Se as letras e vocais de Jon King e a guitarra ruidosa de Andy Gill eram a assinatura musical do Gang of Four, o grupo que melhor personificou as transformações que o punk possibilitou depois da catarse inicial, sob o amplo rótulo de pós-punk, o baixista Dave Allen, cuja morte prematura tornou-se pública neste domingo, era a força-motriz da banda. Sua passagem aconteceu neste sábado mas foi confirmada pelo baterista de sua antiga banda, Hugo Burnham, em um post no Instagram. Allen esteve na formação inicial da banda, que eternizou o punk-funk característico do grupo, e saiu após o segundo disco, para voltar em 2004, quando a banda ressuscitou com sua formação clássica depois de anos afastada dos palcos – nesta nova fase da banda não apenas pude vê-los ao vivo como trazê-los para tocar no Festival da Cultura Inglesa quando fui curador dos shows em 2011, no Parque da Independência, em São Paulo. Após deixar o Gang of Four Allen tocou na breve banda Shriekback e em grupos menores como King Swamp e Low Pop Suicide, mas também manteve carreira na indústria musical como consultor, diretor artístico e executivo de pequenas gravadoras. É o segundo integrante da banda a morrer, depois do guitarrista Andy Gill, que morreu em 2020.
Vem aí o terceiro Tron! E desta vez o digital invade o mundo de carne e osso. Tron: Ares traz Jared Leto como o programa de computador que batiza o filme, que tá com um visual lindão e pode ter uma boa história pra ser contada, além de ter o grande lebowski Jeff Bridges do primeiro filme mais uma vez no elenco, embora apenas sua voz seja ouvida no trailer. Fora que a trilha sonora original é composta pelo Nine Inch Nails, o que também abre outra bela camada de novidade para o novo filme, que já tem data de estreia anunciada, para o dia 10 de outubro.
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Morreu nesta sexta-feira o guitarrista Amadou Bagayoko, metade do casal Amadou & Mariam, que ajudou a espalhar a música do Mali para o resto do planeta em suas incursões de guitarra e vocais. Amadou ficou cego aos 15 anos devido a uma catarata congênita e por isso passou a estudar no Instituto para Cegos da capital de seu país, Bamako, onde também havia nascido. Lá conheceu sua futura parceira musical e esposa, Mariam Doumbia, que estudava no local por ser cega de nascença. Adotaram a união de seus prenomes como nome artístico e aos poucos conquistou seu país musicalmente, com o som das tradicionais guitarras do país com o canto espaçado entre solos ininterruptos, mas com influências de outros gêneros musicais, desde violinos da Síria, tablas indianas, percussão dogon, além de rock, blues e música pop, como os dois sempre admitiram. A partir dos anos 80 conquistaram o mercado internacional, ganhando Grammys e sendo convidados por artistas como U2 e Blur para a abertura de seus shows. A última vez que o casal tocou ao vivo foi no ano passado, na cerimônia de encerramento dos jogos paralímpicos de Paris, em setembro, quando tocaram “Je Suis Venu Te Dire Que Je M’en Vais”, de Serge Gainsbourg. A morte de Amadou foi anunciada pelo ministro da cultura do Mali, Mamou Daffé.
Com duas datas na Nova Zelândia, não era muito difícil prever que os dois shows que Dua Lipa faria naquele país trariam dois dos maiores hits neo-zelandeses de todos os tempos, embora poucas pessoas além dos fãs destes artistas saibam que estas músicas vieram lá das bandas da Oceania. Depois de cantar “Royals” da Lorde em seu primeiro show no arquipélago no meio do Pacífico na quarta passada, nessa sexta a cantora inglesa escolheu o irresistível hit oitentista “Don’t Dream is Over” do grupo Crowded House, com a presença do próprio líder da banda no palco, Neil Finn. E como sempre, ela fez bonito. Sua próxima parada acontece no fim de semana que vem, quando ela começa o braço europeu de sua turnê mundial, começando pela Espanha. Alguém chuta o que ela pode cantar?
