
Imagine você ter um show programado para fazer em Birmingham, cidade-natal de Ozzy Osbourne, no dia em que o inglês morreu. Foi o que aconteceu com Geordie Greep, que não pestanejou e fez sua banda tocar uma sequência de músicas do Black Sabbath e do próprio Ozzy logo no início de sua apresentação na casa noturna XOYO, na terça passada. O ex-Black Midi emendou um medley instrumental com “Symptom Of The Universe”, “War Pigs”, “N.I.B.”, “Paranoid”, “Sweet Leaf” e “Crazy Train”, cujos vocais ficaram por conta do próprio público. “É meio cafona falar esse tipo de coisa, mas é muito doido pensar que esses quatro caras fizeram essa música que mudou tudo vieram dessa cidade”, comentou logo depois da homenagem, dedicada a Ozzy. “Pensa nisso, você compra uma guitarra e vai ensaiar com a sua banda com doze anos de idade, toca essas músicas e parece que você tem superpoderes, é como se fosse mágica. E esses caras vieram dessa cidade, que não é exatamente Beverly Hills”. Não custa lembrar que Greep fez um dos grandes discos do ano passado (o ótimo The New Sound) e é uma das atrações que a Balaclava está trazendo para seu festival em novembro, quando toca antes de Yo La Tengo e do Stereolab.

O bom e velho Jeff Tweedy tem usado sua ótima newsletter – Starship Casual – como uma forma de manter um contato contínuo com os fãs e, ao mesmo tempo, gastar sua onda musical fazendo versões acústicas de canções que ama. Só que quando, na semana passada, ele deixou seus leitores escolher quais músicas ele poderia tocar, ficou impressionado com a quantidade de sugestões a ponto de nem conseguir processar tudo, mas prometendo que verá todas as canções que lhe assopraram por email para pegar alguns pedidos. E se impressionou com a quantidade de gente pedindo pra que ele tocasse músicas do Pavement – mais especificamente pedidos por “Range Life”. Foi a deixa pro líder do Wilco regravar o hino indie de forma intimista na edição mais recente de sua correspondência eletrônica e declarar seu amor pela banda de seus contemporâneos, pedindo desculpas por imitar o jeito do vocalista Stephen Malkmus cantar, como se não houvesse outra forma de cantar músicas dessa banda (talvez não haja mesmo). Ficou bom demais, saca só:

Se a Gracie Abrams puxou seu pop prum lado mais sério no começo do festival de Glastonbury deste ano ao cantar a mágica “Just Like Heaven” do Cure, Olivia Rodrigo falou ainda mais grosso ao tocar não apenas essa música do Cure, mas também “Friday I’m in Love”, ao encerrar o festival inglês no domingo com a presença de ninguém menos que o próprio senhor Cure, quando convocou o mago Robert Smith para dividir o palco com ela nas duas canções. Que momento! Deu até pra desculpar a Olivia por ter chamado o Ed Sheeran para dividir o palco com ela no show que ela fez no Hyde Park, em Londres, na sexta-feira anterior (e não custa lembrar que ela puxou David Byrne pro palco dia desses…).

Outro bom momento do festival de Glastonbury deste ano foi quando a banda inglesa Wolf Alice, às vésperas de lançar seu aguardado quarto álbum The Clearing, sacou nada menos que a imortal “Dreams”, do grupo Fleetwood Mac, no meio do repertório do show que fizeram no fim da tarde do domingo no festival inglês, com a vocalista Ellie Rowsell esbanjando carisma.

Mais uma vez Dua Lipa agrada ao público de um dos países por onde tem passado, rendendo uma versão de tirar o fôlego para um hit manjadaço. Foi assim nessa sexta-feira, quando, ao apresentar-se em Dublin, na Irlanda, preferiu não ir no óbvio, ao homenagear o U2 e, invertendo as letras, preferiu celebrar o maior hit de, como ela mesma disse antes de cantar a versão, “uma saudosa lenda irlandesa”, ao anunciar sua leitura para “Nothing Compares 2 U” que, apesar de escrita pelo Prince, tem sua versão definitiva gravada por Sinéad O’Connor, que morreu precocemente há dois anos. E, pra variar, Dua Lipa mostrou o quanto canta absurdamente em uma versão para se ouvir de joelhos.

E por falar no Glastonbury desse ano, imagino que vocês não devem dar a menor pelota pra filha do J.J. Abrams (que tem crescido cada vez mais como popstar), mas essa versão que ela fez pra “Just Like Heaven” no festival inglês ficou joia.

No primeiro show que fez em Liverpool, Dua Lipa preferiu fugir da obviedade e fez uma versão para uma música que todo mundo conhecia, mas que poucos sabiam que tinha vindo daquela cidade. No show seguinte, nesta quarta-feira, ela preferiu escancarar a obviedade e foi em uma das músicas mais conhecidas do grupo mais conhecido da história da secular cidade portuária inglesa, pinçando “Hey Jude” dos Beatles em uma versão deslumbrante. Só faltou o Paul aparecer de surpresa, como fez há algumas semanas no show de Bruce Springsteen na mesma cidade, mas nem tudo é perfeito.

Na primeira apresentação em Liverpool de sua nova turnê, Dua Lipa preferiu não ser tão óbvia e homenageou uma banda que ninguém nem lembra que é da cidade, quando lembram da própria banda em si, que entrou para o imaginário coletivo graças a uma versão acelerada por Amy Winehouse para um de seus hits. No show de terça-feira, no entanto, ela preferiu tocar a versão original de “Valerie” e para isso chamou o vocalista dos Zuttons, Dave McCabe. Ficou massa:

E os Yeah Yeah Yeahs continuam mantendo aquele climão na turnê Hidden in Pieces, que começaram no início do mês e que seguem, agora em território europeu, e depois de desenterrar algumas faixas que não tocavam ao vivo há mais de uma década e trazer uma versão deslumbrante para “Hyperballad” da Björk, eles começaram a abrir os shows citando David Lynch, um autor que é a cara da banda, ao incluir uma versão inacreditável para “In Heaven (Lady in the Radiator Song)”, presente no primeiro filme do mestre, Eraserhead, de 1977, que aos poucos se transforma em “Blacktop”. Lindo demais:

“Uma música tem que mudar pra continuar viva”, escreveu Lykke Li para anunciar seu novo EP, Covers, lançado de surpresa nessa sexta-feira, “estou cantando essas músicas entre gravações, no chuveiro, para me acalmar do pesadelo de 100 horas em scroll, tudo que não posso dizer está na música”. Com apenas três músicas, o disco traz versões deslumbrantes e minimalistas para clássicos do pop como “Stand by Me” (de Ben E. King, regravada por John Lennon) e “Love Hurts” (dos Everly Brothers, regravada por Roy Orbison e pelo Nazareth) e o hino semirreligioso “Into My Arms”, de Nick Cave. “Adeus por enquanto”, despediu-se anunciando um novo disco, “mixar é um buraco de coelho, mas deus queira que o álbum irá sair, mesmo que toda esperança tenha acabado”. Esperamos.