
A noite era do Planet Hemp, mas o BaianaSystem apavorou na abertura do show A Última Ponta, em que os veteranos rappers do Rio de Janeiro despediram-se dos palcos no sábado passado. Recém-chegado dos Estados Unidos com um Grammy Latino no bolso, o grupo baiano pisou no palco do estádio do Palmeiras como se fosse a atração principal. Num show multimídia com direito a banda completa – incluindo sopros -, o grupo não se intimidou com as dimensões gigantescas da noite e fez um show à altura, casando sua usina de som com imagens e palavras de ordem no telão da noite. E mais impressionante do que a química entre os músicos, sua intimidade com as multidões e o dínamo humano chamado Russo Passapusso (de onde esse cara consegue tirar tanta energia e carisma ao mesmo tempo?) foi a forma como casou imagens com músicas sem precisar enfileirar inúmeros dados ou informações verborrágicas sem deixar o público esquecer que está num show (viu Massive Attack?). Com participações especiais de ouro (BNegão, velho companheiro da banda desde os primórdios, esteve no início do show, que ainda contou com a presença fulminante do sagaz Vandall em “Ballah de Fogoh”), o grupo não teve dificuldades em domInar a plateia fazendo todo mundo chacoalhar sem parar alem de, o tempo todo, saudar a importância do Planet Hemp em sua história, usando o grupo como deixa pra um dos momentos mais bonitos e intensos da noite, quando, no meio de “Lucro (Descomprimido)”, Russo invocou a imortal “Cadê o Isqueiro?” de Mr. Catra convocando todos a erguerem suas tochas – mas não os celulares e sim os isqueiros – fazendo milhares de chamas amarelas surgirem no meio do público em vez das luzes brancas das telas de celular, tão comuns nos shows atualmente – e com elas a névoa branca. Foi o maior e mais intenso show do BaianaSystem que vi – e mostram que eles já estão prontos para uma nova fase. E não tocaram “Playsom”! Só vem!
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“Quando os caminhos se confundem é necessário voltar ao começo”. Com um verso tirado da introdução de sua primeira mixtape Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Cheguei Longe…, Emicida começa a preparar sua volta ao imaginário coletivo brasileiro – e chamou o compadre DJ Nyack para essa nova fase. Zerou seu Instagram deixando apenas fotos antiquíssimas com o DJ (uma de 2011, outra de 2014) antes de anunciar a mixtape Emicida Racional VL3 – As Aventuras de DJ Relíquia e LRX, em que os dois fazem mashups de faixas antigas do Emicida com clássicos dos Racionais MCs, apenas no Soundcloud, no Bandcamp, no YouTube ou pra download no site do Nyack. E assim, com seus respectivos pseudônimos (LRX sendo a sigla para Loco Revolucionário X, usado pelo próprio MC), os dois casam “Boa Esperança” com “Capítulo 4, Versículo 3”, “Levanta e Anda” com “Homem na Estrada”, “Papel, Caneta e Coração” com “Vida Loka pt. 1”, “Ooorra” com “Vida Loka pt. 2” e “Voz Ativa” com “Triunfo” (essa última invertida, com vocais dos Racionais sobre a base do Emicida, a mais fraca das cinco por sinal). É meio truque, mas funciona – algumas das cinco faixas têm sobrevida para além da mera novidade – e coloca Leandro como veterano do rap ao mesmo tempo em que prepara terreno para uma nova fase. Pode vir.
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Muito bom reencontrar os irmãos Cavalera canalizando a energia que, triinta anos atrás, mudou a história da música pesada antes do show do Massive Attack na quinta passada. Muitos questionaram o fato do próprio grupo inglês ter escolhido Max e Iggor Cavalera para abrir sua única apresentação em São Paulo, mas como viu-se no show do Massive Attack logo em seguida, o impacto do volume alto – cossanguíneo do metal dos irmãos mineiros – foi uma das tônicas da noite. Acompanhados de Igor Amadeus (o filho de Max cujo batimento cardíaco ainda no útero abre o disco homenageado no show, o fundamental Chaos A.D., de 1993) no baixo e Travis Stone na guitarra solo, os Cavalera mostraram porque são uma instituição do metal mundial – e, como disse ao início, é bom revê-los juntos fazendo o que sabem melhor: Iggor descendo o braço metronomicamente como um dos maiores bateristas do gênero e Max transbordando carisma gritado, incendiando o público com um vocal absurdamente intacto, em seus clássicos “Refuse/Resist”, “Slave New World”, “Biotech is Godzilla”, “Propaganda”, “Territory” e “Manifest”. Infelizmente o show foi encurtado devido a um atraso da produção, o que nos privou de ouvir a versão do grupo pra “Sympton of the Universe” do Black Sabbath, que eles vêm tocando nesse show, mas ao menos pudemos ouvir “Roots Bloody Roots”, do disco seguinte do grupo, de 1996, pra fechar o repertório no talo.
#chaosad #cavaleraconspiracy #sepultura #maxcavalera #iggorcavalera #trabalhosujo2025shows 260

