Os melhores shows nacionais de 2019

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Tanto o Guia da Folha quanto o Divirta-se do Estadão me chamaram para votar nos meus shows brasileiros favoritos de 2019 – e o critério que usei foi não incluir os shows que pautei tanto no Centro da Terra quanto no Centro Cultural São Paulo. Assim, cheguei a estes três shows: Alessandra Leão no Auditório Ibirapuera, Thiago França convidando Tony Allen no Sesc Pompéia e Ana Frango Elétrico no Sesc Av. Paulista.

Alessandra Leão @ Auditório Ibirapuera
24 de outubro de 2019

“A percussionista pernambucana nos convida a uma viagem pela hisatória da música brasileira através do terreiro que é seu disco Macumbas e Catimbós.”

Thiago França + Tony Allen @ Sesc Pompeia
22 de março de 2019

Um embate entre dois pesos pesados do groove – um no sax e outro na bateria – que logo se transformou em uma nave espacial para a quinta dimensão.

Ana Frango Elétrico @ Sesc Av. Paulista
18 de outubro de 2019

Mutante hipster vintage bossa nova é o disfarce da vez da poeta, produtora e musicista carioca.

Prometheus: Não cumpriu

prometheus

Escrevi sobre o novo filme de Ridley Scott, o aguardado Prometheus, na edição desta semana do Divirta-se – e dividi a crítica em dois formatos: para quem já sabe sobre o que é o filme e para quem não sabe nada. Vá na fé:

Sem alarme, sem surpresas
Longa busca o sentido da vida e marca o retorno de Ridley Scott (de ‘Alien’) à ficção-científica

Prometheus, o filme de Ridley Scott que estreia hoje no Brasil, vem sendo festejado como a grande volta do diretor à ficção científica, tema que lhe revelou ao grande público graças aos filmes ‘Alien – O Oitavo Passageiro’ (1979) e ‘Blade Runner – O Caçador de Androides’ (1982). O primeiro, ‘Alien’, não foi um fenômeno de bilheteria, mas cresceu à medida em que o filme virou uma franquia que se estabeleceu por consolidar o trabalho de novos diretores (James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet). Já ‘Blade Runner’ foi responsável por criar o conceito de filme cult, ao superar o fracasso de bilheteria graças ao sucesso nas locadoras e na TV a cabo.

Os tempos também eram outros para a ficção científica, que, mesmo atravessando uma boa fase nos anos 80, nem de longe passou pelo auge da última década. O próprio Ridley Scott mudou e bastante – deixou temas específicos e ousados por filmes épicos de temas convencionais ao cinema.

Por isso, há um excesso de expectativa em relação a ‘Prometheus’, que narra a história de uma expedição espacial rumo a um planeta que poderia explicar a origem da humanidade.

Junte estes fatores citados ao fato que a produção foi revelando, aos poucos e desde o início do ano, uma série de pistas sobre o tema do filme e temos o dilema do fim de semana: assistir a ‘Prometheus’ com muita ou nenhuma expectativa? Optamos pelos dois caminhos. Veja a seguir.

Expectativa alta = decepção

Se você não sabe nada sobre a história de ‘Prometheus’, pare de ler este texto e vá para a coluna abaixo. Mas se você acompanhou os trailers, a especulação online, leu as primeiras resenhas que apareceram no exterior, assistiu ao TED falso com Guy Pearce e foi juntando diferentes peças que a produção revelou aos poucos, já deve saber que o filme funciona como uma introdução ao universo de ‘Alien’. Não conta como exatamente o monstro foi parar na nave do primeiro filme, e sim como aconteceu o primeiro contato entre a nossa espécie e a deles. E isso não é contado de forma casual como no primeiro filme, que basicamente narrava um problema com um cargueiro espacial.

Em ‘Prometheus’, a premissa é grandiosa, busca o sentido da vida e ganha dimensões desproporcionais – mas a história não acompanha a forma. Por isso, o que vemos é um ‘Alien’ superproduzido com rigor e zelo, mas sem oapelo sombrio e tétrico do primeiro filme. E, assim, decepciona.

