Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Nesta terça-feira, Rômulo Froes inaugurou a curadoria que está fazendo no Sarau, o minúsculo bar do recém-inaugurado Pulso Hotel, quando chamará grandes nomes da música brasileira contemporânea para apresentar-se à meia luz para um público bem reduzido. Além de anunciar que nomes como Jadsa, Josyara, Alice Caymmi e Maurício Pereira, entre outros que estarão nas próximas terças, ele contou com a melhor abertura possível, por conta do trio Metá Metá. E com Juçara, Kiko e Thiago desfilando seu já clássico repertório não tem erro, né? Os três hipnotizaram o público em versões ainda mais discretas dos hits de seus três discos, além de puxar versões clássicas que fazem para Jards Macalé, Douglas Germano e, claro, “Trovoa”, de Maurício Pereira. E terça que vem tem Ava Rocha com o Chicão! Imperdível!
A apresentação que o grupo Orfeu Menino fez nessa terça-feira no Centro da Terra, flagrou-os começando a tatear o próprio repertório enquanto deixa o passado de versões pra trás, sem deixar as referências de jazz brasileiro de lado. O grupo começou com uma música da vocalista Luiza Villa, passou por interlúdios bolados pelo jovem maestro Pedro Abujamra, uma canção do baixista João Pedro Ferrari e inspirados solos tanto de Pedro, quanto do guitarrista Tomé Antunes e do baterista Tommy Coelho. No percurso, passaram por “Estrada do Sol” (Tom Jobim e Dolores Duran) e “Beijo Partido” (Toninho Horta), antes de mexer em uma versão mais jazz da primeira composição desta nova leva, “Pega Mal”. Tá ficando bonito…
O novíssimo quinteto formado por Luíza Villa (vocais), Pedro Abujamra (teclado), Tomé Antunes (guitarra), João Chão (baixo elétrico) e Tommy Coelho (bateria) está começando a desenvolver sua fase autoral e começa a mostrar suas primeiras canções no espetáculo Orfeutanásia – Presságios da Metamorfose, quando mesclam suas influências de folk, jazz e música brasileira ao mesmo tempo em que exploram essas referências para além das versões que já estavam em seu repertório. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente nesse link.
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O líder do Tangolo Mangos mostrou nessa primeira segunda-feira de abril no Centro da Terra a promissora carreira solo que tem pela frente. Ao desbravar desfiladeiros musicais bem diferentes do rock de sua banda, Felipe Vaqueiro mostrou que, mais que exímio músico e compositor, mistura essas duas qualidades em uma só, fazendo seu instrumento soar como continuação de sua voz e vice-versa (me sopraram Moraes Moreira depois da apresentação, tem muito a ver). E por mais que sua apresentação tenha contado com ótimas participações ao chamar Sophia Chablau e o percussionista de sua banda, Bruno “Neca” Fechine, para dividir o palco, foram nos momentos solitários no palco que Vaqueiro mais brilhou, mostrando o completo domínio de suas canções que ao mesmo tempo esbarram no seu jeito extrovertido e atrapalhado ao conversar com o público, tornando a noite ainda mais leve. Vai longe!
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Imensa satisfação em começar a safra de apresentações do Centro da Terra em abril deste ano com o espetáculo Dando Nome Aos Bois, idealizado por Felipe Vaqueiro, vocalista e guitarrista da banda baiana Tangolo Mangos, em que ele começa a mostrar formalmente o início de sua carreira solo, trazendo à tona canções que diferem das que apresenta com seu conjunto. A apresentação acontece no formato voz e violão, mas Felipe convida tanto o percussionista de seu grupo Bruno Fechine (que tocará pandeiro) quanto a vocalista Sophia Chablau para participarem desta noite. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda neste link.
