Digital

Cinemania

É isso aí: segundo esse site, meu vício em filmes é de quase 80%. E o seu?

4:20

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Durante o fim de semana, o Radiohead instalou um relógio com uma contagem regressiva para o lançamento de seu novo álbum, num site que teoricamente anunciaria o sétimo disco da banda. Um rápido auê durante o finde e logo um monte de gente começou a desmentir a banda – inclusive ela mesma, que disse que o site em questão não tinha nada a ver com eles. Logo depois, o cronômetro apareceria zerado e em seu lugar, uma janela em vídeo começa a iniciar uma transmissão sob o título que batiza este post (O MAIS GIGANTE E MENTIROSO BOATO DE TODOS OS TEMPOS) e, em seguida, a página recarregava para um vídeo do Rick Astley mandando o hit “Never Gonna Give You Up” no YouTube.

Aí você abre o blog da banda no site oficial é eis o que temos, com a data desta segunda (já é segunda, na Inglaterra):

Hello everyone.

Well, the new album is finished, and it’s coming out in 10 days;

We’ve called it In Rainbows.

Love from us all.
Jonny

Detalhe: o link do In Rainbows acima redireciona para o site oficial do grupo. Que, por sua vez, redireciona para o site In Rainbows.com, que anuncia:

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Mais um clique e temos uma tela para encomendar o disco.

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Num FAQ, eles dizem que vão fazer a entrega do disco antes do dia 3 de dezembro, em todo o planeta e que trabalham com todos os cartões. Olha o bicho aí:

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E esse é o tracklist:

CD 1 AND VINYL
15 STEP
BODYSNATCHERS
NUDE
WEIRD FISHES/ARPEGGI
ALL I NEED
FAUST ARP
RECKONER
HOUSE OF CARDS
JIGSAW FALLING INTO PLACE
VIDEOTAPE

CD 2 AND VINYL
MK 1
DOWN IS THE NEW UP
GO SLOWLY
MK 2
LAST FLOWERS
UP ON THE LADDER
BANGERS AND MASH
4 MINUTE WARNING

Detalhe: clique para comprar o disco e o custo dele é de £ 40,00. Clica para comprar só o download e…

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Zero libras? Estranhou? Tem um ponto de interrogação ali. Sublinhado, tipo um link. Passe o mouse por cima dele e olha o link que ele indica…

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“It’s up to you”. Tipo “você que sabe”.

Será que os caras tão dispostos a, mais uma vez, reescrever a história da música online – se uma vez, vazaram um disco “sem querer” (com Kid A), agora estão perguntando pros fãs quanto eles pagariam apenas no download de um disco.

Isso se não for pegadinha, claro.

Mas eles disseram que o site http://radioheadlp7.com/ (o da contagem regressiva) não era deles e que não tinha nada a ver com a banda. Mas basta clicar nele para cair no site do disco novo.

Ou será que In Rainbows não é o disco novo?

Ou será que eles vão fugir com o dinheiro de todo mundo?

Depois dessa, boa semana…

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Nao. Quem baixa MP3 hoje ainda é nerd. A tecnologia não chegou aos eletrodomésticos como o rádio do carro. Os tios das pessoas ainda nao sabem usar a tecnologia direito. Talvez sua pergunta seja se o suporte vai acabar. Aí provavelmente também não. Vai virar um produto de nicho mas acabar não vai. O disco é apropriado para algumas situacoes que o arquivo digital não cobre.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
A conta da produção será paga na maioria dos casos pela mesma pessoa ou empresa que ganha dinheiro com o show do artista que pode ser o empresário ou um outro personagem. Em alguns casos será pago por um patrocinador privado ou público: Coca-Cola oferece o novo disco da Madonna, grátis no site cocacola.com). Em alguns casos vai continuar como é hoje: paga pelo proprio ouvinte, diretamente.
Ainda acho que o formato da tecnologia não vai ser este. Este ‘momento iTunes’ que estamos vivendo é uma bizarrice. Acredito muito mais no formato assinatura que o formato iTunes. E acho que o faroeste da troca irrestrita só acontece porque o fosso entre o establishment e o consumidor continua imenso. Os donos da bola do mercado fonografico AINDA não entenderam que o processo de donwload é diferente do processo de compra de CD. Eu quero baixar MUITA musica. E comprar CD NA CERTEZA. O comportamento é completamente diferente e o povo ainda não entendeu isto.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Acesso irrestrito e global. É um momento sensacional para a música.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Dificil listar. Hoje é mais comum eu conhecer alguem primeiro online do que
em CD ou ao vivo.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Ouvir e ser ouvido sem barreiras geográficas.