Expectativa baixa = diversão

Se você não sabe nada sobre ‘Prometheus’, certifique-se que entrará assim mesmo na sala de cinema. Sem saber de nenhuma premissa anterior, é possível admirar uma história que tem altas aspirações e que é muito bem executada. O apuro estético justifica o ingresso: a direção é segura, ainda que convencional, os efeitos especiais são incríveis, o som é notável e a direção de arte talvez seja o grande trunfo do filme.

O elenco é OK: Michael Fassbender é sempre competente, Charlize Theron está bem como antagonista da tripulação e o resto dos atores não chega a comprometer, embora não tenham nenhum brilho. O que nos deixa com a história, que caminha sobre a temática de Erich von Däniken (do clássico ‘Eram os Deuses Astronautas?’) e da série ‘Ancient Aliens’, do History Channel, mas logo descamba para a tensão de um filme de horror B.

E é aí que‘Prometheus’funciona: tem o roteiro de um filme de baixo orçamento mas é filmado como uma superprodução. Não chega a ser bom, mas também não é ruim. Ao menos diverte.

Fui assistir ao Tintim…

E aproveitei para escrever para o Divirta-se, do Estadão, sobre minha visita ao estúdio de Peter Jackson, em 2010. Mas o filme de Spielberg, apesar de tecnicamente eficiente (os personagens têm a vida dos desenhos da Pixar e são realistas como os melhores videogames), a história mira principalmente nos velhos fãs e no público infantil, deixando o resultado meio ingênuo e bobo para os tempos atuais.

O maravilhoso mundo de Jackson

“O que você vai fazer na Nova Zelândia?”, me perguntavam todos que sabiam da viagem que fiz em outubro de 2010, quase sempre com a cabeça no infame Jeca Paladium, personagem da extinta TV Colosso que sempre citava o país insular como sinônimo de país improvável.

Mas a maior improbabilidade era o fato deste pequeno país ter conseguido se tornar um dos principais polos cinematográficos do mundo graças ao trabalho de um homem: o neozelandês Peter Jackson. Ele saiu de sua terra natal nos anos 90 para, na década seguinte, transformá-la na sede de seu próprio estúdio de cinema, a Weta, que não pode nem ser considerado um estúdio tradicional de cinema, pois parte do princípio de que a sétima arte deixou de ser uma atividade industrial para ganhar contornos mais próprios ao século digital.

Explico: em vez da produção de um filme seguir os estágios tradicionais – em que um filme começa sendo escrito, para depois ser filmado e, finalmente, ter efeitos especiais inseridos, na Weta essas etapas acontecem simultaneamente. Ao mesmo tempo em que o diretor filma os atores, os roteiristas e produtores encadeiam a história do filme e a equipe que antes era chamada de pós-produção já concebe as criações digitais. É um processo tão detalhado e ensaiado que, quando todas as pontas se unem, os filmes parecem surgir magicamente do nada.

Mas é fruto de planejamentos e estratégias muito bem organizadas. Por isso é fácil criar um ambiente virtual que se prolongue por mais de um filme – como aconteceu com a trilogia ‘Senhor dos Anéis e acontecerá com ‘Avatar’ e com os filmes de Tintim.

O universo já foi concebido e realizado digitalmente no primeiro filme. Para os próximos,basta habitá-lo.

África-São Paulo


Juçara, Décio, Kiko, Maurício, Thiago e Cris

Participei da entrevista que o Douglas e o Renan fizeram no especial África em São Paulo, capa do Divirta-se dessa sexta, que pega o gancho da Festa Fela (neste sábado) para falar sobre com o continente negro vem influenciando pesadamente a nova música paulistana. Conversamos com três integrantes do Bixiga 70 (Maurício, Décio e Cris), que lança seu primeiro disco na festa de homenagem ao aniversário de Fela Kuti, e os três autores do disco Metá Metá (Thiago, Kiko e Juçara) sobre o que está acontecendo em São Paulo, enquanto passeávamos pelo Museu Afro Brasileiro, no Ibirapuera.