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Estava com uma certa expectativa em relação ao próximo disco das Haim, mas com este segundo single que elas acabaram de lançar, perdi um pouco das esperanças. Amo o disco mais recente das três irmãs, Women in Music Pt. III, lançado em plena pandemia, e queria que elas superassem aquele trabalho (afinal já se passaram cinco anos!). E a não ser que elas estejam escondendo o ouro, tanto o primeiro single “Relationships” quanto este recém-lançado “Everybody’s Trying to Figure Me Out”, que são boas canções, mas nada demais, parecem antever um disco quase genérico de si mesma, algo que as três sempre corriam o risco, mas se superavam a cada novo álbum. Tomara que eu esteja errado…
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Na segunda edição do Inferninho Trabalho Sujo na Casa de Francisca, duas bandas da pequena gravadora paulistana em ascensão Selóki Records tomaram conta do clássico templo da música brasileira em São Paulo, ao trazer duas camadas de hipnose ruidosa que espalharam uma tensão noise inédita em seu Porão. A noite começou com a aparição da Madre de Luiza Pereira, grupo em que a ex-vocalista da banda Inky dissolve suas tensões pessoais e exerce sua paixão pela microfonia melódica acompanhada de um trio demolidor, formado por Desirée Marantes (na segunda guitarra), Theo Charbel (no baixo e vocais) e Martin Simonovich (na bateria). Mostrando músicas de seu disco de estreia, Vazio Obsceno, Luiza surfou em câmera lenta na névoa elétrica de sua banda, deixando o clima da noite no ponto para a segunda atração da sexta.
Depois foi a vez dos cinco Madrugada fechar mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo em sua estreia na Casa de Francisca. Paula Rebellato, Otto e Yann Dardenne, Raphael Carapia e Cacá Amaral promoveram mais uma vez seu ritual kraut, partindo da repetição mecânica num loop quadrado – mas em constante movimento pela banda ter dois bateristas, Yann e Cacá! -, que arredonda com a marcação quase funky do baixo minimalista de Otto, que também estabelece balizas vocais para o ritmo e as expansões sensoriais promovidas pelos dois sócios do Porta: de um lado Paula repete frases nos synths enquanto roga juras de libertação, do outro Rapha faz sua guitarra rugir em abstrato ao enterrá-la constantemente em seu amplificador. A massa sonora do quinteto rapidamente tomou conta do ambiente, dragando todas as atenções para aquela missa profana que celebrava a força de uma tempestade, entre relâmpagos e trovões. Absurdo.
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Mais uma vez o Inferninho Trabalho Sujo chega ao Porão da Casa de Francisca, desta vez dia 4 de abril, sexta em que reunimos dois shows intensos e elétricos da nova geração de bandas desta década, começando a noite com a nova versão do grupo Madre, liderado por Luiza Pereira, que agora conta com Desirée Marantes na segunda guitarra, e seguindo com o mantra circular e tribal do quinteto Madrugada, com duas baterias e muita fé no krautrock. E enquanto as bandas não estiverem no palco, a discotecagem, como sempre, fica comigo, que mantenho o clima elétrico da noite. Os ingressos já estão à venda neste link. Vamos?
