Entrevista
Foto: José de Hollanda

Foto: José de Hollanda

Com o sucessor do ótimo De Baile Solto, de 2015, sendo prometido há dois anos, o maestro pernambucano Siba interrompe o silêncio pouco antes do Carnaval para lançar um manifesto de celebração à festa popular. “Barato Pesado” celebra a folia na rua, a alegria como força-motriz, a música como força renovadora. “É uma música que diz muito sobre o lugar que o Carnaval ocupa na vida da gente”, me explica o cantor e compositor. “Ela é prima-irmã de ‘A Bagaceira‘ e fala dessa mesma energia de transfiguração e de renovação, uma saúde que vem pela festa e pela alegria. Essa é uma dimensão do Carnaval que a gente leva como natural, sem parar pra pensar, e talvez seja um bom momento pra gente dar valor à possibilidade, à liberdade de brincar o Carnaval e de algum modo usar esse momento pra regrupar forças e seguir de algum modo resistindo a um momento que acho que é bem negativo no país. Nesse sentido dá pra se pensar em resistência sim, embora o objetivo seja mais abrangente do que um objetivo político pontual.”

“O single é parte do novo disco, que tá ainda em elaboração. Comecei em 2017, teve uma pausa e agora tá em pleno andamento, com previsão pra maio ou junho”, continua explicando. “A gente resolveu adiantar essa música pro carnaval, porque comecei a me incomodar muito porque essa música fala muito sobre o presente, o agora, e eu não queria esperar o ano que vem pra sentir essa música com o carnaval, ia ser muito artificial. Especialmente pensando aqui no Recife, mas não só, porque o Carnaval se torna cada vez mais um momento importante pra gente repensar o país.” A letra compara a festa a uma religião, logo de cara, acendendo o pavio da folia: “Venha para nossa congregação, pra entrar não paga nem um tostão, não temos capela, igreja e nem sé, pode vir, nem mesmo precisa fé.”

“A gente não ia fazer, mas o incômodo de não fazer foi maior do que a perspectiva problemática de fazer tão em cima da hora”, Siba segue explicando. “Então a gente resolveu ir pelos intestinos e lançar a música mesmo. Até porque não adianta achar que tem grandes jogadas a serem feitas – não vai estourar no Carnaval, não vai tocar na rádio. Mas no pequeno espaço que ela ocupa – que é o espaço que a gente já ocupa – e mais um pequeno espaço potencial ao redor, ela acaba cumprindo uma função interessante no momento, acho que é uma música forte para o momento. Por isso a convicção de lançar ela tão na doida, quase na boca do Carnaval.”

O single também apresenta a indumentária que a banda de Siba, que conta com Mestre Nico na voz e percussão, Lello Bezerra na guitarra, Rafael Dos Santos na bateria e Lulinha Alencar no acordeon. “O Carnaval pra gente é um momento muito especial, não dá pra subir no palco igual a como você passa o ano inteiro”, explica Siba, falando sobre o uniforme camuflado. “Essa fantasia é parte do figurino da banda desse ano, é um figurino que foi idealizado por Marcelo Sobrinho e por mim pra toda banda. É uma coisa meio militar, mas não levado a sério, rosa e vermelho, com a cara pintada de branco, um black face ao contrário”, explica.

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Imensa satisfação em receber o capixaba Juliano Gauche em mais uma transformação musical, desta vez no Centro da Terra. Nesta terça-feira, dia 19 de fevereiro (mais informações aqui), o cantor e compositor explora um lado mais sensível e introspectivo de suas canções no espetáculo Entre Árvores, em que toca ao lado dos músicos Kaneo Ramos, nos violões, e Klaus Sena, nos pianos, em busca de uma sonoridade mais vazia: “A intenção é chegar nesse lugar mais atemporal, da voz e do violão”, explica Juliano, “tem um lugar em que o tempo não pega muito, menos efeitos, menos ritmos – tudo isso tem um tempo, uma época, que vai junto com esses arranjos. Quando fica só a voz e o violão fica mais atemporal e talvez eu esteja buscando isso mesmo, se existe algum traço de atemporalidade nas minhas músicas.” Abaixo, ele explica melhor o que esperar desta apresentação.