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Ao começar a apresentação com “Fim de Festa”, do clássico disco que reuniu Itamar Assumpção e Naná Vasconcellos, a banda convocada por Fernando Catatau para celebrar o cancioneiro romântico brasileiro no espetáculo Pra Falar de Amor, que aconteceu no Sesc Pinheiros neste sábado, mostrou que não estava pra brincadeira. Um time de músicos, autores e intérpretes que pertence à nata da música popular contemporânea escancarou o teste de DNA que prova que sua musicalidade descende deste cânone que une uma parte importante da produção cultural brasileira do último século mas que não é visto como tal. A gênese desta celebração começou ainda no ano passado, quando Fernando fez algumas apresentações intimistas levantando este repertório que atravessa a própria genealogia de suas canções. E foi esperto ao manter esse clima mínimo mesmo com uma banda grande num palco tão amplo como a sala Paulo Autran. O minimalismo dos arranjos e das vozes contrastava com os sentimentos rasgados nas interpretações originais e com o visual da apresentação, em que as luzes de Cris Souto (que pareciam vir de Oz) equilibrava-se perfeitamente com as cores fortes do figurino de cada um e as imagens épicas projetadas por Isadora Stevani, que também assinava a direção de arte da noite. No palco, Catatau puxava um grupo que trazia Ava Rocha, Curumin (entre a bateria e o violão), Jasper, Bruno Berle, Paola Lappicy, Clayton Martin e Beatriz Lima que deslizaram por canções que rasgavam o corpo por dentro fazendo verter lágrimas, seja de paixão ou de fossa, sempre afundando aquele aço frio no peito dos ouvintes enquanto cutucava nosso subconsciente com músicas de Raul Seixas (“A Maçã”) Roupa Nova (“Bem Maior”), Roberto Carlos (“Amor Perfeito”), Jards Macalé (“Sem Essa”), Joanna (“Tô Fazendo Falta”), Djavan (“Um Amor Puro”), Lulu Santos (“Certas Coisas”), Eliane (“Amor ou Paixão”) e Alcione (“Você Me Vira A Cabeça”), colocando cada um dos integrantes no centro emotivo daquelas canções, além de passear pelo próprio repertório, sempre com outro intérprete cantando suas músicas, como “Quero Dizer”, “Solidão Gasolina”, “Transeunte Coração” e “Completamente Apaixonado”. A noite terminou num momento épico revisitando o momento mais romântico do repertório de Catatau, quando todos revisitaram a clássica “O Tempo” do Cidadão Instigado antes de encerrar a noite com “Hackearam-me”, do baiano Tierry, eternizada por Marília Mendonça. Foi de chorar – e tem que ter mais!
Inferninho Trabalho Sujo sextou e sextou BONITO. Depois de pouco mais de um semestre esquentando as quintas-feiras, mudamos a festa pra sexta e não poderia ser em melhor companhia. Pra começar, pelo fato de sermos a sede pra primeira Paixão de Castro em anos, este evento de proporções bíblicas que não acontecia literalmente há anos pois seu protagonista esteve fora dos palcos. Não mais! Tal Jesus dois dias depois, Rafael Castro está de volta, mostrando que não morreu e segue vivão vivendo vívido, dedicando o repertório de seu grande retorno unicamente ao disco que compôs e gravou em fevereiro deste ano, o sensacional Vaidosos Demais, um clássico contemporâneo desde o dia de seu lançamento. E reuniu no palco os mesmos cúmplices, tanto banda quanto convidados, que o ajudaram a erguer o disco, uma das vantagens do calor da hora. Outra era que todos os presentes bem sabiam da importância daquele momento. Além da reunião de dinossauros proporcionada por este instante único (praticamente uma Santa Ceia da Casa do Mancha, repleta das santidades da cena independente dos anos 00), todos sabiam cantar todas as músicas, o que deu uma profundidade emocional a hits instantâneos como “A Esquerda Errou Nesse Sentido” (uma crítica mais profunda que a do Vladimir Safatle), “O Algoritmo Te Escolheu”, “Pessoal da Claro”, “Fiscal de Foda”, “Nunca Em Nome de Satã” e a já imortal “Bar e Lanches”, que abriu o show e voltou no bis, como seu próprio protagonista! Que noite!
