estação e a estuda com calma, passeando o olhar pelos menores detalhes que só uma flor consegue sintetizar. O sol forte e amarelo não chega a esquentar; é manhã e ainda faz frio mas as flores não se importam, continuando suas explosões de cores.
Drake senta-se no frio banco de pedra e olha ao redor: as plantas crescem mais uma vez, quase ao final de uma jornada que assiste todos os anos. O verde é exatamente o mesmo, vivo e radiante como as diferentes tonalidades das flores. Tudo se repete e a natureza parece sorrir ao confirmar este ciclo interminável. Drake pega uma pequena flor amarela no chão e coloca entre as narinas, como se a proximidade do odor o fizesse pensar. Instantaneamente, seu olhar foge do jardim. Olhando para o chão, ele não observa nada – apenas pensa. Nos homens que teimam em fingir que suas vidas são melhores que as dos bichos e das plantas, preocupados com seus nomes próprios, reputações e linhagens. Veja as flores, todas de diferentes cores, vivendo em harmonia com as outras e com o resto do mundo. Como as plantas, toda natureza obedece uma regra cujos valores são opostos aos que a humanidade sempre pareceu se ocupar. Mas o homem não se importa e insiste em bater com a cabeça nos mesmos erros, nas mesmas coisas pequenas, valores materiais e sentimentos negativos para com os outros. Nasce, cresce e morre – como todas as plantas e bichos. Mas continua achando que é melhor que os outros, seja como espécie ou como indivíduo.
Seus pais aparecem na porta dos fundos da casa. Ao seu lado, um jovem mochileiro delicia-se com a beleza do jardim da casa de Drake. Sorridentes, carinhosos e quase no final de suas vidas, Rodney e Molly Drake recebem sorridentes os curiosos que querem conhecer mais sobre seu filho. Eles vêm de diversas e diferentes conexões – Sebadoh, Television, Joni Mitchell, Elton John, Scott Appel, Belle & Sebastian, Fairport Convention -, todos movidos pela música ao mesmo tempo clara e repleta dos únicos quatro discos do compositor, atrás de uma espiritualidade que não encontraram em nenhum outro lugar. Nem a arte, nem a religião, nem a contemplação da natureza eram suficientes para atingir o nível de profundidade que Drake propunha com sua música. Apenas com seu violão e seu canto triste e cético ou acompanhado de alguns dos melhores músicos de seu tempo, ele devolvia o homem à natureza, observando a civilização como uma criação tão natural quanto qualquer bosque ou praia.
Ver aquele jardim esclarece aos visitantes parte do mistério que é Nick Drake. Não se questiona, apenas sente-se a intensidade presente no local, clara influência na concepção de vida do compositor. Ele nasceu em Burma, no dia 19 de junho de 1948, mudou-se para Bombaim ainda bebê e fixou-se na Inglaterra aos sete anos, indo morar em Far Leys, a casa que o viu crescer na minúscula Tanworth-in-Arden. O jardim dos fundos sempre esteve presente em sua infância, como o piano de sua mãe (compositora influenciada por Noël Coward e Sandy Wilson), as histórias de seu pai e compositores clássicos, sua principal companhia musical quando criança. Naturalmente foi para o piano e logo se tornaria um instrumentista de talento, ainda que adolescente. Mas o espírito rebelde daqueles dias o levaram para os Beatles e, influenciado por eles, trocou o piano por um violão, depois de muito pedir aos pais. Era uma fase, Rodney e Molly pensaram. Mas o novo instrumento se mostrava tão completo quanto o piano – harmônico e melódico ao mesmo tempo – e poderia ser levado para qualquer lugar da casa, até mesmo para fora dela.
Levava-o para o jardim e observava o céu, como esperasse que a inspiração descesse como um pássaro. O ouvido habituado ao piano o levara a experimentar diferentes afinações ao violão, fugindo do padrão do instrumento e procurando novas formas pessoais de expressão. Vinha a noite e voltava para casa, fazendo da sala de estar seu ambiente noturno. Esperava os pais dormirem e começava a tocar as próprias músicas, registrando-as num pequeno gravador que até hoje está na mesa de centro da casa dos Drake. Sentado numa poltrona laranja, dedilhava acordes tímidos à medida que procurava canções entre as notas que tocava. Insone, passava a noite acordado, indo à cozinha de vez em quando para um copo de água ou um pedaço de pão. Influenciado por Joni Mitchell e Van Morrison, começava a gravar quando o sol mandava notícias, azulando levemente o começo do dia trazendo as músicas, que, repetidas, acordavam os pais.
Molly lembra das madrugadas que acordava ouvindo o filho para o visitante, fascinado com qualquer aspecto da vida de Nick. O pai, reservado, apenas observa a esposa contar a intimidade da família como um segredo religioso. Olha para o jardim e procura o filho, fingindo contemplar as plantas. Molly, ainda sorridente, conta da adolescência de Nick, de seus dias de escola, quando deixava a introspecção de lado ao correr no time de atletismo da escola pública de Malborough – o recorde dos 100 metros rasos com barreiras ainda é dele. Mas quanto mais crescia, mais tímido ficava, aprendendo cada vez mais a usar o violão como sua forma de comunicar-se com o mundo.
Por conta própria, começou a apresentar-se ao vivo, como uma forma de exorcizar sua natureza intimista. A mudança aconteceu devido a seu primeiro contato com maconha, na casa da irmã mais velha Gabrielle, em Londres. Com o auxílio da planta, Drake tornou-se ainda mais reservado e pensativo, preocupando-se cada vez mais com a natureza humana. Se recolhia ao jardim para fumar seus baseados sozinho e logo estava compondo canções sem referências de tempo, lugar ou fatos. Estudava os sentimentos das pessoas e suas relações com a natureza, como a existência humana era mais uma prova da perfeição natural que os homens insistiam em dizer-se superiores. Mudou-se para Cambridge aos 19 anos e na faculdade Fitzwilliams (onde estudava inglês e uma de suas maiores influências, o poeta William Blake) começou a se apresentar, primeiro nas casas de amigos, em reuniões ao redor de um violão que corria de mão em mão; depois em apresentações menores, pequenos bares universitários e festas da vizinhança. Seu medo do palco, no entanto, o afastava de apresentações maiores e Drake costumava abrir apresentações alheias antes de abandonar a platéia, ensimesmado.
Uma destas curtas apresentações mudaria sua vida. Foram dez minutos durante um festival organizado pelo lendário grupo folk Fairport Convention na Roundhouse. Após a apresentação do grupo, o baixista Ashley Hutchings preferiu ficar entre o público e assistir as outras apresentações que seguiriam até o dia seguinte. Quando Drake subiu ao palco, instantaneamente capturou a atenção de Ashley: com quase um metro e noventa de altura, cabelos despenteados caindo sobre o rosto, roupas que pareciam dois números menores que o tamanho que usava e um violão, ele sentou-se num banco de madeira e passou a suspirar sua doce voz canções que pareciam eternas. Pelo corpo e braço do violão, seus dedos procuravam as cordas de forma diferente, faziam acordes diferentes, alisavam a música burilada entre acordes como um contraponto harmônico à melodia que sua voz cantava. Hutchings conversou com o jovem à saída do palco, pegou seu telefone e pediu para que enviasse uma fita demo à Witchseason, a empresa do produtor Joe Boyd, responsável pelos primeiros singles do Pink Floyd e por artistas como a Incredible String Band, John e Beverly Martyn, Richard Thompson e o próprio Fairport Convention. Assim Drake fez.
