O “Barato Pesado” de Siba

, por Alexandre Matias
Foto: José de Hollanda

Foto: José de Hollanda

Com o sucessor do ótimo De Baile Solto, de 2015, sendo prometido há dois anos, o maestro pernambucano Siba interrompe o silêncio pouco antes do Carnaval para lançar um manifesto de celebração à festa popular. “Barato Pesado” celebra a folia na rua, a alegria como força-motriz, a música como força renovadora. “É uma música que diz muito sobre o lugar que o Carnaval ocupa na vida da gente”, me explica o cantor e compositor. “Ela é prima-irmã de ‘A Bagaceira‘ e fala dessa mesma energia de transfiguração e de renovação, uma saúde que vem pela festa e pela alegria. Essa é uma dimensão do Carnaval que a gente leva como natural, sem parar pra pensar, e talvez seja um bom momento pra gente dar valor à possibilidade, à liberdade de brincar o Carnaval e de algum modo usar esse momento pra regrupar forças e seguir de algum modo resistindo a um momento que acho que é bem negativo no país. Nesse sentido dá pra se pensar em resistência sim, embora o objetivo seja mais abrangente do que um objetivo político pontual.”

“O single é parte do novo disco, que tá ainda em elaboração. Comecei em 2017, teve uma pausa e agora tá em pleno andamento, com previsão pra maio ou junho”, continua explicando. “A gente resolveu adiantar essa música pro carnaval, porque comecei a me incomodar muito porque essa música fala muito sobre o presente, o agora, e eu não queria esperar o ano que vem pra sentir essa música com o carnaval, ia ser muito artificial. Especialmente pensando aqui no Recife, mas não só, porque o Carnaval se torna cada vez mais um momento importante pra gente repensar o país.” A letra compara a festa a uma religião, logo de cara, acendendo o pavio da folia: “Venha para nossa congregação, pra entrar não paga nem um tostão, não temos capela, igreja e nem sé, pode vir, nem mesmo precisa fé.”

“A gente não ia fazer, mas o incômodo de não fazer foi maior do que a perspectiva problemática de fazer tão em cima da hora”, Siba segue explicando. “Então a gente resolveu ir pelos intestinos e lançar a música mesmo. Até porque não adianta achar que tem grandes jogadas a serem feitas – não vai estourar no Carnaval, não vai tocar na rádio. Mas no pequeno espaço que ela ocupa – que é o espaço que a gente já ocupa – e mais um pequeno espaço potencial ao redor, ela acaba cumprindo uma função interessante no momento, acho que é uma música forte para o momento. Por isso a convicção de lançar ela tão na doida, quase na boca do Carnaval.”

O single também apresenta a indumentária que a banda de Siba, que conta com Mestre Nico na voz e percussão, Lello Bezerra na guitarra, Rafael Dos Santos na bateria e Lulinha Alencar no acordeon. “O Carnaval pra gente é um momento muito especial, não dá pra subir no palco igual a como você passa o ano inteiro”, explica Siba, falando sobre o uniforme camuflado. “Essa fantasia é parte do figurino da banda desse ano, é um figurino que foi idealizado por Marcelo Sobrinho e por mim pra toda banda. É uma coisa meio militar, mas não levado a sério, rosa e vermelho, com a cara pintada de branco, um black face ao contrário”, explica.

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