De La Soul e o astral lá em cima!
Fui em mais um show do De La Soul nessa quinta-feira, no Áudio, e mais uma vez os caras quebraram tudo – sempre com um sorriso no rosto, deles e nossos. A presença de Talib Kweli fez a alma do saudoso Trugoy the Dove, que morreu há dois anos, presente e intensa na noite, como escrevi em mais uma colaboração para o Toca UOL.
Entre a nostalgia e o futuro, De La Soul faz festa alto astral em SP
O De La Soul voltou ao Brasil pela primeira vez em quase dez anos, após a morte de um de seus fundadores, o carismático David Jolicoeur, mais conhecido como Trugoy the Dove, e comandou uma verdadeira festa na última quinta-feira, no Audio, em São Paulo.
O trio original agora é uma dupla, mas Kelvin Mercer, o MC Posdnuos, e o Vincent Mason, o DJ e MC Maseo, não apresentam-se ao vivo apenas desta forma e sempre convidam velhos camaradas para ajudá-los a encorpar a apresentação.
Nomes de peso como Chuck D, LL Cool J, Nas e Yasiin Bey (o novo nome de palco do veterano Mos Def) já subiram aos palcos com os dois. No Brasil não foi diferente e eles trouxeram o sagaz Talib Kweli – que fazia dupla com Mos Def como Black Star, ainda nos anos 90 – e a casa ficou pequena para o trio.
Considerado um dos principais nomes da segunda geração do rap, o De La Soul surgiu em Nova York inspirado pela fase de ouro do gênero e Posdnuos pediu, ao final da apresentação, que o DJ Maseo soltasse beats sobre o qual eles rimavam quando ainda eram adolescentes e faziam marra tentando imitar ícones como Public Enemy, Run DMC, Eric B & Rakim, Slick Rick, Boogie Down Productions e Ultramagnetic MCs.
Mas quando entrou de vez no cenário, na virada dos anos 80 para os anos 90 com o seminal álbum “3 Feet High and Rising”, de 1989, o De La Soul mudou a cara do rap ao tirar questões políticas e bases pesadas do foco para debruçar-se em discussões sobre sentimentos e comunidade, ao lado de comparsas como A Trible Called Quest e Jungle Brothers, que davam uma nova cara – mais melódica e mais otimista -, mas sem perder o pé de questões políticas básicas ao gênero.
A apresentação de quinta-feira começou lotada com um público tão veterano quanto a banda, que foi sendo calibrado por um set maravilhoso do brasileiro DJ Nuts, que soltou uma sequência de músicas para fazer todos voltarem à última do século passado com hits do rap pré-gangsta, emendando Wu-Tang Clan com Salt-N-Pepa, Cypress Hill, Beastie Boys e House of Pain.
Foi a senha para deixar deixar todos em ponto de bala para uma apresentação absurda, que começou apenas com Maseo nas picapes para seguir em dupla a primeira parte da noite, que já teve pérolas como “Say No Go”, “Potholes in My Lawn”, “The Grind Date” e “Much More”.
O público abraçou o alto astral dos dois imediatamente e o carisma dos fundadores da banda era alimentado a partir da vibração do público, que erguia discos de vinil do grupo para que eles pudessem autografá-los. Alguns sortudos foram contemplados com assinaturas dos dois, que faziam pequenas pausas para conversar com o público e canetar capas de disco – e até um tênis!
Mesmo caminhando para a casa dos 60 anos, os dois mostraram desenvoltura de palco à altura de sua reputação e o clima ficou ainda mais pesado – mas sem nunca perder o otimismo e a onda boa quando Talib, quase dez anos mais novo que os dois, subiu no palco ao assumir o microfone a partir da matadora faixa-título do quarto disco do De La Soul, “Stakes Is High”.
A partir daí não tinha pra ninguém. O público já estava completamente sintonizado na frequência do grupo e repetia gritos de guerra e cantos de paz puxados pelos MCs, que pediam mãos para o alto, sempre encurralando a enorme massa de gente a participar ativamente do show.
Quando virou a meia-noite, Posdnuos pediu para o público um tempo para celebrar o aniversário do MC convidado, que entrou nos 50 anos num palco em São Paulo, feliz à beça.
Os sorrisos espalhavam-se do palco para a plateia, com todo mundo se esbaldando de dançar parando apenas para ouvir Posdnuos e Maseo dizerem o quanto gostavam de São Paulo ao mesmo tempo em que lamentavam a situação política de seu próprio país. Mas sem nunca deixar o astral cair nem a vibe pesar.
O final da noite veio com um pedido de salva de palmas para o saudoso irmão Trugoy the Dove e emendando os principais hits do grupo, como “A Roller Skating Jam Named Saturdays” e os grandes hits do primeiro disco, “Me, Myself and I” e “The Magic Number”. Uma noite mágica que ao mesmo tempo em que navegava na nostalgia apontava para um futuro do rap tão instigante quanto seu passado – além do grupo avisar que tem disco novo vindo aí em setembro.
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