Há um tempo Letícia Novaes, a senhora Letrux, vem me falando de uma banda catarinense que ela descobriu chamada Nouvella, que conheceu a partir do contato com sua vocalista, Yasmin Zoran. “Conheci Yasmin na pandemia, ela me mandou DM falando da banda e, com aquele tempo elástico fantástico, realmente consegui ouvir tudo e pirei”, ela me conta por email. “Pirei. Achei rock. Achei eu. Achei tudo”, ri daquele jeito que a gente conhece. Yasmin completa, falando do seu lado: “Quem me apresentou a Letrux foi o Gabriel (Viegas), guitarrista da Nouvella, lá por 2020 e eu fiquei chocada, como assim eu não conhecia essa mulher antes? Comecei a mandar DM pra ela, falar que tinha uma banda e dali começamos a trocar bastante, foi nascendo uma amizade”, lembra a vocalista. “Temos muitas coisas em comum na forma de pensar, nos movimentar, performar no palco desde antes de nos conhecermos, é até um pouco impressionante. Ela é uma pessoa que me inspira não só na música, é uma pessoa incrível, humilde, linda. Sinto que ela realmente nos enxergou e dali veio essa parceria.” Desde então a amizade virtual virou parceria de palco, com Letícia participando de dois shows da Nouvella e Yasmin participando de um dos shows da Letrux – e a colaboração musical tornou-se inevitável. “Depois de um ensaio que fizemos esse ano, rolou um jam session meio histórica, de onde saíram esses duas músicas que viraram singles que vamos lançar”, Letícia refere-se a “Vira Essa Boca Pra Cá” e “Dropar teu Nome”, compacto duplo que chega às plataformas nesta sexta-feira e que elas anteciparam em primeira mão para o Trabalho Sujo. “Não lanço singles desde 2021, e nem nada novo autoral desde 23”, continua a vocalista do Letrux. “Sou muito chamada pra feat, mas minha pira mesmo é compor, então esses singles são xodó total pra mim.” As duas se encontram mais uma vez nesta quinta-feira, quando apresentam-se em Florianópolis em um show que já está esgotado e continuam juntas na semana que vem, quando Letícia traz a Nouvella (que ainda conta com Jenks no baixo e Luna na bateria) para tocar no Cineclube Cortina na próxima quarta-feira em São Paulo, onde ela também discoteca, além de participar do show da banda catarinensse, ao exibir os clipes para as duas músicas, que só serão divulgados no decorrer do mês de julho. Na sexta seguinte as duas seguem para o Rio de Janeiro, quando fazem o novo show de Letrux no Circo Voador, com a própria Nouvella abrindo a noite. E a conexão entre as duas é patente e as duas músicas falam por si, confere abaixo: Continue
Tatá Aeroplano volta ao palco do Centro da Terra mais uma vez, mas desta vez em grande estilo, pois irá gravar seu primeiro disco ao vivo, chamado de Alma Purpurina, no teatro, reunindo músicas de diferentes fases de sua carreira e trazendo grande elenco para celebrar esta gravação, que promete ser histórica. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.
#tataaeroplanonocentrodaterra #tataaeroplano #centrodaterra #centrodaterra2025
Sexta-feira surreal com dois trios instrumentais da pesada no palco do Inferninho Trabalho Sujo, que desta vez aconteceu no Picles. A noite começou com o trio Jovita, em que o guitarrista João Faria cria texturas sonoras entre a surf music, a psicodelia clássica e o shoegaze, enquanto o baixista Nicolas “Bigode” Farias cavalga riffs que acompanham a bateria forte de Guilherme Ramalho, mostrando músicas ainda inéditas, citando um discurso do Pepe Mujica antes de uma delas e criando longas trips quase instrumentais (como boa parte do repertório da banda, que ocasionalmente ganha vocais cantarolados sem letra por João), uma delas começando com uma citação ao afrossamba “Iemanjá”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Pesado!