O resultado deixou Boyd boquiaberto. Encontrara um artista completo, perfeito, quase mágico. Apenas com a voz e o violão, ele parecia clássico desde o primeiro instante, um artista romântico solitário do século 18 que, de alguma forma, teve sua música gravada. Mas Drake tinha apenas 20 anos e vivia nos mesma década de 1960 que Boyd, o que lhe deixou estarrecido. Não era pouco: com seu ouvido apurado e capacidade de tirar o melhor dos artistas que produzia, Joe Boyd era uma lenda nacional e sua reputação parecia ter chegado ao topo. Mas um jovem de Tanworth-in-Arden o provara que a maior qualidade da arte é sua capacidade de surpreender. Em pouco tempo, estaria com Drake no estúdio, gravando seu primeiro disco.
Five Leaves Left, de 1969, teve seu nome tirado do aviso que as embalagens de seda pra cigarro inglesas trazem quando estão chegando ao fim: “faltam cinco folhas”. A sensação de se estar chegando perto do fim são bem retratadas nas fotos do disco: na capa, Drake olha desolado para fora de uma janela; na contracapa, encostado num muro de tijolos à vista, ele observa apenas o borrão que um engravatado provoca ao passar correndo por ele. “Quando o dia acabar/ O sol afunda na terra/ Com tudo que foi perdido e ganho”, canta “Day is Done”, “Quando a noite esfriar/ Uns passam, outros envelhecem/ Só para mostrar que a vida não é feita de ouro”. Nos somos apresentados à música de Drake: um canto quase mudo, quente ainda que estático, um gemido sem dor. Sua voz observa o mundo ao redor e o traduz em forma de metáforas campestres. O violão, dedilhado delicadamente, funciona como uma estrada de paralelepípedos por onde o autor caminha, olhando os céus, as árvores, os campos. Tudo soa árcade e pastoril e os outros instrumentos convidados no disco apenas ajudam a manter esta atmosfera: congas, um violoncelo, piano, o baixo de Danny Thompson, piano e, claro, as cordas impressionistas de Robert Kirby. Este foi sugerido pelo próprio Drake quando este começou a se irritar (embora apenas demonstrasse ansiedade e impaciência, nunca raiva, no estúdio) com o arranjador que Boyd sugeriu para acompanhar suas músicas. Drake conhecia Kirby de Cambridge, mas nunca havia feito nada num estúdio de gravação – como o próprio Nick. O resultado foi surpreendente: com cores frias e pinceladas borradas dadas pelas cordas do quarteto que acompanha o cantor em quase todas as faixas.
“Fruit Tree”, quase ao final do disco, é a peça central de Five Leaves Left. Sem muitos rodeios, Drake canta sobre o reconhecimento tardio, sobre a morte não como um fim, mas como um motivo para lembrarmos da vida. Canta sobre ele mesmo:
“Fama é uma árvore frutífera
Que não soa
Não desabrocha
Até que os ramos encontrem o chão
Homens de renome
Nunca encontram um jeito
Até que o tempo voe
Além de seu último dia
Lembrados por um instante
Uma ruína atualizada
De um estilo ultrapassado
A vida é uma memória
Que aconteceu há muito tempo
Teatro de tristezas
De uma peça há muito esquecida
Parece tão fácil
Apenas deixe-a passar
Até que pare e pense
Que você nunca pensou sobre o porquê
Seguro no ventre
De uma noite sem fim
Você descobrirá que a escuridão
Pode dar a maior luz
Seguro na profundeza da terra
É quando saberão que você valeu a pena
Esquecido quando aqui
Lembrado por um instante
Uma ruína atualizada
De um estilo ultrapassado
Árvore frutífera
Ninguém te conhece, só a chuva e o ar
Não te preocupas
Olharão quando tiveres ido
Árvore frutífera
Abra seus olhos para um novo ano
Todos saberão
Que esteve aqui quando tiveres ido”
“Faltam cinco folhas” também nos remete ao outono, introspectiva estação que observa as plantas cederem à fria temperatura. Mas o disco termina com o sol de sábado, nos preparando para seu próximo álbum. “O sol de sábado veio mais cedo certa manhã/ Num céu tão claro e azul/ O sol de sábado veio sem aviso/ Ninguém sabia o que fazer/ O sol de sábado trouxe faces e pessoas/ Que não pareciam muito em seus dias/ Mas quando me lembro destas pessoas e lugares/ Eram muito bons em seu jeito/ Em seu jeito/ O sol de sábado não virá me ver hoje”. Five Leaves Left foi bem recebido pela crítica, que o comparou com Tim Buckley, Van Morrison e Donovan, saudando a nova descoberta de Joe Boyd com entusiasmo. Mas o público não percebeu o primeiro fruto de Drake e, convencido que sua introspecção fora responsável pelo fracasso de vendas, decidiu trazer o sol de sábado para o novo disco, Bryter Layter.
Convicto de que poderia fazer seu trabalho mais aberto e ensolarado, Drake abre seu novo álbum com os mesmos motivos entristecidos de Five Leaves Left, embora as cordas de Robert Kirby insinuem o nascer do sol. A presença da banda em “Introduction” é discreta, mas “Hazey Jane II” mostra as novas cores quentes da música de Drake, com Richard Thompson na guitarra, Dave Pegg no baixo e Dave Mattacks na bateria (todos do Fairport Convention) e as nuances em allegro dadas pelo arranjo de metais de Kirby. “At the Chime of the City Clock” volta-se às tonalidades frias das cores do vocal do compositor, mas o sentimento é mais populoso, menos isolado. “Fique em casa, sob o assoalho/ Fale apenas com os vizinhos/ Os jogos que você joga/ Fazem as pessoas dizer/ Que você é tão esquisito quanto só”. “One of These Things First” é ainda mais urbana: “Eu poderia ter sido um marinheiro/ Poderia ter sido um cozinheiro/ Um amante da vida/ Um livro/ Eu poderia ter sido uma placa, poderia ter sido um relógio/ Simples como uma chaleira, firme como uma pedra/ Eu poderia estar aqui e agora/ Eu poderia, deveria/ Mas como?/ Eu deveria ter sido uma destas coisas antes”. Ele quase canta a reencarnação, como se já tivesse passado por diversas vidas no passado, remetendo ao budismo discreto de “River Man”, do disco anterior.
