
Morreu um dos últimos titãs da fase de ouro do jazz e o músico que mostrou que a bateria é muito mais que um instrumento de percussão.

Depois de convidar Seu Jorge e Roberto Carlos para as apresentações de retorno a São Paulo no fim de semana passado, nosso mestre Gilberto Gil subiu o sarrafo mais uma vez ao trazer pelo menos dois convidados por show no retorno de sua turnê Tempo Rei ao Rio de Janeiro. No sábado, ele chamou Iza para dividir “Não Chores Mais”, sua versão para “No Woman No Cry” de Bob Marley, e encerrou o show convidando Zeca Pagodinho pra fazer “Aquele Abraço” com ele. No domingo, ele foi ainda mais ousado: primeiro trouxe o Paralamas do Sucesso inteiro para cantar “A Novidade” com ele, depois chamou sua neta Flor Gil pela segunda vez para o palco da turnê, desta vez para cantar “Estrela” (na primeira vez, em São Paulo, ela cantou “Refazenda”) e pegou todo mundo de surpresa quando convocou ninguém menos que Jorge Ben para o palco em sua “Filhos de Ghandi”, música que não estava no repertório da turnê e sim no clássico disco que os dois gravaram juntos há 50 anos, o soberbo Gil & Jorge: Ogum, Xangô. As próximas datas da turnê acontecem em Fortaleza (dias 15 e 16 de novembro), Recife (22, 23 e 28) e Salvador (dia 20 de dezembro) – isso se ele não inventar de marcar datas pro ano que vem.
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O tal festival No Line Up, que uma cerveja bancou neste sábado de graça para 2500 pessoas em São Paulo poderia ter sido bem melhor se não tivesse sido feito tão às pressas. E por mais que tenha dado palco para shows memoráveis, era uma espécie de ornitorrinco, um mamífero que bota ovos, que é tão estranho quanto simpático, mas está longe de ter a exuberância que poderia ter. Tudo bem não querer revelar o elenco, mas então por que espalhar dicas sobre os artistas pouco antes de um evento que já teve problemas para distribuir os ingressos? Essa indecisão também estava presente durante o festival, que poderia ter avisado sobre os horários dos shows à entrada, mesmo sem revelar os artistas, preparando o público para as trocas de palco. O público no geral parecia ser de convidados da marca e em quase todos os shows pessoas desinteressadas na música conversavam sem parar – o que foi péssimo para as atrações do palco principal (foi triste ver a indiferença do público ao TV on the Radio, por exemplo) à exceção da deslumbrante Chaka Khan, que hipnotizou a todos e valeria o evento por si só. Esse desinteresse do público pelos shows funcionou sem querer para as atrações do pequeno palco Noise, que era tão escondido que poucos sabiam onde era, tornando-o refúgio para quem estava interessado em música, recebendo shows sensacionais do Metá Metá, do Negro Leo e o absurdo show do Thalin, que montou uma senhora banda para fazer um dos melhores shows da noite. O palco intermediário sofreu com o som, que só se salvava quando se chegava mais perto do palco. A duração extensa prejudicou a possibilidade de mais gente assistir ao Don L (que foi muito cedo) ou ao DJ set da Arca (no fim de tudo) e Mano Brown deveria ter ido para o palco principal no lugar da insuportável Tierra Whack. Mas dada as condições, o festival foi melhor do que o desastre que poderia ser e com um planejamento menos improvisado (que tal menos artistas pra mais público tocando em menos tempo?) poderia fazer bonito mesmo. Pelo menos a maioria dos artistas escolhidos seguraram bem a noite, o que é ponto para a curadoria. Tomara que tenha outro ano que vem.
#nolineupfestival2025 #trabalhosujo2025shows 233 a 239

