Jornalismo

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Conversei com a Courtney Barnett antes de seu ótimo primeiro show no Brasil – o papo tá todo lá no meu blog no UOL.

“De repente, parece que tudo mudou”, me explica Courtney Barnett, que apresentou-se na semana passada em São Paulo, quando a pergunto sobre o pesado clima conservador que paira sobre 2016. “Acho que as pessoas jogam muito uma expectativa sobre o próprio futuro delas em outras pessoas e esquecem-se que elas mesmas têm de fazer algo”, conta a cantora e compositora australiana, autora de um dos melhores discos do ano passado, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit.

O próprio título de seu disco de estreia (“às vezes eu sento e penso e às vezes eu só sento”) é uma crítica a esta expectativa sobre o papel político do artista. “Eu me sinto frustrada e desiludida com tudo que tem acontecido, mas eu sempre me sinto assim”, ela continua, “eu leio muito as pessoas comentando na internet coisas assim, que o artista tem de ser o farol dos tempos e eu tendo a concordar, mas acho que não pode ser só isso. Isso é uma forma de deixar as coisas nas mãos dos outros e fingir que aquilo não é problema seu.” Pergunto se isso tem relação com a desilusão atual com os políticos e a política e ela apenas ri, concordando com a cabeça e dando de ombros. “As coisas vão piorar, não adianta ficar só lamentando ou procurando culpados.”

29 anos recém-completos, gigantescos olhos claros (um mais esverdeado que o outro) e jeito de moleque, Courtney perde a candura ao subir no palco. O ar juvenil dá lugar a uma guitar hero que cresce no palco e suas crônicas malkmusianas sobre a vida não ser nem especial nem fútil viram pequenos manifestos elétricos, ditos sem rodeios. Acompanhada apenas de um baixista (Andrew “Bones” Sloane) e um baterista (Dave Mudie), ela canaliza a escola de Kurt Cobain, que ouviu tanto hardcore, noise, metal e pop para saber explorar os limites do instrumento. Mas como frontwoman, ela é do time de Chrissie Hynde, cuja segurança e firmeza se misturam com cinismo e ironia, provocando um apelo carismático oposto à aparente fragilidade que seu rosto infantil carrega. Veículo perfeito para suas canções, crônicas às vezes hilárias, às vezes pertubadoras, como “History Eraser”, “Avant Gardener”, “Depreston” e “Pedestrian at Best”.

O show em São Paulo foi um dos últimos da turnê do disco do ano passado, antes de uma pausa de fim de ano para começar a pensar no próximo disco, que ela quer gravar ainda no próximo semestre. “Tenho um monte de ideias, tanto de letras quanto de música, preciso parar para organizar tudo”, conta, explicando que deve voltar para sua casa em Melbourne para começar a compor o segundo álbum.

Entre os 3%

A atriz Bianca Comparato em 3%

A atriz Bianca Comparato em 3%

Conversei com o elenco e a produção da primeira série brasileira produzida pelo Netflix lá no meu blog no UOL.

“Tem um lado meu que acha uma pena, obviamente, tudo isso que está acontecendo no Brasil”, lamenta a atriz Bianca Comparato quando pergunto se ela acha que há algum paralelo entre 3%, a primeira série que o serviço de vídeos Netflix produz no Brasil, e o momento político brasieiro atual. “Mas tem um outro lado meu, que é mais otimista, que acha que é um processo de amadurecimento, que estamos podendo olhar para nós mesmos pela primeira vez, de verdade, sem ingenuidade. E esse embate faz parte. É uma pena o sofrimento que isso causa pra tanta gente. E a série fala muito disso, do sofrimento de quem não consegue. E quem disse quem é bom o suficiente? Quem definiu isso?”

A série, que estreia sua primeira temporada de uma vez só na próxima sexta-feira, dia 25, chega falando sério. O visual, a direção e as atuações instigam o espectador como qualquer outro seriado Netflix – e isso parece vir da fusão de experiências tanto da equipe quanto do elenco. A mistura veteranos como João Miguel, Zezé Motta e a própria Bianca Comparato com novatos desconhecidos (Michel Gomes, Vaneza Oliveira e Rodolfo Valente) foi dirigida pelo uruguaio César Charlone, ex-sócio de Fernando Meirelles e responsável pela fotografia de filmes como Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira. Mas a premissa da série e sua narrativa foi desenvolvida e dirigida por seus criadores originais. “Sou um showrunner de uma ideia alheia”, brinca o diretor uruguaio, que envolveu-se com a produção do seriado anos depois que seu criador, Pedro Aguilera, o estreasse no YouTube (assista aos três primeiros episódios da versão original aqui). Charlone entrou mais como um coordenador e supervisor, ajudando Aguilera e os três diretores originais, Jotagá Crema, Daina Giannecchini e Dani Libardi, a encontrar o rumo que queriam para o seriado, cujos oito primeiros episódios chegam de uma só vez.

Falada em português, a série de ficção científica se passa em um futuro próximo em que o Brasil divide-se em duas castas: grande parte da população mora numa região referida como Continente e quando completam vinte anos de idade têm a oportunidade de passar para onde reside uma elite financeira num lugar conhecido como Mar Alto, que abriga os 3% da população que batiza o seriado. Acompanhamos, portanto, um grupo de jovens que passa justamente pelo processo de seleção, uma série de jogos, entrevistas e atividades que vão definir quem pode passar para o outro lado. É uma alegoria que funciona como uma crítica à ditadura econômica mundial – e um de seus principais critérios de seleção, a chamada “meritocracia”. “Este tema faz parte da nossa sociedade e a gente tem mais ferramentas pra falar sobre isso e pra entender isso agora. São boas pra série também”, explica Aguilera.

“Quando o Pedro (Aguilera, criador e roteirista de 3%) pensou nisso lá atrás, ele havia se inspirado no vestibular, embora ele não quisesse falar diretamente de vestibular”, continua Bianca. “A gente amadureceu muito essa ideia. Mantemos essa angústia juvenil, mas tem uma coisa mais política envolvida. Fala de uma sociedade onde, por mérito, você consegue as coisas e se você não for bom o suficiente acabou a vida pra você. Isso fala muito pra nossa sociedade, não só pra jovens. Se você for parar pra pensar, economicamente, não são nem 3% que detém a riqueza do Brasil – nem do mundo.”

“A ideia começou lá em 2009 e a inspiração vem de livros como Admirável Mundo Novo e 1984 – eu não conhecia Jogos Vorazes”, explica Pedro. Bianca já tinha assistido aos filmes: “Acho a Jennifer Lawrence ótima. Vi os filmes da série Divergente e fiquei muito feliz com a quantidade de ator bom fazendo esse tipo de filme.” Mas Charlone desconversa quando compara-se 3% com estes filmes recentes: “A gente não vai competir com um produto desses. A nossa riqueza é a brasilidade”, explica, sublinhando que quis refletir uma brasilidade diferente daquela que vendemos. “Gosto daquela coisa que, quando alguma coisa não funciona, vem alguém e dá uma porrada. Ou daquela sensação que sempre acontece em qualquer país do mundo quando você chega no aeroporto, mas quando chega no Brasil sempre tem alguém que fala ‘tinha que ser no Brasil…”‘, explica o diretor, às gargalhadas.