Entramos então no espiritualismo de Drake. O compositor sempre esteve vinculado à natureza e ao idílio que a vida poderia ser se o homem não destruísse e pilhasse seu próprio habitat. Entre a ecologia e a poesia, Drake canta a integração com os ciclos que a natureza discorre, o dia e a noite, as estações do ano, a vida e a morte. Todos estamos sujeito a estas provações e a civilização humana parece lutar contra isto, criando suas próprias lógicas, fugindo da natureza e do instinto que nos conecta com o todo. Nick é fascinado com as pequenas coisas que vivem na terra – plantas, bichos e homens como seres à disposição dos caprichos cíclicos dos movimentos do sol, da terra e da lua. Obedecemos a regras que não podemos mudar e tentar ir contra isso é voltar-se contra si mesmo. Devemos portanto contemplar as pequenas coisas da vida e aprender com cada uma delas. É o desafio proposto por William Blake: “Ver um mundo num grão de areia/ O paraíso numa flor selvagem/ Ter o infinito na palma da mão/ E a eternidade em uma hora”.
Bryter Layter é permeado por este tipo de abordagem. “Você se sente remanescente/ De algo passado/ Você acha que as coisas/ Estão se movendo muito rápido”, canta em “Hazey Jane I”, “Faça por você/ E tenha certeza que fará o mesmo por mim, um dia/ Então tente ser verdadeiro/ Mesmo que de sua forma nublada/ Você consegue dizer que está se movendo/ Sem um espelho pra ver/ (…) É tudo tão confuso/ É difícil acreditar”. Acompanhada da viola e do cravo de John Cale, em “Fly”, confessa: “Eu caí de muito alto na primeira vez/ Agora apenas sento no chão do seu jeito”, e logo emenda com a autobiográfica “Poor Boy”: “Nunca soube por que vim/ Pareço ter esquecido/ Nunca perguntei de onde vim/ Ou como parei aqui/ Sou um pobre garoto/ E um aventureiro/ As coisas que digo soam mais estranhas/ Que o domingo tornando-se segunda”. “Você me amaria pelo meu dinheiro?/ Você me amaria pela minha cabeça?/ Você me amaria através do inverno/ Você me amaria até eu morrer?”, pergunta em “Northern Sky”, antes do triste instrumental de “Sunday”.
Mas apesar do disco ser considerado por Boyd não apenas a obra-prima de Drake como sua melhor produção, Bryter Layter novamente não vendeu. Mesmo com as boas críticas, o que ainda mais deprimiu o autor. Tinha apenas 21 anos e sentia o peso do mundo nas costas. Queria comunicar-se com as pessoas (“Se canções fossem as linhas de uma conversação”, cantou em “Hazey Jane II”, “tudo seria mais fácil”), mas elas pareciam não querer ouvir. A depressão de Drake aumentou quando Boyd vendeu sua companhia para a gravadora Island. Voltou à casa dos pais e entrou em profunda reclusão. Falava pouco com os outros e sempre demonstrava estar passando por uma terrível dor interior, embora sua imagem muda no escuro parecesse não revelar nenhuma emoção. Um dia, Chris Blackwell ligou para Drake, oferecendo sua casa na Espanha para passar alguns dias. Sem pestanejar, foi. Voltou e telefonou para John Wood, o engenheiro de som que acompanhou Boyd em seus dois discos. Queria gravar um disco.
Sozinho, entrou no estúdio e em duas noites de 1972 tinha Pink Moon pronto. Voltou apenas à faixa-título, para acrescentar um doce mas triste piano na parte instrumental. Nenhum outro instrumento, nenhum segundo take, emoção bruta e sem edição – menos de meia hora com apenas Drake e seu violão. Após perceber que Drake não queria nenhum arranjo ou outra adição instrumental, Wood pediu que levasse a fita para a gravadora, explicando que era um álbum diferente dos anteriores. Nick Drake chegou à porta do escritório da Island e não conseguiu dizer uma palavra, apenas entregando a fita dentro de um envelope pardo sem nenhuma etiqueta ou anotação para uma secretária. Apenas alguns dias após a entrega vieram a descobrir que não era a demo de um novo artista, mas o novo álbum de Nick Drake.
Pink Moon é o momento mais amargo de sua carreira. “Eu era verde, mais verde que o monte/ Onde as flores nascem e o sol brilha/ Agora sou mais escuro que o mais profundo mar/ Me ajude, me deixe ficar” (“Place to Be”). “Todas as fotos que mantém na parede/ Todas as pessoas que virão ao baile/ (…) Conte o gado que passa pela cancela/ Mantenha um carpete tão grosso no chão/ Mas ouça me chamando e não me dará uma carona” (“Free Ride”). “Sei que te amo/ Sei que não me importo/ Você sabe que eu te vejo/ Você sabe que não estou lá” (“Know”). “Você pode dizer que o sol está brilhando, se quiser/ Eu posso ver a lua e está claro/ Você pode pegar a estrada que te leva às estrelas/ Eu só posso pegar a estrada que me vê por dentro” (“Road”). “Veja e me verá no chão/ Pois sou o parasita desta cidade” (“Parasite”). “Caindo rápido e livre você procura um amigo/ Caindo rápido e livre pode ser o fim” (“Harvest Breed”). “Eu vi escrito e ouvi dito/ Aí vem a lua rosa/ Nunca uma lua esteve tão alto/ A lua rosa vai pegá-los todos” (“Pink Moon”).
As canções pareciam repletas de um sentimento cru que o autor deixava sair à força, contra sua vontade. A culpa para suas palavras não terem sido compreendidas era também sua, embora Drake nunca pediu pena de ninguém. Era apenas uma sensação de frustração, de não cumprir o que deveria ter feito, de lamentar a própria existência e não conseguir curá-la. Mas comparando o produto com o autor, nota-se claramente o esforço do artista para que aquelas canções saíssem: Drake mal conseguia conversar com as pessoas, mas gravou um álbum inteiro tomado pela confissão. Depois de Pink Moon, cujas canções Drake nunca cantou para ninguém a não ser no estúdio, voltou a cair em depressão, sendo tratado clinicamente. Odiava remédios e os tomava sem a regularidade que os médicos lhes prescreviam, sentia que estava envenenando seu corpo e só fazia isso por seus pais. Cada vez mais se isolava e fugia do mundo exterior.
Ao mesmo tempo, sua lenda crescia. Embora seus discos vendessem poucos, eles eram disputados por ouvintes que encontravam uma sabedoria adolescente mágica, acompanhada de uma biografia que justificava não apenas a utopia hippie como o romantismo dramático que aos poucos tomaria conta da música popular. David Geffen, dono da gravadora Asylum (casa de Joni Mitchell e Jackson Browne), queria incluir Nick em seu catálogo, mas tanto Chris Blackwell quanto Joe Boyd insistiam em relançar seus discos por conta própria. Até que um certo dia, no começo de 1974, decidiu voltar a gravar. Gravou quatro canções e sorriu com a possibilidade de ter suas músicas gravadas num álbum da cantora francesa François Hardy, que havia declarado interesse em tal projeto.
