PELVs em São Paulo na semana que vem!

pelvs

Semana que vem a lendária banda indie carioca PELVs volta à ativa para comemorar os 20 anos do LP Peter Greenway’s Surf, um dos marcos iniciais do indie rock brasileiro ao lado do Time Will Burn dos Pin Ups, o You do Second Come e o primeiro disco do Killing Chainsaw – discos que foram marcos basicamente por terem sido os primeiros discos daquele novo gênero musical que haviam conseguido se materializar. A volta da PELVs acontece no Da Leoni (o antigo Studio SP, na Augusta) e além do show em São Paulo, eles também tocam no Rio, na sexta antes do natal, no Solar de Botafogo.

Acompanho a banda desde estas priscas eras: o primeiro show que vi deles, no segundo Juntatribo, em Campinas, em setembro de 1994. Me perguntava, sem acreditar, como é que uma banda carioca com melodias do Pavement e do Teenage Fanclub e guitarras à Jesus & Mary Chain conseguia se encaixar num festival dominado por bandas cheias de testosterona como Os Cervejas, Virna Lisi, Relespública, Planet Hemp, Resist Control, Boi Mamão, Garage Fuzz e os Concreteness. Felizmente a escalação os colocou entre o Killing Chainsaw e a banda brasiliense Oz (a grande banda da geração Raimundos que não aconteceu) e os baianos do Bricando de Deus (outros pioneiros desse tal indie rock). Sou amigo de alguns dos integrantes e do Rodrigo Lariú, o mais perto de um Alan McGee que esta cena indie rock produziu no país, graças a seu heróico selo Midsummer Madness, e a proximidade entre eu a banda levou a PELVs a me convidar para discotecar antes de seu show – maior honra e responsa.

O ex-baterista Dodô há muito não toca com o grupo e irá participar dos shows de dezembro. E, antes de chegar ao primeiro ensaio com uma banda, meteu uma Gopro na testa e saiu em direção ao ensaio. E me disse:

“Bicho, no primeiro ensaio da PELVs em anos (no meu caso, 11), saí do meu apê em Laranjeiras filmando com a Gopro – moro a dois minutos a pé do estúdio que marcaram ensaio) e quando entrei na sala estavam tocando justamente a primeira música do Peter Greenaway’s Surf. Coisa de louco. É sério isso. Aí peguei o vídeo, pus as infos da turnê – tou indo pra Sampa junto, até porque não posso perder teu set, e pumba, tá aqui um teaser da tour.”

Ei-lo:

O setlist correto do show do Cure no Rio de Janeiro

cure-dodo

Segundo o Dodô, eles tocaram menos músicas que o previsto – e o set ficou assim:

 

Fernanda Paes Leme indie?

É nisso que o Dodô tá apostando – e quer botar a menina pra cantar.

Será?

Neil Young no Rock in Rio para download

vem o Dodô e me descola o áudio desse show. E quem é que vai descolar o vídeo?

Nirvana, por Steve Albini

Dodô desenterrou o histórico registro que Steve Albini fez do Nirvana no estúdio, a versão do disco que foi “polida” pela gravadora (e por Scott Litt), pois o original estava “sujo” demais. Ele conta melhor a história e dá o link para o download do vazamento.

On the run 80: Gente Bonita, 40 graus

Começar o ano com uma Gente Bonita no Rio de Janeiro é sinal de boa sorte! Invadimos o verão carioca dentro de uma festa que é… Segredo. Nova onda do compadre Dodô, a Segredo, como o nome diz, é segredo: não divulga-se onde acontece a festa, nem quem toca, mas abrimos uma exceção aqui e já antecipamos que quem vai cuidar do som da festa, à noite inteira, é a Gente Bonita – trazendo hits da nova temporada prontinhos pra aquecer ainda mais o verão do Rii (mas já abro aqui outro dos segredos – o ar condicionado é power). Quem quiser descobrir o segredo, basta entrar na página da festa, enviar seu nome para o email que está lá até as 15h deste sábado para saber todas as coordenadas da noite. E se você quer ter uma idéia de qual será o clima, fizemos esse setzinho novo cheio de pérolas ensolaradas para uma noite incrível. Vamo lá?

Gente Bonita Mixtape Rio Verão 2011 (MP3)

Strange Talk – “Climbing Walls”
Terry Poison – “Comme Ci Comme Ça (The Twelves Remix)”
Get Stellar – “The Moment”
Apples in Stereo – “Dance Floor”
Aloe Blacc – “I Need a Dollar”
Darwin Deez – “Up in the Clouds”
Housse de Racket- “Oh Yeah!”
Two Door Cinema Club – “What You Want (Redlight Remix)”

Gente Bonita no Rio de Janeiro pra começar 2011

E por falar em discotecar no Rio de Janeiro em 2011, comemoro meu aniversário junto aos cariocas no próximo sábado na festa nova do Dodô. Onde? Ele mesmo faz Segredo

Pavement ao vivo no Playcenter 2010

O Dodô teve a manha de pegar o áudio do melhor show do Terra desse ano (que pode ser visto na íntegra no site do festival) e colocar num sitezinho feito apenas para o download do show. Baixe aqui.

