Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Depois de tornar-se a pessoa mais jovem a ganhar dois prêmios no Oscar (pelas canções “No Time to Die” do filme de James Bond, 007 – Sem Tempo para Morrer e “What Was I Made For?”, que ela fez para o filme Barbie), Billie Eilish parece estar contando os dias para lançar seu terceiro álbum – e como no lançamento do disco anterior, está usando suas redes sociais para chamar atenção dos fãs. Primeiro ela pintou de azul seu avatar no Instagram e nessa sexta-feira pegou a todos de surpresa ao incluir seus 110 milhões de fãs no círculo “closed friends” reservado apenas para seus melhores amigos – causando surpresa a todos os fãs que viram o ícone de sua conta aparecendo com um círculo verde na sua linha de stories, como se você pudesse estar dentro dos poucos que seguem a cantora mais de perto.
A estratégia deu certo e em 24 horas ela ganhou seis milhões de novos fãs, que começaram a receber mensagens cifradas indicando possíveis novidades a caminho, desde uma nova tatuagem da cantora em seu quadril quanto a trecho de uma música que ela só tocou em shows antes do sucesso mundial, que os fãs mais antigos conhecem como “True Blue”. Agora uma série de outdoors começam a aparecer em Los Angeles, Nova York, Sydney e Londres trazendo frases, como “I try to live in black and white but I’m so blue”, para as ruas dessas cidades, e provocando curiosidade nos fãs que esperam ansiosos pelo novo disco.
Essa mesma frase surgiu em outro stories, que ela publicou neste sábado, cantando a letra em si, veja abaixo:
Morreu, dormindo na tarde deste sábado, um dos maiores. Ziraldo era mais do que o pai do Menino Maluquinho, best-seller que lançou depois de sua fase áurea como cartunista e quadrinista e selou sua reputação como um dos maiores nomes do traço no Brasil, mas foi um dos principais artistas da contracultura brasileira e incansável defensor das causas sociais. Além de fundador e diretor do Pasquim, jornal de oposição à ditadura militar em plenos anos 70 (o que o levou à prisão por três vezes), o mineiro também foi autor da primeira história em quadrinhos feita por um único autor no Brasil, a eterna Turma do Pererê, lançada em 1960, que foi proibida de circular com o golpe de 64, devido à reputação de seu autor, declaradamente comunista. Seu traço personalíssimo e sua assinatura emblemática eram a tradução gráfica de uma personalidade intensa e implacável, de gênio esquentado e frases fortes, que moldou parte da personalidade brasileira em seus cartuns, nas histórias de seus personagens como a Supermãe, o Mineirinho e Jeremias O Bom e livros infantis imortais como Flicts, O Planeta Lilás, O Bichinho da Maçã, O Menino Marrom, A Fábula das Três Cores, além do já citado Maluquinho, que deu origem a outros livros, filmes e séries, sendo um dos livros brasileiros de maior número de reedições na história. Também é autor dos cartazes clássicos de dois filmes de Ruy Guerra, Os Cafajestes e Os Fuzis, e fez mascotes para os principais times de futebol brasileiros, além de ter incentivado a busca pela identidade nacional brasileira quando foi diretor da Funarte, nos anos 80 (fazendo-o ser rotulado como defensor da “cultura da broa de milho”). Sua influência mexeu até em nosso idioma ao livrar palavrões proibidos pela censura militar, mesmo como interjeições, em expressões reduzidas usadas até hoje (“pô” em vez de “porra”, “ih cacilda” em vez de “ih caralho”, “duca” em vez de “do caralho”, “é ford” em vez de “é foda”) e até pariu uma palavra ao reduzir o termo indicação para apenas “dica”. A importância de sua obra para nossa cultura é gigantesca. Só nos resta louvá-lo.