* Maurício Bussab toca no Bojo e é dono da Outros Discos.

Outra materinha que saiu na Simples, dessa vez com vários depoimentos de diferentes agentes da indústria da música aqui do Brasil. Fiz cinco perguntas pra cada um deles e, na revista (não cabe tudo né?), pincei apenas alguns pra dar uma ilustrada. Aqui, cabe todo mundo, então começo a partir do próximo post e vou alternando até a semana que vem…

O Futuro da Indústria

Livre do CD, a música destrói a indústria do disco para criar uma nova forma de se relacionar com o consumidor – cada vez menos passivo e mais exigente. A pergunta proposta: qual? A resposta coletiva: todas

Você certamente tem o disco mais vendido dos últimos dois anos em casa – se não tem, é porque acabou e daqui a pouco você vai comprá-lo de novo. Ele não é comercializado por gravadoras, não tem capa, nem artista, nem canções: o CD virgem, à espera de arquivos em áudio que podem vir de graça pela internet, de um player portátil de música digital de um amigo, de um serviço de compra de música online, de outro CD ou até de outros suportes de áudio de outras eras, como a fita cassete ou o disco de vinil.

Essa é basicamente a pequena e crucial mudança da época em que vivemos. A música já não pertence ao suporte armazenador (que conhecemos por disco) e circula por aí, de computador em computador, de iPod para iPod, de CD em CD, e aos poucos vai desmantelando boa parte daquilo que entendemos como indústria fonográfica. Termos como “disco”, “rádio” e “mais vendido” vão caindo em desuso à medida em que outros, como “MP3”, “P2P” e “podcast” vão entrando em nosso vocabulário. E como a rapidez das mudanças desafia a velocidade das formulações de previsão, melhor juntar um grupo de entusiastas das novas tecnologias para tentar responder cinco questões que dão uma pequena geral no estado das coisas. Mais do que músicos, empresários, intelectuais ou executivos, são pessoas fissuradas por música que fazem as mesmas perguntas à medida em que se maravilham com o novo cenário. Alguém tem que puxar o bonde…