Os perdedores


Proto-indie-estatal: Propaganda do Banco do Brasil com trilha sonora da PELVs.

O Custódio aproveitou o fim de semana de shows em São Paulo para trazer a banda indie carioca PELVs para apresentar-se na cidade, na sexta. E eu aproveitei a vinda da banda para pedir para um texto sobre a PELVs em 2010 para o Dodô, baterista da banda, e ele aproveitou para contar uma das muitas histórias da mais importante banda indie carioca:

“Derrota, minha derrota; mais valiosa que mil triunfos” – escrevi esse verso pensando na PELVs, banda que ajudei fundar em 1992 para acabar com uma dissidência que havia no grupo Verve, que antecedeu toda essa história, e que envolvia uma vontade de cantar em inglês. Tivesse a Verve sobrevivido, com os integrantes da PELVs, seria a maior banda do rock brasileiro hoje. Não foi. Que bom. Pudemos desfrutar da liberdade dos perdedores, dos que não tem fãs a desapontar, dos que não tem criticos a adular, nem gravadora a orientar.

Como músicos, somos, todos, surfistas frustrados.

Criamos, em 1994, um esporte chamado Loud Surf, em que a condição para pratica-lo era estar bêbado, ser um dia de chuva e ondas grandes. Os piores tombos levavam as melhores pontuações. A revista Fluir, pra nosso desconcerto, levou a sério e fez uma matéria. Como trilha sonora, sugerimos nossos heróis Pixies, Lloyd Cole e Dinosaur Jr. que fazem surf music para dias de chuva. No Loud Surf, quem tomava mais tombo vencia a competição. Quem perdia,ganhava.

PELVs é a única banda ainda viva de uma geração de perdedores consagrados – as bandas que cantavam em inglês, no Brasil, na década de 90. Para mim, a maior e melhor geração do rock brasileiro até hoje. Para mim, chato de galochas, rigoroso pra caramba com isso de ser uma banda brasileira, nós, da PELVs, ganhamos nisso também.

E ganhamos dinheiro quando o Banco do Brasil, em 2008, encasquetou que uma canção que compus para a banda (“Baby of Macon” – depois de minha saida, em 1999, uma composição ou outra minha saía da gaveta e era grava pelos caras) e criou sua campanha nacional de sustentabilidade. Mais uma vez, ouvimos: caras, se vocês cantarem em português vocês serão a maior banda do Brasil. Muito obrigado, mas não.

Ontem liguei para o Gustavo Seabra, único da formação original, único a insistir em trazer novos músicos e nao terminar com a banda, pra saber porque afinal, continuar com ela, fazer mais um show pra 25 pessoas. Ele riu e respondeu: porque eu to pouco me fudendo para a quantidade de pessoas que curte a banda. Nessa hora eu entendi. Perdedores sao os outros.

O fim de Lost por Dodô Azevedo

O que tem em comum, Stanley Kubrick, Woody Allen, Joel Coen, Larry David, Claude Lelouch, Billy Wilder, Steven Spielberg, Doroty Parker, e Roman Polanski? Contar histórias é a vocação primeira do povo judeu. Da milenar misná a trilogia Star Wars, judeu tem a manha:

Ficção é o caminho mais curto para se chegar a Verdade.

A frase é minha. Tenho outra:

Se voce quer que as pessoas acreditem em você, conte uma mentira.

JJ Abrams é judeu. Ele também tem uma frase:

Antes de entedermos LOST, as montanhas são montanhas e os rios sãos os rios; Ao nos esforçarmos para entender LOST, as montanhas deixam de ser montanhas e os rios deixam de ser rios; Quando finalmente entendemos LOST, as montanhas voltam a ser montanhas e os rios voltam a ser rios.

Não. Essa frase não é de JJ Abrams. É um famoso Koan budista que adaptei para a ocasião. 2001 – Uma Odisséia no Espaço, o Torá: sim, os judeus sabem elaborar histórias que só se realizam enquanto estamos à procura de seus significados.

O sucesso de LOST foi ter ele aparecido em época de google, onde toda pergunta tem resposta, onde tudo o que é misterioso nos irrita, onde qualquer diálogo reticente nos faz mudar de canal. O sucesso de LOST foi apostar que tinha gente que achava este cenário um saco.

O sucesso de LOST foi ter ele aparecido em época de google, onde tecla pelo nome da série e encontra fóruns, blogs, vídeos e ficção adicional. Qualquer um podia ser monge beneditino e colocar sua glosa nos evangelhos. “A terra é oca”, “A ilha é atlântida”, “Estão todos mortos”. Eu disse evangelho?

Disse.

Ou voce acha que evangelho, ou qualquer texto-fundamento de qualquer religião, não surgiu da cabeça de gente muito criativa, muito boa de invenção e que foi, em seu tempo, tratado como ficção popular?

Dizer que LOST é um evangelho não é coisa de fã. Todo mundo segue escrituras. Até você, que não acredita em nada. Sim, você, que não acredita em nada, um dia leu os escritos de um filósofo que não acredita em nada e… reforçou sua fé em nada. A garotada não lê Bíblia, mas segue a ética do Homem Aranha, a Moral dos Trapalhões, a lógica do Grand Theft Auto.

