Minha coluna no Caderno 2 desse domingo foi sobre o debate que participei na quinta passada.
Mudança inevitável
Crítica musical e internet
Na quinta-feira da semana passada, participei do 3.º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, evento que ocorreu no Sesc Vila Mariana e trouxe nomes como o cineasta alemão Werner Herzog, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, a ensaísta norte-americana Camille Paglia e o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez. Estive em uma mesa cujo tema era A Produção Musical Contemporânea e a Crítica Especializada e, comigo, participavam os jornalistas Pablo Miyazawa, editor da versão brasileira da revista Rolling Stone, e Marcus Preto, do jornal Folha de S. Paulo, e o músico Zeca Baleiro.
Muitos podem estranhar a presença de um editor de um caderno de tecnologia – que é o que faço, caso alguém não saiba (edito o Link, publicado todas as segundas-feiras neste jornal) – em uma mesa que se propunha a discutir produção cultural e crítica musical, mas bastou o papo começar para perceber que não dá para dissociar o que está acontecendo tanto em termos de criação quanto de avaliação – artistas e críticos estão sendo igualmente afetados pelo impacto que as mídias digitais (não só a internet, mas principalmente ela) vêm causando em suas atividades.
Pablo falou da dificuldade em falar de lançamentos de discos numa época em que estes aparecem primeiro na internet e depois nas lojas – antes, até mesmo, de chegar aos jornalistas, que, em outros tempos, recebiam os álbuns previamente para que pudessem publicar suas matérias simultaneamente ao lançamento comercial. Zeca Baleiro concordou e disse que a melhor crítica musical feita no Brasil atualmente – e a pior – vem acontecendo longe dos jornais e sim em blogs.
Citei que tive a felicidade – ou melhor, a sorte – de cobrir música na época em que o Napster apareceu, em 1999. O primeiro programa de trocas de MP3 revolucionou a forma como consumimos música até hoje e em menos de um ano depois de seu lançamento, seus criadores já sentavam em bancos de tribunais sendo acusados de ter facilitado a pirataria.
E ao mesmo tempo em que os autores do software eram processados, o Radiohead lançava seu quarto CD, que vinha sendo aguardado devido ao sucesso de seu antecessor, OK Computer. Só que, pela primeira vez na história, aconteceu um fenômeno novo: o disco apareceu na internet meses antes de ter sido lançado comercialmente. Sem refletir, a indústria cravou que o disco seria um fracasso de vendas, pois muitos dos fãs que comprariam o disco já o teriam em casa, em seus computadores, de graça. Para piorar, Kid A, o disco que havia vazado, era experimental e hermético. Mas a indústria errou – e o álbum foi um dos mais vendidos daquele ano, mesmo tendo aparecido gratuitamente antes de ser lançado.
As mudanças que vêm sendo impostas pela digitalização quase sempre são recebidas com ceticismo ou temor, sem que se pense em como os ouvintes – agentes culturais sem nome, mas tão importantes quanto a indústria, a crítica e o artista – vão recebê-las. Por isso, me sinto felizardo por ter começado a cobrir tecnologia a partir de mudanças que ocorreram na área cultural. E, assim, posso participar de uma mesa sobre crítica musical, mesmo que não exerça essa função.
Lá vou eu falar sobre crítica musical num evento cheio de atrações internacionais,. produzido pela revista Cult no Sesc Vila Mariana: Herzog, Zizek, Gutierrez, Paglia e um monte de outros bambas, a maioria brasileiros. Me chamaram de “escritor” na programação, mas creio que queriam dizer “jornalista”. Tudo bem, é tudo texto:
11h30 – A produção musical contemporânea e a crítica especializada
Alexandre Matias (escritor e editor do caderno Link, do jornal O Estado de São Paulo), Pablo Miyazawa (diretor de redação da revista Rolling Stone) e Zeca Baleiro (músico)
Mediação: Marcus Preto (crítico de música da Folha de São Paulo)
Depois, às 14h, entro ao vivo no Estúdio Aberto, produzido pelo Sesc durante o evento, e converso com Lorena Calábria, Carlos Vogt e o Ricardo Calil sobre alguns dos temas discutidos durante a semana.
O Sesc foi sagaz e já subiu online a íntegra (quase duas horas!) da mesa que participei ontem no 3º Congresso Internacional de Jornalismo Cultural, realizado pela revista Cult, em que conversei sobre o papel da crítica musical nos dias de hoje, ao lado do Marcus Preto, do Pablo Miyazawa e do Zeca Baleiro. Põe o fone, aperta o play e deixa o papo rolar. Vale inclusive passear pelo canal do YouTube deles, que tem todas as íntegras das mesas do evento. Muito bom.
Você lembra? Havia quase uma inocência (além dos clichês idiotas convencionais ao telejornalismo) na internet daqueles dias… E isso não tem nem 10 anos.
Demorei para falar do show do Franz e também segurei pra linkar essa entrevista que a banda deu para o Pablo sobre música digital:
A distribuição de música ilegal pela internet atinge vocês?