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Não acredito que o disco tenha acabado, mas a ganância está com os dias contados. Para muitos, eu inclusive, o fetiche pelo objeto disco permanece. Ainda é bom poder ler encartes, letras, ver a ficha técnica, pirar na arte etc. Mas as gravadoras precisam entender melhor o que fazer com o disco, como pensar o seu marketing, e entender que nem toda cópia é pirataria. Hoje, todos os meios digitais têm um grau de confiabilidade bem discutível, e o CD não é exceção. Tenho discos comprados no primeiro momento dos CDs que já estão com mais de 20 anos e praticamente desintegrando. Imagine se eu não tivesse guardado uma cópia digital? Teria de comprá-los de novo, pelos preços extorsivos praticados pela grande indústria. Pensando no Brasil, onde ainda não houve o boom dos tocadores digitais de música e onde a oferta de música digital ainda é ridícula, com poucos títulos e quase todos protegidos de uma maneira bisonha, como o DRM (Digital Rights Management) da Microsoft usado pelo iMúsica (nossa única loja virtual). Para mim, o disco vai durar um tempo mais longo por aqui do que nos países asiáticos (Coréia do Sule Japão), na Europa e nos EUA, onde o mercado digital já começa a amadurecer a fezaer frente ao CD. Todas as pesquisas de vendas do disco físico apontam essa queda. Mas, no Brasil e em outros países pobres, o CD vai existir em profusão, se não para a venda nas lojas e supermercados, na rua, nas banquinhas dos piratas.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
É difícil prever o futuro porque, para além da tendência de mercado, que é mesmo a de a música migrar para um formato digital tipo o MP3, existem também questões jurídicas que podem acelerar ou retardar essa inclinação do mercado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado de música digital vendida legalmente online cresceu bastante nos últimos dois anos não porque as pessoas se conscientizaram de que devem pagar os artistas e sim porque houve um cerco de leis. Hoje, copiar uma música protegida por DRM dá cadeia, a RIAA tem ganhado nos tribunais ações contra pessoas físicas que trocam músicas. Isso tem o seu peso. Por outro lado,a reação a esse cerco é bem inteligente. Um caso clássico é a idéia dos Creative Commons, contrato que sobrepõe o padrão do todos os direitos reservados e dá ao artista o poder de decidir como proteger os direitos de sua obra. Nesse caso, se o artista libera a cópia, deixa de ganhar dinheiro por uma lado, mas coloca para fora a sua música e pode ganhar bem com shows e com licenciamento de suas composições para cinema e publicidade, por exemplo. Outro modelo que, na minha opinião, tem mais chance de vingar é o da venda mais aberta de música, sem restrições de uso e de cópia. Vários selos e gravadoras pequenas já estão optando por essa forma de venda, que também tem como um dos principais atrativos os baixos preços. Cito dois exemplos interessantes nesse sentido. Um é o da gravadora virtual Magnatune, que permite que você ouça o disco todo antes de comprar – não só os 30 segundos do chamado “fair use” – e deixa você escolher o quanto pagar pela música. Lembrando que o artista fica com 50% do total pago pelo consumidor. Numa escala maior, o site de venda de músicas eMusic.com, que oferece mais de um milhão de canções de independentes, de gente desconhecida mas também de artistas muito populares, como Miles Davis. Todos os discos que tive vontade mesmo de comprar, encontrei por lá. E o preço é ótimo. Tenho uma assinatura anual, que me dá direito a 90 downloads por mês a um preço de US$ 0,17 por canção. Bem melhor do que comprar música por US$ 0,99, com DRM, no iTunes.
Fora esses dois casos, acredito também que iniciativas como as do TramaVirtual e do MySpace, que dão a possibilidade de o músico colocar canções para serem baixadas de graça da internet vão vingar. Já do ponto de vista de negócios, não dá para ignorar o crescimento absurdo dos ringtones e truetones, coisa que acho que só vai aumentar no futuro, a despeito dos preços. Afinal, hoje pode-se pagar quase R$ 5 por um trecho de uma música, o que é absurdo.
É importante notar que a indústria do disco está em crise – muito por conta de ser uma indústria bastante reacionária e com dificuldades de inovar – mas a indústria da música como um todo, não vê crise. Mesmo nos tempos do walkman, não lembro de ver tanta gente nas ruas com fones de ouvido. Em São Paulo, se compararmos os espaços de show de hoje com os de há 20 anos, o crescimento é brutal. Acho que esses fatores vão fortalecer um futuro em que o ouvinte médio de música vai migrar do gosto massificado promovido pelo esquema de “plantation” das grandes gravadoras, que ainda insistem em colar todos os seus ovos numa mesma cesta, para uma segmentação maior.
Coisas que só rolavam no underground, para iniciados, estão muito mais acessíveis a quem tem um pouco de curiosidade e um computador plugado na web. Antes, era só a TV e o rádio a ditar o que se devia ouvir, hoje, é fácil driblar essa ditadura do gosto e desenvolver um gosto pessoal, com menos imposições externas.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Acredito que seja essa segmentação que eu citei no fim da última questão, essa oportunidade de ouvir o que quiser. Gosto especialmente de iniciativas como a dos sites Pandora e Last.fm, que ajudam as pessoas a encontrar o que não sabem que existe. Acho que a distância entre artista e seu público também tende a diminuir. É só pensar no MySpace e em blogs de bandas. Acho que hoje nós vivemos um momento propício para que os artistas façam menos pose e mais música interessante.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
Um monte de gente. Semana passada mesmo eu conheci uma banda muito legal de funk-reggae dos anos 70 chamada Cymande, que ouvi num podcast brasileiro chamado Octopus Mono Sound. Das coisas novas, Arctic Monkeys, Clap Your Hands Say Yeah, Cee-Lo, Gnarls Barkley, Chihei Hatakeyama, David Thomas Broughton.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
É só abrir o SoulSeek ou o baixar alguma coisa usando Bittorrent que muitos sonhos meus, impossíveis de imaginar em outras épocas, se realizam em pouquíssimos minutos.