Depois do Jovita foi a vez do trio de Ponta Grossa Hoovaranas mostrar sua força, transformando o Picles em uma zona de saturação de eletricidade e ritmo, hipnotizando todos os presentes com sua sinergia assustadora. Sem usar a voz – a não ser para conversar com o público – o trio é um colosso instrumental em que a guitarra de Rehael Martins (que sola quase o tempo todo) é acompanhada do baixo absurdo de Jorge Bahls (jogando o tempo todo com a microfonia a seu favor, enquanto cria muralhas em forma de linhas de baixo) e da bateria estarrecedora de Eric Santana (quase sempre entre o groove circular do Sonic Youth e os tempos quebrados do free jazz), formando uma unidade sonora que seus integrantes sequer precisam trocar olhares para seguir em sincronia. Uma bordoada sonora que deixou todos os presentes de queixo caído. Depois eu e a Pérola soltamos aqueles hits que derretem a pista, só pra terminar a madrugada num inevitável São João. E o Inferninho desliga suas baterias este mês para voltar apenas em julho, quando comemoramos dois anos da festa numa festa foda que anuncio em breve.
#inferninhotrabalhosujo #hoovaranas #jovita #picles #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 120 e 121
Nessa sexta-feira temos mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo no Picles, quando reunimos duas bandas instrumentais psicodélicas que estão despontando na cena brasileira. Quem abre a noite é o trio da Zona Leste Jovina, que já tocou na festa mas estreia no palco do Picles, seguido pelos festejados Hoovaranas, que vêm de Ponta Grossa para tocar pela primeira vez na festa. Depois dos shows, que começam às 22h, quem segura a noite madrugada adentro sou eu e minha comadre Pérola Mathias, que está se segurando para não transformar a pista do Picles numa quadrilha de São João. E quem garantir o ingresso antecipado e chegar antes das 21h30 não paga pra entrar. Vamos?
Coisa fina essa Sinfonia Orgânica Musical que o músico Marco Nalesso armou no Centro da Terra nessa terça-feira. Ao lado de seus velhos compadres Benedito Rapé (percussão), Marcelo Laguna (teclados), Sergio Ugeda (bateria), Pedro Silva (som e efeitos) e Rodrigo Coelho (trompete), ele amalgamou diferentes facetas de uma musicalidade quase instrumental que passeia pelo jazz rock, pelas músicas caribenha e nordestina, por uma psicodelia mineira, pela moda de viola, pelo reggae e pelo samba, pegando nos quadris e nos corações, às vezes ao mesmo tempo. Boa parte do repertório da noite saiu de seu recém-lançado disco, batizado apenas de Nalesso e que ainda irá sair nas plataformas digitais, mas que ele aproveitou essa apresentação para colocá-lo no mundo em seu próprio Bandcamp. A noite, com uma iluminação quase na penumbra como se nos induzisse a um espaço de vigília, entre o despertar e o sonho, ainda contou com a participação de Lúcio Maia, que soltou sua guitarra lisérgica nas duas últimas canções da noite, rasgando ainda mais o tecido musical do show. Emocionante.
#marconalessonocentrodaterra #marconalesso #centrodaterra #centrodaterra2025 #trabalhosujo2025shows 119
O paraense Se Rasgum comemora duas décadas na ativa como o festival independente mais longevo da região e começa a revelar seu elenco desse ano mostrando que não está pra brincadeira a partir dos primeiros nomes anunciados: o grupo escocês Teenage Fanclub, os paulistanos Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, os candangos Móveis Coloniais de Acaju, a carioca Valesca Popozuda e as Suraras do Tapajós, o primeiro grupo feminino amazônico e indígena de carimbó, que vêm acompanhadas da paraense Lia Sophia. O festival acontece entre os dias 3 a 6 de setembro, no Porto Futuro, e os grupos recém-anunciados tocarão apenas no último dia do evento – que já está vendendo ingressos.