Mais uma novidade da Cinemacon, conferência de lançamentos que a Sony está realizando em Las Vegas, nos EUA, mostrando quais os próximos lançamentos do estúdio – e nesta quinta-feira foi revelado o remake de Corra Que a Polícia Vem Aí com Liam Neeson fazendo o papel do filho de Frank Debrin, o eterno agente secreto palhaço eternizado por Leslie Nielsen. A ideia pode até gerar um filme digno de nota, mas por esse trailer… Sei não…
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Alguém anotou a placa do caminhão? O show que a nova banda de Jon Spencer fez nesta quinta-feira no Sesc Avenida Paulista não foi apenas uma aula de rock’n’roll, com o guitarrista que marcou a história do rock alternativo nos anos 90 à frente do trio Blues Explosion puxando referências que iam do country ao gospel, do punk ao blues, do doo-wop ao noise, enfileirando seus curtos blues elétricos em altíssima velocidade como amostras de capítulos importantes da história do rock protagonizados por figuras que não chegaram ao estrelato nem flertaram com o showbusiness, vivendo à margem da indústria da música como instrumentistas de estrada. Influenciado pela urgência de estar próximo ao público da cena punk americana dos anos 80, Jon Spencer se joga a cada microcanção, seja cuspindo palavras de ordem, rugindo grunhidos que esfacelam palavras ou disparando riffs como alvos a serem metralhados pelos dois músicos que o acompanham, o intenso e psicótico Macky “Spider” Bowman na bateria e a arma secreta da noite, a impressionante baixista Kendall Wind, ambos da banda Bobby Lees. “Os conheci há oito ou nove anos, quando sua antiga banda abriu para o Boss Hogg. Eles eram muito jovens naquela época, adolescentes, e Kendall e Mackie tocam juntos desde os 12 anos e eles me chamaram para produzir um disco deles – quando fiquei especialmente impressionado com Kendall e sua musicalidade e seu entusiasmo e abertura para tentar coisas novas”, ele me contou em entrevista por telefone antes do show. “Anos depois produzi um disco da dupla Jesse Dayton e Samanta Fish e eles me chamaram para fazer uma turnê, e minha banda na época, os Hitmakers, meio que havia parado em 2022. Foi quando lembrei de Kendall e que os Bobby Lees estavam em um hiato, meio que tinham terminado. Chamei Kendall e topou, além de ter sugerido Mackie para a bateria e eu só queria uma seção rítmica, sair como um trio, pra tocar músicas da minha carreira, do Blues Explosion, do Boss Hog, do Pussy Galore, dos Hitmakers e algumas versões.” A química invejável do trio traduz-se numa avalanche de rock em que o baixo de Kendall parece conduzir tudo a partir de riffs e solos, com muitas notas agudas, enquanto o baterista demole seu kit e Jon rege a multidão com gritos guturais, chamados da selva e urros vindo das vísceras, enquanto usa sua guitarra como batuta para mudar completamente de uma música para a outra, enquanto se joga no palco numa performance que nos faz esquecer que ele tem mais de 60 anos de idade, chegando inclusive a atacar a minha câmera, numa mise-en-scene que já tinha feito no show de quarta, com o celular de alguém da plateia. O grupo segue tocando nessa sexta em Jundiaí e ainda tem uma data em Buenos Aires e outra em Santiago, onde gravarão algumas músicas que compuseram com essa formação. “Kendall e Mackey são mais novos que meu filho e são ótimos músicos e cheios de energia, e não apenas física, mas positiva”, continuou na entrevista. “Eles estão muito interessados em trabalhar, são muito abertos à experimentação e a tentar coisas novas. E trabalham muito duro e funcionamos bem como uma banda. Somos capazes de nos comunicar. Estou muito feliz em trabalhar com eles.” Dá para notar.
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O Picles sempre se supera e para realizar o primeiro show da dupla Sophia Chablau e Felipe Vaqueiro após o lançamento de seu primeiro single, reuniu Luiza Brina e Bruna Lucchesi para apresentar-se antes da dupla, inaugurando uma nova noite e um novo conceito: o AFLITO SP, numa tiração de onda com a versão paulistana do Tranquilo, transformando seu neon motivacional “ouvidos atentos, corações abertos” num slogan que tem mais a ver com o portal interdimensional no coração de Pinheiros – “pernas inquietas, corações disparados”. A primeira edição acontece dia 16, mas pelo jeito vai longe. Coisa fina, daquelas que só o Picles faz pra você. Os ingressos estão à venda neste link.