Kim Gordon atualiza o cartão de visitas de seu mais recente disco solo para se encaixar no clima de pesadelo que paira sobre seu país. A bordoada “Bye Bye” ganha uma versão “Bye Bye 25” que chega às plataformas de áudio nessa sexta-feira, acompanhado de um clipe que clona o clássico clipe do Dylan para sua “Subterranean Homesick Blues”. O alvo, claro, é Trump – mas sem precisar dizer seu nome.
Além de seu evento principal, o Popload desse ano desdobrou-se em dois eventos paralelos realizados no Cine Joia – o primeiro deles com a banda nova-iorquina Lemon Twigs, um dia antes do festival e o outro no dia seguinte, com a mestra Kim Gordon fazendo uma apresentação solo. E diferente do primeiro deles, o segundo contou com uma abertura à altura da atração principal. E não apenas porque a norte-americana Moor Mother – artista,ativista e poeta – transita em uma seara musical tão perigosa e transgressora quanto a atual fase da fundadora do Sonic Youth, mas por ter convidado Juçara Marçal e Kiko Dinucci para a acompanharem na primeira parte de sua apresentação, que pode ser considerada um dos grandes momentos do festival como um todo. Juntos, os três desbravaram um caminho tortuoso entre o canto e a fala, com Moor Mother e Juçara entrelaçando vozes em uma ação contínua entre som e sentido, enquanto Kiko seguia tornando seu violão percussivo, batucando riffs, linhas de baixo e ruídos para as duas soltarem-se livres. Depois que a dupla saiu, Moor Mother seguiu sozinha no palco igualmente virulenta, cuspindo versos em dois microfones, um deles sempre com algum efeito, enquanto disparava bases eletrônicas e pesadas a partir de seu computador. Mas depois do ataque inicial do trio, seu solo perdeu um pouco do atordôo, tornado livre justamente por não ter nenhum elemento sonoro pré-gravado. E era só o começo da noite…
Depois Kim Gordon subiu ao palco do Cine Joia para encerrar as atividades do Popload Festival deste ano como principal artista do segundo show paralelo do evento – e quanta diferença um lugar pode fazer a um show. Porque ela apresentou um show bem parecido – tanto em repertório quanto em duração – com o que fez na versão completa do festival, no dia anterior. Mas colocá-la em uma casa de shows sem luz natural e com o foco totalmente preso nela fez toda a diferença – principalmente porque no sábado ela tocou ao ar livre, sob a luz do sol e com o som e atenção do público dispersos. O domingo foi a vingança de Kim Gordon, que ainda contou com um ótimo som no Cine Joia, que potencializou ainda mais a virulência de sua apresentação. Vestindo uma camisa social e gravata preta no lugar do moletom do dia anterior, ela veio mais a rigor para um show que, como o outro, priorizava seu segundo álbum, The Collective, à frente de uma banda de rock novíssima que não ficava presa às amarras do gênero – muito pelo contrário, buscava explorar com vigor e ruído os espaços abertos por Kim em sua investigação musical em torno da música urbana deste século. O canto falado e quase ausência de contato com o público reforçavam a frieza da sonoridade daquele quarteto, solapando bordoadas sonoras que passavam pela banda anterior de Kim como referência (ela inclusive pegou na guitarra em várias canções), mas não reverência, fazendo todos saírem felizes do encontro ao perceber que ela continua um motor da transgressão, mas não quer olhar para trás. Muito foda.
#moormother #jucaramarcal #kikodinucci #kimgordon #cinejoia #trabalhosujo2025shows 105 e 106
Depois de três anos de sua edição mais recente no Centro Esportivo Tietê e muita boataria (inclusive sobre seu fim), finalmente o Popload Festival voltou a materializar-se. O festival voltou no mesmo local em que o C6Fest realizou suas três edições e apenas uma semana após a edição mais recente deste, suscitando inevitáveis comparações entre os dois eventos – e o festival idealizado pelo jornalista Lúcio Ribeiro a partir de seu portal de notícias parece ter se saído melhor, mas já já falo sobre isso. Cheguei tarde por motivos de Inferninho Trabalho Sujo, mas a tempo de ver nossa senhora Kim Gordon mostrar seu trap noise no palco montado na parte de trás do Auditório Ibirapuera e por melhor que tenha sido o show (e foi, com Kim esparramando-se pelo palco com seu moletom que reforçava “Golfo do México” na fuça do desgraçado no posto de presidente dos EUA) havia algo intrinsecamente oposto no falto da matriarca da juventude sônica tocar sob o sol de um sábado lindo e antes do fenômeno teen islandês Laufey. Sua sonoridade urbana e noturna contrastava diretamente com a tarde juvenil que se espalhava pelo parque do Ibirapuera – o que não chegou a comprometer o show, mas criou uma sensação estranha que talvez pudesse ser mudada com a troca de posições entre seu show e o show que aconteceria em seguida naquele palco, afinal boa parte do público da Laufey não estava nem aí pro showzaço de Kim Gordon, que felizmente teve sua vez no dia seguinte, na apresentação paralela que aconteceu no Cine Joia.
Laufey, por sua vez, é um fenômeno e fez adolescentes – e seus respectivos pais – reunirem-se inclusive durante o show da Kim Gordon para garantir um bom lugar para assistir sua musa. O público era muito, mas muito jovem – incluindo crianças – e em pouco tempo o lugar estava repleto de meninas usando lacinhos, apetrecho que é sinônimo da cantora que parece estar prestes a explodir em escala global. Musicalmente, ela faz um pop inofensivo e quase insípido em baladas que por vezes flertavam com a bossa nova e música erudita, acompanhadas aos berros por um público visivelmente emocionado. Um show comportado no palco e agitado no público, que puxou a bússola do festival para o norte magnético do pop, aos poucos desfazendo seu histórico de indie rock que já trouxe artistas como PJ Harvey, Pixies, Belle & Sebastian, Patti Smith, Wiico, Iggy Pop, Spoon e Phoenix, entre outros, para o Brasil. Mas, felizmente, esse histórico não foi abandonado, como veríamos no show que aconteceu em seguida naquele mesmo palco.
Antes disso, um breve comentário sobre o segundo palco, anunciado um pouco antes da realização do festival, que trouxe um frescor pop ainda maior ao reunir artistas em ascensão, desde a ótima nova fase da baiana Jadsa (que acabou de lançar um disco maravilhoso, Big Buraco) à revelação electroescracho carioca do Vera Fischer Era Clubber. Havia uma boa sincronia entre os palcos, que fazia o palco menor começar exatamente no momento em que o palco maior terminava sua atração, funcionando como trilha sonora para o festival mesmo que você não estivesse próximo ao… palco. Quer dizer, não dá pra chamar esse novo palco propriamente de palco, afinal de longe parecia um estande de divulgação de alguma marca ou mesmo um local para pegar bebida. Com pouco mais de meio metro de altura e uma largura ridícula, o que fazia o palco funcionar musicalmente o desfazia como atração, colocando-o quase como uma vírgula no tamanho do evento. Não era preciso um palco bem maior como o segundo palco do C6Fest, mas bastava subir mais alguns centímetros de altura (nem meio metro) e abrir um pouco mais sua largura para que as atrações ganhassem uma força ainda maior. Outro erro foi colocar Yago Opróprio como atração de encerramento deste palco, fazendo o trap do MC destoar completamente da transição entre os shows da St. Vincent e da Norah Jones (além de perder a oportunidade de marcar um golaço ao deixar apenas mulheres na segunda e principal parte do festival sem precisar levantar essa bandeira). Felizmente o show de Maria Beraldo, uma versão reduzida de seu disco Colinho, com músicas de seu primeiro álbum, Cavala, sobressaiu como uma das grandes atrações da noite, mesmo num palco tão pequeno e um show tão curto.
Alguém estava preparado para o show da St. Vincent? Annie Clark mostrou não apenas seu completo domínio de palco – baita vocalista, baita guitarrista, baita performer – como fez a melhor apresentação da noite sem muita dificuldade. Equilibrando o repertório entre seu disco mais recente (o excelente All Born Screaming) e o pré-pandêmico Masseduction, ela mostrou que rock pode ser moderno sem soar nostálgico, como fizeram Wilco e Pretenders naquele mesmo parque no festival da semana anterior. Um dínamo no palco, ela se jogava pra cima de seus músicos com a mesma entrega que depois se atirou na plateia, surfando em cima das pessoas no ápice da apresentação, quando cantou “New York”. O único ponto negativo da apresentação foi sua duração, curta com menos de uma hora como os outros shows do festival, mas até aí, é a natureza do evento. Um dos melhores shows do ano, sem dúvida.
O Popload Festival terminou com a maravilhosa Norah Jones fazendo seu pop de câmara para um público tão emocionado quanto o de Laufey – embora menos afetado e obviamente mais velho (tanto que as duas se encontraram no palco perto do fim do último show). Elas foram responsáveis por dar uma cara menos rock ao festival, o que não é propriamente um problema, e a quantidade de mulheres no elenco traduziu-se da mesma forma entre o público, mais feminino do que o festival que aconteceu no Parque Ibirapuera na semana anterior. Como o C6Fest, o Popload Festival peca por querer encher seu elenco com muitas atrações, sacrificando inclusive shows que tocaram mais cedo, como o ótimo Exclusive Os Cabides, obrigado a tocar antes do almoço. O preço das coisas dentro do festival também era salgado, mesmo que houvesse alternativas oficiais para comprar ingressos mais baratos – e havia uma área vip injustificável (pelo tamanho) na parte direita do palco – até quando vamos materializar essa divisão de castas? Mas ao contrário do outro festival, o Popload acerta ao concentrar seus shows em um dia e ao deixar mais atrações brasileiras na parte final do evento, mesmo que num palco pequeno. Só resta saber se vão mesmo em direção ao pop, deixando o indie rock que sempre o caracterizou perdendo espaço para atrações de outros gêneros musicais… E que venha a edição do ano que vem!
#kimgordon #laufey #mariaberaldo #stvincent #norahjones #poploadfestival #poploadfestival2025 #parquedoibirapuera #trabalhosujo2025shows 099, 100, 101, 102 e 103
A terça-feira já começou quente com o anúncio dos shows paralelos do Popload Festival – e um deles é de chorar, pois não bastasse nossa senhora Kim Gordon tocar sozinha no Cine Joia no dia 1º de junho, a abertura da noite é de ninguém menos do que a fodona Moor Mother. Acontece no dia seguinte do festival e os ingressos já estão à venda. O outro show é da banda Lemon Twigs, também acontece no Joia e terá abertura de Tim Bernardes discotecando vinil. Nos vemos no dia 1º, certo?
O novo programa de entrevistas da Netflix, Everybody’s Live, apresentado pelo ator e comediante John Mulaney, conseguiu um feito e tanto em seu segundo episódio não apenas ao reunir no mesmo programa duas das maiores mestras do rock independente – Kim Gordon e Kim Deal, vocalistas, baixistas, musas e faróis do mundo indie, a partir de suas respectivas bandas, Pixies e Sonic Youth, que lançaram ótimos discos solo no ano passado – como conseguiu colocá-las juntas no mesmo palco para cantar ao vivo pela primeira vez a música que gravaram há 30 anos no subestimado disco Washing Machine que o Sonic Youth lançou em 1995. O canto fantasmagórico das duas em uma balada soul não apenas ecoa pilares da música pop como os girl groups dos anos 60 (algo que o mesmo Sonic Youth havia feito no ano anterior, ao regravar o hino “Superstar”, canção da dupla Delaney & Bonnie imortalizada pelos irmãos Carpenters) como faz ponte com artistas contemporâneas tão diferentes quanto Amy Winehouse, Lana Del Rey e Weyes Blood – e é tão bom vê-las cantando essa música em 2025 como se estivessem em 1995 ou 1965!
O FireAid foi um evento realizado nesta quinta-feira para arrecadar fundos para as vítimas do incêndio que devastou a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, neste mês de janeiro. Realizado em duas arenas simultaneamente na cidade de Inglewood, o festival contou com apresentações breves de artistas de todo porte e gênero musical e contou com alguns momentos históricos, como a reunião dos três sobreviventes do Nirvana com vocalistas convidadas assumindo as letras de Kurt Cobain. E assim Dave Grohl, Pat Smear e Krist Novoselic acompanharam St. Vincent (que cantou “Breed”), Kim Gordon (que cantou “School”), Joan Jett (que cantou “Territorial Pissings”) e a filha do baterista Violet Grohl (que cantou “All Apologies” com Kim Gordon no baixo). Assista à íntegra da apresentação abaixo:
St. Vincent e Kim Gordon JUNTAS NO MESMO PALCO?! Sim, vai acontecer no dia 27 de maio, em Santiago, no Chile, e, melhor, num teatro (e QUAL teatro, o quase centenário Caupolicán)! Os ingressos começam a ser vendidos nessa quinta-feira por este link e a própria Annie pediu pra usar o código SCREAMING na hora de comprar (mas podia ter usado a palavra-chave em espanhol, já que acabou de lançar seu próprio disco neste idioma). Mas como as duas vêm tocar no Popload Festival logo depois, não duvide se ganharmos essa de lambuja…
Imagine, só imagine, que alguém liga pro nosso compadre Lirra e pergunta se ele não quer vir pro Brasil no ano que vem – trazendo outro velho conhecido, o mano Shelley, pra tocar junto. E já que estamos aqui, dá um alô em outro chapa, o galalau Thurston, pra repetir o improv que fizeram sexta passada em Nova York numa escala um pouco maior em São Paulo (e já sopra pro agente dele e pra alguém que tenha editora por aqui pra armar o lançamento suas lembranças de 2023, Sonic Life: A Memoir, no Brasil). Quando? Em maio do ano que vem, quando a irmã Kim estará por aqui. O último show do Sonic Youth foi no Brasil, em 2013. Por que o reencontro dos quatro – nem precisa ser show, só a reconexão – não pode acontecer aqui? Questões pessoais são superáveis, Kim e Thurston não são Waters e Gilmour e ainda compartilham os mesmos valores e visões, algo que não só está em falta hoje em dia como está em xeque… Só imagine… Muitos acham impossível, mas para o impossível acontecer primeiro precisamos imaginá-lo…
Depois de Norah Jones e St. Vincent, o festival do Lúcio Ribeiro acaba de anunciar a escalação completa do festival que acontecerá no dia 31 de maio do ano que vem no Parque Ibirapuera. Completam a seleção nossa eterna musa Kim Gordon, os Lemon Twigs, Laufey, o encontro do Terno Rei com Samuel Rosa, Tássia Reis em uma ótima fase e a revelação Exclusive Os Cabides. Se comparado à zona de conforto que é a apresentação principal, Norah Jones, o festival até que ousou um tanto, trazendo duas três mulheres consagradas e artistas em ascensão, apostando em nomes que não apareceram em festivais deste porte no Brasil até agora. Poderia ter ousado mais? Sempre, mas pode esse evento de um dia muito melhor do que outros que se esticam por dias. Os ingressos já estão à venda neste link.