O bardo torto do samba carioca Jards Macalé segue atiçando a expectativa para seu novo disco, produzido por Kiko Dinucci, Thomas Harres e Rômulo Froes. Ainda sem título e com previsão de lançamento para fevereiro, seu disco foi introduzido pela pesada “Trevas” e que agora vem com uma face mais ensolarada e melódica com a faixa que compôs com Tim Bernardes, o samba-canção “Buraco da Consolação”, inspirado pela afinidade que os dois descobriram que tinham pelo disco Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues, gravado com a Orquestra Tabajara. Os arranjos de cordas são feitos por Thiago França.
Além da faixa nova, o resto do disco é descortinado num faixa a faixa feito exclusivamente para o Trabalho Sujo. Ele fala sobre as músicas que fez ao lado de Kiko (“Vampiro de Copacabana”), Tim (“Buraco da Consolação”), Rômulo, Kiko e Thomas (“Meu Amor, Meu Cansaço”), Kiko e Rodrigo Campos (“Peixe”, que conta com Juçara Marçal), Kiko, Thomas e Clima (“Longo Caminho do Sol”, dueto com Rômulo Froes), além das adaptações de poemas de Gregório de Mattos (“Aos Vícios” virou “Besta Fera”), Ezra Pound (“Canto I” que virou “Trevas”), Helio Oiticica (“Obstáculos”) e Capinam (“Pacto de Sangue”), esta última minha faixa favorita do novo álbum. Fala Jards!
O grupo baiano começa a comemoração de sua primeira década de atividade nesta sexta-feira no Cine Joia (mais informações aqui) e antecipa as novidades que virão em 2019, como o disco solo de seu vocalista Teago Oliveira – é o tema da minha coluna Tudo Tanto desta sexta-feira – leia lá no Reverb.
O cantor e compositor paulistano Thiago Pethit lança o single “Noite Vazia” para anunciar o lançamento do novo disco, Mal dos Trópicos, produzido por Diogo Strausz. Bati um papo com ele sobre o que esperar do novo disco e ele, mesmo escondendo o jogo, falou deste disco, que considera “um disco escuro”. Leia lá na minha coluna Tudo Tanto, no Reverb.
Ainda sem título, o terceiro disco do BaianaSystem é o assunto da minha primeira coluna Tudo Tanto de 2019 – antecipo a data de lançamento do disco (2 de fevereiro, quando o próprio Baiana completa 10 anos) e as participações especiais, que incluem Manu Chao, Antonio Carlos e Jocafi, Curumin, Mestre Lorimbau e BNegão, além do tema principal do álbum, que fala sobre a volta às raízes baianas do grupo a partir da ilha de Itaparica – leia mais lá no Reverb.
Na última coluna Tudo Tanto de 2018, conversei com a Roberta Martinelli, que realizou o espetáculo Acorda Amor junto com o baterista Décio 7 e reuniu Maria Gadú, Liniker, Luedji Luna, Letrux e Xênia França para interpretar canções da história da música brasileira que ecoam esta fase pesada que estamos vivendo nestes anos – e que deve virar disco (além de mais shows) em 2019. Leia a coluna lá no Reverb.
“Começamos a experimentar a música eletrônica desde o começo da banda, com elementos ainda tímidos”, me explica Eduardo Porto, baterista da banda instrumental Aeromoças e Tenistas Russas, que agora atende apenas pela sigla ATR. Concluindo o EP Mood, que foi lançado parceladamente, na semana passada, ao mostrar a última faixa “Midnight Sunset”, o trio também conclui sua transformação instrumental rumo à eletrônica. “No último lançamento, porém, o compacto “Midi” (de 2017) mergulhamos mais em timbres e descobertas dentro desse universo, com sintetizadores e também bateria eletrônica, somados à guitarra e bateria acústica. No Mood sinto que achamos o que a gente procurava, as composições saíram mais naturalmente, em três dias de imersão num sítio em Piratininga, no interior de São Paulo. Hoje o show é inteiro com a bateria acústica triggada, que soma em todas as músicas os timbres eletrônicos. O Gustavo (Koshikumo) reveza entre guitarra e sintetizador e o Juliano (Parreira) entre baixo e synthbass, assim como acontece nas 4 faixas do EP”.