Todo mundo vai dançar
Músicos dos bons foram buscar no afrobeat e em outros ritmos africanos a receita para pôr São Paulo inteira para balançar. Você não vai ficar de fora, vai?

A noite de São Paulo está ficando com cara de baile e a frase ‘sair para dançar’ passa a fazer (ainda mais) sentido. Não é por acaso. Pode ser que você não tenha se dado conta, mas a influência africana no trabalho de artistas presentes nas festas paulistanas está cada vez mais nítida. Seja nas excelentes composições de Kiko Dinucci; no saxofone inspirado de Thiago França em bandas como Sambanzo e MarginalS; no festejado disco ‘Nó na Orelha’, de Criolo; no trabalho de cantoras como Juçara Marçal, Anelis Assumpção e Céu, entre muitos outros.

E, não, não esquecemos da banda Bixiga 70, que lança amanhã (15) seu primeiro EP, ‘di Malaika’, na 5ª edição da Festa Fela – que, veja bem, foi criada para comemorar o aniversário do lendário pai do afrobeat, Fela Kuti.

Para entender como a cidade começou a ser tomada pelo suingue vindo da África, convidamos seis músicos importantes neste processo para um encontro com cara de papo de bar, mas no Parque do Ibirapuera, dentro do Museu Afro Brasil – que, vale lembrar, faz sete anos no próximo dia 23. Douglas Vieira

UMA ÁFRICA PARA CADA UM
Thiago França: “A África para a gente é meio a história do disco do Rodrigo Campos. É uma África fantástica. São impressões que a gente tem e traz para o nosso contexto, que não deixa de ser São Paulo em nenhum momento. A gente nunca foi lá. É YouTube, Wikipédia… Foi a internet. A gente foi sacar Fela Kuti vendo essas coisas, vídeos de shows… Foi o YouTube.”
Cris Scabello: “A internet foi muito importante. Potencializou muito esse encontro, essa conexão com o público. Mas tem de tudo, não é só o povo da internet.”
Décio 7: “Quando a gente começou com o dub, as pistas esvaziavam. Hoje está em tudo. Eu acho legal ter uma pesquisa e as pessoas estarem a fim de ouvir. O momento é outro. Na época não tinha internet forte. O (produtor musical) Ganjaman falou outro dia que afrobeat é o novo dub. E está em tudo, desde o Chico Science até a Céu, o Curumim… O público sabe dançar e sabe o nome. Isso muda tudo.”
Thiago: “Acho que é consequência do momento histórico que a gente está. Aqui em São Paulo tem gente com a cabeça muito aberta para som, que vai ver o Bixiga, o Metá Metá, o Criolo, ouve música eletrônica e vai na Sala São Paulo também.”

MAIS BANDAS, MAIS PÚBLICO
Cris: “É um fato. Tem mais bandas, mais público, mais mídia, mais tudo de uns dois ou três anos para cá. E é meio ‘porque eu não pensei nisso antes?’ Estão fazendo isso desde os anos 60. Por que não existia uma banda de afrobeat em São Paulo? E existe uma procura maior pelo assunto agora.”
Kiko Dinucci: “A maioria dos músicos da nossa geração têm algum namoro com a África. Seja no ritmo, na linha melódica… Não acho que existem grupos de música africana e nem tem que ter. Está bom assim. Cada um fazendo seu som e a gente vai parar na África ou no Japão. Ou em qualquer lugar que a gente queira, porque a gente tem internet e pode ouvir músicas do mundo inteiro.”
Mauricio Fleury: “E a gente é músico. Então a gente se encontra, toca um com o outro.
Tem uma troca. Cada um vai colocando seu elementinho no disco do outro.”
Thiago: “Mas se você for fazer um show em uma balada na Vila Olímpia já não vai rolar.”
Décio 7: “Não tem mais as tribos, mas São Paulo ainda tem uns recortes bem definidos.”
Juçara Marçal: “Por isso não dá para falar em movimento. Não é uma cena. São muitas.”
Cris: “A gente quer muito sair desse circuito Sesc, Vila Madalena, Augusta. Quer fazer essa movimentação. Mas a gente sabe que não vai ser simples.”

