Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Ave Sonic Youth

Vou deixar em aberto o fato de que a audição online de Walls Have Ears, o disco ao vivo de 1985 que o Sonic Youth lançou nessa sexta-feira de carnaval, que aconteceu nesta quinta, ter reunido Thurston Moore, Lee Ranaldo e Steve Shelley depois de muito tempo, apenas para te lembrar que o disco já está em todas as plataformas e que você deveria tirar um tempinho específico (pode ser depois do carnaval, tudo bem) pra ouvi-lo, porque é um absurdo.

Ouça abaixo:  

Baile de Carnaval Inferninho Trabalho Sujo

Se você não conseguiu ir em nenhum dos meus últimos bailes de carnaval esse ano, sua última chance esse ano é no próximo domingo, quando entro num vórtice chamado Baile de Carnaval Inferninho Trabalho Sujo, que, como preza a natureza do local, nosso querido portal interdimensional chamado Picles, vai saber o que pode acontecer. É uma festa à fantasia que acontece no meio do bairro de Pinheiros, depois que os blocos dizimaram o enorme canteiro de obras que é a região, quando refugos e refugiados da folia se encontram com os heróis e heroínas que encararam passar o domingo de carnaval assistindo à apresentação de uma banda chamada Carnaindie, que mistura hits de axé music com covers de Strokes e não deixa ninguém parado! Depois, assumo a discotecagem com minha copilota agente do caos Bamboloki, fazendo sair glitter derretido do cérebro de quem estiver na pista. O Picles fica no número 1838 da rua Cardeal Arcoverde e se prepara porque vai ser LOCO. Bora!

Uma comemoração particular – de um país inteiro

Encontrei Kiko, Thiago e Juçara logo que cheguei na Casa de Francisca nessa quinta-feira saindo do elevador que agora dá acesso ao camarim em direção ao palco. Pude cumprimentá-los rapidamente antes que eles começassem a apresentação e desejar um bom show (no caso deles redundância, mas a saudação importa) quando Thiago frisou: “Sabe que hoje é aniversário daqui, né?”. Não estava sabendo, mas há exatos sete anos a Casa de Francisca arrancava suas raízes na rua José Maria Lisboa nos Jardins para replantá-las no coração de São Paulo, há poucos metros da Praça da Sé, no Palacete Tereza que hoje é a cara do lugar. Feliz por estar participando mais uma vez de um momento histórico desse palco sagrado (ainda mais com show do Metá Metá!), também comemorei que esse poderia um bom começo de carnaval, embora a vibração fosse distinta. Até que começaram a cair umas fichas: primeiro que aquele começo de carnaval tinha começado algumas horas antes, quando a polícia federal deteve o passaporte do meliante que ocupou a presidência da república, aproximando-o de seu destino desejado, a cadeia. O efeito dominó que as notícias da quinta-feira causaram (e seguem causando) inevitavelmente desdobraram-se na série de piadas e numa contagem regressiva que a prisão do desgraçado poderia ser o início do carnaval (eu acho que não vai rolar agora, vai ser um carnaval fora de época daqui a pouco). E depois me lembrei do show que vi daquele mesmo Metá Metá na outra Casa de Francisca, no fatídico dia 12 de maio de 2016, quando o Senado autorizou o início do golpe na Dilma. Foi o começo da era de trevas da qual ainda estamos saindo e lembro direitinho (até escrevi sobre isso na coluna que tinha na Caros Amigos na época) de como aquela notícia pesou nosso encontro antes do show e como o show em si foi um exorcismo daquele futuro ruim que sabíamos que viria. Oito anos depois, lá estava o mesmo Metá Metá – só os três de novo – em outra Casa de Francisca comentando a possibilidade de prender a pessoa que só chegou onde chegou porque derrubaram a presidenta naquele passado não tão distante. Ainda não estamos festejando o que deve ser festejado, mas o futuro sombrio (que ainda se avizinha, à espreita, fingindo-se de desentendido) está mais distante do que estava naquela noite de 2016. E mais uma vez era a música que mostrava o rumo a ser seguido. Viva a resistência cultural! Viva a Casa de Francisca! Viva o Metá Metá! Viva o Brasil e viva a música!

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Assista abaixo:  

Mojo Nixon (1957-2024)

O antiherói do rockabilly norte-americano, mais conhecido pelo quase-hit “Elvis is Everywhere”, que o lançou em 1987, ao lado do compadre Skid Roper, já não está entre nós. Nascido Neill Kirby McMillan Jr, ele foi encontrado morto a bordo do cruzeiro Outlaw Country no dia seguinte de sua apresentação. “Você deveria morrer como você vive”, escreveu sua família no Facebook, confirmando a passagem do ícone, que também era radialista, ator e humorista. Ele preferia se rotular como um artista cult.

Baile de Carnaval à Fantasia com a Charanga do França na Casa de Francisca

O carnaval começa mesmo essa sexta e lá vou eu! Desta vez abro o baile à fantasia que a Charanga do França tá puxando na Casa de Francisca a partir das 19h30, pra quebrarmos tudo como normalmente fazemos. O desafio agora é ver quanto tempo que o Palacete fica aberto depois da maratona de boas vibrações emitidas nas quase três horas que duram o show da Charanga. A noite promete tanto que os ingressos estão esgotados desde a semana passada!

