
Foto: Liliane Callegari
“Outro dia dei uma dura numa menina que toda vez que me encontra fica dando conselhos batidos. A pessoa não tem noção de como é a minha vida. Primeiro reclama que você não leva metais pro Studio SP. Velho, eu já pago do bolso pra três caras, como é que eu vou levar metais? E se levar, ninguém vai ouvir por que o som é uma bosta. E eu não consigo ensaiar. A vida é outra. Não tem mais o negócio de chamar o iluminador, fazer cenário e etc. Então eu fazia aquele som, nego não ouvia, não tinha lugar pra tocar e eu fui sacando. Não é também que mudei só porque neguinho queria me ouvir, porque aí pode parecer meio ridículo. Lógico que eu já gostava de outras coisas. Só acelerou o processo. Então, se (violão de) sete cordas não dava mais, vamos logo chamar um guitarrista. Só que eu queria juntar o guitarrista com o sete cordas, que se recusou a fazer isso. Tudo vai acontecendo e vai te acelerando na vida, te joga pra um lado e pra outro. Não tem muito glamour intelectual. Claro, tem no sentido de você sacar as coisas e ir tocando. Eu podia deprimir, ter o perfil do gênio que não consegue… Porém, como estou a fim, eu vou tocar. Então a menina vira pra mim, no Rio de Janeiro, e fala: “Gostei muito do seu show, mas você devia ter tocado algumas covers conhecidas, pras pessoas saberem de onde você vem”. No Rio ninguém tem dinheiro pra me levar, então arrumei uma banda carioca pra tocar. Dream team: Kassin, Domenico e Bubu. Puta banda foda. Passei de cara 10 faixas, os caras tiraram, fiz um ensaio de três horas e toquei. Pô, estou no Rio de Janeiro, fazendo meu melhor, não gostou do show, beleza, mas não fala de coisa que não tem a ver! O mundo não é assim. Eu não estava com a minha banda, não ensaiei, não ganhei dinheiro – aliás, paguei pra ir – não dá pra ter metais. Esse show que ela queria ver eu já fiz, no Sesc. Tinha metais, piano de cauda, figurino, cantoras, já foi. Você estava nesse? Não? Esquece. Agora é rock n’ roll. É vida real. Minha geração é essa também, faz do jeito que dá. Neguinho pode achar que é meio capenga, mas a gente ainda faz muito. Tudo isso melhorou. E toda vez que encontro com músico de fora de São Paulo, então, parece que a gente mora em Nova York. Salvador é um deserto, terra arrasada. Tem gente foda fazendo musica foda e se fudendo na Bahia, em Belo Horizonte, Recife, no Rio de Janeiro. O Kassin toca mais em São Paulo do que no Rio. O Brasil não expande, vai ficando cada vez mais só em São Paulo. E não é nem no interior. Acabei de passar no primeiro edital da minha vida, no Sesi. Vou tocar em Marilia, Franca. A chance de tocar para quatro pessoas é enorme. Não tem mercado. Mas beleza, vou ser pago pra isso. Fui tocar no Sesc Ribeirão Preto e tinha mais gente no palco do que na platéia. Em São Paulo não, se você tocar uma vez por mês está bom”
E por falar em música brasileira, quem desanda a falar sobre o papel da cena atual e sua importância é o Rômulo Fróes, que deu essa imensa entrevista ao Marcelo e ao Tiago em que dá seus pitacos sobre a situação da música brasileira do século 21. Deixa a preguiça de leitor de Twitter de lado e vá fundo.
E já que estou falando de Lost fora da terça-feira, se liga nesse despertador Dharma:
Quer também, né? Mas é só um dos inúmeros produtos de primeiro de abril inventados pela loja ThinkGeek – separei uns outros aqui, olha só.
E por falar em Lebowski, o Pedro pescou essa referência logo que o episódio do Richard foi ao ar, na semana passada – e não demorou para que mais gente percebesse e fizessem a montagem. No clássico dos irmãos Coen, Mark Pellegrino, o mesmo ator que faz nosso querido deus da ilha de Lost, Jacob, é um dos capangas contratados para dar um susto no Lebowski errado – no caso, o Dude. Em uma determinada cena, ele afunda o personagem de Jeff Bridges repetidas vezes em uma privada. A cena foi devidamente homenageada quando Jacob assusta Richard no episódio da semana passada de Lost, se liga:
Até que veio o mashup inevitável. Sempre ele.
Gostou, né? E que tal esse disco com todas as gravações do trio do Cobain na BBC? Você conhece provavelmente boa parte dessas gravações: as versões de “Molly’s Lips”, “D7”, “Turnaround”, “Son of a Gun” (gravadas na segunda participação da banda no show de John Peel, no dia 21 de outubro de 1990), “Aneurysm”, “Been a Son” e “Polly” (estas gravadas no Evening Session de Mark Goodier no dia 9 de novembro de 1991) formam a grande parte do Incesticide, o disco de sobras que a banda lançou entre o Nevermind e o In Utero. Além destas, duas outras (“Dumb” e “Endless Nameless”) gravadas no dia 3 de setembro de 1991 em outro programa do John Peel também apareceram na caixa With the Lights Out. Das gravações não-oficializadas ainda restaa íntegra da primeira participação da banda no programa de Peel, dia 26 de outubro de 1989 (“Love Buzz”, “Spank Thru”, “About a Girl” e “Polly” ainda com o baterista Chad Channing) e duas versões alternativas para “Something in the Way” e “Drain You”. As BBC Sessions do Nirvana são um capítulo clássico na história da banda – os três pegando seu melhor público na veia, no auge, em versões perfeitas de músicas menores do repertório de Kurt.
Tudo bem, Vinícius, mas eu achei de bom tom baixar um pouco a faixa etária do jogo – a Paradis é mais velha que eu! Então toma uma nascida nos anos 90.
Que bela jogada do Vinícius (e fumando ainda por cima, vale bônus), que teve de googlar pra descobrir quem é a Paradis – que eu conheço desde antes da versão da Angélica (e, consequentemente, do Johnny Depp). A minha vem a seguir.
Se você achava que a caixa With the Lights Out tinha dado a última geral na história do Nirvana, tenha o prazer de conhecer Chosen Rejects – equivalente a quatro CDs com ainda mais raridades musicais da biografia de Kurt Cobain. Dividida em quatro volumes (Home Demos, Studio Sessions, Broadcasts e Live Rarities), a caixa conta com material ainda mais raro do que a versão oficial (demos do Fecal Matter, blues gravados no Tascam, gravações sem overdubs, In Utero em gestação – tá tudo lá) e não teve seu som melhorado em estúdio. Segunda-feira faz outro aniversário do suicídio de Kurt e não custa lembrar que, se não fosse ele, a música pop atual seria ainda mais coxinha do que é hoje.