Guilherme Werneck é editor-assistente do caderno Link e editor do podcast Discofonia.

Pense na quantidade de músicas que existiam no começo do século vinte e compare com o número atual. Mesmo que você não tenha a menor idéia sobre números, é óbvio deduzir que a curva de ascensão é quase um salto em noventa graus, que, a cada década, ganha um impulso ainda maior que na anterior. É uma outra forma de dizer que, além dos compositores existentes terem passado a produzir mais, o próprio número de autores de canções aumentou substancialmente.

Ou ainda: você está cada vez mais cercado por novos artistas de música. Mais: estamos, todos, lentamente, nos tornando isso. Todos nós. Praticamente a cada década passada, um novo avanço tecnológico facilita o processo de realização de artes em geral e de música em específico. Desde o advento do fonógrafo e da fotografia, cada período de dez, quinze anos, é uma machadada a mais na Torre de Marfim que antes isolava o Artista (antes, maiúsculo) de seu público, pouco a pouco mais artista (minúsculo, comum).

Se formos falar das artes em geral, os exemplos são inegáveis – não apenas mais pessoas começaram a produzir arte como mais tipos de artes nasceram. A fotografia e o cinema, evidente mas bom lembrar, têm pouco mais de um século de idade, e mesmo assim são dois de nossos principais pilares culturais. As seis artes gregas, clássicas, as Belas Artes (a saber, arquitetura, dança, escultura, declamação [literatura e teatro, num item só], música e pintura), foram destrinchadas em infinitas manifestações, de conceitos amplos e vagos o suficiente para incluir uma fauna massiva de novos artistas. Pense em “performance”, “vídeo”, “instalação”, “moda” e “projeto” e comece a imaginar os milhares de conhecidos seus que, séculos anteriores, seriam mortos, aprisionados ou postos no hospício por fazerem o que fazem e gostam tanto.

Mas seu sarcástico riso no canto da boca não pode deixar de excluir o nosso bom e velho rock’n’roll – e num âmbito bem genérico, pra incluir Britney Spears, Charlie Parker e Raul Seixas numa mesma sentença, sem crise nem culpa. “Rock’n’roll” ou, fora da música, “cultura pop” foi o que possibilitou que estes antigos foras-da-lei serem tratados com seriedade em nosso tempo. Num século dominado pelo fantasma do capitalismo, se deu melhor qm soube vender sua alma – não ao Diabo, mas a quem quisesse comprar. “Pop”, essa onomatopéia viral, é cultura popular enquanto produto – fazer o que se gosta e se sabe e ser remunerado por isso. É claro que há distorções desta alternativa ao “emprego” – esta moeda inventada pela Revolução Industrial. Mas –espectro ainda maior, pra falar de pop – pense em pessoas como Caetano Veloso, Woody Allen, Pedro Juan Gutiérrez e Millôr Fernandes (exemplos aleatórios, há, literalmente, milhares de pessoas que podem ser citadas) e veja se eles não vivem uma vida tranqüila e sossegada, com problemas ocasionais e desafios escolhidos (fora os aspirantes a tais postos, clones de Britney, sub-Birds e filhos cósmicos de Raul). Foi o pop, a forma como a cultura de massas dominou o século passado, que permitiu isso.

