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Clipe

Lá vem a Cora

Foto: Walter Thoms (Divulgação)

Katherine, Luiza e Kaíla (foto: Walter Thoms/Divulgação)

Criada pelas amigas curitibanas Kaila Pelisser e Katherine Finn Zander a partir de reuniões informais para ouvir e tocar música, a banda de dream pop Cora começou a existir de verdade foi anunciado que o Warpaint tocaria no Brasil, em 2011. “A gente tinha um encontro semanal com uns amigos pra tocar cover de várias coisas, se divertir”, me explica Kaíla por email. “Um dia, quando saiu a data do primeiro show do Warpaint aqui no Brasil, eu e a Katherine piramos. A gente não sabia dessa pira em comum com o Warpaint e de repente uma das duas soltou ‘vamos fazer um som?’. Depois disso começamos a nos encontrar e mostrar o que tínhamos uma pra outra, eu as letras e ela os arranjos, e foram saindo as primeiras músicas.” Elas lançaram um EP no meio do primeiro semestre depois de anos de enrolação e aos poucos começam a lançar mais músicas, como a versão ao vivo para “Santa Fé 1183”, lançada aqui no Trabalho Sujo.

São canções que inevitavelmente remetem à doce psicodelia indie da banda californiana (principalmente ao serem cantadas em inglês), mas que mostram um caminho próprio sendo construído, entre guitarras ensolaradas, levada shoegazer, timbres de vocais sussurrados e melodias melancólicas. “Desde que descobrimos que o Warpaint era a intersecção do que a gente queria tocar, o tipo de som já tava definido”, continua Kaíla. “Queríamos algo que fosse psicodélico mas consistente, que fosse pesado mas não fosse stoner, que falasse de coisas profundas mas não fosse dramático. O produto disso pode ter passado longe do Warpaint, mas se parece muito com o que queríamos fazer desde o início, mas que hoje já mudou um pouco, inclui outras referências.”

O processo de amadurecimento do grupo deu origem ao EP de cinco músicas Não Vai ter Cora, lançado com este nome porque elas nunca sabiam se a banda ia realmente existir. “A banda passou por muitas formações – estamos na sexta. – então sempre tinha dificuldade de todo mundo pegar as músicas, se integrar, etc. Além disso, era muita instabilidade emocional, já estivemos envolvidos afetivamente entre os membros, sabe como é, uma mistura que pode atrasar um monte a vida. Não tínhamos grana pra gravar, nem conhecíamos ninguém que pudesse fazer a coisa mais lo-fi, como a gente queria. Foi então que conhecemos o Coletivo Atlas, que deu a maior força na gravação do primeiro single. Temos essas musicas desde 2013 e 2014 e mesmo depois do EP lançado, nunca parece que ficou o melhor possível, mas chegou um momento que a única vontade era de ver pronto, mesmo que ainda não estivesse perfeito. Gravamos tudo em casa mesmo, tivemos ajuda de amigos pra mixar, e depender de amigo também é foda. Quando não rola grana, os prazos ficam muito elásticos, além do que o brother às vezes não entende a urgência daquilo.” O disco foi lançado em parceria entre o coletivo Atlas e as gravadoras HoneyBomb (de Caxias do Sul) e PWR (do Recife).

A formação atual do grupo inclui Kaíla nos vocais e synth, Katherine nos vocais e guitarra, Luiza Bueno na outra guitarra, Leonardo Gumiero no baixo e Otavio Tersi na bateria, e Kaíla conta a origem do nome. “A ideia era ter um nome curto e que não soasse como uma palavra com um significado estanque e nem que remetesse a algum idioma específico. Entre nomes de constelações e outras coisas, lembrei do nome da filha da Nina Becker, que era recém nascida na época. É um nome feminino, cheio de significado mas sem um específico – remete ao que é referente ao coração; à cor; ao “core”, do inglês, que é a base e também tem a Cora da mitologia grega, que casou com o diabo e virou a rainha do inferno rs. além disso, tem um instrumento africano que chama Kora e depois descobrimos tb um duo feminino alemão dos anos 80 que também chama Cora.”