A mudança alterou completamente o horizonte do grupo e o coloca em um cenário que flutua entre a house francesa e a cena eletrônica da Califórnia, fazendo-o soar mais tranquilo e suave, mesmos nos momentos mais intensos. E mostra os caminhos para o próximo disco: “O EP já dá indícios do que gostamos dentro do universo da música eletrônica, mas pretendemos explorar ainda mais e faremos isso junto a várias pessoas”, continua Eduardo, que explica que o álbum do ano que vem deve assumir esta tendência e aproximará o grupo de vocalistas convidados – e ele já antecipa alguns nomes: “Liniker, Tássia Reis, Zé Vito, Linn da Quebrada, Sara Donato…” Promete.
Velhos conhecidos da cena independente, os músicos Allen Alencar e Meno Del Picchia resolveram partir para construir uma carreira própria ao criar o duo Amarelo, que mostra seu primeiro disco homônimo aqui no Trabalho Sujo. “Nos conhecemos em 2013, quando a Andreia Dias me convidou pra fazer parte de uma big rock band maluca chamada Canibaile”, lembra Allen. “Além da Andreia a banda contava com o Meno, Tatá Aeroplano, Juliano Gauche, Gustavo Galo, Bárbara Eugênia, Peri Pane e Zé Pi. A partir do Canibaile no mesmo ano eu acho, Meno me convidou pra tocar nos shows do seu então recém-lançado disco Macaco Sem Pelo, naquele mesmo ano. A amizade foi se estreitando a partir daí, continuou no Barriga de 7 Janta, de 2016, e segue até hoje.”
“O Amarelo surgiu dessa afinidade que fomos construindo ao longo do tempo, tocamos juntos em diversos trabalhos com outros artistas e a amizade foi crescendo”, continua Allen. “A partir de um momento comecei a enviar umas músicas pro Meno, pra que ele me ajudasse a termina-lás e a parceria de composição foi surgindo. Todas elas tinham algo em comum, uma coisa cancioneira, uma atmosfera de simplicidade e contemplação parecidas, e tinham como tema basicamente tanto as questões afetivas que circundam uma relação amorosa, como as afetividades de si consigo mesmo, do seu próprio lugar diante das coisas.”
Os dois já têm seus trabalhos solo (além dos dois citados de Meno, Allen lançou dois EPs instrumentais), mas são mais reconhecidos como músicos e já tocaram com grandes nomes do atual cenário brasileiro: o paulista Meno já tocou com Otto, Tulipa Ruiz, Alessandra Leão, Metá Metá e Cacá Machado, entre outros, enquanto o sergipano Allen acompanhou Criolo, Curumin, Russo Passapusso, Junio Barreto e mais outros tantos. Tocaram juntos com Andreia Dias, Karina Buhr e Guizado, banda que participam até hoje.
O primeiro EP, com quatro canções, não tem previsão de lançamento ao vivo, foco que ficou para o ano que vem, com os dois sozinhos no palco, “formato fácil e acessível, modelo que ajuda a circular”. Para 2019 eles prometem mais um novo EP.
Tulipa encerra o ciclo de seu ótimo Dancê neste fim de semana, quando consegue reunir todos os convidados de seu terceiro disco no palco do Sesc Pompeia. É um senhor time: o trio Metá Metá, pai e filho Cordeiro (seu Manoel e Felipe), o baterista Sergio Machado e o guru João Donato juntam-se à banda dela – que ainda conta com seu pai Luiz Chagas numa guitarra e seu irmão Gustavo Ruiz na outra – para tocar músicas do álbum de Tulipa e outras de seus repertórios – e é caminho natural para o disco de encontros que foi Dancê, nas palavras da própria cantora, que, à distância, consegue entender o EP Tu, lançado no ano passado, como desdobramento deste processo. Bati um papo com ela sobre o show destas noites de sábado e domingo (mais informações aqui) e ela chegou até a falar em disco novo…
Três anos depois, como você vê Dancê?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-tres-anos-depois-como-voce-ve-dance
Qual foi o principal aprendizado deste disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-qual-foi-o-principal-aprendizado-deste-disco
Como o disco conversa com Tu, que você lançou antes de encerrar o Dancê?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-como-o-disco-conversa-com-tu-que-voce-lancou-antes-de-encerrar-o-dance
Fazer um show com todos os convidados sempre esteve nos planos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-fazer-um-show-com-todos-os-convidados-sempre-esteve-nos-planos
Dá pra esperar alguma surpresa deste show?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-da-pra-esperar-alguma-surpresa-deste-show
E quais os próximos passos a partir deste show de encerramento?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/tulipa-ruiz-2018-e-quais-os-proximos-passos-a-partir-deste-show-de-encerramento
Quando este livro de capa azul foi lançado, a cena independente brasileira já tinha entendido a internet (que ainda estava em seus primeiros passos, o Napster ainda existia e a banda larga era uma novidade – e ninguém usava celular) e começava a ligar os pontos tanto internamente – conectando capitais entre si – quanto com o que acontecia nos mercados independentes em outros países. E foi muito significativo perceber que aquele período conversava bastante com o que havia acontecido nos EUA nos anos 80, quando a lógica do faça-você-mesmo do punk persistiu depois que o hype do punk esfriou. Atravessando o país em vans apertadas, de ônibus ou de carona, bandas brasileiras suspiravam aliviadas ao saber que grupos como Sonic Youth, Black Flag, Hüsker Dü, Fugazi e Mudhoney passaram por perrengues parecidos antes de se estabelecerem como artistas consagrados. Não que o estrelato fosse meta, pelo contrário: todos – os brasileiros e os gringos – queriam apenas viver de música, do jeito que dava.