E que segue a permitir. De volta ao nosso rock’n’roll, então, mais ainda. Se cinema, literatura e artes plásticas pedem um mínimo de técnica para o leigo se tornar profissional, o rock’n’roll não pede nada. Qualquer troglodita, nerd, imbecil ou carola pode fazer rock – e cada geração pede menos técnica: primeiro o zunido das guitarras, depois o riscado dos toca-discos, agora beats de cliques de mouse. O rock (a música, a arte) torna-se cada vez mais acessível e perde o glamour, que é justamente o que emperra o progresso da cultura. Afinal de contas, já diz o adágio popular que, a variedade é o tempero da vida. E veja se não é isso que está acontecendo?

* Esse título horível não é meu. E esse texto saiu na Pense Conosco, aquela seção nova da Bizz, deste mês (Axl na capa)


O Ministro Gilberto Gil prova a Free Beer, feita em código aberto (foto: Henrik Moltke)

Acesso aberto e ampliação dos direitos digitais foram conclusões da segunda edição do iSummit, no Rio, que teve participação até da poderosa Microsoft

Em menos de uma hora depois de ter anunciado as duas declarações que resumiram os trabalhos de três dias de discussão e execução de projetos e iniciativas ligadas à cultura livre do segundo iSummit, encontro que aconteceu durante o fim de semana passado no Rio de Janeiro, o advogado norte-americano Lawrence Lessig, idealizador da grife legal Creative Commons, era arremessado para dentro da piscina na cobertura do hotel que sediou o evento, enquanto os participantes e palestrantes do evento bebericavam taças de uma certa “cerveja de código aberto”, chamada Free Beer.

Foram três dias de apresentações e painéis de discussão a respeito de iniciativas e interesses que dizem respeito a certas crises do conhecimento moderno e a modelos econômicos para superá-las de forma sustentável para o futuro. Representantes de instituições como Access to Knowledge, Open Society Institute, Wikipedia e Google estavam presentes e apresentaram exibições ou assistiram-nas, contribuindo para o debate sobre compartilhamento de conhecimento e propriedade intelectual, que teve momentos de frisson, como nas duas declarações que encerraram o evento.

“The Rio 2006 Declaration on Open Access” (“A Declaração Rio 2006 sobre Acesso Aberto”) inicia um movimento para isentar de taxas e cobranças quaisquer reproduções de obras que tenha caráter acadêmico e “The Rio 2006 Declaration on Digital Rights Management” (“A Declaração Rio 2006 sobre Gestão de Direitos Digitais”) propõe a substituição do atual modelo de indexação de obras digitais pelas licenças Creative Commons. Anunciadas na última sessão do domingo, as declarações tiveram efeito catártico sobre os participantes, mas não foram seus pontos mais intensos.

Estes aconteceram nos dois primeiros dias. O primeiro quando, de surpresa, a Microsoft, empresa-símbolo das causas contrárias dos intelectuais ali reunidos, foi convidada para a cerimônia de abertura para anunciar um plug-in para seu software Word, que embute uma licença Creative Commons em qualquer documento produzido no programa. A presença da empresa e sua estranha parceria com a marca – mais cessão do que invasão territorial – fez com que ativistas presentes sacassem narizes de palhaço e distribuindo para os participantes. O segundo aconteceu quando a Radiobrás, a empresa estatal de radiodifusão, a nunciou que todo seu conteúdo seria disponibilizado através das licenças CC, inclusive para uso comercial de terceiros, e foi saudada com aplausos entusiasmados.

Pelos corredores, um verdadeiro quem é quem da cultura livre, do ministro da cultura Gilberto Gil, que também participou da abertura do evento, ao escritor Cory Doctorow, de Jimmy Wales, criador da enciclopédia editável Wikipedia, ao fundador da Electronic Frontier Foundation, John Perry Barlow.

Ao mesmo tempo, aconteciam palestras sobre ciência aberta, digitalização de conteúdo em domínio público, educação, jornalismo e licenciamento de conhecimento indígena, exibições da comunidade em 3D SecondLife e workshops do grupo brasileiro Estúdio Livre, que maravilhava os estrangeiros ao compor, gravar, editar e remixar músicas usando apenas softwares livres.

