Jonathan Richman em São Paulo

, por Alexandre Matias


Jonathan Richman – “Cosi Veloce!” / “Let Her Go Into The Darkness”

Aproveito a deixa do Coachella do Bruno para falar de dois shows que vi nas últimas semanas. O primeiro foi o de Jonathan Richman, pai dos Modern Lovers, um dos sujeitos responsáveis por manter acesa a tocha do foda-se entre o Velvet Underground e os Ramones no início dos anos 70. Desde os Modern Lovers – e isso faz teeeempo -, que o sujeito não volta ao rock de verdade, preferindo ficar na posição de trovador ao violão, cantando músicas próprias e alheias ao violão como um velho bardo da Idade Média enquanto se dirige ao público batendo papo o mesmo tanto que toca música. Além do inglês nativo, Richman já gravou em francês, italiano, espanhol e hebreu, e ele curte a conversa com sua platéia enquanto se apresenta ao lado do baterista Tommy Larkins. Eu já tinha visto o sujeito se apresentando nesse formato em Paris, cidade em que ele tem um culto forte, e o clima de reencontro pairava mais sobre o show do que qualquer outro – eram fãs revendo o velho ídolo de sempre, as músicas completadas pela audiência como um diálogo (veja versão que filmei de “I Was Dancing in a Lesbian Bar“, com um clima quase um karaokê de turma), quase todo em francês. Por isso fiquei curioso – e um tanto quanto cético – quando soube que Richman viria ao Brasil e estava sendo vendido como um velho ídolo punk. Além de ser o oposto do tipo de apresentação que ele faz hoje, some-se a isso o fato de que ele não sabia falar a nossa língua e pronto, tínhamos uma receita para uma falha de comunicação – e não para um diálogo.


Jonathan Richman – “Blowing in the Wind” / “I Was Dancing in a Lesbian Bar” / “Pablo Picasso”

Não que o show não tenha sofrido com isso, mas o atrito foi bem menor do que o possível – e em grande parte devido à benevolência do público, disposto a cooperar. E foi preciso que Richman enrolasse a letra de “Blowing in the Wind” para que os presentes entendessem a lógica do show. Desculpando-se por não falar português com frequência, Richman compensava a falta de entrosamento racional com dancinhas e cocalhos, numa tentativa ridícula – mas felizmente eficaz – de conectar-se com o público. Em vinte minutos todos já tinham entendido qual era – e depois de mais uma hora Richman fechou o show como se estivesse se despedindo de um público que já conhecia faz tempo.


Jonathan Richman – “Arrivederci”

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