Voltara a conversar com os amigos e aos poucos deixava o casulo da casa dos pais. Não tocava em público ainda, mas era claro que o sol havia voltado a brilhar na vida do jovem Drake, que parecia disposto a retomar a carreira. Nem suas noites de insônia eram poupadas, preferia dormir direito e acordar cedo para readaptar-se à luz do dia. Para ajudar dormir, os remédios que os médicos lhes recomendaram, Tryptizol. Nunca ninguém havia lhe dito que mais de uma pílula era demais – e era.
Quando Molly Drake acordou no dia 25 de novembro de 1974, o filho não havia acordado ainda. Estranhou. Foi mexer em sua cama e ele não reagia. Nick Drake, 26 anos, estava morto.
Todos os motivos levam a crer que a morte de Drake fora acidental. Já havia confessado a amigos próximos que havia pensado em suicídio nos momentos mais tristes de sua vida, mas que considerava-se covarde para cometê-lo. E 1974 havia sido um excelente ano para o cantor, que aos poucos voltava a tocar violão na sala de estar da casa dos pais e a receber e atender telefonemas de amigos. Um lapso fatal, que encerrou sua prematura carreira como se esta fosse uma lenda, uma história fantástica. Três discos mágicos, cada um à sua maneira, mostrando adjetivos e cores diferentes para o mesmo tipo de sentimento, o mesmo tipo de relação com a sociedade e o ambiente em que vivia, sempre abordados da mesma forma prematuramente madura que Drake parecia ter sobre a vida. Nos anos seguintes, uma caixa (Fruit Tree) reuniria seus discos para a posteridade, ampliando sua lenda pessoal. Gravações da época de Five Leaves Left foram encontradas em 1984 e reunidas às quatro últimas faixas gravadas por Drake (entre elas, a mórbida “Black Eyed Dog” – um presságio da morte?) no álbum Time of No Reply. Deste disco, vem “I Was Made to Love Magic”, síntese de sua espiritualidade e importância musical:
“Nasci para amar ninguém
Ninguém para me amar
Só o vento na alta verde relva
O gelo numa árvore quebrada
Eu nasci para amar a magia
Tudo é surpresa para conhecermos
Mas vocês perderam esta magia
Muitos anos atrás”
Outra velha, de 2002.
Texto publicado originalmente na revista Play número 3, abril de 2002
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Falando de política sem soar carrancudo, o Cornershop volta com ‘Handcream for a Generation’ – trilha sonora para festas, passeatas, shows e audições caseiras
Há um clichê na história da música pop que associa aos artistas que se posicionam politicamente a uma reputação séria demais, sem tempo para brincadeiras. O binômio música popular/política sempre evoca imagens pouco felizes, como os olhares desafiadores de Woody Guthrie ou dos jovens Bob Dylan e Chico Buarque, os braços cruzados do Clash, o expressão dura do rosto de Chuck D, o discurso exasperado de Zack de La Rocha no Rage Against the Machine. Como na chamada “vida real”, a política na música pop não é lugar para a diversão, para o humor, para o alto astral.
O que, sabemos, é o maior papo furado. Afinal de contas, o terno e gravata da política é apenas um discurso usado para manter as pessoas distantes da mesma. O mesmo acontece com seu vocabulário em desuso, sua burocracia e seu estranho posicionamento entre o escandaloso e o ímpio, o bastidor e o oficial. A política quer ser vista como chata e carrancuda para que não venham meter o bedelho na festa dos sabichões.
A política não é mágica, saber ou tradição: ela filtra todas nossas ações, todo o nosso dia-a-dia. Mas a história da civilização ocidental, que optou pela “sábia” decisão de tudo compartimentar, racionalizando a natureza humana a limites insuportáveis. Cada faceta da vida ganhou um rótulo e, aos poucos, eles aprisionavam vícios aos significado original das palavras, deturpando-os completamente. Assim, como a política torna-se intrinsicamente aliada à administração governamental e ao poder militar, a cultura torna-se sinônimo de distração e a história é apenas o passado. Os exemplos são
infindáveis e todos eles isolam um determinado aspecto da vida em seu próprio umbigo e, aos poucos, virando caricatura.
Felizmente, a arte (outro rótulo) demole as paredes que separam díspares pontos da vista, nem que isso ocorra apenas em seu pequeno universo privado.
O que não é ruim, afinal, temos que começar por algum lugar. E voltando à música pop (e à história) é fácil lembrar de vários movimentos musicais que
tinham conotação política forte, cuja periculosidade frente ao mainstream era particularmente preocupante, em grande parte por mobilizar e conscientizar multidões sem pregar uma doutrina ou levantar bandeiras. Estes movimentos, no entanto, não entram na história da música pop como manifestações políticas – uma forma fácil de diminuir sua importância e regular uma possível epidemia mental que poderia abalar as estruturas do sistema.
Eram movimentos que não se denominavam mais sociais do que políticos, pois mudavam a mentalidade das pessoas através de mudanças de comportamento. Observe a geração Woodstock, por exemplo. Toda sua conotação política hoje resume-se aos filhos do movimento folk do começo dos anos 60, quando trovadores, violão em punho, cantavam os problemas do mundo e as injustiças sociais. Mas o que dizer do desbunde sexo-racial de Sly & the Family Stone? Ou do discurso sônico do funk rock de Jimi Hendrix? Ou o convite à volta comunitário do Jefferson Airplane? Não: o lado político desta safra de artistas é reduzido ao canto doce e vazio de Joan Baez, à ladainha antibelicista de Country Joe McDonald ou às utopias afetadas de John Sebastian.
E isso só pra ficar num exemplo mais popular. Se formos prestar atenção, diversos momentos clássicos da música pop vêm carregados de conotação política, reescrevem o comportamento popular de uma época, mas são lembrados apenas por sua faceta escapista e segura. O soul cru dos estados sulistas dos EUA, nos anos 60, serviram de trilha sonora para os movimentos anti-racistas, mas apenas a Motown fica na história. A discoteca surge como uma resistência gay contra a opressão e o preconceito para logo é transformada em açúcar musical usado por branquelos para se sentirem um pouco mais negros. O Tropicalismo pregava o caos e a confusão sobre os opostos, explicitado pelo choque entre as culturas pop e brasileira (então distantes), mas logo foi fagocitado pelo ócio pós-hippie dos anos 70. O mesmo aconteceu com o hip hop nos primeiros dias, o segundo verão do amor (em 1988), o pós-punk, a explosão eletrônica inglesa do começo dos anos 90 etc… Gêneros ativistas que perderam o impacto político à medida em que a história os absorvia, transformando-os em meros flashbacks de um passado divertido.
Mas eles foram muito mais do que isso. Momentos específicos em que a música pop serviu como veículo de comunicação entre minorias conscientes de sua situação e jovens dispostos a lutar por estas causas. A diluição da atitude destes momentos específicos serviu para afastá-los de sua causa central e expulsá-los do panteão mal-encarado que conhecemos como “música pop que fala de política”. Tudo errado.