O diretor César Charlone

O diretor César Charlone

Essa brasilidade, marca visual das produções de Charlone, foi perseguida com um olho no futuro e outro no presente. “Gosto de dar muita ênfase em sotaques diferentes”, explica, enfatizando também que não quis entregar uma história de bandeja para o público. “O Brasil tem essa fissura dos produtores com a bilheteria, essa coisa com a comédia, que querer agradar o público”, continua o uruguaio, explicando que o tom pessimista da série o atraiu. “Isso abre um horizonte muito legal pra novas gerações contarem histórias”, continua.

Mas a frieza distópica da versão original ganhou pluralidade e cores no novo seriado. “O tom original era muito sério, frio, policialesco”, lembra Aguilera, ao comentar as mudanças sofridas na série durante estes anos, que ainda “tem elementos muito parecidos, mas outros muito diferentes. Mas a angústia dos jovens, que é a essência, ainda tá lá.” “É uma série essencialmente brasileira”, completa Bianca. “Tem uma sujeira, cores, elementos rústicos. É futuro e é Brasil.”

Estive no set de gravação de 3% e além dessa brasilidade era possível notar a clara naturalidade nas atuações, sem afetações no texto ou diálogos que pudessem deixá-la caricata, claro reflexo da forma como Charlone gosta de deixar os atores, filmando-os livremente, quase em tom documental. Ele anima-se com o formato das séries, que diz ser “o grande acontecimento audiovisual deste século.” “Eu sou assíduo frequentador da Santa Ifigênia e sempre vejo o pessoal vendendo DVDs piratas de filmes… Agora vendem séries”, conta, mencionando Sopranos e Mad Men como referências básicas inclusive para o cinema atual. Pedro também tem suas séries favoritas – House of Cards, The Wire, Breaking Bad -, que podem não se refletir na temática de 3% mas que estão presentes na forma como ele gostaria de segurar o espectador.

Bianca cita outro seriado do Netflix como referência. “Black Mirror é uma experiência forte pra gente no 3%”, continua a atriz. “É um futuro que é palpável, não é, sei lá… como o filme Prometheus… Black Mirror tem isso, tem uma coisa que tá mais pra frente, mas as primeiras cenas você nem entende em que época se passa…” Ela concorda quando menciono que a ficção científica tem esse papel de metáfora para entender a realidade atual. “Um dos motivos de eu topar fazer a série foi esse. A série é um alerta. Se a gente não parar, a gente vai chegar nisso. É uma catástrofe econômica. E não é só sobre o Brasil, é sobre um modelo econômico mundial, os poucos que têm, os muitos que não têm.”

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Escrevi sobre o clássico power pop do Teenage Fanclub, que está completando um quarto de século lá no meu blog no UOL.

Já faz tempo que 1991 vem sendo celebrado como um ano mágico para a música pop, ao enfileirar discos que não apenas estabeleceram novas carreiras como mudaram o cenário musical da última década do século passado. Uma sequência de obras que tornam aquele ano tão emblemático quanto outros clássicos, como 1967, 1969, 1972 ou 1977. Eu mesmo já escrevi aqui sobre os 25 anos de BloodSugarSexMagik, Screamadelica, Nevermind e Loveless – sem contar outros discos cruciais como o Blue Lines do Massive Attack, o Adventures Beyond the Ultraworld do Orb, Out of Time do R.E.M., The Low End Theory do A Tribe Called Quest e a tríade de transição dos três maiores grupos do rock brasileiro dos anos 80 (V do Legião Urbana, Os Grãos do Paralamas do Sucesso e Tudo Ao Mesmo Tempo Agora dos Titãs), além dos sucessos comerciais do Metallica (o disco preto), Guns N’Roses (os dois volumes de Use Your Illusion) e Pearl Jam (Ten) e dos discos de estreia dos Smashing Pumpkins (Gish) e Blur (Leisure). O conjunto destes álbuns mostra um cenário pop fragmentado, multifacetado e completamente díspare comparado ao de anos anteriores, mas um disco lançado naquele mesmo ano lembrava que a base de tudo aquilo, a fundação daquele universo que agora expandia-se para o thrash, o indie, o grunge, a ambient house, o trip hop, o rock alternativo, era a canção. Este disco chama-se Bandwagonesque e é o terceiro disco da banda escocesa Teenage Fanclub, que há exatos 25 anos ganhava o mundo ao ser lançado pela gravadora norte-americana Geffen.

É muito comum acharmos que invenções que nos precederam sempre estiveram ali. Como para a minha geração parece estranho pensar em um mundo sem televisão e para uma geração mais nova parece estranho imaginar como seria o mundo sem internet, muitos sequer cogitam a possibilidade de um mundo sem canções. Pois aconteceu – e não faz muito tempo. Apesar da música ser uma das primeiras expressões culturais do ser humano – ainda na idade da pedra -, a canção – esta estrutura musical que compreende introdução, estrofe, refrão, estrofe, refrão, eventual solo instrumental, estrofe, refrão e conclusão – é uma invenção da virada do século dezenove para o vinte, como a fotografia, o disco, o cinema, o carro e o avião.

Sempre entoamos melodias, cantarolamos frases e repetimos refrões, mas foi a noção de linha de montagem do século passado que forjou esse formato que hoje tomamos como eterno. Antes da possibilidade de gravar-se música, não havia uma limitação de tempo que determinasse os poucos minutos que resumem uma canção. Bardos medievais puxavam épicos que não pareciam não ter fim, saraus domésticos atravessavam a noite emendando letras e músicas umas às outras, concertos e óperas podiam durar horas, o canto de pergunta e resposta das plantações agrícolas duravam o tempo da jornada de trabalho. Foi preciso uma inovação tecnológica – o fonógrafo – para que se estabelecesse que a breve duração delimitada por uma restrição técnica poderia ser o início de um novo formato. A canção surgiu como uma necessidade mercadológica para alavancar um novo mercado: se a música erudita não cabia nos primeiros suportes para a música, era preciso inventar um novo padrão. A canção é fruto do encontro do teatro de revista com a música popular e surge no início do século vinte como uma versão musical do conto ou da crônica.

À medida em que o século passava vimos a ascensão de verdadeiros ourives do formato. É uma lista imensa e traduz o espírito de época de todo o século: de Irving Berlin à dupla Morrissey e Marr, passando por Bob Dylan, Noel Rosa, Buddy Holly, Bob Marley, Luiz Gonzaga, Lou Reed, Carole King, Caetano Veloso, Lennon e McCartney, David Bowie, Burt Bacharach, Chico Buarque, Serge Gainsbourg, Gilberto Gil, Nick Drake, Page e Plant, Chuck Berry, Brian Wilson, Rita Lee, os irmãos Gershwin – e a lista continua. A maioria da produção musical do século passado foi construída firme sobre o formato canção, mesmo que gêneros mais instrumentais (como jazz e a música eletrônica) ou mais agressivos (como o heavy metal, o punk e o hip hop) tenham abertos novas possibilidades para além deste formato, criando a base para a música deste século.

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Embora conhecido como uma banda essencialmente cancioneira, o Teenage Fanclub não começou como tal. Seu primeiro disco, A Catholic Education, de 1990, era um disco mais pesado, improvisado e ruidoso do que qualquer outro trabalho da banda, mais próximo à sonoridade caótica do início dos anos 90, à exceção da faixa de abertura, o hino “Everything Flows”. O segundo disco, The King, foi lançado às pressas para cumprir o contrato com a gravadora norte-americana Matador e liberá-los para assinar com a Geffen, que à época queria estabelecer-se como o lar do rock daquela nova década, assinando com o Nirvana, o Sonic Youth, os Stone Roses e os Guns N’Roses. Seu terceiro disco, Bandwagonesque, virava o jogo e mostrava uma nova cara para a banda, em que a canção era o vernáculo principal.

As grandes influências neste sentido são a base do pop britânico (os Beatles) e seus pares californianos (Beach Boys e Byrds), mas principalmente o influente e obscuro grupo norte-americano Big Star, fundado por Alex Chilton e Chris Bell no início dos anos 70, e pelos solos de guitarra lacrimosos do canadense Neil Young. O quarteto formado por Norman Blake e Raymond McGinley (vocais e guitarras), Gerard Love (vocais e baixo) e Brendan O’Hare (bateria) dedicava as dozes músicas à lapidação de canções pop perfeitas, envoltas em doses homeopáticas de microfonia e ironia (como a que levava batizar a própria banda de Fã Clube Adolescente ou a colocar um saco de dinheiro na capa de um disco cheio de canções de amor).

A incrível sequência de canções começa com a descrição de uma garota que “usa jeans onde quer que vá” e que disse “que vai comprar uns discos do Status Quo” numa música cujo refrão canta apaixonadamente que “não quis te machucar” – em uma música chamada “The Concept” que parece resumir o que aquele disco pretendia. Pelo resto de Bandwagonesque, somos apresentados à canções compostas principalmente – e em separado – por Norman e Gerard – a radiante “What You Do to Me”, a fugaz “Star Sign”, a apaixonada “Metal Baby”, a setentista “Pet Rock”, a acústica “Guiding Star”. Mas há também momentos melancólicos do disco, alguns deles assinados pelos outros músicos da banda, como “I Don’t Know” é de Raymond e “Sidewinder” (que Brendan compôs com Gerard), além de, claro, da chorosa “Alcoholiday”, de Norman, outro grande momento do disco. Bandwagonesque termina com a instrumental quase irônica “Is This Music?”, em que solos e riffs de guitarra soam como se estivessem tocando num rádio-despertador que interrompe o sono no fim da madrugada.

Coberto de riffs memoráveis e refrões pegajosos, Bandwagonesque levou a banda a um patamar de sucesso nunca imaginado por eles, chegando a ganhar o título de “disco do ano” de acordo com a revista norte-americana Spin, uma das principais vozes do pop da época (deixando Nevermind, Screamadelica e Out of Time fora do páreo). Mas aquele sucesso não era para o Teenage Fanclub. O disco seguinte, o azarão Thirteen, mudou o tom de sua abordagem em relações a canções e matou a possibilidade de continuar fazendo sucesso nos EUA. De volta ao Reino Unido, lançaram dois outros discos perfeitos (Grand Prix e Songs from Nothern England) no auge do britpop, atingindo a estatura que gostariam que a banda tivesse.

Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.

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Vencedores do Grammy Latino 2016 evidenciam a ótima fase que atravessamos atualmente – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

Céu, Elza Soares, Djavan, Almir Sater & Renato Teixeira, Martinho da Vila, Paula Fernandes, Scalene e Ian Ramil, Anderson Freire e Hamilton de Holanda. O time de vencedores brasileiros do Grammy Latino 2016 é uma ótima amostra do quão vasto, popular e sofisticado é o atual panteão da música popular brasileira. Mas as pessoas insistem em reclamar que a música brasileira deste século não chega aos pés de sua fase de ouro, sem especificar direito o que era isso – as cantoras do rádio? A bossa nova? A emepebê? O rockbrasileirodosanosoitenta? Lamentam a ausência de um passado que muitas vezes não viveram para ignorar a riqueza do presente que os cerca. Preferem repetir um refrão insuportável de um hit repetido mil vezes para constatar a má fase atual em vez de sair da superfície e fuçar ao redor – e isso hoje em dia é tão mais fácil! Mas a preguiça é regra (essa eu até entendo – e aí o problema não é o ouvinte), o pessimismo é religião e reclamar é o esporte favorito do brasileiro desde muito antes do Facebook.

Mas perceba apenas nesta curta lista de nomes selecionados por um júri formado por gente da indústria fonográfica há universos inteiros do atual cenário brasileiro. Céu é a abre-alas de toda a geração que inclui uma safra inteira de artistas que não descende da bossa nova (nem musicalmente, nem por parentesco ou apadrinhamento), não compõe ao violão e é tão pop (e rock e reggae e samba) quanto emepebê. A diva Elza vive o auge de sua carreira décadas depois de sua consagração gravando o primeiro disco de inéditas de sua vida cercada por uma nova geração de músicos paulistanos tão inquieta quanto prolífica – só vimos a ponta deste iceberg chamado Mulher do Fim do Mundo, um disco que ainda tem muito chão pela frente.

Djavan entra como representante dos grandes nomes da emepebê – mesmo que tenha caído numa mesmice artística a ponto de gerar um clone que hoje é melhor do que o original. O encontro de Almir Sater e Renato Teixeira é de um gigantismo ímpar para a música de raiz brasileira, um acontecimento tão grandioso quanto Louis Armstrong e Ella Fitzgerald cantando Porgy & Bess para o jazz norte-americano. E a estatura de Martinho da Vila não se apequena ao lado destes, afinal é um dos medalhões do cânone do samba. Paula Fernandes também é a ponta de lança de um mercado ancestral, que desde o meio do século passado vem trabalhando para ser uma das principais forças comerciais do pop brasileiro – seu sucesso não é acaso, e sim fruto da obra do sertanejo, essa Nashville brasileira sem cidade-símbolo. O empate entre Scalene e Ian Rammil também crava duas facetas do rock produzido no Brasil – uma popular e emocional, outra específica e racional. Anderson Freire representa o enorme mercado de música religiosa, outra força pop cada vez mais musculosa, enquanto Hamilton de Holanda é o autor mais pop e dos mais ousados do imenso território que é a música instrumental brasileira.

A lista poderia incluir nomes como Anitta (a evolução global do funk carioca) e Emicida (ao mesmo tempo enfant terrible e poster boy do hip hop nacional), além de manjados ícones de nossa cultura, que, quando querem, mostram serviço (João, Gal, Gil, Ney, Caetano, Bethânia) e os que fazem sempre o mesmo há décadas (Roberto Carlos e Jorge Ben, notadamente). Além de literalmente centenas de outros artistas que mesmo não estando neste amplo panteão contribuem para a complexidade e vastidão do que chamamos de música brasileira – bandas de rock e regionais de choro, grupos de pagode e blocos de carnaval, trios de axé music e duplas sertanejas, MCs de funk e instrumentistas virtuosos. Artistas que pagam suas contas vivendo de sua arte e que disputam olhos e ouvidos de um público cada vez mais deslumbrado, blasé ou ignorante.

Culpe a internet, mas também culpe a si mesmo. A proliferação de possibilidades da rede, que permite a ascensão de cada vez mais novos artistas, é a mesma que nos cerca em uma câmara de eco que nos prende sempre àquilo que já conhecemos. E toda vez que você reclama de “Bumbum Granada” (sem perceber a conexão com Noriel Vilela), o algoritmo multiplicador de chorume das redes sociais traz a música que você reclama de volta e assim cada um de nós se fecha para o outro que existe logo ali, no churrasco do vizinho, no som do carro que passa à sua frente, saindo zumbido pelos fones de ouvido de alguém no metrô. Como aconteceu na política deste catastrófico 2016, estamos nos isolando uns dos outros de uma forma quase selvagem, nos fechando em tribos que mal cogitam a existência do outro como possível. Beirando a barbárie.

Mas se nossa vida política parece fadada a dois becos sem saída que se encontram num confronto violento, o mesmo não pode ser dito sobre nossa fruição estética. É possível reduzir a lacuna ideológica que separa diferentes brasis (e não apenas dois, como gostam de frisar) através da música, fazendo os diferentes lados compreenderem que estamos vivendo esta que pode ser a melhor fase da música brasileira. Ao mesmo tempo em que o conceito de disco se desfaz com o digital, vemos o nascer de gerações inteiras que não param de produzir e encantar diferentes públicos. Em alguns instantes fugazes estes públicos se contemplam e dançam junto, sem preconceito, como deve ser. Porque “Malandramente”, “Varanda Suspensa”, “Bang!” e “Playsom” podem funcionar perfeitamente na mesma pista. O segredo é fazer o público jogar a favor – e não contra.

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Em um carta recém-descoberta de John Lennon e Yoko Ono para Paul e Linda McCartney mostra como o clima logo após a separação dos Beatles era pesado – a tradução tá lá no meu blog do UOL.

Uma recém-descoberta carta de John Lennon e Yoko Ono para o casal Paul e Linda McCartney, que vai a leilão nesta quinta-feira, dia 17, mostra como o clima entre a dupla de compositores mais famosa do mundo estava tenso mesmo após a separação dos Beatles, grupo que lhes projetou para a fama. Sem data, a carta datilografada – com trechos escritos à mão pelo próprio John – deve ter sido escrita no início de 1971, à época em que o casal John e Yoko mudou-se de Londres para Nova York e é uma resposta pesada à outra correspondência, não especificada, de Paul para John, que Lennon rebate mirando em quem ele acredita ser a autora de parte das acusações: Linda McCartney.

“Estava lendo a carta de vocês e pensando que tipo de fã rabugento de meia idade dos Beatles a escreveu”, começa John, sem meios-termos. “Resisti a olhar na última página para descobrir – ficava pensando quem seria – Queenie (mãe do ex-empresário dos Beatles, Brian Epstein)? A mãe do Stuart (Sutcliffe, o primeiro baixista dos Beatles)? – A esposa de Clive Epstein (irmão de Brian, que assumiu o controle da empresa do irmão após sua morte)? – Alan Williams (o primeiro empresário dos Beatles, antes de Brian)? – Quem diabos – é Linda!” E continua: “Nós dois ‘passamos por cima disso’ uma porção de vezes – e perdoamos vocês dois – então é o mínimo que vocês podem fazer por nós – vocês tão nobres. Linda – se você não se importa que eu diga – cala a boca! – deixe que Paul escreva – ou como queira.”

“Você realmente pensa que a maioria da arte de hoje só existe por causa dos Beatles?”, segue pesado um exasperado John, “eu não acredito que você seja tão insano – Paul – você acredita nisso? Quando parar de acreditar talvez você acorde! Nós não dizíamos sempre que éramos parte de um movimento – não o todo dele? – Claro, nós mudamos o mundo – mas tente acompanhar – DESÇA DO SEU DISCO DE OURO E VOE! Não me venha com esse papo de tia velha de que ‘em cinco anos vou olhar para trás como uma pessoa diferente’ – você não percebe que isso está acontecendo AGORA! – Se eu soubesse ENTÃO o que eu sei AGORA – você parece ter perdido o ponto…”

A carta é uma amostra do clima pesado no final dos Beatles e mostra como a cisão entre seus fundadores e principais compositores continuou mesmo após a banda ter anunciado seu fim, em 1970. “Eu não me envergonho dos Beatles – eu comecei isso tudo – mas sim de algumas merdas que a gente engoliu para fazer deles tão grandes – eu pensava que todos nós sentíssemos assim em diferentes graus – obviamente não.” A carta deve ser leiloada através da internet pelo site RR Auction nesta quinta-feira, dia 17, e o lance inicial por ela é de 2 mil dólares, embora acredita-se que ela deve atingir um valor dez vezes mais alto.

Leia abaixo a íntegra da correspondência.

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“Caros Linda e Paul,

Estava lendo a carta de vocês e pensando que tipo de fã de meia idade e destemperado dos Beatles a escreveu. Resisti a olhar na última página para descobrir – ficava pensando quem seria – Queenie? A mãe do Stuart? – A esposa de Clive Epstein? – Alan Williams? – Quem diabos – é Linda!

Você realmente acha que a imprensa está por baixo de mim/vocês? Você acha isso? Quem vocês pensam que nós/vocês são? A parte sobre o “auto-indulgente não percebe quem está ferindo” – espero que vocês percebam o quanto de merda que vocês e o resto de meus amigos “bondosos e não egoístas” despejaram em mim e em Yoko, desde que estamos juntos. Algumas vezes pode ter sido um pouco sutil ou deveria dizer “classe média” – mas não com frequência. Nós dois “passamos por cima disso” uma porção de vezes – e perdoamos vocês dois – então é o mínimo que vocês podem fazer por nós – vocês tão nobres. Linda – se você não se importa que eu diga – cala a boca! – deixe que Paul escreva – ou como queira.

Quando perguntado sobre o que eu achava originalmente do MBE, etc. – eu disse a eles o melhor que eu conseguia me lembrar – e eu me lembro mesmo de certo embaraço – você não, Paul? – ou você – como eu suspeito – ainda acredita em tudo isso? Eu posso perdoar Paul por encorajar os Beatles – se ele me perdoar pelo mesmo – por ter sido – “honesto comigo e ter se preocupado demais”! Que diabos, Linda, você não escreve para o livro Beatle!!!

Eu não me envergonho dos Beatles – (eu comecei isso tudo) – mas sim de algumas merdas que a gente engoliu para fazer deles tão grandes – eu pensava que todos nós sentíssemos assim em diferentes graus – obviamente não.

Você realmente pensa que a maioria da arte de hoje só existe por causa dos Beatles? – Eu não acredito que você seja tão insano – Paul – você acredita nisso? Quando parar de acreditar talvez você acorde! Nós não dizíamos sempre que éramos parte de um movimento – não o todo dele? – Claro, nós mudamos o mundo – mas tente acompanhar – DESÇA DO SEU DISCO DE OURO E VOE!

Não me venha com esse papo de tia velha de que “em cinco anos vou olhar para trás como uma pessoa diferente” – você não percebe que isso está acontecendo AGORA! – Se eu soubesse ENTÃO o que eu sei AGORA – você parece ter perdido o ponto…

Me desculpem se eu usar “espaço dos Beatles” para falar sobre o que eu quiser – obviamente se eles continuarem a fazer questões de Beatles – eu vou respondê-las – e vou conseguir tanto espaço de John e Yoko quanto eu puder – se me perguntam sobre Paul eu respondo – eu sei que parte disso acaba indo para o pessoal – mas, acreditem vocês ou não, eu tento responder objetivamente – e as partes que eles usam são obviamente as mais saborosas – eu não tenho mágoas do seu marido – eu sinto por ele. Eu sei que os Beatles são “pessoas muito gente boa” – eu sou um deles – eles também são grandes bastardos como todo mundo é – então desça do seu cavalo alto! – a propósito – nós temos conquistado mais interesse inteligente em nossas novas atividades em um ano do que tivemos em toda a era Beatle.

Finalmente, sobre não contar a ninguém que eu deixei os Beatles – PAUL e Klein passaram o dia me convencendo que era melhor não falar nada – pedindo a mim para não dizer nada porque iria “ferir os Beatles” – e “vamos apenas deixar assentar” [let it petre out] – se lembra? Então coloque isso na sua pequenina mente pervertida, Sra. McCartney – os c**ões me pediram para manter silêncio sobre isso. Claro, o lado do dinheiro é importante – para todos nós – especialmente depois de toda a merda provocada por sua família/parentes insanos – e DEUS TE AJUDE A SAIR DESSA, PAUL – vejo você em dois anos – imagino que você terá saído até lá –

apesar de tudo,

com amor para vocês dois,

de nós dois

P.S. sobre endereçar a carta de vocês só para mim – AINDA…!!!”

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Dissecado lá no meu blog do UOL, o novo filme da Marvel, Doutor Estranho, mostra os rumos para o futuro do personagem, da saga principal contada desde o primeiro filme do Homem de Ferro e dos planos de dominação mundial do estúdio.

O grande trunfo de Doutor Estranho, a mais recente produção da Marvel, não é simplesmente o fato de ser o primeiro filme do estúdio de tom menos juvenil (como o segundo Capitão América já tinha sido) nem seus deslumbrantes visuais psicodélicos. Essas duas qualidades ajudam o estúdio a se situar num contexto que parte em busca um novo público, que não assiste filmes de super-herói. Sua principal qualidade reside no fato do diretor Scott Derrickson contar uma história de origem simples e de forma objetiva, concluindo a jornada do protagonista com grandes truques cinematográficos, sem se preocupar em expor as referências e conexões com o contexto original do herói nos quadrinhos ou do cada vez mais complexo universo cinematográfico da Marvel. Estes, no entanto, não são deixados de lado, mas colocados em uma perspectiva que fica em evidência para o público já cativo da editora e do estúdio, respectivamente. Estas referências ajudam inclusive a sacar o rumo que a Marvel está apontando para seus próximos filmes, quando conclui, em três anos e dez filmes (!), sua chamada fase 3.

Preciso dizer que a partir daqui vou entupir o texto de spoilers? Ok, então está dito: seguem umas imagens de fronteiras interdimensionais para você não correr o risco de ler algo que não queira – se você quiser ler uma resenha sem spoilers, escrevi este texto antes da estreia do filme.

As referências mais evidentes são feitas não ao público iniciado, mas justamente para aquele que a Marvel quer ganhar com Doutor Estranho: o fã de cultura pop adulta. Não confunda com o fã adulto de cultura pop – este já forma grande parte da audiência da Marvel no cinema. Ela está em busca de um público que não gosta ou não se identifica com super-heróis – e por mais que Doutor Estranho seja um deles, ele não se encaixa no parâmetro tradicional do herói mascarado com roupa justa e colorida. Seus ícones são heróis que vão de encontro à cultura nerd vigente, seja do lado da ficção científica ou da fantasia. Por isso Doutor Estranho firma-se visualmente sobre pilares modernos do pop adulto.

A principal referência é, claro, a presença de Benedict Cumberbatch. O já eternizado Sherlock Holmes do século 21 fez a Marvel adequar-se à sua agenda para conseguir viver o personagem título e ele o faz de forma primorosa. O momento em que ele veste a capa que lhe caracteriza definitivamente como o personagem dos quadrinhos é a coroação de uma atuação perfeita, a melhor do universo cinematográfico Marvel. O sotaque norte-americano falado pelo ator inglês é só uma das joias de seu trabalho, que equilibra seriedade e humor a ponto de nunca parecer ridículo ao conjurar feitiços ou ao encarar o principal vilão do filme. O resto do elenco mantém o nível embora seja muito pouco exigido. Rachel McAdams, Mads Mikkelsen, Chiwetel Ejiofor e Michael Stuhlbarg são atores de alto calibre que não são tão exigidos quanto poderiam. A própria Tilda Swinton se contenta em uma atuação protocolar, que não constrange mas não brilha. O que não garante que eles não sejam utilzados em filmes futuros.

Outro elemento pop e adulto óbvio é a psicodelia. Ela vem sutilmente escancarada na ponta feita por Stan Lee, que aparece gargalhando ao ler uma edição dos anos 50 do clássico As Portas da Percepção do escritor Aldous Huxley. No livro, o visionário autor de Admirável Mundo Novo conta sua experiência com a mescalina, droga que teria uma enorme influência na renascença lisérgica da década seguinte. O título foi tirado de um verso de William Blake que fala que “quando as portas da percepção estiverem abertas, tudo parecerá como realmente é: infinito” e foi inspiração para Jim Morrison batizar sua clássica banda.

Não é a única referência à psicodelia tradicional. A cena do acidente que tira o movimento das mãos de Strange começa com “Interstellar Overdrive”, primeira música do lado B do primeiro disco do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Down, de 1967. Ao contrário de grande parte da discografia do Pink Floyd, este primeiro disco foi batizado em ácido lisérgico, quando a banda ainda contava com seu fundador, o visionário Syd Barrett. A faixa instrumental era conhecida como uma longa jam session nas intermináveis noites psicodélicas da Londres do final dos anos 60 e o disco foi gravado em um dos estúdios de Abbey Road no exato momento em que os Beatles gravavam seu clássico Sgt. Pepper’s.

A música não foi colocada apenas por esta referência. Na montagem da capa do segundo disco da banda (o último com Barrett, que saiu do grupo por ter se tornado uma vítima do LSD), Saucerful of Secrets, podemos ver uma sequência de planetas vista por um rosto isolado no canto esquerdo superior. Repare:

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Esta imagem é parte de um quadrinho de página inteira da edição 158 da revista Strange Tales, publicada em julho de 1967 (um mês antes do lançamento do disco anterior), em que o Doutor Estranho é apresentado à onipotente entidade cósmica Tribunal Vivo, que é justamente o rosto na parte de cima da capa do disco. O próprio Doutor Estranho aparece no quadrinho, mas foi retirado da colagem da capa.

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Outra referência óbvia é a progressão geométrica que o diretor e seu diretor de fotografia Ben Davis dá aos devaneios urbano-surreais de Christopher Nolan em Inception – A Origem. As dimensões paralelas são um dos muitos truques de cinema que ele e Derrickson exploram durante todo o filme – sem dúvida, o de maior impacto. Pisos em mosaicos, correores que se aprofundam, catedrais que se transformam em engrenagens e a arrebatadora visão de Nova York ao cubo – tudo isso é parente direto das cidades distorcidas por Nolan em seu filme de 2010 e os realizadores de Doutor Estranho não negam. Davis também cita o psicodélico Fantasia, de Walt Disney, como outra referência para os visuais do filme, além, claro, do túnel interdimensional do ato final de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.

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Outro filme que está na base de Doutor Estranho é Matrix. Desde o papel meio Morpheus da Anciã vivida por Tilda Switon (que começa várias frases como “e se eu te dissesse…?”) à jornada do escolhido feita por Stephen Strange, o filme de 1999 dos irmãos Wachowski está espalhado por todo o filme da Marvel. O treinamento de Strange no Tibet alude de forma descarada ao primeiro filme da trilogia: a tonalidade esverdeada do salão em que Strange conhece a Anciã, o momento de revelação sobre o mundo místico ao simples toque na testa de Strange, a relação mestre e pupilo entre os dois, a forma como as artes marciais são apresentadas.

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Outras referências pop não são propriamente adultas, mas trazem o filme para uma realidade diferente da dos nerds de lojas de quadrinho, ao mencionar diferentes artistas pop atuais (Beyoncé, Eminem, Adele) em uma cena hilária entre Strange e Wong (vivido por Benedict Wong). A menção à Beyoncé foi, inclusive, sugerida por Cumberbatch, fã da cantora:

Já as alusões ao universo dos quadrinhos do Doutor Estranho são bem mais sutis. Com a exceção das vestimentas de Strange e da dimensão paralela criada por um dos desenhistas mais clássicos da história da Marvel, Steve Ditko. A Dimensão Negra nos quadrinhos é assim:

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A forma como Derrickson e Davis colocam essa terra surrealista em movimento é outro desses truques de cinema que aumentam a moral do filme.

Além disso, são citados vários outros personagens do universo de Strange no papel. O vilão Kaecilius (vivido por Mads Mikkelsen) é um personagem secundário nos quadrinhos e no filme assume um papel que normalmente é do Barão Mordo (personagem ainda em construção, vivido no filme por Chiwetel Ejiofor) e é acompanhado de capangas que contam, entre eles, com Tina Minoru (vivida pela atriz Linda Louise Duan), personagem que faz parte do grupo Fugitivos nos quadrinhos. Outro personagem que vemos brevemente é o guardião do Sanctum de Nova York, que é nos apresentado como Daniel Drumm (vivido por Mark Anthony Brighton), que na prequel em quadrinhos é identificado como irmao de Jericho Drumm, o Irmão Vodu. Outros personagens coadjuvantes são levemente distorcidos para marcar presença, como a hora em que somos apresentados ao Mestre Hamir (um dos primeiros gurus de Strange nos quadrinhos, cujo aparição é apenas mencionada no início do filme) ou o nome do par romântico de Strange (vivido por Rachel McAdams), que é Christine Palmer, uma das Enfermeiras da Noite, entidade que já tem uma de suas encarnações, Claire Temple (vivida por Rosario Dawson) em ação no universo Netflix (as séries Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage, até agora). Alguns dos personagens principais são bem modificados: além da polêmica ocidentalização da Anciã (mais polêmica que sua mudança de gênero), Wong passa a usar magia (nos quadrinhos ele apenas luta) e Modor ainda não é o vilão.

Mestre Hamir, nos quadrinhos

Mestre Hamir, nos quadrinhos

Ainda há os inúmeros artefatos místicos, alguns mostrados sorrateiramente (como o bastão do Tribunal Vivo e o Livro de Vishanti), outros protagonistas da ação (como o Manto da Levitação, que ganha vida na versão cinematográfica). Um bom meio-termo disso é a Vara de Watoomb, que é apresentada rapidamente para logo depois virar a arma de Wong na luta final.

watoomb

Livros também são protagonistas das histórias de Doutor Estranho e se seu constante Livro de Vishanti aparece apenas rapidamente, o Livro de Cagliostro tem um papel central na história. Tudo isso é reforçado para mostrar a natureza do universo místico de Strange. Ao mesmo tempo em que os novatos vão conhecendo estes novos nomes e referências, os veteranos vão reconhecendo as homenagens e a atenção ao detalhe.

livroestranho

E há também referências a histórias específicas de Strange, especificamente “Into Shamballa”, que Dan Green e J. M. DeMatteis fizeram em 1986, e a recente “The Oath”, que Brian K. Vaughan e Marcos Martin escreveram em 2007. “Shamballa” entra na piada da senha do Wi-Fi:

shamballa

“The Oath”, por sua vez, é o roteiro básico do filme e conta com uma cena especificamente tirada dos quadrinhos, quando a projeção astral de Strange ajuda Christina Palmer operá-lo:

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A referência a The Oath foi anunciada antes mesmo do filme ser feito, quando Cumberbatch entrou em uma loja de quadrinhos em Nova York a caráter e pediu para o atendente tirar uma foto em que ele mostrava a capa da revista, que publicou em seguida na internet:

theoath

A cena foi filmada pelas câmeras de segurança da loja e tem um quê surreal:

Outra referência de “The Oath” é o médico que opera Strange após o acidente, que é referido apenas como “Nick” (vivido por Michael Stuhlbarg), que é ninguém menos que Nicodemus West, o médico que opera o neurocirurgião naquela em quadrinhos.

nicodemuswest

E, claro, o grande vilão Dormammu, representado de forma diferente dos quadrinhos (sem corpo, onipotente), mas mantendo o mesmo rosto listrado da versão clássica:

dormammu

A forma como Strange derrota Dormammu – com um truque de lógica, não com magia – é mais um aceno para o fã de cultura pop adulta, enquanto a cena da destruição final apresentada apenas de trás pra frente é outro grande trunfo da direção de Derrickson.

E, finalmente, temos as referências ao resto do universo Marvel no cinema. São citações mencionadas quase de passagem e se você não conhece a história completa que inclui os outros filmes nem conhece nada de super-heróis não interfere em nada ao assistir apenas a este filme. A primeira delas é a presença da Torre dos Vingadores na paisagem de Nova York. Serve para nos lembrar que estamos no universo Marvel e que os eventos ocorrem após o primeiro filme dos Vingadores.

Olha ela ali em cima

Olha ela ali em cima

Outra citação, ainda mais no início do filme, nos ajuda a situar Doutor Estranho na linha do tempo da Marvel. Não, sua origem não acontece após os incidentes de Guerra Civil, o filme anterior do estúdio. É uma trama paralela que vem se desenvolvendo há mais tempo e quando Strange declina alguns casos pouco antes de sofrer o acidente que imobiliza suas mãos, ele deixa passar um acidente envolvendo um soldado que teve a parte inferior de sua espinha dorsal destruída por um equipamento bélico experimental. Muitos acharam que era uma referência ao personagem vivido por Don Cheadle, James Rhodes, o Máquina de Combate, que é abatido em combate em Capitão América: Guerra Civil e quase perde os movimentos das pernas. Mas a idade mencionada (35 anos) e o fato da armadura de Rhodes não ser mais experimental tira a possibilidade de Stephen Strange não ter começado sua transformação em mago depois dos acontecimentos deste filme.

Na verdade, a cena parece mais pertencer ao segundo filme do Homem de Ferro, no julgamento de Tony Stark (Robert Downey Jr.) no início do filme, em que ele mostra vídeos que provam que o fabricante de armas Justin Hammer vem fabricando versões fracassadas de sua armadura, inclusive uma cena bem parecida com a descrita na ligação para Strange (veja quando o relógio do vídeo abaixo chega aos dois minutos):

Então é possível que o acidente que dá início à história do Doutor Estranho aconteça ainda na primeira fase do universo cinematográfico Marvel, antes do segundo filme do Thor, antes do primeiro do Capitão América e do primeiro filme dos Vingadores. Como seu treinamento levou mais do que meses, como mencionado no próprio filme, é possível ele tenha durado justamente o período de tempo entre os dois filmes dos Vingadores para o próprio Estranho pudesse enfrentar uma grande ameaça, ao final de seu filme. Uma ameaça que, por ter sido desfeita quando Strange consegue retroceder o tempo, não foi percebida por ninguém no planeta. Mas a conversa com Wong sobre o papel dos feiticeiros em relação a forças místicas que agem contra a Terra, em que os Vingadores são mencionados nominalmente, deixa claro que o final do filme acontece mais próximo da época atual.

avengers

É curioso pensar que Strange dispensou outros dois casos, além deste que pode ser o do segundo filme do Homem de Ferro. Ele ouve falar de “uma mulher com um implante elétrico no cérebro para tratar de esquizofrenia que havia acabado de ser atingida por um raio” e “uma senhora com um dano no tronco encefálico”. Será que são personagens que nem conhecemos cujas histórias ocorrem neste mesmo período? Por que a primeira descrição me faz lembrar da Capitã Marvel? Hmmm…

Outra referência óbvia ao universo Marvel já havia sido cogitada antes do lançamento do filme que era a possibilidade de o Olho de Agamotto, o artefato místico fundamental para Strange, ser uma das Jóias do Infinito, pedras preciosas que vêm sendo reunidas desde os primeiros filmes do estúdio. Vamos recapitular: a primeira delas foi o Tesseract (a Joia do Espaço, de cor azul) no primeiro filme do Thor, a segunda foi o Éter (a Joia da Realidade, de cor vermelha) no segundo filme de Thor, depois veio o Orbe (Joia do Poder, de cor roxa) no primeiro filme dos Guardiões das Galáxias, seguida pela Gema (a Joia da Mente, de cor amarela) que apareceu no segundo filme dos Vingadores e agora temos o Olho de Agamotto (a Joia do Tempo, de cor verde) neste novo filme. A única joia que falta ter seu paradeiro revelado é a da Alma (de cor laranja), que deve surgir em um dos filmes da Marvel no ano que vem (acho que em Guardiões da Galáxias 2, mas é só uma aposta).

agamotto

Três referências sorrateiras que localizam Strange no universo Marvel, sua origem em relação ao resto dos personagens, e sua conexão com o fio da meada que estamos acompanhando até aqui. As duas cenas no fim dos créditos apontam para os próximos passos tanto do Doutor Estranho neste universo quanto para onde este começa a apontar uma vez que entramos de vez em seu terceiro capítulo.

A primeira delas mostra Strange conversando com um certo deus nórdico, que dispensa o chá em troca de sua bebida preferida numa curta sequência engraçadinha. Thor (vivido por Chris Hemsworth), depois de constatar que “a Terra agora tem feiticeiros” explica que tem uma “questão familiar” para resolver, referindo-se ao desaparecimento de seu pai Odin (Anthony Hopkins) e ao que tem aprontado seu meio-irmão Loki (Tom Hiddleston) e Strange oferece-se para ajudá-lo. A cena confirma uma especulação que já estava quente quando o ator Daley Pearson (que interpretou o colega de quarto de Thor no hilário curta que explicou onde estava o deus do trovão durante os acontecimentos de Capitão América: Guerra Civil) twittou a seguinte foto nos bastidores do terceiro filme de Thor, Ragnarok, que estreia no ano que vem:

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Na foto, Thor mostra um cartão com o endereço “177A Bleecker St”, que todo fã da Marvel sabe que é o endereço da base de Strange, o Sanctum Sanctorum de Nova York, o que abriu a especulação que Doutor Estranho estaria no terceiro filme de Thor. A primeira cena após os créditos de Doutor Estranho vem confirmar isso, transformando Thor: Ragnarok no filme da Marvel que talvez tenha o melhor elenco até agora: além de Hemsworth, Hiddleston, Hopkins e agora Cumberbatch, o filme ainda terá o Hulk de Mark Ruffalo, Tessa Thompson como Valkyrie, Cate Blanchett como Hela, Karl Urban como Skurge, Jeff Goldblum com o Grão-Mestre e a volta de Idris Elba como Heimdall. Nada mal.

A segunda cena escondida confirma a transformação do personagem de Mordo em Barão Mordo, que começa ao final do próprio Doutor Estranho quando o personagem de Chiwetel Ejiofor frustra-se com o uso que a Anciã faz de magia negra. A cena final define a reviravolta em sua personalidade quando ele encontra-se com o personagem vivido por Benjamin Bratt, o ex-paralítico Jonathan Pangborn, que deu o caminho das pedras para Strange descobrir a magia. Pangborn, aprendiz místico, desistiu do mundo da feitiçaria e contenta-se em usar o que aprendeu apenas para conseguir andar novamente. No encontro com Mordo, este retira os superpoderes do mago novato e diz que “há muitos feiticeiros” na Terra, o que reforça seu papel de antagonista no próximo encontro que terá com Strange. Quando ele ressurgirá na telona é a dúvida desta cena: será no terceiro filme de Thor, no terceiro filme dos Vingadores, que deverá ter mais Doutor Estranho, ou numa óbvia continuação (ainda não anunciada) do filme de Strange?

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As duas cenas finais, no entanto, concordam que a chegada de Doutor Estranho ao universo cinematográfico Marvel confirma a entrada do elemento místico na história. Até então superpoderes e super-heróis eram explicados pela ciência e pela tecnologia, à exceção de Thor, um elemento isolado justamente por não ser terráqueo. Com a chegada do Doutor Estranho, a Marvel inclina-se mais para este lado, que deve dar a tônica desta terceira fase e, possivelmente, dos próximos dois filmes dos Vingadores. As primeiras produções do estúdio em 2017 – a série Punhos de Ferro feita com o Netflix e o segundo Guardiões da Galáxia (que já tem uma conexão aberta com Strange através de um brinquedo Lego e desenhos de pré-produção do filme) – também devem ir para este lado, o que abre a possibilidade para novas adaptações de sagas em quadrinhos, novos personagens e novos vilões – estes que ainda são o calcanhar de Aquiles da Marvel.

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O primeiro trailer da versão filmada do clássico japonês – que agora chama-se Vigilante do Amanhã – é bem fiel ao original, pelo menos visualmente – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

E não é que a versão filmada para o clássico oriental Ghost in the Shell parece convincente? Se há críticas sobre o fato de sua protagonista ser vivida por uma atriz ocidental, o primeiro trailer da adaptação mostra que o diretor Rupert Sanders parece ter acertado a mão ao adaptar o visual do mangá e do anime para o cinema. E a presença de Scarlett Johansson na tela (ainda identificada apenas como Major, sem o nome oriental Motoko Kusanagi da versão origina) prova que o filme pode transpor a polêmica e levar uma complexa história de ação sobre robótica, cibernética e inteligência artificial para as massas. O título em português também foi atualizado – da adaptação do anime para o português como O Fantasma do Futuro, o novo filme, que estreia em março do ano que vem, chama-se Vigilante do Amanhã. O ponto baixo do trailer é o uso brega da excelente “Enjoy the Silence”, do Depeche Mode, gravado em versão pós-apocalíptica à la Jogos Vorazes pelo cantor Ki: Theory. Mas o visual é impressionante:

Além do trailer também foram divulgadas imagens inéditas do filme:

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Escrevi lá no meu blog no UOL sobre a importância de não lamentar a morte do homem que nos ensinou o que é ser adulto.

Vamos deixar de mimimi. Não venha com “2016, que ano horrível”. Leonard Cohen já havia avisado que estava pronto para morrer. Dias depois voltou atrás, falando que iria viver até os 120 anos, provavelmente depois de ter tomado um puxão de orelha de alguém mais próximo. “Não, não fala uma coisa dessas”, alguém deve ter dito. Mas ele sabia. Estava com 82 anos, ergueu uma trajetória ímpar, cronista da constante consciência da maturidade. Provavelmente olhou para o curto futuro e falou “é isso”. Cumpriu seu papel. Encerrou seu ciclo. Hora de acabar. Tudo bem.

Não o envergonhem com emoticons chorosos, lamúrias autoindulgentes, um luto egocêntrico que parece mais festejar a importância do sofredor do que a obra do morto. A morte é o único destino definido, o outro momento (após o nascer) que nos define como seres humanos. É uma determinação biológica, não escolhe vencedores. Todo fã – ou mero ouvinte – de Leonard Cohen devia saber disso. O fim é inevitável, o que importa acontece antes.

Ouvi-lo dizer que estava “pronto para morrer” me causou uma sensação indescritível de respeito. Não sei se ele sofria de alguma doença terminal ou se estava apenas farto (acontece) de repetir a rotina interminável entre despertares e adormeceres. Olhou para o rastro que deixou em sua existência e suspirou contente. Creio que Lou Reed deva ter passado por sensação semelhante. David Bowie. Prince, embora ainda mais precoce. A sensação de ter deixado sua marca na história da humanidade só deve ser próxima à da criação de tal legado. Como deve ser compor “Heroes”? “Purple Rain”? “A Perfect Day”? “Suzanne”? “Bird on a Wire”? I’m Your Man”?

Cohen, temporão, começou sua carreira fonográfica aos 34 anos, idade que qualquer diretor artístico, empresário ou produtor desaconselharia um início de carreira na música pop. Acadêmico, romancista e poeta, já havia publicado vários livros no início dos anos 60 e, depois de desistir das letras impressas, resolveu abraçar a canção. Associou-se à Factory de Andy Warhol e no mítico 1967 de Sgt. Pepper’s, The Piper at the Gates of Dawn, do primeiro do Velvet Underground, dos Doors e de Jimi Hendrix, lançou seu disco de estreia, o irretocável Songs of Leonard Cohen, que dizia com seu timbre essencialmente masculino, embora não másculo, que era hora de começar a amadurecer.

Sua grande contribuição à história do pop é justamente a consciência da maturidade, algo que artistas contemporâneos começavam a tatear. Os Beatles, Dylan, The Who, os Kinks, o próprio Velvet Underground e as Mothers of Invention de Frank Zappa olhavam para um futuro próximo à medida que deixavam a adolescência. Mas Cohen já vislumbrava os quarenta anos e sua base literária contemplava um futuro em câmera lenta, de timbre áspero, sonoridade gasta. Cohen dava adeus à eletricidade, à pressa, ao ritmo frenético e ao refrão inevitável. Cantava como contava, cronista de seu tempo, flertando com o cinema (Robert Altman nos anos 70) e a TV (Miami Vice nos anos 80, True Detective nos 2010) sem nunca perder o prumo de sua identidade musical. Sempre cético e cru, pavimentou o caminho para autores modernos do calibre de Tom Waits, Nick Cave, Patti Smith, Bruce Springsteen, Cat Power, Jeff Buckley, Ben Harper, Father John Misty, Laura Marling, Elliott Smith, Elvis Costello e PJ Harvey.

Nos anos 80 compôs seu grande hit, “Hallelujah”, eternizado por vozes tão diferentes quanto Jeff Buckley, Rufus Wainwright e John Cale, que lhe pagava as contas ao figurar em hits modernos como Shrek e a versão cinematográfica de Watchmen. “Hallelujah” era a “Imagine” de Cohen, a versão mais adocicada dele mesmo que lhe dava liberdade para compor o que quisesse.

E manter-se com o cigarro, uma dose de destilado, o terno bem cortado, a penumbra, dores e amores. “Primeiro, Manhattan; depois Berlim” – o tom grave e solene cantava delírios de grandeza, dores de crescimento, seduções latentes, devaneios arruinados, desilusões amorosas, fins de relacionamentos. “Vida que segue”, parecia murmurar cúmplice ao ouvinte, entornando outra dose gorda de scotch.

Ao final de sua vida, compôs discos que, vistos em retrospecto, soam como manifestos e epitáfios simultâneos: Old Ideas, de 2012, e You Want it Darker, lançado há pouco mais de um mês. Discos que, sabendo do capítulo final de sua biografia, ganham um contexto e uma profundidade a mais, como o último capítulo de David Bowie, Blackstar.

Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra.

Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.

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Separei lá no meu blog no UOL umas imagens do livro Star Wars Propaganda – A History of Persuasive Art in the Galaxy, inspirado na propaganda política do universo Guerra nas Estrelas.

Aproveitando a proximidade do lançamento de Rogue One, o ilustrador norte-americano Pablo Hidalgo reuniu uma série de cartazes de recrutamento e propaganda política do ameaçador Império Galático de Guerra nas Estrelas no livro Star Wars Propaganda – A History of Persuasive Art in the Galaxy, que foi lançado no mês passado pela editora Harper Collins, nos EUA. São ilustrações e pôsteres que ecoam a propaganda política dos Aliados e dos nazistas na Segunda Guerra Mundial como ironizam a guerra ao terror pós-11 de setembro. Eis algumas imagens do livro:

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O grupo de Dave Grohl está presente na caixa de aniversário do clássico 2112 fazendo uma versão para “Overture” – mais detalhes sobre a caixa no meu blog no UOL.

O trio canadense Rush anunciou o lançamento de várias versões especiais comemorativas de seu primeiro disco clássico, a ópera-rock 2112, lançada em 1976. E entre os inúmeros extras que aparecem em diferentes versões do box set especial está a versão que Dave Grohl e Taylor Hawkins, dos Foo Fighters, gravaram ao lado do produtor Nick Raskulinecz para a faixa de abertura do épico. Os três já haviam tocado a música ao vivo quando o Rush foi aceito no Rock’n’Roll Hall of Fame, em 2013. O próprio Rush compareceu e tocou seus hinos “Tom Sawyer” e “The Spirit of Radio”.

Pouco antes da apresentação ao lado do Rush, o próprio Dave Grohl falou da importância do Rush em um discurso apaixonado de puro nerdismo rock’n’roll, assista abaixo, em inglês:

E no ano passado o grupo de Grohl convidou um fã para cantar “Tom Sawyer” acompanhado por eles.

A caixa especial de aniversário, que conta com vinis, LPs, DVDs, pôsteres e um monte de outras coisas, já está à venda no site da banda e, além da versão Grohl, Hawkins e Raskulinecz para “Overture”, a caixa ainda conta com versões feitas por Alice in Chains (“Tears”), Billy Talent (“A Passage to Bangkok”), Steven Wilson, do Porcupine Tree (“The Twilight Zone”), e Jacob Moon (“Something for Nothing”).

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A versão atual para “Overture” pode ser ouvida no programa de rádio online The Strombo Show neste link (mova o cursor para os 46 minutos para ir direto para a versão). O programa também conta com uma entrevista com o guitarrista do Rush, Alex Lifeson.