Mas não havia informação sobre estas bandas – até a chegada de Our Band Could Be Your Life. O livro de Michael Azerrad, lançado em 2001, funcionou como uma bíblia para pelo menos duas gerações de bandas independentes do Brasil, que ajudaram a moldar a paisagem atual. E por mais que o livro já tenha sido lido e relido por várias pessoas, a barreira do idioma ainda é um entrave – até que a produtora Powerline resolveu traduzir e lançar o livro no país. A primeira atividade do lançamento acontece nesta quinta-feira, às 13h30, na Sim São Paulo, quando seu autor, Michael Azerrad, fala pessoalmente sobre aquela cena com mediação feita pelo Dago Donato e pela Raquel Francese, também da Powerline, com a participação de ninguém menos que o baterista do Sonic Youth, Steve Shelley (mais informações aqui).
E é muito legal ver que o Nossa Banda Poderia Ser Sua Vida – que pode ser comprado neste link – está sendo lançado no Brasil pela editora do Leandro Carbonato, o bom e velho Emo, que foi estagiário do próprio Dago na Trama Virtual, há uns quinze anos. Dago – como muitos da nossa geração – tinha o livro como referência para quem queria trabalhar com música e obrigava todos que trabalhavam com ele a lê-lo, como um manual de instruções. Deu certo: além de lançar o livro, Emo hoje está por trás de turnês de bandas indies como Built to Spill e L7 – só pra ficar nas mais recentes – e promete mais novidades por aí. Michael ainda participa de uma tarde de autógrafos na sexta, às 19h (mais informações aqui) e possivelmente fará alguma outra atividade para lançar o livro. Bati um papo com ele por email sobre seu livro e sua relação com a cena independente brasileira – e lá embaixo tem um trecho do capítulo sobre o Sonic Youth.
Qual é a sua relação pessoal com o período que você retrata no livro?
Eu tocava bateria numa banda nesta época – chamávamos Love Gods e poderia dizer que éramos influenciados pelos Talking Heads, Meat Puppets e Violent Femmes, mas nunca diria que éramos parte da comunidade sobre a qual escrevo no livro – apesar de termos aberto uma vez para os Flaming Lips no CBGB’s e eles foram muito legais com a gente. Eu vi a maior parte destas bandas do livro, mas, mais uma vez, não diria que eu fazia parte desta comunidade – eu só gostava da música.
Como você teve a ideia para escrever este livro?
Uma noite há vinte anos, eu estava no sofá vendo um documentário – em uma fita VHS – sobre a história do rock. A parte sobre punk rock começava com os Ramones, os Sex Pistols e tudo mais, mas de repente ia direto dos Talking Heads para o Nirvana. Não fazia sentido. Cadê o Black Flag? Os Replacements? Sonic Youth? Tantas outras grandes bandas que aconteceram entre os Talking Heads e o Nirvana. Eles simplesmente pularam os anos 80!
Eu não conseguia acreditar. Achava que alguém deveria fazer algo em relação a isso. Então eu mesmo decidi fazer. E fazia muito sentido: seria uma introdução à minha biografia sobre o Nirvana (Come As You Are: The Story of Nirvana) que é o único livro sobre a banda que contou com a cooperação de todos seus integrantes. Escrever sobre isso foi uma experiência transformadora para mim. Documentar a história anterior ao Nirvana seria uma boa forma de devolver à altura – foi como quando Kurt Cobain começou a usar camisetas de seus músicos favoritos, como os Melvins ou Daniel Johnston. Era um trabalho enorme, mas eu tinha de fazê-lo.
Quais foram as melhores e piores surpresas que você descobriu ao fazer este livro?
Acho que a melhor e pior surpresas foi descobrir que os Butthole Surfers enfiaram cinco pessoas, duas baterias, dois amplificadores, duas guitarras, duas luzes de estrobo e uma pitbull fêmea chamada Mark Ferner of Grand Funk Railroad num Chevy Nova 71, que é um carro muito pequeno. E eles fizeram isso sem cortar a separação entre o porta-malas e o banco de trás, de forma que três pessoas poderiam deitar no banco de trás com a cachorra. Eles viajaram por todos os Estados Unidos assim, o que é tão horrível quanto maravilhoso. Isso é dedicação!
Como você vê esta cena hoje em dia? Estas bandas são uma espécie de novo rock clássico?
Tem gente que diz que o Nossa Banda… estabeleceu um cânone do indie rock norte-americano dos anos 80, um conjunto de bandas que são amplamente reconhecidas como ótimas. Mas não acho que elas formam um “novo rock clássico”, porque o rock clássico é a música comercialmente bem-sucedida mais pesadamente hypada em toda a história da humanidade. O rock independente americano dos anos 80 era muito obscuro e até hoje, comparando, poucas pessoas sabem que ele existiu. Mas as pessoas que sabem o lembram com muito carinho, talvez por isso você esteja falando disso.
Mas muitas bandas daquela comunidade ou continuaram trabalhando ou voltaram quando esta música voltou a ser falada e é bom saber que eles tiveram reconhecimento – e um pouco de dinheiro também – que eles mereciam. Mission of Burma, Dinosaur Jr e Mudhoney fizeram ótimos discos e fazem shows incríveis neste novo milênio.
Quando olho para esta comunidade hoje, penso na música, nos shows e nas histórias, mas também penso na forma como eles foram tremendamente influentes na cultura como um todo: na época, muito pouca gente sabia o que “indie” queria dizer, mas agora é uma palavra muito atraente para vender tudo, de filmes a cosméticos. Movimentos culturais grandes normalmente são antecipados pela música e a cena indie não foi nenhuma exceção.
Como você vê a evolução desta cena nos EUA desde a chegada da internet?
Responder isso tomaria muito tempo. Mas uma grande coisa que aconteceu foi que a amplitude musical explodiu. Como a distribuição física não é mais a única forma de vender música, selos podem trabalhar em uma escala bem menor, de forma que eles podem tratar de subgêneros musicais bem específicos. Então agora existem 50 tons de black metal, por exemplo, todo o tipo de música eletrônica, toneladas e toneladas de subgêneros do hip hop e por aí vai. E isso é bom para a música.
Os termos “indie”, “alternativo” e “college rock” significam alguma coisa hoje em dia quando falamos sobre música?
“Indie” era usado para designar selos que trabalhavam fora do sistema das grandes gravadoras. Depois virou um termo para descrever um tipo de som – normalmente pop-rock barulhento tocado com guitarras e cantado por pessoas que não cantavam bem. E agora se tornou uma descrição para um estilo de vida.
Ninguém usa mais o termo “alternativo”. Acho que, por um lado, devido ao fato da mídia digital ter nivelado os campos de atuação e não haver mais distinção entre música mainstream e independente. E era um termo besta, pra começar. Quando você queria soar esperto, você respondia “alternativo a quê?”
Já o termo “college rock” eu não ouço há década.
O que você sabe sobre a cena indie brasileira?
Eu não sei nada sobre a atual cena independente brasileira, mas estou querendo ouvir na minha visita à Sim São Paulo. O Brasil produz uma das melhores músicas do mundo, por isso acho que esta música deve ser espetacular.
Você está trabalhando em algum novo livro?
Eu acabeui de publicar Rock Critic Law, que é um compêndio de clichês de introdução à crítica de rock, cada um deles ilustrado por Edwin Fotheringham. Eu não sei o quanto as pessoas escrevem sobre rock em português, mas em inglês existem muitas, muitas construções preguiçosas usadas pelos escritores. Eu vinha percebendo isso há anos, até que finalmente coloquei todos eles num livro de forma que ninguém mais precisasse usá-los.
Agora estou trabalhando em uma versão em áudio para o Nossa Banda, com as pessoas que foram inspiradas por estas bandas lendo um capítulo cada. Jeff Tweedy do Wilco está lendo o capítulo sobre o Minutemen, Colin Meloy dos Decemberists está lendo o capítulo sobre o Hüsker Dü, o comediante Fred Armisen está lendo o dos Butthole Surfers chapter e anunciaremos mais nomes nas próximas semanas. É muito divertido e eu não vejo a hora de lançá-lo – dia 21 de maio.
Um trecho do capítulo sobre o Sonic Youth
Tradução de José Augusto Lemos e Marina Melchers
No mundo mainstream do início dos anos 80, uma mulher tendo papel de destaque em uma banda ainda era novidade. Mas não no punk rock.
Tanto Moore quanto Ranaldo vinham tocando guitarra desde o ensino médio, já Gordon estava recém aprendendo a tocar baixo, e foi necessário um salto relativamente grande para que ela subisse no palco. “Eu pensei nisso mais como sendo algo emocional, e não em termos de tentar tocar música”, diz Gordon. “Eu não conseguiria fazer nada se eu pensasse nesses termos — eu sempre preciso criar uma visão diferente para mim mesma.”
“Como mulher eu me sentia um pouco invisível no meio de tudo aquilo, de qualquer jeito”, continua Gordon. “Eu estava lá praticamente na posição de voyeur”, ela acrescenta com uma risadinha. Não muito confortável em estar sob os holofotes, Gordon preferia ter um papel principal que não fosse obviamente principal, o que descreve perfeitamente o baixo. “É tão importante — é um instrumento de apoio mas é…”, ela diz, sua voz desaparecendo. “Gosto de coisas assim. É algo que se encaixa com minha personalidade.” Gordon preferia ser uma força sutil porém decisiva fora do palco também, então enquanto Moore geralmente instigava tudo, desde a composição das canções aos contratos com gravadoras e Ranaldo operava como o maestro, Gordon era geralmente a consciência estética (e de negócios) da banda.
Logo no início, Moore a ensinou a tocar partes simples no baixo. Ele mostrava discos de reggae, para ilustrar o quão eficazes mesmo apenas algumas notas poderiam ser. A abordagem simples funcionou a favor deles mesmo assim — linhas de baixo mirabolantes teriam criado confusão nas composições que já eram carregadas.
Ainda que nem Moore nem Ranaldo tivessem uma técnica refinada para tocar seus instrumentos, isso não impedia que criassem densos dilúvios de som. “E ela nunca toca dessa maneira”, diz Ranaldo sobre Gordon. “As coisas que ela faz são todas frugais e minimalistas e ainda assim são complexas. Existe algo na maneira como ela pensa, tanto em ritmo quanto em harmonia, que é realmente incrível para mim.” Como vocalista, Gordon desenvolveu uma espécie de grito indiferente, como uma criança chamando os amigos para falar de algo incrível que encontrou mas tentando não parecer empolgada demais com o assunto.
Gordon era uma artista que simplesmente transferia sua estética altamente refinada para o rock, um gênero que, como o punk provou, exigia sensibilidade além de técnica. “Ela vinha completamente de um background de escola de arte”, diz Bert. “E era isso que fazia a banda.”
Conversei com o filósofo digital Jaron Lanier, que está lançando no Brasil um livro cujo título é auto-explicativo: Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais, que está sendo lançado no Brasil pela Editora Intrínseca – a entrevista saiu no site da editora. Um trecho:
Realmente acho que não devemos entrar em pânico ou ficar desesperados, especialmente agora. Estamos entrando em uma era em que o mundo será comandado por esses caras mal-humorados e paranoicos e ela pode durar muito tempo; talvez seja uma época em que não tenhamos democracia. E a única coisa que podemos fazer de verdade por ora é tentar nos preparar para a próxima época, quando as coisas talvez melhorem. Esse é um projeto meu. É o que estamos tentando fazer aqui nos Estados Unidos e vocês precisam fazer no Brasil e os europeus na Europa. Todos temos que tentar atravessar este período e não podemos perder a fé nem nossa imaginação para encontrar o caminho para a nova era.
Leia a íntegra da entrevista aqui.