O único disco do Fellini que não existia em vinil

Depois de viabilizar o lançamento da versão em vinil do único disco do Fellini que não foi lançado neste formato graças a uma ação coletiva bancada pelos fãs, o selo Midsummer Madness anuncia que as cópias remanescentes de Amanhã é Tarde, disco temporão que Cadão Volpato e Thomas Pappon gravaram no início do século, mais de dez anos após o final da carreira original da clássica banda paulistana indie avant-la-lettre, está à venda para quem não participou do financiamento coletivo. Prensado em vinil laranja, o disco originalmente foi instigado pelo próprio Rodrigo Lariú, o homem Midsummer Madness, que o lançou na época apenas em CD. Disco maduro que aguça as qualidades desenvolvidas pelo grupo ainda nos anos 80, misturando poesia de boteco e samba de apartamento em gravações lo-fi, Amanhã é Tarde já está em pré-venda no site do selo e a entrega começa após o carnaval. “Nosso estoque fica em Santa Tereza, bairro boêmio da cidade, onde fica impossível sair de casa em alguns dias de folia”, explica Lariú, sem fazer contraponto ao carnaval, citando inclusive o próprio Fellini ao dizer que “gosto de samba”… Abaixo, um vídeo em que seus dois autores contam a história da gravação do disco.  

Uma Beth Gibbons bem diferente do Portishead

Sem mais delongas, eis “Floating On A Moment”, o primeiro single do primeiro disco solo de Beth Gibbons, Lives Outgrown, que ela anunciou há cinco dias. O single mantém o clima de pesar e tensão característico de sua banda, o Portishead, mas a instrumentação acústica – sussurros usados pra marcar o tempo, contrabaixo de madeira na cara, assobios, violão dedilhado, vocais de apoio, guitarra sem efeitos – a ajudam a desvendar um outro lugar musical, mais plácido e intimista, algo que vem traduzido num clipe multicolorido e com efeitos digitais que misturam filtros de redes sociais com reproduções feitas por inteligência artificial, superpondo sua imagem a paisagens distorcidas, numa estética que vai de encontro à sobriedade austera do Portishead. E por esse primeiro aperitivo dá pra cravar que tem um discão vindo aí. Lives Outgrown será lançado no dia 17 de maio e já está em pré-venda, sua capa e o nome de suas músicas – bem como o primeiro clipe – podem ser visto abaixo.  

Intensa e delicada

Maravilhosa a apresentação que Nina Maia fez nesta terça-feira no Centro da Terra. Mostrando parte do repertório que estará em seu disco de estreia, que ainda está sendo gravado, ela mostrou-se intensa e delicada na mesma medida, indo da introspecção à explosão sonora sempre com sua bela voz como fio condutor. Com poucas pausas e interação mínima com o público, ela suspendeu a expectativa dos presentes ao alternar momentos sutis e sensíveis – seja somente ao piano, cantando sobre bases eletrônicas pré-gravadas ou em dupla com sua eterna parceira Chica Barreto – com outros mais expansivos, que levam sua musicalidade rumo ao jazz e à MPB com a cozinha formada pelo baixo de Valentim Frateschi e a percussão de Thalin com acréscimos do cello de Chica e do violão de Yann Dardenne na última música da noite, “Amargo”, que será seu próximo single. A luz da dupla Retrato (Ana Zumpano e Beau Gomez) também ajudou o clima de introspecção e expansão entre luzes e sombras — e um espelho no palco.Cheia de si e com plena confiança da firmeza de sua voz e composições, ela está pronta para acontecer. E isso que foi só primeiro show do ano.

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Assista abaixo:  

Nina Maia: Inteira

Mais uma vez temos o prazer de receber Nina Maia no palco do Centro da Terra, desta vez apresentando-se como uma artista solo. Em Inteira, ela traz as canções que comporão seu disco de estreia com arranjos que vão da intimidade musical entre piano e voz ao formato banda, misturando música eletrônica, pop experimental, MPB e jazz. Além dela, sobem também ao palco do teatro nesta terça-feira os músicos Valentim Frateschi, Thalin e Nina Maia e o produtor Yann Dardenne, que a auxiliam na construção deste trabalho. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos já estão esgotados.

50 anos do Head Hunters do Herbie Hancock ao vivo!

O que você vai fazer no próximo dia 14 de agosto? Herbie Hancock conseguiu marcar um encontro com seus compadres dos Head Hunters para revisitar o clássico disco funk composto em 1973 que finalmente o livro da sombra de Miles Davis e colocou-o em seu próprio sistema solar. O aniversário de 50 anos do disco ao vivo acontecerá a princípio apenas no Hollywood Bowl, em Los Angeles, mas não duvide se começarem a pintar outras datas por aí. Ele postou um vídeo nesta terça-feira em sua conta no Instagram convidando os chapas Harvey Mason, Bennie Maupin e Bill Summers para reviver aquele delírio musical meio século depois e de todos os responsáveis por aquela joia, apenas o baixista Paul Jackson (que morreu em 2021) não estará presente, sendo substituído pelo grande Marcus Miller, outra lenda do instrumento. Os ingressos já estão à venda no site do Hollywood Bowl – e se você não conhece esse disco, faça-se esse favor agora mesmo!

Ouça abaixo: