Jornalismo

Encerrando o mês de novembro da curadoria de música do Centro da Terra recebemos com muito prazer o laboratório de voz e sopros cogitado pela vocalista, compositora e arranjadora Stephanie Borgani, que convida a também vocalista Marina Marchi e os saxofonistas Marlon Cordeiro e Lucas Sales para uma incursão instrumental pelo encontro desta formação, que conta com timbres sopranos e agudos e suas interrelações a partir de peças compostas por Stephanie, entre elas a “Mímica” que batiza a apresentação. O espetáculo começa pontualmente às 20h e ainda há ingressos à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Mais CØMA

Mais uma vez apareço na Porta, desta vez pra discotecar após a segunda apresentação do grupo CØMA, o projeto pós-punk criado por Guilherme Held, Bianca Godoi, Otto Dardenne, Rubens Adati, Joana Bergman e Danilo Sansão, que se apresentará nesta quarta-feira, a partir oito da noite. Quem abre a noite é o trio Los Otros, que prepara o terreno para outras discotecagens, do DJ André Pio, do DJ Cosmic Pulses (que criou a playlist que inspirou a existência da banda) e do Érico Theobaldo, que também tocam na mesma noite. Lembrando que o Porta fica na rua Horácio Lane, 95, e os shows devem acontecer às 20h e às 21h. Vamos lá?

Final estarrecedor

Jair Naves fechou sua temporada no Centro da Terra com o show mais alto que o teatro assistiu neste ano, quando dividiu o palco com a bordoada sonora desferida pelo trio paraense Molho Negro, ao repetir um encontro que só havia acontecido uma vez, quando os dois artistas se encontraram na edição deste ano do festival Se Rasgum, em Belém. É impressionante o volume e a dinâmica que João Lemos (vocal e guitarra), Raony Noar (baixo) e Antonio Fermentão (bateria) desferem no som, funcionando como um altar de riffs e microfonia para Jair declamar sua liturgia a plenos pulmões. Antes de chamar a banda ele começou sozinho ao violão, com a sua “Um Passo Por Vez”, chamando o trio paraense em seguida para cantar “O Jeito de Errar”, do grupo. Daí em diante foram alternando canções de Jair, seja no Ludovic (com “Desova”. “Vane, Vane, Vane” e “Janeiro Continua Sendo o Pior dos Meses”) ou de sua carreira solo (como “Pronto para Morrer (O Poder de uma Mentira Dita Mil Vezes)” e “Nasce Um Saqueador ​/​ Morre Um Apaziguador”, esta última tocada pela primeira vez ao vivo), com outras do Molho Negro (como “Me Adaptar”, “Fim do Mês”, “23” e a inédita “Claustrofobia”), com Jair revezando-se entre um segundo baixo, o teclado ou só no vocal, sempre em canções ruidosas e verborrágicas. A noite e a temporada terminaram com um bis improvisado, quando o quarteto saudou “Eu Tenho Pressa”, clássico da banda de hardcore pernambucana Devotos. Uma paulada!

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Morreu nesta terça-feira um dos nomes que revolucionaram o humor no cinema dos 80. Jim Abrahams desfalca o trio Zucker-Abrahams-Zucker que dirigiu comédias impagáveis como Apertem os Cintos O Piloto Sumiu, Top Secret, Top Gang e Corra Que a Polícia Vem Aí ao sobrepor clichês de filmes clássicos dos anos 50 com o humor de revistas como Mad, Zap! e National Lampoon, que já corroía o humor tradicional norte-americano ao serem vendidas em headshops e não em bancas de jornal e levando aquele humor entre o teatro de absurdo e o nonsense para as massas. Era amigo de infância dos irmãos Jerry e David e começou no cinema junto com os dois ao escrever o roteiro cheio de quadros de humor da estreia na direção de John Landis (que depois faria O Clube dos Cafajestes, Trocando as Bolas, Irmãos Caras de Paue e Um Lobisomem Americano em Londres), Kentucky Fried Movie. Apertem os Cintos o Piloto Sumiu, lançado em 1980, foi a primeira incursão do trio ZAZ na direção, assinatura que era sinônimo de sucesso durante toda aquela década e o início da seguinte.