“Tudo é política”, explica Tjinder Singh, vocalista e metade do Cornershop, “não dá pra separar música de política, é a arte que melhor fala com as pessoas. É direta, instantânea, não tem rodeios”. Assim, em entrevista por telefone, ele explica a política por trás de um disco que, aparentemente, não tem nada de política.
Handcream for a Generation (Sum) é o quarto disco do grupo inglês, o primeiro após o excelente de When I Was Born for the 7th Time, de 1997 (um dos três melhores discos daquele ano, ao lado de OK Computer, do Radiohead, e Vanishing Point, do Primal Scream) e, certamente, seu disco mais contundente. Mas se, por um lado, estamos falando de política, por outro o dia sequer remete ao semblante carrancudo típico do rock politizado.
Handcream… soa como um disco de funk psicodélico feito por fãs incondicionais dos anos 70 que não conseguem tirar o sorriso do rosto. “Música serve para divertir, para animar a vida das pessoas – mas não só isso”, ele continua. “Quando estamos nos divertindo, abrimos mais a cabeça, estamos mais dispostos a receber novas informações, a tentar entender novos conceitos. Não é à toa que o capitalismo usa a música pop para vender suas premissas mais básicas: a apologia da beleza física, o vazio intelectual e a compulsão consumista”. O Cornershop entende a lógica por trás do espírito de festa de manifestações politizadas do passado e faz um disco disposto a resgatar todas elas – ao mesmo tempo.
Por isso, Handcream… soa psicodélico como se fosse 1967, soul como se fosse 1968, rock’n’roll como se fosse 1971, black como se fosse 1972, disco como se fosse 1978, old-skool como se fosse 1979, electro como se fosse 1982, house como se fosse 1986, neo-hippie como se fosse 1988, eletrônico como se
fosse 1991. “Esses anos são anos-chave na história da música, mas hoje são vendidos como souvenirs de uma época esquecida”, lamenta Singh, “as pessoas se esqueceram do poder de transformação que a música imprimiu nestes anos”.
O baixão soul de protesto que abre o disco deixam as coisas muito claras: estamos entrando num território musical que, como muitos, abole fronteiras entre política, religião, cultura e razão – mas, como poucos, prega esta vertente através do alto astral. O fato do soulman Otis Clay abrir o disco já diz muita coisa: entre trumpetes, cordas e um baixo proeminente, Clay evoca o soul de protesto do final dos anos 60. Egresso da gravadora Hi Records (a mesma de Al Green), o vocalista introduz o disco e a banda ao público com a faixa “Heavy Soup”, no que parece ser o início de uma festa em casa – isso resume bem o clima do disco.
Fora os momentos mais claustrofóbicos (como “The London Radar” e “Music Plus 1”), que remetem ao groove eletrônico marcial do começo dos anos 90, todo o disco parece ser feito para ouvir em casa, com os amigos, numa pequena celebração particular.
“Staging the Plaguing of the Raised Platform” traz um velho conhecido do Cornershop, embora a música (prima do hit do disco anterior, “Brimful of Asha”) opte por uma quebra estrutural usando um Moog, o que faria qualquer fã dos Cars (ou do Rentals) sorrir. A faixa fala em assumir posições políticas em qualquer lugar e uma adaptação forçada do título lembra que todo palco é um palanque. O astral da faixa é a psicodelia light, sabor aumentado graças à caixinha da música no início e os vocais bichos-grilos-cantando-em-roda do refrão, típico do grupo.
“Music Plus 1” (repetitiva, fria e noturna) faz a conexão francesa com a música eletrônica, pouco antes de cair no boogie rock “Lessons Learned from Rocky I to Rocky III”. Crua e máscula, esta última evoca a volta do rock’n’roll arquitetada no começo dos anos 70: há ecos dos Rolling Stones, do glam, de hard rock e backing vocals cantando em falsete. E quais são as lições aprendidas entre Rocky I e Rocky III? “É uma piada, como dá pra perceber”, explica o vocalista, “mas assistindo aos filmes, viocê percebe uma mensagem, do tipo ‘não sei deixe enganar por quem tem dinheiro’ ou algo parecido. É uma música sobre manter-se fiel ao que você acredita, mas não quis deixá-la com cara de pregação”.
Mais eletrônica, “Wogs Will Walk” fala do poder de transformação da internet. “A música fala especificamente da Índia, porque temos um potencial muito grande em informática. É um país que desenvolveu uma matemática muito própria e que está presa na lógica de cada um. Usamos o ábaco – que é um computador – há milênios. A internet é a possibilidade perfeita de uma insurreição intelectual indiana”. Apesar de falar especificamente de seu país, Tjinder não descarta a mudança do século XXI para o resto do planeta. “Vai ser bom quando as pessoas perceberem que a tecnologia não é o mais importante, e sim o que se faz com ela. A internet e a computação são linguagens, idiomas. Quando pudermos conversar, ninguém vai segurar as pontas. Será um novo Iluminismo”.
Ele se empolga e continua falando das mudanças na virada do milênio. “O hip hop já nos havia ensinado que você não precisa de muita coisa para fazer arte. É um pensamento africano, minimalista. O preconceito, porém, não nos deixou absorver esta técnica. Com o hip hop, outras novidades em diferentes áreas – ciência, educação, religião, filosofia -, não foram absorvidas por preconceito. Por isso, a internet e o computador explicam novidades velhas. É engraçado, não temos preconceito para com as máquinas”.
“Motion the 11” é o reggae roots, analógico, vinilófilo. Cantado com sotaque jamaicano, a faixa repete a letra de “Music Plus 1” numa temperatura de veraneio caribenho. Esfumaçado e preguiçoso, o reggae abre espaço para “People Power”, recriação groovy da faixa “People Power in the Disco Hour”, gravada no projeto paralelo do grupo, a disco music lo-fi do duo Clinton (o único disco, Disco and Halfway to Discontent, foi lançado em 1999). Novamente, um baixo assume as rédeas da música e conduz a canção sem dificuldades, como se chamasse para uma passeata em forma de festa. “SuperSounds Recordings” ancora o disco de volta para seu lado meditativo, calmo e indiano para, em “The London Radar”, voltar para sua vertente eletrônica.
O disco vai chegando ao final com a gigantesca “Spectral Mornings”, digna dos épicos guitarreiros do segundo disco dos Stone Roses. Instrumental, lenta e barulhenta, funde rock’n’roll e música indiana em partes iguais e conta com a ajuda de Noel Gallagher, do Oasis, ajudando a formar este mantra interminável. Com 14 minutos, a faixa foi o gancho para a volta do site oficial do grupo, quando, em 12 de fevereiro deste ano, foi transformada em “Spectral Mornings (Droppin’ the Solid)”, o maior remix da história com… 24 horas de duração! A faixa é chata, parece patinar sem rumo no mesmo lugar e quebra um tanto a magia pop do disco.
“Slip the Drummer One” conta com o DJ Rob Swift, dos X-Men (os antigos X-Ecutioneers), discotecando sobre a base electro lo-fi da primeira faixa. Deixa transformar a antepenúltima na música de saída, “Heavy Soup (Outro)”, que finge fechar o disco.