NOVOS RITMOS, SEM MESMICE
Juçara Marçal: “Quando se pensa em música africana, muitas vezes se pensa em um tipo de ritmo. Mas a riqueza da música africana é justamente a polirritmia, que não pode ser enjaulada no samba, como vinha sendo feito. É muito mais rico e muito mais variado.”
Kiko: “Me incomodava todo mundo tocando como um velho de 80 anos. Padronizou muito a batida. O pandeiro tem que ser assim, o tamborim, assado… Comecei a achar o samba sem suingue. A África estava escondida. Comecei a prestar atenção em samba de bumbo, jongo, batuque, terreiros… Fui fazer o filme sobre Exu e, quando vi, já estava compondo usando a estrutura dos tambores.”
Cris: “Para mim, o afrobeat veio mais travestido pelo Gilberto Gil, pelo Chico Science, pelos ‘Afro-Sambas’ (disco de Baden Powell e Vinicius de Moraes) – mesmo sendo anterior ao Fela.”
Kiko: “Tem coincidências no Brasil.”
Mauricio: “Tem a música ‘Saudação a Toco Preto’, do Candeia.”
Kiko: “Essa música é um ponto de terreiro.”
Mauricio: “Mas tem arranjo de afrobeat, com metais. A gente começou com sonoridades afro. Mas quando a banda começou a andar, e a gente sempre buscou um trabalho autoral, a galera foi voltando para o que já tinha. É sempre falar da gente. Não é ficar tentando reproduzir o Fela. Isso não passa nem perto da gente. São 10 caras, cada um com um background diferente. Todos procuravam esse suingue e todo mundo está feliz de colocar isso no Bixiga.”

DEIXA TOCAR
Thiago: “Eu sempre procurei uma coisa mais suingada. Estava em busca de alguma coisa que só fui saber o que era muito tempo depois. E, em 2007, comecei a ter uma vivência em terreiros e caiu uma ficha do lance de ficar tocando e deixar o pessoal dançar. O afrobeat no Sambanzo não é estudado. É deixar tocar.”
Juçara: “Na Barca, que começou em 1998, percebemos a riqueza da cultura popular. Isso levou a gente até cantigas, doutrinas e tradições de cerimônias afro-brasileiras. Tinha muita presença africana.”
Kiko: “O Bixiga é afrobeat, mas se toca alguma coisa mais latina, sai da Nigéria e entra em outros países da África. E eu fico atento para acontecer isso com a gente. Se alastrar mais. Não ficar restrito a um país. Tem Senegal, África do Sul… ”
Décio 7: “A galera está a fim de dançar. Você percebe nas festas. E o Bixiga é instrumental. As pessoas nem ficam olhando para o palco. É baile mesmo.”
Décio 7: “Tem essa cultura vintage, de procurar coisas antigas. As pessoas querem ouvir isso. E o Bixiga é muito orgânico. É 1, 2, 3 e sonzera. Olho no olho.”
Décio 7: “Tem muita gente.”
Juçara: “Tem o Siba, com um disco muito forte. Tem o Rodrigo Caçapa, grande referência. Douglas Germano.”
Décio: “O Afro Electro, que está há tempos tocando. A Céu e a Anelis Assumpção.”
Mauricio: “Vai sair um compacto do Bruno Morais com a gente de um lado e o Kiko do outro.”
Cris: “E acho que vai crescer exponencialmente.”
Thiago: “Tudo sinaliza para isso.”
Kiko: “Espero que sim.”

Quem é quem
Cris Scabello: dedicado ao groove desde os tempos do grupo de percussão Olho da Rua, foi precursor do dub na noite paulistana.
Décio 7: também do Olho da Rua, o baterista tem longa história no reggae e no dub, estilos que o ‘levaram’ à África.
Juçara Marçal: dona de uma voz suave e bela, que se encaixa perfeitamente nas composições do amigo Kiko Dinucci.
Kiko Dinucci: no Bando Afromacarrônico, no Metá Metá, ou em outros projetos, usa com classe as referências afrorreligiosas.
Mauricio Fleury: dono de um piano elétrico cheio de groove, é do Bixiga 70 e do coletivo de DJs Veneno Soundsystem.
Thiago França: um saxofonista que cai perfeitamente no jazz, no afrobeat, no samba e em qualquer outra coisa com groove.