O evento terminou com uma festa no Teatro Odisséia com os VJs-ativistas do Media Sana, o rapper BNegão e sua banda Seletores de Freqüência e o músico Lucas Santtana atuando de DJ. Em comum, o fato de disponibilizarem todo seu conteúdo gratuitamente online – a saber, www.mediasana.org, www.bnegao.com.br e www.diginois.com.br.

* Matéria publicada na Folha dessa terça.

P2P ultrapassado

Um guia intruso numa febre já (já? já) antiga: o blog de MP3

Já tinha falado disso em um post passado, mas depois que o Denis pediu pra reproduzir minha matéria sobre o Nick Drake no blog dele, eu me deparei com uma série de blogs dedicados ao estranho hábito de ripar discos em MP3, zipá-los em arquivos compactados e disponibilizar pelos blogspot da vida. Junte isso à hipermutação que a banda larga e a gigacapacidade de armazenamento em HDs dos últimos meses (essa pequena “era YouTube” que vivemos hoje é fruto apenas disso, mas é só o furinho na represa) e dê fim ao P2P via web. É claro que o formato não mata o P2P (que mal começou a funcionar e pouco tem a ver com troca de MP3 online – veja só fenômeno Torrent pra cair em um dos inúmeros buracos dos coelhos de Alice modernos), mas facilita a vida do povo que é uma beleza. Daqui a pouco, tem RSS presses megaupload e, falando só de música gravada (só pra ficarmos na metáfora na qual tamos mais acostumados a entender) teremos uma imensa audioteca universal com todo som já registrado ao alcance de todos, de graça e 24 horas. Questão de anos, meses talvez… Enquanto isso, segura os links:

Feijão Tropeiro – Tá em fase classic rock (o primeiro do Led, o Paranoid do Sabbath, o Made in Japan do Purple, a edição de luxo do Who’s Next), mas vai de acordo com o gosto do freguês, indo de Manu Chao a clássicos perdidos brasileiros da virada do milênio (do EP do Zémaria ao primeiro do Vulgue Tostoi, da estréia do Sheik Tosado ao Por Pouco do Mundo Livre), de Gil & Jorge a discos do Cure, do b-sides do Pixies ao 4-Way Street do CSN&Y e todos do Lenine e do Belle & Sebastian.
Loud – Indie que só, tem discos do Muse, dos Shins, Decemberists, Hard-Fi, trilhas do OC e, no lado Brasil, Lado2Estéreo e Cartola.
Lágrima Psicodélica – O nome se explica? Teoricamente, nos primórdios do blog, porque hoje a seleção vai bem além da psicodelia e progressivo tradicionais. Pra cada discografia completa do Yes completo tem um Killing Joke, todos os discos do Pink Floyd ao lado de discos da Rollins Band, toda obra solo do Fish (vocal do Marillion) tá junto de coisas do Mother Love Bone, e segue assim, trilha sonora do Last Days e Eloy, Kinks e Coney Hatch, Social Distortion e Talking Heads. O nível da disparidade pode ser resumido no fato de ter todos os discos do Dire Straits e a estréia do Detrito Federal. Só pra ficar na letra D.
Conexão Cordel – Música brasileira roots, com foco em Pernambuco: Maciel Salu, Maracatu Leão Coroado, Novos Baianos, Antônio Nóbrega, Lenine e Lula Queiroga e o livro Batuque Book.
360graus – Um giro pelo mundo do blues. Dos Blues Brothers ao Baseado em Blues, passando por Little Feat, Bo Diddley, Etta James, Freddie King, Elmore James, Otis Rush, Robert Johnson e o escambau dentro desse nicho.
Mercado de Pulgas – Tem de tudo (Mulatu Astatke, Zoot Woman, Pink Martini, Cosmic Game), com mais ênfase em música brasileira: Samba de Monalisa, Céu, Tom Zé, Velha Guarda da Portela, Luiza Possi, Shirlei de Moraes, Mundo Livre S/A, DJ Dolores, Wilson Batista x Noel Rosa, Adoniram Barbosa, Clube do Balanço, Cristina Buarque e Roberta Sá.
Cápsula de Cultura – Música brasileira xiita (tem um Miles no meio, mas não pega nada), só filé, sem gordura emepebística: Nara e Menescal, Ismael Silva, Cartola, Baden Powell, Mano Décio da Viola, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Alaíde Costa, Jackson do Pandeiro e Gordurinha, Sivuca e Rosinha da Valença e até o PDF do Chega de Saudade, do Ruy Castro!
Musicoteca – Tudo bonitinho, dividido em seções, por autor e tem de tudo, de 14 Bis à trilha sonora da minissérie JK. Mas a fleuma do slogan (“Biblioteca de Música de Qualidade”) dá um filtro básico que os posts mais recentes (AfroReggae, Clube da Criança, As Melhores da Copa do Mundo) pareciam apenas insinuar…
Música do Bem – Me parece um rótulo melhor do que “de qualidade”. E mistura tudo: Stevie Wonder com tributo ao Cartola, Neil Young com Fernanda Abreu ao vivo, Anita Baker e João Gilberto, Rick Astley e Céu, Ibrahim Ferrer e Kate Bush, Otto e Headhunters, John Coltrane e Eurythymics, Mark Farina e Leonard Cohen, Bajo Fondo Tango Club e Diana Krall. Tem uma ou outra palhice, mas no geral a seleção é boa…
MP3 Place – Rock é rock mesmo! Grandfunk Railroad, J.J. Cale, Lynyrd Skynyrd, Faces, U2, Foo Fighters, jam do Jimi Hendrix com o Traffic, Who, Janis, James Brown e um disco do DJ Hum (?!?!).