Handcream… só termina com “Bonus Track”, uma brincadeira de amigos na sala de estar, lounge rock com guitarra fuzz melódica e bateria de bossa nova. Um final sossegado, descansado, que traz de volta o disco a seu território nato. Falando de política sem soar carrancudo, o Cornershop funde gêneros para mostrar que entre eles não há diferenças e, quando existem, são artificiais. A música, naturalmente, serve para mover as pessoas para a frente – seja numa festa, numa passeata, num show de rock ou em casa.
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“O disco inteiro é de protesto!”
Tjinder Singh disseca, faixa a faixa, o novo disco
“Heavy Soup”
“Heavy Soup é a ponte entre o disco e a vida real, ela se repete no fim, num esquema parecido, pra dar essa sensação de ciclo finalizado. Tem o baixo pesado, que carrega os poucos acordes da música. A gente fez uma música pra cima, para curtir. Enquanto isso, o apresentador vai dizendo o que vai acontecer”
“Staging the Plaguing for the Raised Platform”
“Esta é uma canção de protesto. É sobre você ter a mesma atitude em todas as coisas da sua vida, de não aceitar as coisas sem questionar. Quem governa o mundo não percebe que está sentado num barril de pólvora, que um dia as pessoas vão se encher e vão virar a mesa”.
“Music Plus 1”
“É um house, soa como disco music francesa, não? Ela tem a mesma letra, exatamente a mesma, do reggae. Na verdade ela não quer dizer nada, só “music plus one” e “motion the eleven”, mesmo. Serve para pensarmos no que uma letra de música pode dizer. Quer dizer, eu fiz assim, não quero que as pessoas entendam assim”.
“Lessons Learned from Rocky I to Rocky III”
“Tivemos um enorme cuidado na produção desta música, queríamos que ela soasse exatamente como imaginávamos, bem anos 70. É como ter aquela atitude do começo dos anos 70 sobre todas as coisas que acontecem hoje – se naquela época era uma merda, hoje é uma supermerda ultracrescida (ri). As frases são soltas sem sentido de novo, mais para ter um casamento legal com a voz. Quer dizer, se você entrar no clima certo, você até entende”.
“Wogs Will Walk”
“É o WWW, fala da internet e da enorme influência que ela vai exercer no futuro da Índia. Há alguma coisa de repetição, como um mantra, que sempre muda um pouco, cada vez”.
“Motion the 11”
“É o reggae, como eu disse, tem a mesma letra da outra, com os improvisos de dois rastas amigos nossos, Jack e Kojak. Gosto da guitarra desta música, ela pega firme”.
“People Power”
“Essa é um remix que iríamos usar no disco do Clinton, mas deixamos de fora. Mexemos um pouco em cima do que tínhamos e ela ficou melhor. É outra canção de protesto. O disco inteiro é de protesto!”.
“Sounds Super Recordings”
“É uma música explicitamente indiana, um lado que ficou reduzido no disco novo, mas que tinha que colocar. É um discurso dentro de uma ponte musical, entre duas músicas”.
“The London Radar”
“Toda a música me veio na cabeça num vôo de Londres a Gênova, fui juntando sons que lembravam certas imagens…”
“Spectral Mornings”
“É uma faixa cheia de paisagens sonoras, elementos diferentes, guitarras pesadas e cítaras, altos e baixos, parece que não vai acabar nunca… É um épico, soa como um livro sagrado, mas é uma celebração sônica. É só som”.
“Slip the Drummer One”
“Tem um lado de turntablism, que nós curtimos desde 1994, mas nunca tivemos a oportunidade de colocar em disco. E tem um lado robô também”
“Heavy Soup (Outro)”
“O mesmo groove do começo do disco, só que pro final. A edição deixou-a maior que a intro. É um outro, uma saída, adeus, Elvis has left the building…”
“Bonus Track”
“Uma festa em casa, com uns amigos, resolvemos gravar, ficou legal e colocamos no disco”.
Domingo é sempre um dia bom pra tirar umas velhas do baú. Essa entrevista com o Nelsonmotta tem quase oito anos de idade…
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Nelson Motta tinha treze anos quando o compacto que lançou João Gilberto – o hoje histórico ” Chega de Saudade” – saiu. Instantaneamente infectado pela musicalidade simples e sofisticada de João, não foi difícil envolver-se com aquela música e a cena que gravitava em sua órbita. Morava no Rio de Janeiro em plena era JK, último suspiro de um Rio paradisíaco, intacto, turístico, que assistiu em seu próprio colo o nascimento da bossa nova. Seus pais eram abertos o suficiente para permitir que o filho assistisse aos primeiros shows do gênero, muitas vezes em sua companhia. E por intermédio de um primo, passou a freqüentar a mesma turma que contemplava o samba e Copacabana do apartamento de Nara Leão às tardes e atravessava as noites na casa de Vinícius de Morais, em Petrópolis.
Sorte, pura sorte. Mas Nelson não deixou escapar. Uma vez dentro de uma facção do universo musical brasileiro, assistiu o nascimento de toda uma geração de artistas que mudaria a cara da cultura de nosso país. Para trás ficariam a rádio Nacional e seus cantores de dicção perfeita e vozeirões, a dramaticidade quadrada de pequenas árias operísticas transformadas em canção. O Brasil percebia sua brasilidade quando João Gilberto determinava o novo cânone da música brasileira: entre o baiano Dorival Caymmi e o flamenguista Ary Barroso, um só ritmo – o samba. Ao assumir o samba como fator de identidade nacional, a bossa nova criava um novo estágio na música brasileira e coroava uma nova hierarquia, um novo panteão de divindades. Bom de meio-campo, o baixinho Nelson Motta conseguiu estar em vários lugares ao mesmo tempo – como jornalista, produtor, empresário, diretor artístico, apresentador de TV, crítico de música e compositor. Aos 55 anos, ele resolve dividir seu testemunho com os leitores de seu novo livro, Noites Tropicais (Objetiva), em que nos conta a sua versão da história da MPB.
Texto afiado, Nelson escreve como conversa. É o mesmo Nelson Motta do Sábado Som, do Jornal Hoje, das transmissões do Rock in Rio ou do Manhattan Connection. Sem firulas nem meias-palavras, ele conta seu papel de agente na história da música com a empolgação de um pescador em mesa de bar. Não importa se as histórias aconteceram exatamente como ele conta, pois é justamente a forma como ele conta que as tornam tão divertidas. Qualquer um com pouco menos de humor que o autor assistiria aquele monte de artistas como uma turma de ególatras insatisfeitos com a pouca bajulação. Mas Nelson não esquenta a cabeça fácil e sempre dá um jeito de estar no lugar certo na hora certa. Ele sabe que é preciso jogo de cintura para se manter de pé e seu texto tem a mesma energia com que busca a novidade.