O evento de comemoração dos 20 anos da gravadora francesa Because Beaubourg já prometia ao reunir durante dois dias e duas noites eventos relacionados ao elenco do selo nos oito andares do Pompidou Centre, em Paris, neste fim de semana. E entre nomes como 2ManyDJs, Shygirl, Irfane com Breakbot, Mayou Picchu, Christine & The Queens, Laima e Iggor Cavalera, Pascal Comelade, Mariam (que fazia dupla com seu marido recém-falecido Amandou), Sébastian Tellier, ainda anunciava um set em back to back entre o francês Pedro Winter e o inglês de ascendência turca Erol Alkan. O primeiro também é conhecido como Busy P, foi empresário do Daft Punk no início da carreira e fundou a gravadora Ed Banger, que lançou nomes como Justice, Cassius, SebastiAn, Mr. Oizo, DJ Mehdi, entre outros. O segundo é um DJ lendário da virada do século, cujos remixes (que iam dos Chemical Brothers ao Franz Ferdinand, passando pelo Interpol, MGMT, Hot Chip, Yeah Yeah Yeahs, Scissor Sisters, Tame Impala, Metronomy e Depeche Mode) transformavam qualquer hit em ouro puro, surfando na onda dos mashups quando fundiu “Can’t Get You Out of My Head” com “Blue Monday” numa época em que ninguém ousava fazer isso. Já era um encontro de peso, quando, de repente, sem anúncio, primeiro surge o novato Fred Again, ele mesmo um dos melhores DJs do mundo hoje, para se juntar à dupla, para depois receberem ninguém menos que Thomas Bangalter, metade do Daft Punk, que não discotecava desde 2016 (como consegue?) e, como o próprio Fred Again publicou depois em sua conta no Instagram, “me disse que foi naquele prédio que ele se apaixonou por música eletrônica em 1992 e que não discotecava sem máscara há 24 anos”, escreveu o jovem, impressionado. “Eu não soube o que dizer depois que ouvi isso e até agora ainda não sei.” Felizmente podemos ouvir o set de duas horas, que já está online, com direito a Kraftwerk, Gil Scott-Heron, Donna Summer, Ca7riel & Paco Amoroso, Plastikman, Justice com Simian, Skrillex, Missy Elliot, e a faixa-título do novo filme de Paul Thomas Anderson. Saca só aí embaixo, com setlist completo e tudo. Continue

Não bastasse lançar um dos melhores discos do ano (o inacreditavelmente empolgante Phantom Island, lançado na mesma semana em que Brian Wilson morreu quase como uma utopia sonora do que o beach boy original sonhou em seu Pet Sounds) e retirar quase todos seus 27 discos do Spotify, o inominável grupo psicodélico australiano King Gizzard & the Lizard Wizard deu um show nessa sexta-feira, em sua cidade natal australiana Melbourne, em que finalmente começou a colocar em prática uma vontade que tinham há tempos, ao estrear sua apresentação como um set de rave, depois de ficar um tempo sem fazer shows (após suas apresentações gigantescas no próprio festival que fizeram em agosto na Califórnia). Tal formato inclusive foi anunciado quando o grupo marcou as datas de sua turnê pela Europa nos próximos dias, quando alterna apresentações com orquestras (dia 4 agora com a Covent Garden Sinfonia na Inglaterra, dia 5 com a Orchestre Lamoureux na França, dia 7 com a Sinfonia Rotterdam na Holanda e 9 com a Baltic Philharmonic Symphony Orchestra na Polônia) com esta vibe dançante. As dúvidas sobre o teor da apresentação foram sanadas com o show que deram em Melbourne, quando seus seis integrantes tocam dispositivos musicais eletrônicos de diferentes eras e instrumentos acústicos de percussão, uma guitarra ali, um sax acolá, entre músicas inéditas e versões de outras antigas para este formato, além de citações aos Beastie Boys (“Intergalactic” e “Sabotage”) e Limp Bizkit (“Rollin’”) e gritos pela Palestina livre por inacreditáveis duas horas – assista à íntegra abaixo. Com esse formato passam pela Inglaterra (31, 1º e 2), Alemanha (10), República Tcheca (11), Áustria (12), Dinamarca (14) e Suécia (15). Ficou pequeno pra rave do Tame Impala, diz aí… Continue