O Planet Hemp acaba de anunciar sua turnê de despedida, quando passam por diversas capitais brasileiras (Salvador, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro) a partir de setembro, culminando com um show no estádio do Palmeiras em São Paulo, dia 15 de novembro. Os ingressos começam a ser vendidos a partir desta quarta-feira, ao meio-dia, neste link (à exceção do show de abertura da turnê, que acontece na Concha Acústica de Salvador, e ainda não tem link pra ingressos). No mesmo dia os ingressos estarão disponíveis nas bilheterias físicas dos locais que receberão os shows. E se o grupo seguir o padrão que vem estabelecendo nessa nova sobrevida pós-pandêmica, é de se esperar algo do nível Parliament-Funkadelic do século 21 em termos de produção e do nível dos shows clássicos dos Racionais MCs em quantidade de convidados. Não é pra menos, afinal de contas, estamos falando de uma das maiores bandas da história da música brasileira. Veja as datas abaixo: Continue
Don L conseguiu de novo e subiu o sarrafo de 2025 ao lançar, sem aviso, seu melhor disco e sério candidato ao título de grande disco do ano. Com o segundo volume de sua série Caro Vapor – tecnicamente seu quarto disco solo -, o MC (“favorito do seu favorito”, como reza seu adágio) se supera novamente e lança mais um disco contundente e… pop. Em Caro Vapor II: Qual a Forma de Pagamento?, ele retoma o disco original, de 2013, à luz do ano que marca o fim do primeiro quarto do século 21, mencionando todos os problemas que atravessam nossas rotinas, a brutalidade das ruas, a ilusão babilônica e a tormenta mental e emocional desvirtuada de cada um nessa idade das trevas pós-pandêmica, tudo filtrado por paixões pautadas pela confusão entre sucesso e fama, influenciadores, reality shows, Trump, bets, likes e algoritmos. Mas em vez de tornar o clima pesado, prefere lembrar que somos brasileiros e sublinha essa tensão com uma leveza que traz pérolas musicais únicas, que além de citar Itamar Assumpção, Milton Nascimento, o disco clássico do Pessoal do Ceará e a primeira música (“Morra Bem, Viva Rápido”) do primeiro volume dessa série, ainda consegue arregimentar um elenco que reúne o melhor do pop brasileiro que está fora do radar do mainstream, como Fernando Catatau, Anelis Assumpção, Thiago França, Luiza Lian, Terra Preta, Alt Niss, Giovani Cidreira, Alice Caymmi, Terra Preta, entre outros, todos conduzidos pela produção de Iuri Rio Branco (que equilibra samples, bases eletrônicas e instrumentos tocados ao vivo com maestria) e do grande Nave (que produz três faixas). Diferente de seu disco mais recente (Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 2, lançado em 2021), Caro Vapor II tem um caráter menos aguerrido, mas não por isso menos revolucionário – o dedo segue no gatilho e a mira segue na cabeça da serpente, mas L desta vez prefere seduzir e fazer dançar do que apontar o dedo na cara. “Se eu não consegui me derrubar, cês não vão” – estamos vendo, Don.
Ouça abaixo: Continue
Aos poucos voltando pro jornalismo industrial, desta vez convocado pelo Toca UOL a escrever sobre o show que Alice Cooper fez neste sábado em São Paulo – e como atesto no final do texto, mais do que pai de toda uma vertente do heavy metal, ele pertence ao cada vez mais seleto grupo de lendas vivas do período clássico. Continue
Quis o destino que o vigésimo sétimo disco do grupo australiano King Gizzard & the Lizard Wizard saísse na mesma semana da morte de Brian Wilson. O disco recém-lançado de um dos principais nomes da psicodelia desse século é uma homenagem consciente ao salto dado pelo líder dos Beach Boys na música pop dos anos 60 ao mesmo tempo em que culmina o trabalho de uma década e meia de um dos grupos mais prolíficos e criteriosos que se tem notícia. Se o intuito do grupo é sempre lançar um disco completamente diferente do anterior, sempre querendo superar-se em termos de qualidade e ousadia musical (o mesmo abismo que quase levou Brian Wilson para longe da gente), em Phantom Island eles chegam ao seu auge. Segundo disco que gravam com uma orquestra, eles fazem Flight b741, lançado no ano passado, parecer um rascunho se comparado ao trunfo que conseguiram neste novo disco. Contando com um maestro pianista que entrou totalmente na frequência da banda como arma secreta (o britânico Chad Kelly, que mora na Austrália desde 2021), eles levam sua obra a um patamar de excelência que converge tanto as melhores viagens do coletivo Elephant Six (do Olivia Tremor Control, Neutral Milk Hotel e Of Montreal), a precisão perfeccionista do Steely Dan em estúdio (outro fruto direto dos esforços de Brian Wilson), as melodias camerísticas do pop de Burt Bacharach, a fase Disney dos Flaming Lips, os delírios megalomaníacos do Grateful Dead e o transe barroco do Mercury Rev na virada do milênio a uma mesma partitura épica, elevando o conceito de rock clássico a um novo parâmetro. Facilmente o melhor e mais palatável disco da banda, ao mesmo tempo em que fortíssimo candidato a melhor disco do ano, Phantom Island é uma obra-prima psicodélica que ainda não foi vista nessa década. Inacreditável. Pare tudo que estiver fazendo e ouça-o agora, pelo amor de Brian Wilson!
Ouça abaixo: Continue