Na próxima quinta-feira, dia 23, teremos mais uma edição do @inferninhotrabalhosujo na @ocupacao.fervo, que fica pertinho do Sesc Pompeia. Nessa noite reunimos duas bandas reincidentes na festa, a Schlop e o Nigéria Futebol Clube, num evento que começa às 18h e vai até pouco depois da meia-noite — e como é no Fervo (que fica na R. Carijós, 248), a entrada é gratuita. Vamos nessa?
A cantora espanhola responsável pelo torpedo musical Motomami aos poucos prepara sua volta ao disco, espalhando pistas pela internet e pela vida real. Desligou sua conta no Twitter, mas antes disso twittou “Lux = Love”. Depois trocou sua foto de perfil no Instagram para uma imagem que mostra um feixe de luz e abriu um formulário em seu site rosalia.com, que também traz um novo logo – além de ter aparecido um vídeo, sem som, que mostra a espanhola no estúdio. Ao mesmo tempo, foram avistados em duas cidades diferentes (Nova York nos EUA e Callao no Peru, por enquanto), cartazes que muitos especulam ser a capa do disco, que ainda traz uma partitura musical que ela publicou em sua mailing list via Substack (e que seus fãs já estão tocando-a em vídeos online). Aparentemente o disco chama-se Lux e será lançado em novembro.
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Kevin Parker lançou o quinto disco de seu Tame Impala nessa sexta-feira e… Deadbeat ainda não desceu. Tem boas ideias de músicas, bem como é boa a ideia de revisitar o final dos anos 80 e o início dos anos 90 em busca de referências de música eletrônica e pista de dança para embalar suas canções psicodélicas, mas bastam algumas audições para o disco soar apenas monótono. E parece que o próprio Kevin sabe disso, tanto que lançou o novo álbum no mesmo dia em que o Tiny Desk o trouxe para mostrar as novas músicas no já tradicional cenário do programa da rádio norte-americana NPR. Ao abandonar a linguagem eletrônica e abraçar inúmeros instrumentos de corda – todos parentes do violão – para mostrar acusticamente um disco sintético ele parece ao mesmo tempo indeciso (e desconfortável com as novas músicas) ao mesmo tempo em que parece querer mudar o jogo nas versões ao vivo dessas músicas. Uma pena, mas parece que o disco nasceu pra ser esquecido…
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Criado antes da pandemia a partir da aproximação de dois monstros sagrados da música – o produtor norte-americano pai do techno de Detroit Jeff Mills e o baterista nigeriano que inventou o afrobeat Tony Allen – o projeto Tomorrow Comes the Harvest veio ao Brasil pela primeira vez esta semana, quando recebeu o público em duas noites lotadas na Casa Natura Musical. Criado a partir do trato entre os dois mestres de não combinar nada antes de subir no palco, improvisando tudo na hora, o duo cresceu com a incorporação do tecladista francês Jean-Phi Dary, mas quase virou história quando Allen faleceu em 2020. Felizmente, os dois remanescentes do grupo não desistiram da ideia e chamaram o percussionista indiano Prabhu Edouard para juntar-se ao grupo e cada nova apresentação abre universos distintos de música para além de composições pré-definidas. A regra aqui é uma só: crescendos intermináveis que hipnotizam o público em ciclos repetitivos que abrem espaço para improvisos musicais dos três protagonistas: Mills pilotando uma mesa de som e uma bateria eletrônica ao mesmo tempo em que toca pratos, atabaque e um pandeiro, Edouard esmerilhando nas tablas ao mesmo tempo em que joga efeitos eletrônicos sobre elas e Dary dividido entre um piano de cauda, teclados elétricos e sintetizadores de todos os tamanhos, criando longos transes sinuosos, em que jazz mistura-se com música indiana, muita percussão e beats de música eletrônica, tudo temperado enquanto vai sendo cozido, num deleite sonoro que poderia estender-se por horas. Inacreditável.