Dirigido por Carlos Acosta e executado pelo Royal Birmingham Ballet, o espetáculo Black Sabbath Ballet contou com uma participação ilustre ao inaugurar sua segunda temporada nesta quarta-feira, quando o guitarrista fundador da banda que o balé homenageia, Tony Iommi, subiu no palco do teatro Sadler’s Wells, em Londres, na Inglaterra, para tocar o clássico solo de “Paranoid”, a música que encerra o musical. O espetáculo ainda conta com performances de outras músicas do grupo (“Black Sabbath”, “Iron Man”, “War Pigs”, “Solitude”, “Orchid”, “Laguna Sunrise” e “Sabbath Bloody Sabbath”) e contou com Iommi como supervisor musical quando foi concebido originalmente, mas é a primeira vez que o guitarrista sobe ao palco com o corpo de baile.
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Mais um Inferninho Trabalho Sujo quente nesta quinta-feira no Fervo, quando reuni as bandas Nigéria Futebol Clube e Schlop, ambas reincidentes nestes dois anos de festa, para uma noite barulhenta na casa da Água Branca. Quem abriu a noite foi o Nigéria Futebol Clube, cujo show começou com o baterista Raphael “PH” Conceição puxando o público para dentro da casa com sua caixa enquanto o guitarrista Rodrigs e o baixista Eduardo preparando o terreno sonoro com ruídos e marcações de groove que lentamente se transformariam em um set extenso e contínuo, com o grupo misturando improvisos e momentos pré-definidos entre linhas de baixo pós-punk, guitarra ruidosa, bateria pesada e canções-manifesto, cantadas em sua maioria por PH. Um show completamente diferente do que havia feito com eles no Redoma no início desse semestre, mas igualmente elétrico.
Depois foi a vez da Schlop encerrar a noite em uma formação improvisada pois o novo baixista não pode comparecer, restando à guitarrista Lúcia Esteve assumir o instrumento, deixando a vocalista Isabella Fontes como única guitarrista de seu grupo, que ainda conta com Antonio Valoto na bateria e teve a participação especial do saxofonista Rômulo França, que solou durante a já clássica versão que o grupo fez para a balada do LCD Soundsystem sobre Nova York, que em português virou “São Paulo Eu Te Amo, Mas Tá Foda Demais”. Fora alguns deslizes no percurso – como a famigerada corda da guitarra estourando no meio do show -, o Schlop versão trio ainda pode apresentar músicas inéditas, que apontam o rumo do próximo álbum, que começa a se materializar, lentamente.
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Na próxima quinta-feira, dia 23, teremos mais uma edição do @inferninhotrabalhosujo na @ocupacao.fervo, que fica pertinho do Sesc Pompeia. Nessa noite reunimos duas bandas reincidentes na festa, a Schlop e o Nigéria Futebol Clube, num evento que começa às 18h e vai até pouco depois da meia-noite — e como é no Fervo (que fica na R. Carijós, 248), a entrada é gratuita. Vamos nessa?

Nos dias 11 e 12 de dezembro, o Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo, recebe dois encontros memoráveis. O projeto Noites no Memorial recebe, na sexta-feira, dia 11, o paraibano Chico César acompanhado da orquestra de percussão baiana Aguidavi do Jêje, que acaba de passar por São Paulo dentro da programação do Sesc Jazz. No dia seguinte, num sábado, é a vez de dois cariocas recém apresentados – Ana Frango Elétrico e Marcos Valle – encontrarem-se pela primeira vez no palco. Os dois shows terão abertura do cantor e compositor Joaquim. Os ingressos já estão à venda.

Uma viagem sem sair do lugar. Em uma hora cravada de som, Luciano Valério – apresentando-se como MNTH -, Juçara Marçal e Douglas Leal – com o codinome Yantra – levaram o público do Centro da Terra nesta segunda-feira a uma outra dimensão de sensibilidade, trazendo diferentes sentimentos e sensações sem precisar movimentar centímetros no palco. Cada um em seu canto, Juçara com sua voz transcendental e seus apetrechos de luxo, Valério com o synth em camadas de texturas e Douglas trocando flautas e batendo percussão criaram uma longa faixa de hipnose coletiva coberta pelas luzes bruxuleantes que Mau Schramm criava sobre os três, trabalhando tonalidades e sombras enquanto esculpia seu lazer pela lateral do palco a partir da fumaça que lentamente tomava a apresentação, mais uma noite incrível proporcionada pela maturidade do selo Desmonta, que está ocupando as segundas de outubro no teatro. Foi de arrepiar.
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