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Bati um papo com o Benke sobre o processo de criação do próximo álbum dos Boogarins, Sombrou Dúvida, na minha coluna Tudo Tanto desta semana

Bati um papo com o guitarrista Benke Ferraz sobre o processo de criação do próximo álbum dos Boogarins, Sombrou Dúvida, na minha coluna Tudo Tanto desta semana – lê lá!

cartaz sem palavras 300518

É com grande satisfação que recebemos no Centro da Terra um dos grandes cantores e compositores da música paulistana do século 21, o grande Rodrigo Campos, como primeiro dono das segundas-feiras de 2019. Em sua temporada Qualidades Primordiais, Rodrigo dividiu suas apresentações em quatro elementos, alquimicamente desdobrando suas temperatura e umidade para dissecar sua própria musicalidade. Em cada uma segunda-feira, ele reúne sensações diferentes de seus sambas a partir de seus convidados, “elas servem como um norteador para escolher as participações na temporada”, ele me explica “uma maneira mais de criar uma atmosfera do que fechar um conceito pra cada show. A ideia é ser um pouco aberto”. Na primeira segunda, dia 4, ele recebe os percussionistas Fumaça, Raphael Moreira e Victória dos Santos na noite Frio e Seco, regida pelo elemento terra. Na outra segunda, dia 11, ele recebe a nova colaboradora Maria Beraldo para a noite Quente e Seco, do elemento fogo. Na terceira segunda, a noite Frio e Úmido, do elemento água, ele conta com a participação de Kiko Dinucci e, finalmente, encerra seus trabalhos com a noite Quente e Úmido, do elemento ar, com Maurício Badê e Thiago França (mais informações aqui). Conversei com ele sobre sua temporada e ele conta o que pensou para seu mês de fevereiro no Centro da Terra.

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John Lennon acordou no dia 27 de janeiro de 1970 com uma música na cabeça. Foi ao piano e a terminou em uma hora. Ligou para George Harrison e Phil Spector – o produtor americano que havia acabado de chegar em Londres a convite de Allen Klein, que era então empresário da Apple, a gravadora dos Beatles – e os chamou para gravá-la naquela mesma noite. Na semana seguinte a música estava à venda como compacto, um feito histórico numa época em que a tecnologia ainda não corria na velocidade atual: entre a composição e a chegada aos ouvintes foram apenas sete dias, um processo-relâmpago comparado à meticulosidade de produção da época.

Sete dias são uma era geológica, se compararmos à velocidade do fim da segunda década do século 21, onde tudo acontece tão rápido que desparece com a mesma pressa que apareceu. E foi a partir desta lógica – e usando uma plataforma perfeita para isso -, que o grupo brasiliense Satanique Samba Trio apresenta, a partir desta sexta-feira, seu disco Instant Karma, que será publicado nos Stories da conta do Instagram do grupo, 28 faixas de quinze segundos que ficarão no ar apenas um dia para evaporar no dia seguinte. É o primeiro álbum lançado neste formato no mundo, “primeiro álbum líquido”, como dizem, “mas não checamos”.

“Foi em uma conversa com o baterista da banda, o Lupa Marques”, me explica o líder do grupo, o lendário Munha da 7. “Falávamos sobre as ideias mais idiotas e auto-destrutivas que já tivemos nos 15 anos de banda, como o Satanique Samba Trio Elétrico e o Ensaio Aberto – e fomos imaginando cenários e chegamos nesta ideia. Talvez seja a interpretação mais literal do termo ‘autodestruição’ que conseguimos encontrar”, lembra.

As músicas foram gravadas num único celular e com “gravadores de fita do tempo do ronca” e seguem a linha de “MPB desconstruidona entoadas como cânticos de celebração à impermanência das coisas”, como explica o líder da banda. “Roçando as bordas das questões a respeito do que é certo e errado no escopo dogmático da música brasileira”, Munha continua. “Aliás, todos instrumentos foram gravados separadamente em um único celular, que inclusive morreu de vez no final das gravações. Ou seja, é do nosso celular pro seu – postei uma foto dele no instagram da banda.”

Instant Karma começa a partir das 17h, hora de Brasília, no Instagram do Satanique.

O Drama de 2019

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“Quantos negros tem aqui? Quantos índios tem aqui? Quantos trans tem aqui? Quantos gays? Quantas minas?”, pergunta Tantão ao final de “Nação Pic Pic”, que encerra seu segundo disco com Os Fita, Drama, lançado nessa quinta-feira. Motivado pelos acontecimentos recentes na vida política brasileira, o trio liderado por Carlos Antonio Mattos, nome de batismo de metade da crucial dupla de pós-punk carioca dos anos 80 Black Future, foi gravado durante o processo eleitoral do ano passado e isso inevitavelmente contagiou todo o trabalho, a partir do título. “Drama é um disco totalmente diferente em termos de processo”, Abel Duarte, um dos produtores d’Os Fita, contrapõe o novo disco a Espectro, o disco de estreia do trio, um dos melhores de 2017. “Apesar da estética das músicas guardar alguma semelhança com as músicas de Espectro, ele surge de um processo criativo totalmente diferente. Pra começo de conversa já sabíamos que estávamos fazendo um disco, já tínhamos o nome Drama e todo um imaginário em torno desse conceito.”