Há anos o guitarrista gaúcho Guri Assis Brasil vem guardando esse segredo e agora começa a compartilhá-lo com o resto do mundo. Fundador da banda Pública e atualmente na banda do pernambucano Otto, ele começou a trabalhar em um projeto solo quando o mundo foi imposto ao isolamento da pandemia. Assombrado pela paranoia daquela época, ela viu-se, como todos nós, encurralado pelo vírus recém-descoberto e tal momento de reclusão foi a deixa para que ele se conectasse com outros músicos – à distância, como fazíamos naquele período de trevas – e começasse a trabalhar em um projeto solar, alto astral, que fosse o antônimo dos dias de pesadelo que atravessamos. Batizou o novo trabalho de Animal Invisível em referência à ameaça do próprio vírus e compôs uma coleção de canções instrumentais ao lado de uma big band que remonta referências ao groove e às boas vibrações de grandes nomes da música brasileira como Artur Verocai, Marcos Valle, Azymuth, João Donato e Banda Black Rio, tocando com metais, teclados, percussão e quase sem vocais num projeto que já vinha sendo comentando e ouvido por poucos, criando uma expectativa para sua vinda. Agora ele finalmente lança as primeiras pistas deste seu Animal ao mostrar uma versão ao vivo no estúdio da faixa que batiza o projeto em primeira mão para o Trabalho Sujo. A faixa foi gravada em uma sessão no Estúdio da Pá Virada com direção do Rafa Rocha, reunindo, além da guitarra de Guri, Pedro Dantas (baixo), Arquétipo Rafa (teclados), Big Rabello e Thomas Harres (bateria e percussões), Reginaldo 16 Toneladas e André Levy (trompetes), Bruno Conrado e Marcos Oliveira (trombones) numa groovezeira pesada anunciando o disco que sairá no ano que vem.

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E por falar em disco cinquentenário, compartilho aqui as impressões atuais do mestre Tom Zé sobre o primeiro disco solo de Arnaldo Baptista, o imortal Lóki?, que também completa meio século de idade neste 2024, e que nunca tinha sido ouvido pelo lóki baiano. O texto foi publicada pelo próprio Arnaldo em sua conta no Instagram. Leia abaixo: Continue

Para comemorar o cinquentenário de um dos discos mais importantes da história do rock progressivo, o Genesis anunciou neste mesmo novembro em que The Lamb Lies Down on Broadway completa meio século de existência o lançamento de uma caixa que disseca o ápice da primeira fase do grupo inglês, seu sexto álbum e último disco com Peter Gabriel à frente da banda, que antevê a chegada do punk rock numa obra-prima de seu rock barroco sobre um futuro distópico protagonizado por um pixador nova-iorquino, o jovem porto-riquenho Rael. A caixa reúne duas versões do disco remasterizadas neste ano sob supervisão tanto de Peter Gabriel quanto do tecladista Tony Banks, uma delas a versão original e a segunda a primeira vez que o grupo a tocou ao vivo, no Shrine Auditorium de Los Angeles, nos Estados Unidos, no dia 24 de janeiro de 1975 (que eu acho melhor que o disco original, devido à performance do vocalista). A versão ao vivo já havia sido lançada ao público no primeiro volume da caixa Genesis Archive, que cobre a fase Peter Gabriel da banda (entre 1967 e 1975), lançada em 1998. A novidade é que a nova versão traz pela primeira vez o bis desta noite, quando o grupo ainda tocou “Watcher Of The Skies” e “The Musical Box”. A nova caixa ainda traz um cartão com direito a download de demos do grupo (os primeiros takes de “The Lamb Lies Down On Broadway” e “Fly On A Windshield”, o primeiro e segundo take de “Here Comes The Supernatural Anaesthetist” e “The Lamia” e uma versão demo de “It”), um livro de mesa de 60 páginas escrito pelo jornalista inglês Alexis Petridis (que além de principal crítico de música pop do Guardian também foi ghost-writer da autobiografia de Elton John e entrevistou os cinco integrantes da banda, Phil Collins, Steve Hackett e Mike Rutherford, além de Gabriel e Banks) e réplicas do programa dos shows da turnê de 1975, do ingresso e do pôster oficial. A nova versão será lançada em dois formatos (em quatro CDs ou cinco LPs) no dia 28 de março do ano que vem e já está em pré=venda. Veja a capa da caixa, um vídeo de lançamento do novo formato e ordem das músicas nos discos abaixo: Continue

Inferninho Trabalho Sujo especial nesta sexta-feira no Picles, quando o Varanda pode mostrar as músicas de seu disco de estreia pela primeira vez no mesmo palco que trouxe a banda mineira pela primeira vez a São Paulo, sentindo-se em casa na festa que faço desde o ano passado ao mesmo tempo em que sente-se consolidando a primeira fase de sua carreira. “Aqui que a gente nasceu pra vocês”, disse a vocalista Amélia do Carmo. Antes do show do grupo, que fechou a primeira parte da festa, foi a vez da paulistana Lotzse mostrar seu recém-lançado Excelentes Exceções, em que, acompanhada por uma banda pesadíssima (formada pelo guitarrista Victor Kroner, o tecladista Christian Sayeg, o baixista Rafael Nilles e o baterista Davi Gomes), pode soltar sua voz em suas canções pop com um groove entre equilibrado entre o funk, o jazz e o rock, abrindo espaço para versões de músicas alheias, como “Maria Maria” (de Milton Nascimento, que sublinha o tema principal do álbum, que é a relação não-romântica entre mulheres), “Azul Moderno (de Luiza Lian) e “Murder on the Dancefloor” (de Sophie Ellis-Bextor), que entrou no bis.

A abertura deixou o público do Inferninho Trabalho Sujo em ponto de bala para que o Varanda fizesse o Picles pegasse fogo. A festa foi o ponto de partida da banda mineira em sua carreira paulistana, cuja fase inicial culminou com o show de lançamento de seu álbum de estreia, Beirada, que aconteceu há dois meses no Sesc Vila Mariana. E agora encerram seu 2024 com um show redondinho, tanto com a química entre os músicos cada vez mais precisa: o baterista Bernardo Merhy e o baixista Augusto Vargas segurando a base firme o guitarrista Mario Lorenzi e a vocalista Amélia do Carmo se soltarem sem medo da queda, Amélia em alguns casos quase literalmente, se pendurando nas paredes do Picles e se jogando no meio da pequena multidão que cantava as músicas da banda. É muito bom ver o quanto os quatro evoluíram no último ano, ganhando confiança entre si e para com o público enquanto levam suas canções para um outro patamar no palco, como acontece com as melhores bandas. E é impressionante como isso se materializa especialmente em Amélia, cada vez mais segura de sua performance, de seu canto e de seu carisma, hipnotizando a audiência como uma bruxa sedutora, transformando cada canção num passe de mágica. A banda ainda chamou a amiga Manu Julian para dividir os vocais de “Cê Mexe Comigo” que a vocalista dos Pelados canta no disco, ajudando ainda mais a temperar este que foi o melhor show da banda que vi. Depois eu e Bamboloki assumimos o comando da madrugada – se é que dá pra dizer que houve algum comando naquele desfile desenfreado de hits de todas as épocas que concluímos com nossa a música que iniciou nossa relação, “Clara Crocodilo”, faixa-símbolo de um de nossos faróis estéticos, o mestre Arrigo Barnabé. Que noite!

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Vamos pro Picles! Sexta-feira tem mais Inferninho Trabalho Sujo, desta vez na casa que viu a festa nascer com duas atrações daquelas: quem abre a noite é a novata Lotsze, que acaba de lançar seu disco de estreia, Excelentes Exceções e prepara o terreno para uma banda veterana de Inferninho, os mineiros do Varanda, que tocam seu recém-lançado disco de estreia, Beirada, pela primeira vez no Inferninho. E a noite termina comigo comandando a pista ao lado da minha comissária da loucura Bamboloki, que me ajuda a incendiar a pista do Picles, que fica no número 1838 da rua Cardeal Arcoverde, no coração de Pinheiros! Vamos?

Show, peça, programa de auditório, karokê, luau, quiz show…? A apresentação que os atores Sofia Botelho e Ernani Sanchez fizeram para celebrar a vida e obra de Marina Lima aconteceu mais uma vez nesta quinta-feira no Belas Artes, em mais uma sessão Trabalho Sujo Apresenta que realizo na sala de cinema. O roteiro do espetáculo atravessa os principais hits da cantora carioca ao mesmo tempo que revê sua postura frente à fama, à música brasileira e ao comportamento da época, citando inclusive outros autores contemporâneos como Ana Cristina César e inevitavelmente seu irmão e recém-falecido Antôno Cícero, lembrado com solenindade ao final da apresentação. Os dois reencenavam trechso da vida de Marina – entre entrevistas e participações em programas de TV – ao mesmo tempo em que dividiam os vocais, com Ernani quase sempre tocando um instrumento, seja guitarra, baixo ou violão, e trocavam de figurino. Houve algumas mudanças em relação à apresentação que fizeram no primeiro semestre no Centro da Terra (quando Sofia ainda estava grávida), mas isso é a natureza do teatro.

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