Lá vem a Cora

, por Alexandre Matias
Foto: Walter Thoms (Divulgação)

Katherine, Luiza e Kaíla (foto: Walter Thoms/Divulgação)

Criada pelas amigas curitibanas Kaila Pelisser e Katherine Finn Zander a partir de reuniões informais para ouvir e tocar música, a banda de dream pop Cora começou a existir de verdade foi anunciado que o Warpaint tocaria no Brasil, em 2011. “A gente tinha um encontro semanal com uns amigos pra tocar cover de várias coisas, se divertir”, me explica Kaíla por email. “Um dia, quando saiu a data do primeiro show do Warpaint aqui no Brasil, eu e a Katherine piramos. A gente não sabia dessa pira em comum com o Warpaint e de repente uma das duas soltou ‘vamos fazer um som?’. Depois disso começamos a nos encontrar e mostrar o que tínhamos uma pra outra, eu as letras e ela os arranjos, e foram saindo as primeiras músicas.” Elas lançaram um EP no meio do primeiro semestre depois de anos de enrolação e aos poucos começam a lançar mais músicas, como a versão ao vivo para “Santa Fé 1183”, lançada aqui no Trabalho Sujo.

São canções que inevitavelmente remetem à doce psicodelia indie da banda californiana (principalmente ao serem cantadas em inglês), mas que mostram um caminho próprio sendo construído, entre guitarras ensolaradas, levada shoegazer, timbres de vocais sussurrados e melodias melancólicas. “Desde que descobrimos que o Warpaint era a intersecção do que a gente queria tocar, o tipo de som já tava definido”, continua Kaíla. “Queríamos algo que fosse psicodélico mas consistente, que fosse pesado mas não fosse stoner, que falasse de coisas profundas mas não fosse dramático. O produto disso pode ter passado longe do Warpaint, mas se parece muito com o que queríamos fazer desde o início, mas que hoje já mudou um pouco, inclui outras referências.”

O processo de amadurecimento do grupo deu origem ao EP de cinco músicas Não Vai ter Cora, lançado com este nome porque elas nunca sabiam se a banda ia realmente existir. “A banda passou por muitas formações – estamos na sexta. – então sempre tinha dificuldade de todo mundo pegar as músicas, se integrar, etc. Além disso, era muita instabilidade emocional, já estivemos envolvidos afetivamente entre os membros, sabe como é, uma mistura que pode atrasar um monte a vida. Não tínhamos grana pra gravar, nem conhecíamos ninguém que pudesse fazer a coisa mais lo-fi, como a gente queria. Foi então que conhecemos o Coletivo Atlas, que deu a maior força na gravação do primeiro single. Temos essas musicas desde 2013 e 2014 e mesmo depois do EP lançado, nunca parece que ficou o melhor possível, mas chegou um momento que a única vontade era de ver pronto, mesmo que ainda não estivesse perfeito. Gravamos tudo em casa mesmo, tivemos ajuda de amigos pra mixar, e depender de amigo também é foda. Quando não rola grana, os prazos ficam muito elásticos, além do que o brother às vezes não entende a urgência daquilo.” O disco foi lançado em parceria entre o coletivo Atlas e as gravadoras HoneyBomb (de Caxias do Sul) e PWR (do Recife).

A formação atual do grupo inclui Kaíla nos vocais e synth, Katherine nos vocais e guitarra, Luiza Bueno na outra guitarra, Leonardo Gumiero no baixo e Otavio Tersi na bateria, e Kaíla conta a origem do nome. “A ideia era ter um nome curto e que não soasse como uma palavra com um significado estanque e nem que remetesse a algum idioma específico. Entre nomes de constelações e outras coisas, lembrei do nome da filha da Nina Becker, que era recém nascida na época. É um nome feminino, cheio de significado mas sem um específico – remete ao que é referente ao coração; à cor; ao “core”, do inglês, que é a base e também tem a Cora da mitologia grega, que casou com o diabo e virou a rainha do inferno rs. além disso, tem um instrumento africano que chama Kora e depois descobrimos tb um duo feminino alemão dos anos 80 que também chama Cora.”

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