Letrux-

Mesmo depois de desfeito o casamento, Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos – o casal que era a força-motriz da banda carioca Letuce – seguiram em frente com a banda e lançaram o ótimo Estilhaça, em 2015, motivo para mais um último giro ao vivo por aí como banda e para fazer o show de encerramento desta fase. Desde então, Letícia vem burilando seu primeiro trabalho solo, cujo primeiro single (e clipe) ela lança em primeira mão no Trabalho Sujo.

“Coisa Banho de Mar” é uma boa porta de entrada para Em Noite de Climão – mas o fato é que quase todas as outras músicas do disco também são. Elas mostram a desbocada e sinuosa Letícia de sempre, mas deslizando à noite, longe da luz do sol e do calor humano, entre as sombras e a frieza da vida noturna, na pista. É um disco dance de forte pulso oitentista, mas não em citações literais (e isso não inclui a participação de Marina Lima na ótima “Puro Disfarce”), e sim em timbres e ambientações. Tudo isso mero cenário para que ela destile um fel irônico, mas gente boa, que muitas vezes ela aponta para si mesma. É um disco ao mesmo tempo de autodescoberta e imersão no nada, que chama o ouvinte para dançar – com as palavras. Conversei com ela sobre o disco, cuja capa e ordem das faixas vem a seguir e será lançado na semana que vem.

De onde veio Letrux? É uma personagem, uma fase, um disfarce?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-de-onde-veio-letrux-e-uma-personagem-uma-fase-um-disfarce

Por que Noite de Climão?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-por-que-noite-de-climao

O quanto o final de um casamento está ligado ao início de uma carreira solo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-o-quanto-o-final-de-um-casamento-esta-ligado-ao-inicio-de-uma-carreira-solo

Como você compõe agora? O que muda nessa nova fase?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-como-voce-compoe-agora-o-que-muda-nessa-nova-fase

Você consegue separar o tipo de composição atual do que você compunha para o Letuce?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-voce-consegue-separar-o-tipo-de-composicao-atual-do-que-voce-compunha-para-o-letuce

E em termos estéticos, por que se aproximar dos anos 80?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-e-em-termos-esteticos-por-que-se-aproximar-dos-anos-80

Conta a história do disco, quando ele começou, quando você começou a gravar etc.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-conta-a-historia-do-disco-quando-ele-comecou-quando-voce-comecou-a-gravar-etc

Como Marina entrou no disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-como-marina-entrou-no-disco

Como é o disco ao vivo? Quem é a banda?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/letrux-2017-como-e-o-disco-ao-vivo-quem-e-a-banda

letrux-noite-climao

“Vai Render”
“Ninguém Perguntou Por Você”
“Coisa Banho de Mar”
“Que estrago”
“Puro disfarce” (com Marina Lima)
“Amor Ruim”
“Noite Estranha, Geral Sentiu”
“Além de Cavalos”
“Hypnotized”
“Flerte Revival”
“5 Years Old”

toro-y-moi-you-and-i

Mais uma música do novo disco do Toro y Moi, Boo-Boo – e a balada “You and I” é tão introspectiva quanto o primeiro single “Girl Like You“, mas tem um quê romântico mais pronunciado…

element

Clipe novo de Kendrick Lamar, “Element” não é estiloso apenas por estética. Dirigido pelo próprio Kendrick e pelo fotógrafo alemão Jonas Lindstroem, o vídeo emula o olho clínico e social do fotógrafo Gordon Parks, uma das assinaturas visuais do movimento pelos direitos civis nos EUA nos anos 50 e 60.

Foto: Carina Zaratin (Divulgação)

Foto: Carina Zaratin (Divulgação)

“Tenho visto e ouvido coisas emergentes na música e no cenário onde a praticamos. Novos grupos revelando novos caminhos. Outras atitudes. Outros ângulos sonoros. A música em si será como sempre foi; feia ou bonita dependendo de quem a ouve. Mas a maneira de ser dessa tribo que está ocupando espaços, traz um ar novo, animador e importante: conteúdo com a qualidade alguns pontos acima” – quem descreve este cenário é Renato Teixeira, ícone vivo da música de raiz brasileira, que acaba de encontrar-se com a banda de rua Mustache e os Apaches para um encontro ao redor de uma de suas canções, “Rio Abaixo”.