O Drama do título refere-se ao que está acontecendo no Brasil. “Acho que esse ano e meio que separam os dois discos – podemos pensar em dois anos e meio se levarmos em conta a data de gravação do Espectro – foram um turbilhão de acontecimentos significativos no Brasil e no mundo”, continua Abel. “O Tantão é muito sensível a tudo isso e acho que a antena dele captou um monte de coisa no ar e traduziu a sua maneira nessas letras. Elas trazem muitas referências da violência que o capitalismo avançado aplica no corpo do povo. Aqui no Brasil, pais de ‘terceiro mundo’ – dividido – subdesenvolvido, colônia, essa violência é praticamente inescapável, principalmente para um cara tipo o Tantão, que transgride tudo sempre. Isso tudo assumiu uma forma muita clara e direta nos últimos anos – pós-golpe – quando todos os últimos resquícios de uma certa segurança social e todo e qualquer mecanismo de proteção dos trabalhadores e principalmente das ‘minorias’ passaram a ser destruídos e atacados diretamente pelo próprio estado. Ele sente isso de forma muito própria e todas as letras trazem esses dramas, tanto os seus dramas subjetivos, quanto os dramas da política institucional e os debates e pautas de políticas identitárias. Não tem como não se afetar por isso tudo, o disco foi gravado durante o processo eleitoral, essas discussões de racismo, homofobia, Bolsonaro, Trump, comunismo, as terras indígenas, isso tudo estava muito no imaginário coletivo, nas ruas, nas redes.”

“Tem uma coisa interessante também que aconteceu ao longo desse tempo que foi a convivência que tivemos, super intensa, trabalhar com o Tantão, viajar, ele chegar na tua casa louco quando você menos espera, várias farras, loucuras e tal, acho que tudo isso serviu pra gente chegar nesse lugar do Drama”, continua o produtor. “Tudo é muito dramático. Ele de uma forma muito inteligente pegou essa ideia e transformou em sete letras que trazem essa carga dramática muito forte.”

“Quanto às bases, eu e Cainã (Bomilcar, o outro Fita) já trabalhamos há um tempo juntos e isso fez nascer certas linguagens/processos que são próprias dessa parceria e está nos dois discos. O uso abusado dos samples, das distorções, a coisa da colagem, da edição, dos loops. Agora, sem dúvida, esse projeto com o Tantão, fez a gente abrir o ouvido e prestar bastante atenção em muita coisa nova para nós em termos de música eletrônica de pista, principalmente das periferias, então acho que o footwork, grime, o funk, o 150, o rap, kuduro e suas derivações, dub, todos esse guarda-chuva sonoro aí mexeu muito com a gente nesses últimos tempos. Talvez não como referência direta, mas como uma coisa que estamos sempre ouvindo e trocando.”

Abel gosta de fazer a separação processual entre os dois discos, sendo que o primeiro nem foi pensado como um disco. “Penso o Espectro como um disco que nasceu de um processo de edição/colagem no ProTools. Depois da gravação de uma sessão de improviso – que não tinha a pretensão de virar disco – ficamos um ano nesse processo. Pouquíssimas coisas foram gravadas depois. Os instrumentos eram mais toscos, não gravamos no grid, não tínhamos os BPMs anotados direito, as coisas haviam sido gravadas somadas em poucos canais – isso tudo tornou o processo as vezes um pouco difícil, o material tinha muitas limitações, obviamente dessas limitações surgem muitas coisas interessantes. As letras como são, também surgiram assim, muita coisa foi cortada e as estruturas, as partes, o texto também surgiram na edição.”

“O processo do Espectro foi mais guerra e talvez por isso mais experimental, foi surgindo ali, sem pressa, do material que tínhamos ao longo de um ano até entendermos que tinha um disco. Soa mais lo-fi, mais sujo, mas acho muito legal o que surgiu do material, o que era a gravação e o que virou o disco no final”, Abel segue a comparação. “Drama foi bem mais objetivo, planejado, feito muito mais rápido. Soa muito hi-def, apesar da sujeira, das distorções, os elementos de bateria tem muito mais peso, a voz ficou muito mais bem gravada, a performance do Tantão foi mais calculada por ele. Os beats são mais complexos, os BPMs mais acelerados, apontam mais pra música eletrônica de pista. O disco é mais certeiro como um todo, tem menos sobras em todos os sentidos. Olhando para os dois discos, acho muito interessante ver que criamos juntos um jeito de produzir uma música eletrônica “pop” com métodos e processos muito próprios, muito específicos do projeto, que fazem as coisas funcionarem e acontecer apesar das loucuras e limitações técnicas e musicais de cada um – isso vale também para os shows.”