Cronenberg, corpo e tecnologia

Eis a íntegra da entrevista que fiz com o Tadeu Capistrano, curador da mostra Carne Viva, sobre o mestre David Cronenberg – que saiu na última edição do Divirta-se.

 

Cronenberg na pele

Esqueci de linkar uma matéria que escrevi pro Divirta-se na sexta, mas ainda tá em tempo:

No Limite
A obra tecnocêntrica de David Cronenberg é revista na mostra Cinema em Carne Viva

Maldito, outsider ou incompreendido? O cineasta David Cronenberg pode ser associado a estes adjetivos, mas os rótulos são decorrentes de outras qualidades de sua obra. Desde seus primeiros filmes, o diretor canadense, tema da mostra Cinema em Carne Viva, que começa nesta quarta (21), explora os limites da tecnologia no comportamento humano – mas em vez de citar máquinas e computadores como seus principais objetos de estudo, afunda no corpo humano e nas modificações que a tecnologia aos poucos têm imposto a ele. Por isso, muitos pedaços de cérebro, tripas, membros mutilados, pesadelos em forma de cirurgia e vice-versa.

Mas apesar de tantos fluidos humanos e pedaços de órgãos, Cronenberg passa longe do horror puro e simples – ele convida o espectador à introspecção frente aos avanços tecnológicos, seja a TV, o carro, o videogame ou o computador. Assim, o festival não reúne apenas filmes, mas também palestras e um curso sobre o diretor, ministrado pelo curador da mostra, Tadeu Capistrano. “Seus filmes apresentam reflexões sagazes e cada vez mais atuais sobre os caminhos da imagem cinematográfica, da percepção e do corpo com suas dores e prazeres na relação com a tecnociência”, diz ele.

Veja a programação completa da mostra.

Mestre X discípulo
O novo filme de Cronenberg, A Dangerous Method, ainda está percorrendo o circuito dos festivais, onde foi bem recebido, e não tem data de estreia no Brasil. Ele conta a história do encontro (e posterior rompimento) de Freud (papel de Viggo Mortensen) e Jung (Michael Fassbender).

Miolos!

Não é mais spoiler mostrar a cena acima – a primeira vez que David Cronenberg entrou para a história do cinema ao explodir uma cabeça apenas com o poder da mente. Scanners – Sua Mente Pode Destruir (1981) talvez seja o filme mais famoso do diretor e será exibido em seção única, na sexta (23), às 15h30.

Cirúrgico
“O filme que mais gosto de Cronenberg é Gêmeos (1988)”, explica Capistrano, “por qualidades que vão desde a fotografia, a construção dos personagens, a trilha sonora, o belo e curioso design dos instrumentos cirúrgicos até o modo como o trágico é trabalhado”. O filme passa no sábado (24), às 17h30, e na quinta (29), às 17h30.

Autodestruição
Outro favorito de Capristrano é Crash – Estranhos Prazeres (1996), que será exibido na quinta (22), às 19h30, e sábado (1/10), às 17h30. Ele gosta da adaptação feita de Cronenberg para o livro de J. G. Ballard “pelo ritmo desacelerado no qual personagens movem-se acelaradamente em busca de prazeres cujo limite é a destruição”.

O futuro do cinema
“A dobradinha Videodrome (1983, foto) e eXistenZ (1999) é uma aula sobre o debatido ‘futuro do cinema’ diante de incorporações tecnológias como o vídeo e a realidade virtual, e até as promessas do ‘neurocinema’”, conta Tadeu. Os dois filmes serão exibidos nos dias 21 e 30.

Filme de ação?

Capistrano conta que muitos filmes exibidos no festival não tiveram exibição nos cinemas brasileiros, “entre eles o curioso Fast Company (1979), feito nos meados dos anos 70 e que envolve jovens, sexo e sabotagens nos bastidores de uma corrida de carros”. Sessão única no sábado (1/10), às 19h30.

