Cronenberg na pele
Esqueci de linkar uma matéria que escrevi pro Divirta-se na sexta, mas ainda tá em tempo:
No Limite
A obra tecnocêntrica de David Cronenberg é revista na mostra Cinema em Carne Viva
Maldito, outsider ou incompreendido? O cineasta David Cronenberg pode ser associado a estes adjetivos, mas os rótulos são decorrentes de outras qualidades de sua obra. Desde seus primeiros filmes, o diretor canadense, tema da mostra Cinema em Carne Viva, que começa nesta quarta (21), explora os limites da tecnologia no comportamento humano – mas em vez de citar máquinas e computadores como seus principais objetos de estudo, afunda no corpo humano e nas modificações que a tecnologia aos poucos têm imposto a ele. Por isso, muitos pedaços de cérebro, tripas, membros mutilados, pesadelos em forma de cirurgia e vice-versa.
Mas apesar de tantos fluidos humanos e pedaços de órgãos, Cronenberg passa longe do horror puro e simples – ele convida o espectador à introspecção frente aos avanços tecnológicos, seja a TV, o carro, o videogame ou o computador. Assim, o festival não reúne apenas filmes, mas também palestras e um curso sobre o diretor, ministrado pelo curador da mostra, Tadeu Capistrano. “Seus filmes apresentam reflexões sagazes e cada vez mais atuais sobre os caminhos da imagem cinematográfica, da percepção e do corpo com suas dores e prazeres na relação com a tecnociência”, diz ele.
Veja a programação completa da mostra.
Mestre X discípulo
O novo filme de Cronenberg, A Dangerous Method, ainda está percorrendo o circuito dos festivais, onde foi bem recebido, e não tem data de estreia no Brasil. Ele conta a história do encontro (e posterior rompimento) de Freud (papel de Viggo Mortensen) e Jung (Michael Fassbender).
Miolos!
Não é mais spoiler mostrar a cena acima – a primeira vez que David Cronenberg entrou para a história do cinema ao explodir uma cabeça apenas com o poder da mente. Scanners – Sua Mente Pode Destruir (1981) talvez seja o filme mais famoso do diretor e será exibido em seção única, na sexta (23), às 15h30.
Cirúrgico
“O filme que mais gosto de Cronenberg é Gêmeos (1988)”, explica Capistrano, “por qualidades que vão desde a fotografia, a construção dos personagens, a trilha sonora, o belo e curioso design dos instrumentos cirúrgicos até o modo como o trágico é trabalhado”. O filme passa no sábado (24), às 17h30, e na quinta (29), às 17h30.
Autodestruição
Outro favorito de Capristrano é Crash – Estranhos Prazeres (1996), que será exibido na quinta (22), às 19h30, e sábado (1/10), às 17h30. Ele gosta da adaptação feita de Cronenberg para o livro de J. G. Ballard “pelo ritmo desacelerado no qual personagens movem-se acelaradamente em busca de prazeres cujo limite é a destruição”.
O futuro do cinema
“A dobradinha Videodrome (1983, foto) e eXistenZ (1999) é uma aula sobre o debatido ‘futuro do cinema’ diante de incorporações tecnológias como o vídeo e a realidade virtual, e até as promessas do ‘neurocinema’”, conta Tadeu. Os dois filmes serão exibidos nos dias 21 e 30.
Filme de ação?
Capistrano conta que muitos filmes exibidos no festival não tiveram exibição nos cinemas brasileiros, “entre eles o curioso Fast Company (1979), feito nos meados dos anos 70 e que envolve jovens, sexo e sabotagens nos bastidores de uma corrida de carros”. Sessão única no sábado (1/10), às 19h30.
Um curta
Outra atração inédita do festival é o belíssimo curta Camera (2000), no qual o ator Leslie Carlson interpreta um monólogo em que fala sobre o papel da câmera em registrar a vida das pessoas, fazendo uma metáfora com a vida e com a morte. Quarta (21), às 19h30; sábado (24), 20h, e sexta (30), às 15h30.
Anos de formação
Uma das principais atrações do festival é a oportunidade de ver os primeiros filmes do diretor na telona, muitos pela primeira vez no Brasil. Entre os destaques, vale assistir a Calafrios (1975), Rabid (1977) e Crimes of the Future (1970).
ONDE: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. QUANDO: 21/9 a 2/10. QUANTO: R$ 4.
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