A conexão entre as duas gerações foi feita pela filha de Renato, Antônia, amiga pessoal do grupo. “‘Rio Abaixo’ é uma das músicas do Renato que a gente mais gosta”, explica o vocalista da banda, Pedro Pastoriz. “E chegamos nela em uma conversa muito rápida. A princípio é uma música que o Renato não toca muito nos shows, é de um repertório antigo e a composição é de Geraldo Roca e Paulo Simões.”

Renato continua: “A música por ser invisível e inodora, repousa na gravidade da terra eternamente. As clássicas, por exemplo, continuam soando mais belas a cada dia enquanto gerações inteiras vão passando por ela. Reinventar, renovar-se, ampliar horizontes, qualificar a vida dos humanos, são missões musicais. Ouvir música, qualquer uma, é praticar auto ajuda. Os tempos mudam o comportamento conforme a humanidade evolui e é dentro dessa lógica que a arte se orienta para também avançar. Sem ter que ser obrigatoriamente um caleidoscópio de possibilidades nunca vistas de sonoridades inimagináveis, a arte musical jamais se comprometeu com qualquer tendência para ser eficiente. Basta ser do agrado de todos e o assunto estará resolvido. Uma banda como Mustache e os Apaches, a canção do Roca e do Simões, aquele arranjo certeiro que o Sergio Mineiro criou lá nos porões dos anos oitenta mais a vivencia que as canções adquirem com o passar dos anos, tudo isso somado, possibilitou que descontraidamente a gente revisitasse a canção numa manha sol na serra da Cantareira e nos divertíssemos muito com ela.”

“‘Rio Abaixo’ tem lá uma certa ironia, como quase tudo que passa pelo Roca. Tem também um que de deboche que o Simões gosta de camuflar nos seus dizeres. Quando ouvi pela primeira vez, achei que Elis iria gostar; marquei uma visita do Roca na casa dela. Elis ouviu mas não se ligou; então eu gravei no meu disco Garapa. Ficou lindo. Espero que esse numero musical venha agora trazer uma gostosa reflexão filosófica sobre a vida vivida nesse pais tropical onde ‘Rio Abaixo’ é o nome de uma determinada afinação da viola e serve também de dizer popular, quando a gente vê a viola em cacos e nao pode mais deter a evolução dos fatos”, empolga-se o velho compositor.

“Renato é uma figura engraçada, cheio de histórias”, continua Pastoriz. “Ele tava muito curioso pra saber como funcionava essa coisa nossa de tocar na rua, enfim, passamos um dia muito gostoso entre amigos. No final do dia gravamos a música num por do sol incrível com todas aquelas araras, micos e tucanos da Cantareira. Espero que a gente toque juntos algum dia ao vivo, seria legal no futuro gravar mais algumas coisas, veremos!” O próprio Renato vai além e já traça planos: “Pensei inclusive em regravar um dos meus primeiros discos, o “Paisagem” com os Mustaches.”

lee-ranaldo-2017

O grande Lee Ranaldo, o cientista louco do Sonic Youth, segue desbravando o território da canção e acaba de anunciar mais um disco solo. Electric Trim, que só será lançado no meio de setembro, foi gravado com a mesma banda com quem gravou seu disco mais recente, Last Night on Earth de 2013, os mesmos The Dust (formados pelo ex-baterista do Sonic Youth Steve Shelley, o guitarrista Alan Licht e o baixista Tim Luntzel), mas ainda conta com participações especiais de Neils Cline, do Wilco, e Sharon Van Etten, que faz vocais em seis canções. “Eu estou bem animado com esse disco, representa novos caminhos e direções para mim e não vejo a hora de voltar para a estrada e tocar essas músicas ao vivo”, ele disse em um post no Facebook. O velho Lirra abre os trabalhos do disco revelando a capa (feita pelo mesmo Richard Prince que fez a capa do disco Sonic Nurse, do Sonic Youth) e a ordem das músicas, além do primeiro single (“Circular (Right As Rain)”), todos abaixo:

lee-ranaldo-electric-trim

“Moroccan Mountains”
“Uncle Skeleton”
“Let’s Start Again”
“Last Looks (feat. Sharon Van Etten)”
“Circular (Right As Rain)”
“Electric Trim”
“Purloined”
“Thrown Over the Wall”
“New Thing”