Híbrido de peça e apresentação musical, o espetáculo Pega, Mata e Come: 60 anos de Opinião, que foi exibido em duas sessões neste fim de semana no Sesc Vila Mariana, foi concebido por Paulo Tó ao lado do Instituto Augusto Boal antes mesmo do período pandêmico, que acabou por adiar sua existência. Retomada dentro da programação Territórios do Lembrar que aquela unidade do Sesc está fazendo para que não esqueçamos da tragédia política e cultural que foi o golpe empresarial-militar de 1964, a peça musical aproveitou a infame efeméride para realçar a importância de um espetáculo que hoje é lembrado mais como o palco para os primeiros passos das carreiras de Nara Leão e Maria Bethania do que como o que realmente foi: a primeira obra artística a se revoltar contra o revolução de araque que as forças armadas e parte do empresariado brasileiro deu contra a democracia brasileira sob o pretexto de “interromper o avanço comunista”, mentira repetida até hoje por seus agentes até para justificar crises políticas do país neste século. Montado pelo herói do teatro brasileiro Augusto Boal, Opinião foi revisitado por seu filho Julian Boal e a dramaturga Mariana Mayor, companheira de Tó, que assina a direção musical do espetáculo, dirigido por Jé Oliveira. À frente da apresentação, Xis, Ellen Oléria, Xeina Barros, Alessandra Leão e o próprio Tó, apresentavam-se como os integrantes da montagem original, assumindo personalidades que ajudavam o público entender o contexto da época ao mesmo tempo em que desfilaram tanto as canções do espetáculo original (“Peba na pimenta” de Dominguinhos, “Guantanamera” que foi cantada pela viúva de Boal, Cecília Boal, “Borandá” de Edu Lobo e, claro, a faixa de Zé Kéti que batizou o espetáculo original e a de João do Valle que trouxe o verso que batiza esse novo espetáculo) quanto músicas contemporâneas que conversam com a alma do espetáculo, como “História Para Ninar Gente Grande” (samba-enredo da Mangueira em 2019), “Lama” (de Douglas Germano), “Zumbi” (de Jorge Ben) e “Obá Iná” (do Metá Metá), além de músicas dos próprios intérpretes: Tó (contemplado em “Samba do Perdoa” e “De Cara no Asfalto”), Ellen (que trouxe “Testando” e sua versão para “Miss Celie’s Blues”), Xis (“De Esquina” e “Us Mano e As Mina”) e Alessandra (com “Exu Chega”, “Atirei” e sua versão para “Xangô”). Na banda que acompanhou o grupo de perto, um grupo pesado formado por Marcelo Cabral, Thiago Sonho, Lua Bernardo e Rodrigo Caçapa. Pena só terem rolado duas apresentações, temporada curta para uma apresentação deste porte ganhar corpo e lacear entre os intérpretes. Vamos torcer para outras edições pintarem em outras unidades do Sesc.
Há alguns anos, se ouvíssemos falar que o rapper Andre 3000, metade do Outkast, participaria de um disco do saxofonista Kamasi Washington, a notícia seria recebida com a mesma medida de empolgação e estranhamento – o primeiro pela volta do MC à música, algo que não acontecia há muito tempo, a segunda pela conexão com um artista denso e bem menos pop. Mas desde o período pandêmico, ele voltou a dar sinais de vida, primeiro num single com Kanye West (“Life of the Party”) em 2021 e depois com outro (“Scientists & Engineers”) ao lado de Killer Mike, Future e Eryn Allen Kane no ano passado. Foi o mesmo ano em que deu sua maior guinada artística ao lançar o soberbo e abstrato New Blue Sun, disco instrumental composto ao redor de sua nova obsessão por flautas, jazz e música ambient. Neste sentido, a colaboração que Kamasi acaba de revelar com o amigo (o instrumental de lenta combustão “Dream State”, que faz parte do seu próximo disco, Fearless Movement) provoca reações menos adversas e igualmente admiradas, mostrando que o encontro ao mesmo tempo em que aproxima duas personalidades únicas da música norte-americana atualmente, mostra que a fase flautas de 3000, mesmo que seja só uma fase, não é o trabalho de um único disco.
O primeiro show do ano dos Pelados, minha banda indie brasileira favorita, aconteceu nesta quinta-feira no Fffront e a sensação de ver um grupo de amigos afiados tanto musicalmente quanto em termos de empatia num ambiente minúsculo repleto de fãs é dessas energias que me ajudam a seguir a longa estrada da vida. Focando todo seu repertório nas músicas de seu segundo disco, o excelente Foi Mal, o quinteto paulistano fez a laje do clube da Vila Madalena sacudir em músicas tortas e retas, entre baladas e faixas pra dançar, todas cantadas pelo público em êxtase por estar compartilhando da sensação que descrevi no início. O show, como sempre, chega ao auge quando eles cantam o hino composto para essa situação, a épica “Yo La Tengo na Casa do Mancha” que fez todo mundo gritar o refrão, que pede justamente pra gritar e ser gritado. Showzão!