E depois recebemos o quarto show da carreira solo da vocalista dos Pelados e do Fernê. Manuela Julian subiu mais uma vez aos palcos acompanhada pela guitarra de Thales Castanheira e desfilou canções novíssimas, músicas de suas duas outras bandas e uma versão excelente para “Você Não Vai Passar” da Ava Rocha. Bom ver que, mesmo pilotando teclado e guitarra às vezes na mesma música, ela está se soltando e vindo pra frente, como faz em seus outros trabalhos, deixando de usar os instrumentos como escudo cênico e encarando – e hipnotizando – o público com sua voz grave e seu domínio de cena, fazendo todos acompanharem seu show melancólico atentamente (ou “pianinho”, como ela pediu no começo) mesmo depois da catarse que foi o show do senhor Picles. E a festa começou quando eu e Fran assumimos a discotecagem logo após seu show, fazendo o público dos shows tornar-se a pista fervida que pede toda sexta-feira – e foi só a primeira! E vem mais novidades por aí!
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Se você ainda não ouviu o disco novo da Beyoncé, Cowboy Carter, lançado nessa sexta-feira, faça isso agora, pois ela conseguiu de novo. O segundo ato de uma trilogia iniciada há dois anos, é um disco ainda mais complexo e cheio de camadas que o primeiro volume, Renaissance, e a quantidade de referências, citações, vinhetas, vocais maravilhosos e sentimentos suscitados ergue seu trono ainda mais rumo ao topo do pop desta década – e deste século. É uma obra que mantém o sarrafo altíssimo durante toda sua duração, seja na inacreditável e fidedigna versão para “Blackbird” dos Beatles às aparições de Willie Nelson, Linda Martell, Chuck Berry e Dolly Parton, passando pela montanha russa de emoções de faixas épicas como “Ya Ya” (citando Beach Boys e Nancy Sinatra), a sequência “Riiverdance”/”II Hands II Heaven”/”Tyrant” e “Sweet ★ Honey ★ Buckin'”, os duetos de chorar ao lado de Miley Cyrus (“II Most Wanted”) e Post Malone (“Levii’s Jeans”), as irresistíveis “Bodyguard” (meu hit até agora, que entrou no meu set desde os primeiros segundos), “Spaghettii” e “Just for Fun” e sua versão maravilhosa do hino “Jolene”. Com seu olhar implacável, ar de rádio em seus melhores momentos e sentimentos à flor da pele, ela estabelece um parâmetro não apenas para 2024 quanto para o resto dos anos 20, cobrando artistas de todos os gêneros a desafios tanto artísticos quanto comerciais mais ousados. Disco do ano em pleno março, Cowboy Carter é nota 10 e é pouco provável que algum artista chegue perto – e olha que estou me referindo a um ano que, esperamos, ainda veremos discos de Dua Lipa, Taylor Swift, Rihanna, Charlie XCX, Lorde e Billie Eillish, o que não é pouca coisa. E, como ela mesma disse, não é um disco country, é um disco dela.
Agora o sextou subiu alguns degraus quando nosso efervescente Inferninho Trabalho Sujo deixa as quintas-feiras para atingir um novo patamar ao abrir o fim de semana. E a primeira festa no novo dia não podia ser mais ilustre, pois marca o retorno aos palcos de Rafael Castro, o senhor Picles ele mesmo, lançando seu vigésimo disco, Vaidosos Demais. A noite ainda tem mais uma apresentação da vocalista das bandas Pelados e Fernê, Manuela Julian, aos poucos moldando sua carreira solo e, claro, depois da meia-noite, eu e Fran incendiamos a madrugada com hits pra não deixar ninguém parado – inclusive músicas do disco novo da Beyoncé, claro! Vamos nessa? O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, e a noite vai ser booooa…
Na quarta aula do curso que eu e Pérola estamos ministrando no Sesc Avenida Paulista, Bibliografia da Música Brasileira, avançamos no tempo rumo aos anos 60 e 70 para dissecar a sigla MPB a partir de obras de Zuza Homem de Mello, Nelson Motta, Santuza Cambraia Naves e Ana Maria Bahiana que estabeleceram que aquela segunda geração de bossa novistas seria o futuro da música brasileira (a partir de uma sigla criada inspirada numa expressão forjada no título de um livro de Oneyda Alvarenga e adotada pela referência ao partido de oposição da ditadura militar). Na próxima quinta-feira chegaremos ao fim do século 20 com a ascensão do rock brasileiro dos anos 80, a invenção do pagode, a história da axé music, a popularização do sertanejo e os primeiros passos do rap e do funk no Brasil.
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