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O segundo Tiny Desk Brasil, exibido nessa terça-feira, foi também o primeiro a ser gravado, no dia 2 de setembro deste ano – e foi a edição cuja gravação pude presenciar ao vivo. Depois de João Gomes, a não assumida mesinha foi para outro extremo do espectro da nossa música e reuniu o querido trio Metá Metá ao idiossincrático Negro Leo, numa curta apresentação em que além de tocar “Rainha das Cabeças”, “Bará Bará” e “Obatalá”, ainda fizeram “Sem Cais” (que Leo compôs para o soberbo Delta Estácio Blues, segundo disco de Juçara Marçal, produzido por Kiko Dinucci, trazendo finalmente Thiago França para o universo DEB) e “Eu Lacrei” do próprio Leo num show, como de praxe, foda.
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Kiko Dinucci encheu o Centro da Terra mais uma vez, agora como integrante da temporada que o selo Desmonta está fazendo no teatro, sempre trazendo velhos e novos compadres em apresentações feitas para o aniversário de 18 da iniciativa de Luciano Valério. O bardo de Guarulhos veio só com o violão e, ao contrário de seu plano original, em que testaria novas sonoridades com seu próprio repertório, preferiu focar no período em que lançava discos pelo selo anfitrião, reunindo no decorrer da noite músicas do disco que lançou com seu Bando Afromacarrônico, no Duo Moviola que tinha com Douglas Germano (#voltaduomoviola), no seu disco de compositor Na Boca dos Outros (em que convidava vocalistas para cantar suas músicas) e nos dois primeiros do Metá Metá. Entre as canções, soltou seu lado cronista lembrando dessa fase de sua biografia, indo das noites de quarta-feira no Ó do Borogodó aos tempos do Cecap em Guarulhos, enumerando causos que misturava personagens típicos e situações do início de sua carreira profissional, quase sempre confirmando algumas dessas histórias com o próprio Luciano, que conhece desde os tempos do prézinho, como chamávamos a aula de alfabetização (hoje o primeiro ano) nos tempos em que a TV só tinha seis canais e saía do ar de madrugada. No percurso, passeou por “Deja Vu”, “Fio de Prumo”, “Engasga Gato” e “Santa Bamba” (duas em que reclamou dos trava-línguas que compunha quando era mais novo), “Partida em Arujá (Manezinho)”, “Depressão Periférica”, “Anjo Protetor”, “Oranian”, “Cio”, “Samuel”, “Mal de Percussión” e “São Jorge”, sempre alternando o tanger das cordas de seu violão sambista entre o batuque da fundo de quintal e o pogo de shows de hardcore, usando quase sempre o corpo do instrumento como percussão. No bis voltou com duas pérolas pessoais, a ode ao samba paulistano “Roda de Sampa” e a clássica contemporânea “Vias de Fato” que, tocada depois que Kiko ironizou não ter hits, foi acompanhada por todos num coro silencioso, solene e apaixonado. Tudo isso sob a luz atenta de Giorgia Tolani, por vezes intensa e difusa, outras hiperrealista, como os causos musicados de Kiko. Foi lindo.
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O grupo mineiro Varanda acaba de comemorar o primeiro aniversário de seu disco de estreia, Beirada, e encerra 2025, que viu o grupo, entre outras coisas, ser escalado para tocar na próxima edição do Lollapalooza, com o lançamento de um EP que encerra sua primeira fase. Rebarba é o nome do disco de cinco músicas que chega às plataformas de streaming nessa terça, reunindo composições que o grupo preparou durante a gravação de Beirada mas que só veem a luz do dia agora — e eles antecipam em primeira mão aqui para o Trabalho Sujo um clipe em 360º que fizeram para uma das músicas, “Ela Já Me Ama”, gravado no bunker da banda, o Estúdio LadoBê, em Juiz de Fora, que traz a vocalista Amélia do Carmo tocando violão e o guitarrista Mario Lorenzi se arriscando no synth. “O disco abriu muitas portas pra gente, tem trazido muitas boas oportunidades da gente espalhar o nosso som, tocando em novos lugares e até pra públicos novos nos lugares que a gente já tocou, porque muitos novos ouvintes chegaram esse ano”, explica o baixista Augusto Vargas. “Estamos na ansiedade pro ano que vem, pra além do Lolla, esperamos chegar em novos lugares e lançar outro disco”, continua Augusto, que diz que a banda ainda não está com planos de novo disco por enquanto. “Mas já existem várias músicas pra serem trabalhadas e estamos querendo começar isso logo”, conclui.