Disposto a revelar o lado humano dos artistas, ele invade a privacidade dos envolvidos tirando-lhes apenas a aura mística que o tempo e a mídia puseram sobre todos eles, mostrando como esta é fruto da própria personalidade do artista. Vemos então Raul Seixas consciente de sua própria picaretagem, Roberto Carlos ouvindo os problemas de fãs como se fosse um santo, a fama de casanova tanto de Jorge Ben quanto de Jerry Adriani, João Gilberto brincando com a expectativa dos outros, Tim Maia esbaforido de medo de entrar no bondinho, Elis Regina atirando objetos nos outros, as Frenéticas quando ainda eram garçonetes e Sérgio Mendes conquistando os americanos.
No meio de sua aula de história, Nelson desfila seu invejável currículo junto à música brasileira, muitas vezes subestimado. Foi jurado de Flávio Cavalcanti, onde defendia a música nova que surgia com a bossa nova e a Jovem Guarda. Com uma coluna diária na Última Hora, de Samuel Weiner, e depois no Globo, esta mesma música ganhava um ávido divulgador. Compositor, chegou a tocar violão num grupo que não decolou, o Depois das Seis (o único referido no livro entre aspas). Criou o Sábado Som na TV Globo, onde passou a divulgar clipes das bandas de rock dos anos 70. Inventou a trilha sonora de novela com André Midani. Tinha uma coluna diária sobre música no Jornal Nacional e fazia matérias sobre o tema para o Fantástico. Sua equipe contava com Scarlet Moon e o futuro Gang 90 Júlio Barroso. Escreveu a música de fim de ano da Globo com Ivan Lins. Produziu discos de Elis Regina e espetáculos de Marília Pêra e criou a primeira discoteca do Brasil, o lendário Dancing Days no Rio de Janeiro (uma das melhores partes do livro), e a primeira danceteria do país, a Paulicéia Desvairada em São Paulo. Assistiu o nascimento do rock dos anos 80 como um dos sócios da famosa Noites Cariocas, no morro da Urca. Escrevia letras para Lulu Santos e produziu o seriado Armação Ilimitada. Lançou Marisa Monte e hoje é colunista – eletrônico e impresso – das organizações Globo em Nova York.
O livro é recheado com as histórias que Nelson viu no meio do caminho, todas dignas de serem contadas. Poucas fofocas, no entanto: no livro ele finalmente assume seu caso com Elis Regina enquanto ela estava casada com Ronaldo Bôscoli e corajosamente conta sua relação artística e afetiva com Marisa Monte. Mas o que interessam são os ‘causos’: Rita Lee perdendo a voz no Rock in Rio, Tim Maia discutindo com Raul Seixas sobre qual melhor droga (Raul defendia a cocaína e Tim, na fase Racional, a maconha), Lulu Santos tocando em circos no subúrbio do Rio, Erasmo Carlos fugindo do juizado de menores, a irresistível aventura do Dancing Days, seu primeiro encontro com Ângela Rorô, Carlos Imperial de sandálias disputando A Palavra É na televisão com Chico Buarque e Caetano Veloso na televisão, Tim Maia distribuindo LSD pela gravadora como se fossem hóstias, o menor de idade Lobão assustando Nelson com um termo de responsabilidade assinado pelo autor, que quase foi preso por fumar um baseado à saída do primeiro Rock in Rio.
Além disso, há esclarecimentos sobre a fama de dedo-duro de Wilson Simonal, o monopólio da TV Record e da gravadora Phillips nos anos 60 e 70, o surgimento e a consagração da Rede Globo e da Som Livre e depoimentos emocionados sobre as mortes de Elis Regina, Gláuber Rocha e Júlio Barroso. E há as passagens históricas, como um show de João Gilberto no alto do Rockfeller Center em Nova York, uma jam session em que Hermeto Paschoal participou do lado de fora do bar, a invenção do tropicalismo, o Opinião de Nara Leão, os festivais, Jorge Ben no Beco das Garrafas, os shows de Lennie Dale, Apesar de Você passando pela censura e a invenção de Julinho de Adelaide, o primeiro Hollywood Rock (em 1975, com Rita Lee & Tutti-Frutti, Mutantes, Veludo, Vímana, O Peso, Erasmo, Celly Campelo e Raul Seixas), a criação das Frenéticas e da grife Dancing Days, os primeiros shows do rock brasileiro dos anos 80. Escolha seus motivos e seus ídolos, mas não deixe de ler Noites Tropicais. Leitura obrigatória para quem quer conhecer um pouco mais sobre os bastidores – e, por isso mesmo, a história – da música brasileira.
Como surgiu a idéia de fazer um livro de memórias?
Queria escrever uma biografia do Tim Maia, mas por problemas com os herdeiros, como tudo de Tim Maia estava uma confusão danada, resolvi escrever sobre ele mas também sobre todos os grandes personagens da música que encontrei nesses meus 35 anos de vida musical. E a melhor forma era como memórias, na primeira pessoa, já que participei das diversas fases de nossa música como tiete, compositor, jornalista, produtor e empresário ao longo de cada fase. Achei que assim poderia contar as histórias de pontos de vista diferentes, ficaria mais rico e divertido.
Não é cedo para fazer um livro desta natureza?
Tenho 55 anos, um neto de três, já tenho muita estrada. Com 30 mil livros vendidos em um mês e as críticas maravilhosas (até da Folha!), acho que não.
Qual a dificuldade de se fazer um livro de memórias que ao mesmo tempo é um livro sobre a música brasileira? Como discernir lembranças pessoais de fatos históricos?
Usei lembranças pessoais quando achei que eram relevantes para o fluir da história, para esclarecer personalidades ou para situar melhor o narrador para o leitor, sobre os pontos de vista daquela pessoa que conta a história. Meu principal critério foi: histórias de que participei (como tiete primeiro, depois como compositor, jornalista, produtor e empresário – e finalmente escritor ) e a personagens dos quais eu estivesse próximo, sempre com o objetivo maior de traçar um painel dos últimos 35 anos de música brasileira. Então, certos artistas, como Edu Lobo, Elis Regina, Raul Seixas e Tim Maia tem grande destaque, porque em épocas diversas de minha vida estive muito próximo a eles, podendo portanto dar um testemunho exclusivo, diferente de uma ” história da música” ou de uma biografia jornalística.
Sua carreira é marcada por suas mudanças de papel na história da música brasileira. Em algum momento estas mudanças lhe causaram algum conflito?
Sempre. Sempre estive em conflito, buscando uma harmonia por contraste. Em cada uma das funções que desempenhei, aprendi muita coisa que me ajudou a trabalhar e compreender melhor outras. Estive dos dois lados do balcão, fui pedra e vidraça, e isto acho que acaba dando um certo equilíbrio. E banindo o tédio e a rotina para sempre. Hoje, por exemplo, o que mais gosto de fazer é escrever e de ler. Mais do que de música.
Você respeita a privacidade dos envolvidos, mas revela alguns podres. Qual o critério adotado?
Principalmente os meus podres, que procuro tratar com humor quando dá, e com autocrítica quando necessário – mas sem ressentimentos de nenhuma ordem. Conto episódios menos abonadores de alguns principalmente quando são divertidos, nunca por espirito de fofoca ou ressentimento, para mostrar ao leitor como eram, em sua complexidade, esses grandes talentos, humanos todos, e por isso ainda maiores.