Um curta
Outra atração inédita do festival é o belíssimo curta Camera (2000), no qual o ator Leslie Carlson interpreta um monólogo em que fala sobre o papel da câmera em registrar a vida das pessoas, fazendo uma metáfora com a vida e com a morte. Quarta (21), às 19h30; sábado (24), 20h, e sexta (30), às 15h30.

Anos de formação
Uma das principais atrações do festival é a oportunidade de ver os primeiros filmes do diretor na telona, muitos pela primeira vez no Brasil. Entre os destaques, vale assistir a Calafrios (1975), Rabid (1977) e Crimes of the Future (1970).

ONDE: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. QUANDO: 21/9 a 2/10. QUANTO: R$ 4.

Mashup de western com ficção científica

Escrevi sobre o Cowboys & Aliens no Divirta-se de hoje. O filme é bom, mas podia ser beeeem melhor…

Bom western, fraco sci-fi

A premissa de Cowboys & Aliens é esdrúxula desde o ponto-zero – recriar um conceito clássico da ficção científica, a invasão alienígena, num ambiente improvável, o velho oeste americano.

Não é propriamente pioneiro nesse sentido: ‘Batalha de Los Angeles’, do início desse ano, já brincava e bem com o mashup de gêneros (no caso, um filme de guerra sobreposto na premissa de invasão alien). Já o filme que fez o diretor Jon Favreau abandonar o terceiro Homem de Ferro não acerta em cheio como fez o filme de guerra.

E não foi por falta de brio. Na tentativa de se manter fiel ao gênero que determina o cenário da invasão, ‘Cowboys & Aliens’ recria um western com cara de clássico, bebendo na fonte dos faroestes crus feitos a partir de ‘Os Imperdoáveis’, de Clint Eastwood. A recusa de ser em 3D e sua fotografia escura e cheia de poeira combinam com atuações duras de Daniel Craig e Harrison Ford.

O filme só derrapa ao nos apresentar a alienígenas que misturam as baratas de ‘Tropas Estelares’ (1997), o ‘Alien’ da série clássica e o monstro de ‘Cloverfield’ (2008). O que sobra na parte western falta à parte sci-fi. Boa diversão, mas prometia mais.

Como é o novo Planeta dos Macacos

Escrevi sobre o novo filme da série O Planeta dos Macacos no Divirta-se dessa sexta. O filme vale – e muito.

Destreza e graça

Esqueça o ‘Planeta dos Macacos’ de Tim Burton (aquele acinte à história da ficção científica). Planeta dos Macacos – A Origem não tenta inventar moda nem reescrever nenhuma história. Pelo contrário. Parte do pressuposto tão em voga na ficção científica do século 21 que dispõe-se a contar o que aconteceu antes da história que todos conhecem.

Vale um parêntese: (assistir ao primeiro ‘Planeta dos Macacos’ ou às suas quatro continuações – produzidas entre 1968 e 1973 – não é um pressuposto imprescindível para ver o novo filme, mas há uma série de referências e cenas rápidas que farão os fãs dos originais sorrir em silêncio – como a rápida citação a ‘Os Dez Mandamentos’, com Charlton Heston, o protagonista do primeiro filme.)

‘A Origem’ acompanha a carreira do cientista Will Rodman (James Franco, ótimo como sempre), que tenta desenvolver uma droga para curar o mal de Alzheimer, que aflige seu pai (John Lithgow). Mas, ao testá-la em chimpanzés, Rodman percebe que sua invenção vai além do proposto e aumenta a inteligência dos bichos-cobaia. E leva um deles para a casa, para logo perceber que seu remédio tem funcionado bem demais.

O que vemos a seguir é o auge de uma parceria já consagrada: a do ator Andy Serkis e do estúdio de efeitos especiais Weta, de Peter Jackson. Serkis pode ser desconhecido à primeira lembrança, mas é o mesmo ator que vive o Gollum na saga ‘O Senhor dos Anéis’ e o personagem principal de ‘King Kong’ (2005). Sua interpretação magistral e efeitos especiais de primeira fazem o macaco de Rodman, batizado Caesar, um dos principais eventos cinematográficos do ano.