Luiza Lian e Bixiga 70 retomam a parceria que iniciaram no final da década passada, quando colaboraram num single conjunto que seria o prefácio do disco que a cantora paulistana lançaria no ano seguinte, caso a pandemia não tivesse adiado seu ótimo 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu? por três anos. Os dois artistas voltam a se reencontrar em momentos completamente distintos, mas reconectando-se num show conjunto a partir do single “Alumiô”, que faz parte da programação do aniversário de 120 anos da Pinacoteca de São Paulo. O show acontece neste domingo, às 16h, no Parque da Luz (que, por sua vez, completa 200 anos!), e é de graça! Mais informações aqui.

Às vésperas de completar o aniversário de um ano do lançamento de seu primeiro disco, Muitos Caminhos Prum Lindo Delírio, a banda paulistana Miragem resolveu fazer um evento para consolidar as versões alternativas conduzidas pelo grupo em suas festas particulares, quase sempre conduzidas pela líder da banda, a guitar heroine Camilla Loureiro, assumindo as músicas ao piano. “Tantas vezes vi Camilla desconstruir e reconstruir as canções do disco ao piano, floreando e dramatizando os arranjos conforme ditava o clima e o grau de embriaguez dos presentes ao redor…”, explica Mariana Nogueira, que começou na banda cuidando da parte de audiovisual e entrou para o grupo em alguns shows como tecladista. Ela idealizou a ideia de uma sessão audiovisual de aniversário, que estreia nesta quinta-feira e que o grupo antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo. Serão quatro músicas que compõem Outros Delírios (Fim de Festa): “Ócio”, “Apelo”, “Nada é Urgente” e a faixa-título, escolhida para ser mostrada antes do lançamento. Continue

Confesso ter ido ao show do Primal Scream nessa terça-feira na Áudio sem muita convicção. Fui mais para saudar o senhor Bobby Gillespie e seu conjunto como uma forma de agradecer por ter feito a trilha sonora de vários momentos foda da minha vida – de paixões arrebatadoras a chapações pesadas, pistas frenéticas, acabação rock’n’roll e estradas intermináveis, a gama de estilos musicais e vibes díspares em que o grupo atua sempre abre espaço para todo tipo de curtição da vida, quase sempre de forma intensa. Autores de discos que carregam eras da história da música em canções quase sempre sobre desafios, revelações e jornadas, já vi shows ensurdecedores ou completamente lisérgicos da banda, mas sua última vinda ao Brasil, em 2018, com integrantes a menos e uma certa má vontade no palco, me fez crer que o grupo havia se tornado uma caricatura de si mesmo que só sobrevivia graças aos sucessos do passado. Não poderia estar mais errado. Logo ao ver a banda completa no palco – com vocalistas de apoio, saxofonista e tudo que tinha direito -, percebi que o show recente foi mais um mau momento da banda do que o início da decadência. Com a casa de shows incrivelmente cheia para uma terça-feira, Gillespie e companhia não tiveram dificuldades em conquistar o público, seja saudando a psicodelia, o rock clássico, o country, a música eletrônica, o rock industrial ou a folk music, mesmo com mais de um terço do show tirado do disco mais recente da banda, Come Ahead, que é apenas OK. Mas mesmo com músicas sem tanta personalidade dos clássicos na primeira parte do show, o grupo conseguiu eletrizar o público, esquentando o clima a cada nova música. Bobby estava visivelmente extático, eletrizando o público na marra, enquanto bradava contra a política estrangeira dos Estados Unidos e do Reino Unido, provocava de sacanagem dizendo que a platéia de Buenos Aires estava mais animada ou dedicando uma canção ao presidente Lula. Mas a partir de “Loaded”, com quase dez minutos, o show foi ficando mais tenso e esfuziante, com “Swastika Eyes” descendo feito uma pedrada, “Movin’ On Up” incendiando a pista de dança e “Country Girl” fazendo todo mundo cantar junto. Veio o bis com a lenta “Damage”, a gospel “Come Together” e a autoexplicativa “Rocks” e parecia que o show havia encerrado com chave de ouro. Mas Bobby mesmo puxou a volta da banda para um novo bis, quando escancararam uma versão destruidora de “No Fun” dos Stooges, mostrando que, como vários de seus contemporâneos dos anos 90, eles já são uma banda de rock clássico. E muito obrigado Bobby Gillespie, você ainda é o cara.
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É a segunda vez que Felipe Vaqueiro cutuca sua Saga Diamantina no palco do Centro da Terra. Na primeira vez, em abril do ano passado, essa história, contada ao violão, sobre a vida no garimpo na Chapada Diamantina que também é o projeto de conclusão de curso do compositor baiano no formato audiovisual, foi uma das partes de sua apresentação, que ainda contou com a semente de sua dupla com Sophia Chablau (que deu no ótimo disco Handycam, que os dois lançaram esse ano) e várias outras canções próprias. Dessa vez ele resolveu transformar essa parte no todo, contando com projeções que contavam a história que estava expondo, e, novamente, a participação do percussionista de sua banda Tangolo Mangos – Bruno “Neca” Fechine – como único parceiro instrumentista no palco. Entre canções épicas de natureza sertaneja e histórias contadas que seguia passando em frente como música, ele mostrou que esse trabalho já tem corpo para tornar-se algo autoral em breve, possivelmente um álbum-visual de sua banda. Mas além dessas, ele ainda arriscou canções de outras cepas, como a versão que fez para o hit viral “Young Girl A”, do japonês Siinamota, uma música instrumental de Vítor Araújo que ele colocou letra e “Campo Minado”, do disco com Sophia, que também estava presente, mas dessa vez apenas na plateia. E ele já mandou a letra que quer fazer um show só tocando outros compositores. Vamos falar sobre isso aí…
#felipevaqueironocentrodaterra #felipevaqueiro #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 257