As letras de Tantão (sintetizadas em títulos de músicas como “Vai Não Volta”, “O Sinistro”, “Adoração de Ídolos” e “Música do Futuro”) e as bases processadas d’Os Fita criam uma sensação de desconforto e de falta de pertencimento que ecoa outras referências musicais deste século. “Acho que o Cainã colocou de maneira perfeita, somos tendência, mas acho que sempre vamos soar estranho no contexto da música pop”, continua Abel. “Além do mais não consigo identificar claramente qual seria ‘a’ tendência. Acho que temos várias por aí, milhares. Realmente não consigo muito associar esse projeto a outras coisas. As nossas músicas não seguem um estilo, um gênero, elas conversam com muitas coisas, são ecléticas, diferentes entre si também. Não apontam com certeza pra nenhum lugar, não é rap, não é rock, não é techno. Alguém em Porto Alegre me falou que flagrou uma discussão num grupo de rap no Facebook sobre se Tantão e Os Fita era rap ou não, tenho quase certeza que não é, mas sei lá. Fiquei viajando que Drama também pode ser lido como um gênero literário, teatral, cinematográfico. Inauguramos o Drama como gênero musical, uma música do conflito, da ação, da encenação. Isso é obviamente uma zueira e acho que não temos a pretensão de ‘fundar’ gênero musical nenhum, talvez destruir alguns, mas acho que uma leitura interessante pra se fazer. A receptividade que o Espectro teve me surpreendeu muito. Acho que o público, essa grande massa cinzenta amórfica, se transformou um várias bolinhas dessa massa e daí tem umas três ou quatro bolinhas dessas, que podem se identificar e gostar do disco. Acho muito difícil fazer essa leitura do próprio trabalho, acho que é uma tarefa para os críticos.”

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Juliana Perdigão vem aos poucos construindo uma carreira sólida e interessante, longe dos holofotes, das lacrações e do hype. Desde seu primeiro trabalho (Álbum Desconhecido, de 2012) equilibra-se entre a música pop e a acadêmica, cercada de uma freguesia de compositores, músicos e amigos que inclui nomes como André Abujamra, Benjamim Taubkin, Zé Celso e Tulipa Ruiz. Neste processo, flertou com a poesia em seu disco mais recente, Ó, de 2016, quando musicou Haroldo de Campos. Foi a semente para seu mais novo disco, Folhuda, que ela lança nessa sexta-feira, e em que musica obras de poetas tão diferentes quanto os clássicos Oswald de Andrade, Paulo Leminski e Murilo Mendes e contemporâneos como Bruna Beber, Arnaldo Antunes, Angélica Freitas, Renato Negrão e Fabrício Corsaletti.

Folhuda foi produzido pelo maestro Thiago França, que lhe ajudou a construir o disco em si. “O disco veio de um convite feito pelo Thiago, que me chamou pra gente trabalhar junto, tendo ele como produtor. A partir desse convite surgiu o desejo de, pela primeira vez, fazer um disco só de músicas de minha autoria”, lembra num papo por email. “Eu já tinha feito algumas canções a partir de poemas, apresentei as que tinha para o Thiago, percebemos que já havia ali um corpo do que poderia vir a ser um disco, e desde então fui compondo outras. O processo de gravação já era bastante definidor de quais rumos deveríamos tomar, pois o disco seria gravado em apenas quatro dias. Foi daí que optamos por fazer um disco mais cru, um disco essencialmente de banda, tocado e gravado ao vivo.” Assim, “Música da Manivela” de Oswald de Andrade virou um reggae com versos como “Sente-se diante da vitrola e esqueça-se das das vicissitudes da vida”, “Mulher Depressa” de Angélica de Freitas encarna num punk rock e “Só o Sol” de Arnaldo Antunes surge como uma bossa nova.