E, para quem teme que o filme seja apenas ação e ficção científica, o trunfo de seu diretor (o novato Rupert Wyatt, em seu segundo filme) é equilibrar isso com cenas tocantes da relação homem-animal. Há certa demagogia, mas na medida certa, sem nunca tornar o filme piegas.

Também convém observar a câmera de Wyatt, que balança entre árvores, prédios e carros como a graça e a destreza de um animal selvagem – uma espécie em extinção.

Super 8, de J.J. Abrams, é tudo o que promete

Escrevi sobre o Super 8, que estreia hoje, na capa do Divirta-se do Estadão. Assinei o especial com o Ramon, ficou massa.

A soma de tudo
Dirigido por J.J. Abrams e produzido por Steven Spielberg, ‘Super 8’ chega hoje (12) aos cinemas e une os diretores mais criativos de duas gerações

Em 1975, Steven Spielberg deixou de ser uma das promessas da nova Hollywood para mudar completamente a história do cinema. Com ‘Tubarão’, ele apostou suas fichas em transformar o cinema numa montanha russa de emoções, com a ajuda de efeitos especiais. É bem provável que o filme tenha sido uma das primeiras grandes epifanias do jovem Jeffrey Jacob Abrams – na época com 9 anos–, que cresceu, como muitos, sob a influência do diretor e criador de universos pop Spielberg.

Tanto que ninguém estranhou quando os dois anunciaram que fariam um projeto juntos – Spielberg produzindo um filme dirigido por Abrams, que hoje assina como J.J. e é, ele mesmo, uma espécie de Spielberg do novo século.

Afinal, como o ídolo, ele deu uma sobrevida a uma indústria à beira do precipício. E se Spielberg havia salvo os estúdios da mesmice, Abrams salvou a TV da fobia em relação à internet.

E, mesmo lançando um trailer escuro e violento no meio do ano passado, a expectativa era que a união dos dois fosse além de alienígenas e tramas conspiratórias. Ao colocar um elenco de pré-adolescentes como protagonistas do novo filme, os dois pareciam dispostos a recuperar a inocência no cinema pop.

E Super 8 faz isso. Acompanhando um grupo de amigos que querem fazer um filme de zumbi na marra (em 1979, usando a câmera que batiza o filme – uma piada sutil com o excesso de tecnologia das produções atuais), J.J. os faz presenciar um acidente de trem espetacular, que liberta um alienígena encarcerado pelo governo. O clima de ‘Cloverfield’ com ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’ fica em segundo plano à medida em que somos apresentados à rotina de uma pacata cidade norte-americana, que nos remete a clássicos dos anos 80 com o dedo de Spielberg – especialmente à atmosfera brincalhona de ‘Goonies’ e à pureza de ‘E.T. – O Extra-Terrestre’. O filme é uma resposta sutil e sincera para quem ainda duvidava do talento de J.J. Abrams.

Bora no Jon Spença?

Escrevi pro Divirta-se, do Estadão, sobre a expectativa para o show do Jon Spencer semana que vem.

Da máquina do tempo

Quando o Jon Spencer Blues Explosion se apresentou no Brasil pela primeira vez, não fui. Era uma das minhas bandas favoritas dos anos 90, mas uma confusão com agendas e horários me fez perder um show que, pelo que disseram, trouxe uma banda mais densa e menos elétrica do que a que conhecíamos. Seu líder ostentava uma barba pesada que fugia do visual rock’n’roll clean e bruto que caracterizava o som do trio. Por isso, quando fui vê-los ano passado no meio do festival de 21 anos da gravadora Matador, em Las Vegas (na festa do meu casamento), não esperava muita coisa – daí a surpresa ao ver um Jon Spencer em 220 volts, teletransportado direto de 1995. O outro guitarrista, Judah Bauer parece mais velho e o baterista Russell Simins engordou uns bons quilos. Mas, no palco, Spencer encarna um Mick Jagger utópico. Vê-los no Bourbon será genial.