O disco já está em pré-venda, pela gravadora Mute.

everythingnow

“Creature Comfort” é mais uma música do novo disco do Arcade Fire (que já está em pré-venda aqui) e a primeira música boa de fato das que já apareceram até agora.

The War on Drugs A Deeper Understanding

Eis a capa do novo disco do War on Drugs, A Deeper Understanding, que deve ser lançado no final do mês de agosto. O grupo voltou a dar notícias no Record Store Day, quando lançou o excelente single “Thinking of a Place” e mantém o mesmo clima vintage em mais uma nova canção, “Holding On”, que chega junto com um belo clipe sobre encontros e reencontros pela vida.

A Deeper Understanding já está em pré-venda e esta é a ordem das músicas no disco que, em vinil, é duplo:

“Up All Night”
“Pain”
“Holding On”
“Strangest Thing”
“Knocked Down”
“Nothing To Find”
“Thinking of a Place”
“In Chains”
“Clean Living”
“You Don’t Have To Go”

toro-y-moi-boo-boo

Lá vem o Toro y Moi de novo. Chaz Bundick resolveu sua crise de identidade (que o fez lançar discos com diferentes nomes e dentro de categorias específicas) rebatizando-se de Chaz Bear e começando esta nova fase com um novo disco, chamado singelamente de Boo-Boo. Ele explicou essa fase em um texto publicado junto à pré-venda do álbum, que deve ser lançado no início de julho:

“Depois de sete anos fazendo shows e gravado, me vi me tornando autoconsciente sobre minha postura na vida como uma pessoa ‘famosa’ ou pelo menos na minha versão do que quer que isso seja. Meus sonhos se tornaram minha realidade, ainda que eu ainda não conseguisse aceitar este novo ambiente. Eu não pude fazer outra coisa a não ser cair em algo que pode ser descrito como uma crise de identidade. Um ciclo repetitivo de pensamentos temerários me deixavam confuso. Eu me sentia como se eu não mais soubesse o que é que eu realmente queria ou precisava da vida e algumas vezes tinha dificuldades em dizer o que era realidade.

Durante este período de turbulência pessoa, usei a música como uma forma de terapia e ela me ajudou a lidar com a dor que eu sentia. Ouvia a mesma canção ambiente várias vezes seguidas, tentando me isolar da realidade. Me apaixonei com o espaço novamente.

Na hora em que vi que estava pronto para gravar um novo disco, sabia que esta ideia de espaço dentro da música poderia ser algo que impulsionasse meu novo trabalho adiante. Os artistas que influenciaram o que eu estava fazendo incluía todo mundo, de Travis Scott ao Daft Punk, Frank Ocean ao Oneohtrix Point Never, Kashif ou Gigi Masin. Decidi que queria fazer um disco Pop com estas ideias em mente. Esta ideia de um disco finalmente se transformou em Boo Boo.”

E o som – a começar pela ótima “Girl Like You” – é o bom e velho soul de quarto que conhecemos desde os tempos em que ele era apenas um jovem aspirante de um certo gênero chamado chillwave…

cornelius-

O produtor japonês Cornelius lança mais um clipe de seu próximo álbum, Mellow Waves, o primeiro de inéditas em mais de uma década. E “『いつか / どこか』” / “Sometime / Someplace” segue a linha do single anterior, “If You’re Here”, explorando espaços entre beats e bases, mas com dois instrumentos bem pronunciados – um violão quase brasileiro e um solo de guitarra psicodélico. Sonzeira: