Courtneyzinha entre nós

, por Alexandre Matias

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Conversei com a Courtney Barnett antes de seu ótimo primeiro show no Brasil – o papo tá todo lá no meu blog no UOL.

“De repente, parece que tudo mudou”, me explica Courtney Barnett, que apresentou-se na semana passada em São Paulo, quando a pergunto sobre o pesado clima conservador que paira sobre 2016. “Acho que as pessoas jogam muito uma expectativa sobre o próprio futuro delas em outras pessoas e esquecem-se que elas mesmas têm de fazer algo”, conta a cantora e compositora australiana, autora de um dos melhores discos do ano passado, Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit.

O próprio título de seu disco de estreia (“às vezes eu sento e penso e às vezes eu só sento”) é uma crítica a esta expectativa sobre o papel político do artista. “Eu me sinto frustrada e desiludida com tudo que tem acontecido, mas eu sempre me sinto assim”, ela continua, “eu leio muito as pessoas comentando na internet coisas assim, que o artista tem de ser o farol dos tempos e eu tendo a concordar, mas acho que não pode ser só isso. Isso é uma forma de deixar as coisas nas mãos dos outros e fingir que aquilo não é problema seu.” Pergunto se isso tem relação com a desilusão atual com os políticos e a política e ela apenas ri, concordando com a cabeça e dando de ombros. “As coisas vão piorar, não adianta ficar só lamentando ou procurando culpados.”

29 anos recém-completos, gigantescos olhos claros (um mais esverdeado que o outro) e jeito de moleque, Courtney perde a candura ao subir no palco. O ar juvenil dá lugar a uma guitar hero que cresce no palco e suas crônicas malkmusianas sobre a vida não ser nem especial nem fútil viram pequenos manifestos elétricos, ditos sem rodeios. Acompanhada apenas de um baixista (Andrew “Bones” Sloane) e um baterista (Dave Mudie), ela canaliza a escola de Kurt Cobain, que ouviu tanto hardcore, noise, metal e pop para saber explorar os limites do instrumento. Mas como frontwoman, ela é do time de Chrissie Hynde, cuja segurança e firmeza se misturam com cinismo e ironia, provocando um apelo carismático oposto à aparente fragilidade que seu rosto infantil carrega. Veículo perfeito para suas canções, crônicas às vezes hilárias, às vezes pertubadoras, como “History Eraser”, “Avant Gardener”, “Depreston” e “Pedestrian at Best”.

O show em São Paulo foi um dos últimos da turnê do disco do ano passado, antes de uma pausa de fim de ano para começar a pensar no próximo disco, que ela quer gravar ainda no próximo semestre. “Tenho um monte de ideias, tanto de letras quanto de música, preciso parar para organizar tudo”, conta, explicando que deve voltar para sua casa em Melbourne para começar a compor o segundo álbum.

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