Quase a fase de sua carreira mais te satisfez e por quê?
Todas, desde a bossa nova ate o final do rock Brasil, no final dos anos 80. A que menos gostei foi depois disso, com o Governo Collor e a onda sertaneja, quando decidi me mudar para Nova York. Mesmo nesta fase teve bons momentos, como os shows e discos que produzi com Djavan, Sandra de Sá, Elba Ramalho, Leila Pinheiro e João Gilberto.
O distanciamento geográfico (uma vez que você está em Nova York) ajudou ou atrapalhou na hora de escrever? Fale sobre isso…
Foi decisivo. Me distanciou mais ainda das memórias e das pessoas, me permitiu um distanciamento crítico decisivo para o livro. Alem de tudo, tive paz, conforto e tranqüilidade para trabalhar. Em Nova York ninguém me conhece, ninguém me enche o saco nem pede coisas, ninguém me aluga para besteiras. E tudo funciona, é rápido, não se perde tempo. No Brasil, levaria três vezes o tempo que levei, acho que estaria escrevendo ate hoje. Nova York é um dos melhores lugares do mundo para se esconder.
Por que se distanciar da polêmica num cenário musical que parece privilegiar tal atitude?
Detesto polêmica, gosto de harmonia. Ha muito tempo já desisti de tentar convencer alguém de qualquer coisa. Digo o que sinto e penso, com educação e respeito sempre, quem quiser aceitar, muito bem, senão, muito bem também.
Do mesmo jeito que a bossa nova suplantou a música brasileira tradicional, invertendo valores e criando um novo cânone na música atual (criando a MPB), um outro gênero pode surgir e fazer o mesmo com a MPB. Qual sua posição frente a à mudança neste sentido?
É natural, é parte do processo, o público consumidor precisa sempre de novidades. O interessante da música brasileira e’ que os gêneros não acabam, vão se sobrepondo, incorporando os que vieram antes. Hoje é tudo pop, existem apenas talentos individuais. Pagode, axé, sertanejo, tudo passa, tudo sempre passará – mas todos se lembrarão dos grandes artistas, indivíduos, muito mais do que de gêneros e escolas.
Letristas, compositores, personalidades, agitadores culturais, produtores, críticos, músicos… O que falta no cenário da música brasileira atual?
Dinheiro, eu acho. Tem muita gente de talento, muita vontade de fazer e de comprar música, mas os ups and downs da economia brasileira castigam o mercado de discos. Fora isto não falta nada. Com as tecnologias digitais e a internet nunca foi tão fácil fazer e vender um disco. Mas nunca foi tão difícil fazer sucesso.
Você tem alguma frustração na carreira? O que você gostaria de fazer, se pudesse ter controle total?
Escrever, porque não preciso de ninguém, nem de nada, só de minha cabeça. É um pouco solitário, reconheço, mas passei minha vida inteira trabalhando em equipe, algumas gigantescas e quanto mais gente, mais problemas. Gostaria também de pintar. Ate já comprei as telas e tintas e pincéis. Mas continuam na caixa.
Mesmo fora do Brasil, você tem acompanhado a música brasileira. Na sua opinião, qual é a lição que aprendemos nos anos 90 dominados pelo trio axé-sertanejo-pagode?
Aprendemos que foi uma grande década, que nos deu Marisa Monte, Ed Motta, Daniela Mercury, Cidade Negra, Gabriel o Pensador, Cassia Eller, Lenine, onde Caetano, Chico, Milton, Lulu Santos, Titãs, tantos outros, produziram grandes discos e shows. Nos 90 Zizi Possi e Nana Caymmi produziram seus melhores discos e shows. Tom Jobim produziu, ate morrer, grandes canções. Daqui a 10 anos ninguém lembrará de pagode-axé-sertanejo (ou pior, dos padres cantores) mas todos se lembrarão com orgulho e ouvirão com prazer esses artistas.
O rock está voltando de novo ao mercado, mesmo que ainda lentamente. Você diz no livro que as gravadoras optaram pelo rock nos anos 80 pelo barateamento da produção. E hoje, qual é o motivo?
Não sei, neste ultimo ano-e-meio fiquei trancado em casa escrevendo o livro. Talvez seja a decadência comercial do sertanejo-axé-pagode.
Arriscando uma bola de cristal, quem é o futuro da música brasileira na sua opinião?
O futuro é a nossa diversidade. Individualmente acredito em Marisa Monte, Ed Motta e Cassia Eller. E que Daniela Mercury será a primeira grande estrela pop brasileira a triunfar no exterior. Mas triunfar mesmo, big time.
Chega o fim de agosto e com ele vamos encerrando a temporada outono/inverno 2007 de hits Gente Bonita. Foi difícil administrar um inverno de noitadas abaixo dos 10 graus em ambientes adversos e condições improváveis (de um técnico de som surdo a um blecaute), mas a diversão foi igualmente garantida – e pérolas da temporada como “It’s Getting Boring by the Sea” dos Bloody Red Shoes, “Pogo” do Digitalism, “Dead Scene” do Sunshine Underground, “DVNO” do Justice e “aquele” remix pra “Office Boy” do Bonde do Rolê já entraram em definitivo na nossa programação.
Para essa sexta chamamos o casal Popscene, a clássica festa em Santos com mais de 59 edições, para comandar a início da festa. Flávia Durante e Hector Lima sintonizam suas antenas new rave e projetam hits indie e petardos eletro. Logo depois, a dupla protagonista da noite (a.k.a.: “it’s we”) assume os CDJs pra estremecer as bases, chacoalhar quadris e derreter corações na pista. Afugentando o inverno para o bem geral da nação, a noite de hoje também marca véspera do mês de comemoração do aniversário de um ano de Gente Bonita. Nem parece que foi em setembro do ano passado que começamos a brincar de ter a melhor festa do Brasil. A festa acontece no Audio Delicatessen, são vinte pilas pra entrar, mas botando seu nome na lista do site www.gentebonita.org, paga só dez. Glue there.
Gente Bonita @ Audio Delicatessen
O último desfile da coleção de hits da temporada Outono/Inverno 2007 do mês de agosto
CDJs residentes: Luciano Kalatalo & Alexandre Matias (Gente Bonita Clima de Paquera)
Discotecários convidados: Flávia Durante & Hecor Lima (Popscene)
Sexta, dia 31 de agosto de 2007
23h (Sem hora para acabar)
Local: Audio Delicatessen – Rua Mourato Coelho, 651 – Vila Madalena
Telefone: (11) 3097 0880 e (11) 3816 1220.
Preço: R$ 20 na hora / ou R$ 10 para cadastrados no site www.gentebonita.org
“Zdarlight” – Digitalism
“Shadows” – Midnight Juggernauts
“Salmon Dance” – Chemical Brothers
“Mothership Reconnection” – Scott Grooves
“I Believe” – Simian Mobile Disco