Alex Kapranos – Isso chegou a um ponto em que as pessoas presumem que a música é gratuita. Acho que essa atitude não é tão fácil de se alterar.
Nick McCarthy – Quando você pensa em ouvir alguma banda, a primeira coisa que te vem à mente é o torrent.
Kapranos – A Lily Allen foi destruída pela imprensa por dizer que as bandas mais novas sofrem mais com isso. Pode até haver hipocrisia no que ela falou, mas não é muita. É uma observação razoável: as pessoas estão consumindo algo pelo qual não pagaram. Muita gente tem reações ambivalentes nesse assunto, mas existe mais hipocrisia em quem ataca a Lily Allen do que nela. E não estou falando da pessoa média, que só baixa as músicas. Estou falando das pessoas que disponibilizam esse material. Elas tentam espalhar essa idéia de um mundo socialista, mas eu poderia apostar que elas vivem felizes dentro das vantagens que o capitalismo traz a elas. O debate sobre direito intelectual é muito amplo. Não acho que existe uma solução simples e direta. Não é tão fácil quanto ser dono de uma loja de doces e dizer: “estes doces são meus, se você roubá-los eu vou chamar a polícia”. É uma situação muito interessante. Tudo está mudando.Vocês enxergam uma solução?
McCarthy – Eu não vejo.
Kapranos – Você vê uma solução?Muita gente diz que a respostas é investir em outras áreas, como os shows e o merchandising. Tanto que as gravadoras têm feito novos contratos, que incluem participação nesse tipo de coisa. E também há a venda de músicas pelos jogos de videogame.
Kapranos – É verdade, tudo isso está mesmo acontecendo. Mas ainda assim não vejo uma resposta definitiva. Acho meio triste essa conversa de que os músicos só ganham dinheiro com apresentações ao vivo, porque essa situação exclui os artistas que só trabalham em estúdio. Isso vai ser muito ruim para os produtores e pode implicar na queda da qualidade de gravação. Você precisa, sim, de investimento financeiro para fazer um disco como, sei lá, o Pet Sounds. Você precisa poder pagar os músicos, os engenheiros de som. Se isso tudo acabar, vai ser muito triste. Tudo o que vai existir será gravado em um quarto, em um laptop. E, claro, ótimas idéias são realizadas dessa forma, mas vai ser triste ver o outro lado desaparecer.Vocês não gostam de fazer coisas por puro entretenimento? Tipo jogar videogames?
Kapranos – Eu não gosto de games por um motivo simples: não sou muito bom neles. Não gosto de fazer coisas nas quais não sou muito bom.
Paul Thomson – É difícil chegar ao fim dos jogos! Quase nunca dá.
Bob Hardy – Acho que o objetivo nem é esse, chegar ao fim. É só algo para ocupar o tempo. Matar tempo mesmo. Por exemplo, se você vai de Sidney para Glasgow e tem um jogo desses, o tempo passa voando. Pode ser o game mais simples de todos, não importa. Não precisa nem exigir muito de você. Tem esse debate de que os jogos musicais estão matando a música, e não acho que isso seja verdade. Os moleques não estão tocando instrumentos, são umas merdas feitas de plástico! Por outro lado, muita gente nos escreve dizendo que começou a tocar um instrumento de verdade depois de jogar um game desses.
Thomson – Eu acho esses jogos ridículos! Mas só digo isso porque não os jogo.Muita gente provavelmente chegou à música de vocês porque “Take Me Out” está no primeiro Guitar Hero.
Bob Hardy – Eu já joguei. Você vai alternando entre a linha de baixo e a de guitarra, depois pula para a melodia. Chegou uma hora que pensei: “Não, não consigo”.
Kapranos – Como compositor, acho que é uma visão fascinante sobre o modo como as pessoas que não tocam e escrevem vêem a música. As pessoas começam a notar a melodia, o baixo, a bateria. Isso me ajuda na hora de escrever, de vez em quando é bom ficar no básico e evitar as coisas espertinhas que o seu lado artístico te obriga a fazer. Você pensa: “Ok, qual é a parte boa disto aqui?”. E se você não encontrar essa parte boa, então a sua música provavelmente não é tão boa assim.
Foto: Pink Lemonade <3
1) Feliz natal, Luciano e Bia (comercial de agência de publicidade)
2) Feliz natal, Babee e Danilo (top 45 discos de 2008)
3) Feliz natal, Flávia (Madonna no Brasil), Hec (projeto novo de HQ) e povo da Goma (especial Roberto Carlos especial de natal)
4) Feliz natal, Nogueira (RIAA não vai mais processar as pessoas por download ilegal)
5) Feliz natal, Fab e Mutli (um bate papo com Rogério Flausino)
6) Feliz natal, Pablo (quais os melhores games de 2008?)
7) Feliz natal, Nana Neri (Dezembrite)
8) Feliz natal, Bernardo e Bruno (Sobremúsica no Multishow)
9) Feliz natal, Luciano (novidades sobre o Vanguart e Ronei Jorge)
10) Feliz natal, Cardoso (a diferença entre um gênio e um pulha)