Enorme satisfação de receber nesta terça-feira, no Centro da Terra, mais uma apresentação solo do baiano Felipe Vaqueiro, que desta vez mostra seus Ensaios Diamantinos acompanhado apenas de seu violão. O espetáculo é um mergulho no universo do garimpo da Chapada Diamantina a partir do ponto de vista do ex-garimpeiro Leôncio Pereira, e é o piloto da Saga Diamantina, álbum visual que Vaqueiro irá apresentar com seu grupo Tangolo Mangos, com as conversas com Leôncio funcionando como fio da meada de canções criadas por Felipe. A apresentação também contará com imagens que serão projetadas por Gabriela Cobas. O espetáculo começa pontualmente sempre às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.
#felipevaqueironocentrodaterra #felipevaqueiro #centrodaterra #centrodaterra2025

A sensação indie Clara Bicho vai encerrando um bom 2025 já pensando nos planos pra 2026, mas antes lança mais uma música nova, que vem acompanhada de seu primeiro clipe, que antecipa em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “Confesso que no início fiquei meio perdida porque nunca tinha gravado nada desse tipo, mas a Mariana Barbosa e a equipe da produtora Slimbi foram muito prestativos e me ajudaram a me entender na gravação”, diz a it girl mineira, que surge no clipe fazendo o papel de si mesma dando uma entrevista ao programa que batiza a nova música, “Telejornal Animal”. Assim ela reforça a ideia no título de seu primeiro EP, Cores na TV, da televisão como uma mídia retrô, ultrapassada e, por isso mesmo, digna de ser revisitada. Foi um jeito que ela encontrou de ampliar também seu universo imaginário, essa psicodelia light via Hanna-Barbera que vem estampada em suas ilustrações: “Parece que, nesse clipe, eu tinha entrado na minha cabeça, com meus personagens, cores e cenários vivos”, explica.
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Além de falar sobre os shows do Stereolab e do Yo La Tengo também fiz um balanço sobre esta edição do Balaclava Festival em mais uma colaboração para o Toca UOL, quando aproveitei para reforçar que a produtora por trás do evento vive seus melhores dias e está no epicentro do indie brasileiro, seguindo uma tradição que remonta tanto aos primeiros shows de rock alternativo em grandes festivais como Hollywood Rock e Free Jazz quanto às primeiras vindas de artistas internacionais independentes para o Brasil por culpa da Motor Music, ainda nos anos 90. Continue