E cada um desses blogs tem uma lista com outros tantos blogs (quer que eu facilite? Vai e fuça: Chocoreve, El Mundo de Mimi, Large-Hearted Boy, Rato Records, só pra começar…), então o esquema é puxar o cordão e ir atrás…

Dada a dica…

O game_cultura festival de jogos eletrônicos | passando de fase | promove a Mostra_BR que tem como objetivo principal divulgar e fomentar a produção nacional de jogos eletrônicos.

Os jogos pré-selecionados entre os inscritos serão disponibilizados para serem jogados durante o evento que ocorre, no SESC Pompéia de 29 de julho a 06 de agosto de 2006.

A mostra tem caráter cultural sendo os jogos apenas submetidos a uma votação de júri popular, não existindo nenhum tipo de premiação, remuneração ou competitividade entre os selecionados.

Poderão inscrever-se na Mostra_BR, jogos independentes para computador ainda não comercializados e demos jogáveis produzidas a partir de 2002, feitos por desenvolvedores em território nacional.

Os trabalhos podem ser submetidos no formato CD-ROM ou DVD-ROM, contendo arquivos instaláveis e|ou executáveis com os jogos|demos. Os jogos|demos deverão ser executados sem a necessidade de outro software, além do sistema operacional e seus “plug-ins”. Os jogos|demos deverão ser compatíveis com sistema operacional Windows XP™.

Cada desenvolvedor poderá submeter mais de 1 (um) trabalho à seleção. Jogos com conteúdos publicitários, promocionais ou de sexo explicito ou que caracterizem qualquer tipo de preconceito, descriminação ou violência não serão aceitos.

O período de inscrição é de 15 a 25 de Junho de 2006, valendo a data de postagem. Inscrições feitas fora desse período serão desconsideradas.

As inscrições deverão ser feitas via Correios enviando:

• CD ou DVD contendo o game|demo
• Formulário de inscrição, impresso, preenchido e assinado.
PARA:
SESC Pompéia A/C Equipe de Cultura Digital e Internet LIvre Rua Clélia, 93 | Cep 05042-000 Tel: 3871-7700 | game_cultura@pompeia.sescsp.org.br www. sescsp.org.br | 0800 118220

Os detentores dos direitos dos trabalhos selecionados cedem o direito para que a mostra possa utilizar trechos e fotos de tela para difusão pela imprensa, para fins promocionais.

O Ato da Inscrição implica na aceitação do regulamento.

Os selecionados serão informados via email a partir do dia 30 de junho e posteriormente divulgado em nosso site:
www.sescsp.org.br

Para outras informações e programação do GAME_CULTURA visite também:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=15226416