Dylan e a questão da autoria

, por Alexandre Matias

Por falar em pintura, o NY Times expôs nessa semana uma questão que já vem afligindo fãs de Dylan no fórum online dedicado ao compositor, Expecting Rain: será que suas pinturas de Bob Dylan são clones sobre impressões alheias, tiradas como fotografias? A dúvida foi levantada depois que a galeria Gagosian, em Nova York, anunciou a exposição The Asia Series, com telas de Dylan inspiradas em suas viagens por países como Vietnã, Japão, China e Coréia. Repare nas telas expostas:

E as compare com algumas imagens encontradas pelos fãs de Dylan pela internet:

E aí cabe uma baita questão: quem é o autor dessas obras? Ou melhor: Dylan já não fazia isso quando era músico? O que é sua fase folk senão a urbanização das questões levantadas por Woody Guthrie ou sua fase elétrica senão um mashup violento entre a poesia de Allen Ginsberg e a velocidade dos Beatles? E, mesmo tudo sendo plágio ou cópia, isso diminui sua importância?

Não vou entrar no mérito da pintura, área alien pra mim (sou daqueles que defendem a lógica de Elmyr de Hory em F for Fake de Orson Welles

), mas no âmbito da música, não há dúvida que, mesmo quando ocorre um plágio, a contribuição do plagiador é importante. Com a invenção do sampler, o termo “plagiador” pode até ser substituído por “sampleador” e de repente quem copia é tão artista quanto quem cria. Dylan é como Caetano ou Bowie, artista-esponja, que constrói uma obra Frankenstein usando pedaços das obras de outros artistas. Quando isso vai pro âmbito da pintura, talvez isso torne-se desalentador e faça ruir expectativas, mas a música popular pressupõe essa reinvenção alheia, essa reificação coletiva, a criação oral.

E aí, ficou feio pro Dylan?

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