As mocinhas tristes seguem as escrituras de Clarice Lispector. Os inseguros a música de Glenn Gould. Os operários as palavras do José Luiz Datena. Os cachaceiros os livros do Bukowski. Os diletantes, Seinfeld. Letras do Bob Dylan, pinceladas do Matisse, arranjos de Mahler. Todo mundo segue algum texto. A gente segue a Ficção.

Então tá liberado eu chamar LOST de evangelho, né? Beleza.

Evangelho de personagens. Uns tão ricos quanto Efraim, filho de José e Asenet. Outros tão pobres quanto Jar Jar Binks. LOST, como diz a página 108 o manual do evangelho, contou, nas três primeiras temporadas, a história de seus personagens. do 4o ao 6o episódio, dedicou-se à tarefa de apresentar os salmos, textos que garantem que uma obra é feita para consumo contínuo.

Aí veio o episódio final. De um lado, a rapaziada que não acompanhou a série e, humana demasiadamente humana, por sentimento de exclusão pela posição de 3o excluído, aguardava um motivo para criticar não a série, mas quem consome a série. Do outro lado, os fás das referências modernas, dos wormholes, da equação valenzetti, das descobertas da física contemporânea.

Veio o episódio final falar do Mr. Eko.

Do padre. De igreja.

Do Salmo 23. Declamado, inteiro, lá no episisódio… 23 Psalm.

Mr. Eko construiu uma igreja na ilha. Era sua obsessão.

Não deveria causar supressa que os personagens se encontrassem num lugar: “Que os próprios criaram para se encontrar, para se reconhecer, para relembrar”, como diz o Pastor Cristão, pai de Pastor José, no fim da história.

Evangelho?

Em “Buscando Vida no Multiverso”, publicado recentemente na Scientific American, Jenkins e Gilad Pérez, teórico do Instituto de Weizmann de Ciência em… *SPOILER* Israel, discutem a hipótese conhecida como o Princípio Antrópico, a qual afirma que a existência de vida inteligente (capaz de estudar processos físicos) impõe restrições sobre a possível forma das leis da física.

“As nossas vidas na Terra – tudo o que vemos e sabemos agora sobre o universo que nos rodeia – dependem de um conjunto preciso de condições que nos fazem possíveis”, diz Jenkins. “Por exemplo, se as forças fundamentais que dão forma à matéria no nosso universo se alterassem ainda que muito ligeiramente, seria concebível que os átomos nunca se formassem, ou que o elemento carbono, considerado um bloco básico para a vida tal como a conhecemos, não existisse. Então, como é que existe este equilíbrio tão perfeito? Alguns o atribuirão a Deus a sua criação, ideia esta que obviamente se encontra fora do domínio da física”.

Fora dos domínios da Física?

LAX, a igreja ecumênica, era só uma explicação científica up to date para o que se chama de além.

Já está arrependido das reclamações que você fez, né? Até lembrou de Jacob’s Ladder, do roteirista *SPOILER* judeu Bruce Joel Rubin que trata o assunto da ascensão de forma idêntica. Ótimo, sabe por quê?

Porque a tua opinião sobre o desfecho da série define que tipo de pessoa você é.

E não adianta procurar no Google atrás do significado da frase acima. Vai ter que pensar no assunto.

Outro judeu filmou o portão para o o que a gente chama além, como o aberto por Cristo Pastor para os personagens entrarem, usando viés científico e dele nasceu um “astronauta libertado, minha vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça”.

Na época, reclamaram também.

Só com o tempo, Stanley Kubrick teve reconhecido seu 2001 – uma odisséia no Espaço.

LOST já tem o reconhecimento, até dos detratores, de que não tem jeito: é assim que vamos passar a consumir entretenimento daqui pra frente.

Foi assim também com a bíblia glosada.

Foi assim também em 1895, quando Outcault inventou os quadrinhos.

Syd Field, judeu, na página 108 de seu manual de roteiro, ensinou a receita para o roteiro perfeito: “O roteiro perfeito não é um mito. Seria necessário que a 1a linha começasse com o início do conflito e a última linha encerrasse o fim do conflito. Como é necessária apresentação de personagens, desenvolvimento de trama, esqueça, o roteiro perfeito não existe.

A 1a linha do esposódio piloto de LOST diz o seguinte: “Jack Sheppard abre os olhos”. Técnicamente, o conflito começa. A última linha de LOST diz o seguinte: “Jack Sheppard fecha os olhos. Tecnicamente, o conflito acaba.

Evangelho.

Uma vez, o teólogo Alexander (não lembro o sobrenome, só lembro que em Hebraico quer dizer “Homem de Deus”) escreveu sobre o escritor latino Fernando A.

“Fernand A. criou uma ilha com palavras. Mas só depois de dar uma volta pela praia é que dá pra perceber que ele cercou o oceano com a ilha.”

Excelente definição para a ilha de LOST.

Excelente definição pro que a gente chama de desfecho.

* Dodô produz palavras e produziu essas pra cá.