Juliana Perdigao_Folhuda

“O processo com o Thiago foi muito massa porque a gente conversou bastante antes de gravar, desde o momento em que ele me fez o convite. No papo com ele fui amadurecendo as idéias. Durante as gravações ele esteve presente todo o tempo e tocou, fez arranjo, direcionou a parada mas deixando tudo bem livre, fluiu legal. E tem uma faixa, ‘Felino’, que gravamos só nós dois, ele no cavaco, eu no violão, que é uma faixa que curti bem o resultado e que pra mim é um retrato dessa parceria, o Thiago embarcando legal junto nas idéias”, conclui. Folhuda ainda conta com participações que incluem Ava Rocha, Lucas Santtana, Iara Rennó, Tulipa Ruiz, Arnaldo Antunes, sua banda Kurva – Chicão Montorfano tocando teclados, Moita na guitarra, Pedro Gongom na bateria e João Antunes no baixo – e o naipe de metais formado por Amílcar Martins, Filipe Nader, Allan Abbadia e o próprio Thiago, que ainda toca cavaquinho e percussão.

“De certa forma quem selecionou o disco foi minha estante, porque veio tudo dali, dos livros que tinha em casa”, ela continua. “Com alguns autores eu tenho uma conexão mais antiga, como o Lemininski, que li ainda adolescente, assim como o Arnaldo, figura presente no imaginário desde a infância, por conta do trabalho dele como músico, mas que também tive um contato com a obra poética dele há algum tempo. O Murilo Mendes, meu tio-bisavô, que não conheci, mas que sempre esteve ali, nos livros e nos casos da família. O Oswald veio um pouco depois, lá pelos meus 20 anos quando li Memórias Sentimentais de João Miramar, que me arrebatou total, e depois, no período em que estive no Teat(r)o Oficina, onde Oswald é uma espécie de babalaô daquele terreiro. E tem os poetas com os quais tenho proximidade pessoal, como no caso da Angélica Freitas, que é minha namorada, e o Renato Negrão, um broder das antigas. A partir do convívio com Angélica me aproximei um tanto mais do universo da poesia, principalmente de autores contemporâneos, como a Bruna Beber e o Fabrício Corsaletti, que também se tornaram meus parceiros em canções presentes no disco.”

O título do disco vem de sua faixa mais contagiante, o delicioso rock torto que sobre “Anhangabaú”, de Oswald de Andrade. “Gosto do som dessa palavra, da imagem que ela traz e do fato de ser um adjetivo, que pode também ser atribuído a mim, numa brincadeira em que incorporo esse imagem de algo farto, frondoso. E tem esse lance da folha de livro, página, já que todas as canções presentes no disco são poemas musicados que vieram dos livros”, conclui. O disco ainda não tem show de lançamento marcado, mas planeja lançá-lo ao vivo ainda em março deste ano.

JardsMacale

O bardo torto do samba carioca Jards Macalé segue atiçando a expectativa para seu novo disco, produzido por Kiko Dinucci, Thomas Harres e Rômulo Froes. Ainda sem título e com previsão de lançamento para fevereiro, seu disco foi introduzido pela pesada “Trevas” e que agora vem com uma face mais ensolarada e melódica com a faixa que compôs com Tim Bernardes, o samba-canção “Buraco da Consolação”, inspirado pela afinidade que os dois descobriram que tinham pelo disco Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues, gravado com a Orquestra Tabajara. Os arranjos de cordas são feitos por Thiago França.

Além da faixa nova, o resto do disco é descortinado num faixa a faixa feito exclusivamente para o Trabalho Sujo. Ele fala sobre as músicas que fez ao lado de Kiko (“Vampiro de Copacabana”), Tim (“Buraco da Consolação”), Rômulo, Kiko e Thomas (“Meu Amor, Meu Cansaço”), Kiko e Rodrigo Campos (“Peixe”, que conta com Juçara Marçal), Kiko, Thomas e Clima (“Longo Caminho do Sol”, dueto com Rômulo Froes), além das adaptações de poemas de Gregório de Mattos (“Aos Vícios” virou “Besta Fera”), Ezra Pound (“Canto I” que virou “Trevas”), Helio Oiticica (“Obstáculos”) e Capinam (“Pacto de Sangue”), esta última minha faixa favorita do novo álbum. Fala Jards!

maglore2019

O grupo baiano começa a comemoração de sua primeira década de atividade nesta sexta-feira no Cine Joia (mais informações aqui) e antecipa as novidades que virão em 2019, como o disco solo de seu vocalista Teago Oliveira – é o tema da minha coluna Tudo Tanto desta sexta-feira – leia lá no Reverb.

Foto: Rafael Barion

Foto: Rafael Barion

O cantor e compositor paulistano Thiago Pethit lança o single “Noite Vazia” para anunciar o lançamento do novo disco, Mal dos Trópicos, produzido por Diogo Strausz. Bati um papo com ele sobre o que esperar do novo disco e ele, mesmo escondendo o jogo, falou deste disco, que considera “um disco escuro”. Leia lá na minha coluna Tudo Tanto, no Reverb.