Na primeira aula do segundo mês do curso Bibliografia da Música Brasileira, que estamos ministrando no Sesc Avenida Paulista, eu e Pérola encerramos o século 20 ao falar sobre como o sucesso do rock brasileiro dos anos 80 ajudou a pavimentar a sensação de mudança que aconteceu no fim da ditadura militar e como este mesmo período viu o aquecimento do mercado editorial sobre música tanto com a publicação de revistas quanto com a série de Songbooks lançados por Almir Chediak. A partir desta década, o Brasil começa a experimentar músicas que fizeram sucesso nacional que não pertenciam apenas ao eixo Rio-São Paulo, abrangendo tanto a música sertaneja, a música da Bahia, rotulada como axé music e a música do norte do país, enquanto o rap, o funk e o pagode conectavam culturas periféricas do Brasil inteiro boa parte destes movimentos já registrados em livros,, algo que foi potencializado com a chegada da internet, que é o assunto da nossa aula da próxima semana.
#bibliografiadamusicabrasileira #sescavenidapaulista
Embora percebido como um rapper ou MC por usar o canto falado, sempre vi Edgar mais como um artista da palavra do que propriamente fruto da cultura hip hop, embora ela esteja presente em sua obra. Isso torna-se finalmente evidente com o single de seu novo trabalho, que estreia nesta sexta-feira e que ele antecipa o clipe em primeira mão para o #trabalhosujo (assista à íntegra lá no site). O artista de Guarulhos fala que “Original de Quebrada”, feito em parceria com o produtor Nelson D., tem uma sensação de volta às raízes. “Esse disco representa para mim um ponto de chegada e ao mesmo tempo um ponto de partida, é como reconectar os dois como um ouroboros, quando a cobra morde o próprio rabo, sabe?”, explica o poeta. “Ele também é um marco, checkpoint na contemporaneidade do meu trabalho, que foi acusado várias vezes de ser distópico, futurista, mas acho que nesse disco o calendário tá ajustado e ele é totalmente do presente. E também um pouco do passado, porque tem bastante memórias e andar pelas vielas da favela é foda”, lembra Edgar, que voltou a morar na favela no período da pandemia. O novo disco, ainda sem data de lançamento, é marcado pelas colaborações com outros produtores: além de Nelson D., ele também trabalhou com os paulistanos Nakata e Kazvmba, os cariocas d’Os Fita, o francês Dang e o inglês Jammz.
Bem bonita a apresentação que Nina Maia fez no Bona nesta quarta-feira, para celebrar o lançamento de seu novo single, “Amargo”, que chegou ao público nesta quinta. Apresentando o mesmo espetáculo Inteira que mostrou há dois meses no Centro da Terra, ela dividiu sua apresentação em duas partes. Na primeira, cantando sozinha acompanhada apenas de bases pré-gravadas, ela soltou a voz em canções densas e complexas, deixando o lado mais intenso e palatável para quando trouxe os músicos que convidou ao palco – e desta vez, além de Valentim Frateschi no baixo e Thalin na bateria (além dela mesma no teclado), ela contou com o violinista Thales Hashiguti, que deu uma nova dimensão à apresentação. Segura de si e de suas próprias (novas) canções, ela não teve dificuldades em deslizar nas bases instrumentais e mostrar a força de sua voz grave e seu domínio cênico cada vez mais firme.
Morreu nesta terça-feira o poeta e ativista John Sinclair, que além de promover o antirracismo e a legalização da maconha no auge dos anos 60, também foi empresário do grupo MC5 e homenageado por John Lennon numa música batizada com seu nome.
(Foto: Leon Rehman/divulgação)
Burilando seu primeiro disco desde o ano passado, a cantora e compositora Nina Maia dá mais um passo nessa jornada ao lançar o single “Amargo” nesta quinta-feira, antecipando o clipe com as imagens que fez quando estive em Majorca, na Espanha, onde a música foi gravada, em primeira mão para o Trabalho Sujo. A faixa consagra sua parceria com a amiga e violoncelista Francisca Barreto ao mesmo tempo que aponta os rumos para este primeiro disco, que será produzido ao lado de Yann Dardenne. “‘Amargo’ reafirma minha faceta de compositora, em que trato da possibilidade de criar uma canção que orbite em volta de um sentimento específico, uma sensação específica, e fazer isso seja, de alguma forma, direta e ao mesmo tempo aberta à interpretação”, me explicou Nina num áudio, “nesse sentido ela é muito próxima desse lugar de investigação sobre mim mesma e de todas essas situações e sentimentos que vão aparecendo na vida. Ela é um pouco o pé no chão, uma base minha que existe, a da canção.” Ela apresenta-se nesta quarta-feira, no Bona, quando mostra mais músicas deste futuro trabalho (mais informações aqui).