Veja a capa do EP e assista ao clipe abaixo: Continue
Retomei minhas colaborações com o jornal Valor Econômico batendo um papo com o compadre Rodrigo Carneiro, a voz e a presença dos Mickey Junkies, que está lançando seu terceiro livro, Jardim Quitaúna – Crônicas de paixão, política e cultura pop, pela Terreno Estranho. Continue
Fui na abertura do novo espaço da Casa de Francisca nesta quinta-feira, desbravado naturalmente por dois veteranos do lugar que conheciam tão bem a primeira versão da Casa, ainda nos Jardins, quanto já frequentaram em inúmeras formações os atuais dois palcos do Palacete Tereza, no Centro. Como de praxe, o próprio Rubens Amatto, que idealizou e realizou esse sonho forte, foi quem abriu os trabalhos recepcionando os 44 presentes (mesmo número de lugares do velho endereço) no novíssimo terceiro palco do lugar, orgulhoso não apenas de estar ampliando sua visão como de ter dois camaradas pra começar essa nova fase. E por mais que Juçara Marçal e Kiko Dinucci sejam familiares do lugar e tenham optado por seu tradicional show de vozes e violão baseado no histórico álbum-encontro Padê de 2008, os dois passearam por outras canções de seu repertório comum até incluir novas versões, como o samba-enredo “Paulistano da Glória” de Geraldo Filme e a pesada “Batuque” de Itamar Assumpção. E por mais que o novo espaço seja intimista e acolhedor, os dois não tiveram problema em ultrapassar os decibéis possíveis, seja com a bateria embutida no violão de Kiko ou nos limites inalcançáveis da voz de Juçara. A Sala B é outra experiência da Casa e mesmo com outro show bombando no salão principal, ela manteve-se inabalável em seu intimismo.
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Nesta terça-feira, o mineiro Clóvis Cosmo nos conduziu rumo a um futuro brasileiro decadente que pouco lembra as distopias recentes que nos atormentam pois não se passa na periferia ou em bairros de alto padrão de megalópoles e sim no campo. O Vastopasto conjurado por suas canções é o cerrado do planalto central completamente acinzentado pela monocultura agrícola ao redor das ruínas de uma nova capital de um império próximo, chamada de Uberaba 2. Reunindo um pequeno supergrupo indie para desbravar o realismo deprimente de seu universo ficcional, ele buscava a complexidade da música caipira tradicional, dissecando-a em canções ao mesmo tempo simples e rebuscadas no gênero que cunhou como prognejo, ao adotar características do rock progressivo e da música sertaneja. Além de receber o público com um aviso sonoro totalitário ainda nas escadas do teatro, Cosmo ainda empilhou os dejetos digitais num canto do palco, ao lado de uma bucólica chaleira numa fogueira, e entre o canto, as falas, a guitarra e a flauta, vinha seguido por metade da dupla Antiprisma Victor José na viola, da cozinha do grupo Oblomov (o baixista José Eduardo e o baterista João Queiroz), das teclas e efeitos de John Di Lallo e do próprio dono do projeto Irmão Victor, o gaúcho Marco Benvegnú, tocando sopros e percussão. Uma formação de peso para uma apresentação épica, que além de trazer momentos quase individuais – quando dividiu uma música apenas com Victor José ou quando trouxe os Oblomov para cantar uma moda acompanhados apenas de sua flauta -, terminou com todos ao redor da fogueira cênica, ouvindo Pena Branca e Xavantinho, um dos maiores nomes da história da música sertaneja, conterrâneos de Uberlândia do dono da noite. Loucura.
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