Não sou chegado em Paramore, à exceção da ótima “Hard Times” que lançaram há três anos, mas sua vocalista Hayley Williams mostra que pode ir muito além de sua banda original ao lançar os primeiros singles de seu primeiro disco solo, “Simmer” e “Leave It Alone”.
Esta última, especificamente, é bem boa e mostra um rumo completamente diferente de sua banda. Petals for Armor, seu primeiro disco, será lançado em março deste ano.
Depois de dois petardos precisos lançados no ano passado – a deliciosa “Don’t Start Now”, uma das melhores músicas de 2019, e a faixa-título do próximo álbum, “Future Nostalgia” -, Dua Lipa saca mais uma música de seu novo repertório e mostra-se disposta a dominar as pistas em 2020, mesmo que soando como se fossem os anos 80 – a era do futuro que vivemos agora, afinal. “Physical” pega pesado.
Seu Future Nostalgia será lançado dia 3 de abril e já está em pré-venda.
Cada vez que o Hot Chip isola uma faixa de seus discos para fazer um clipe (como é o caso desta ótima “Positive”, que eles acabaram de lançar), fica mais evidente o capricho e a elegância deste grupo que é o atual herdeiro da coroa que já foi do New Order e do LCD Soundsystem.
Célebre autora de obras intrinsecamente ligadas ao dia a dia do paulistano, como o Masp e o Teatro Oficina, a arquiteta Lina Bo Bardi é homenageada pela Trupe Chá de Boldo no primeiro lançamento do grupo em 2020, o EP Viva Lina. São cinco faixas que festejam a importância da artista paulistana e falam da relação que a arquiteta tem com a própria banda, que escolheu o Trabalho Sujo para lançar o primeiro single, “À Lina”, cujo clipe, gravado no próprio Oficina, você vê em primeira mão abaixo. O disco será lançado no último dia deste mês.
Também bati um papo com alguns dos integrantes da banda, que fará o show de lançamento no teatro do Sesc Pompeia (outra obra da Lina) no próximo dia 8 de fevereiro (mais informações aqui).
O cantor e compositor escocês Badly Drawn Boy volta a dar as caras depois de sete anos sem lançar discos novos – e com um ótimo single, “Is This a Dream?”.
Tem lá seu lamento nostálgico desnecessário que paira sobre a faixa (e, claro, ecoa com grande parte dos velhos fãs), mas a doçura da melodia é superior a isso.
Céu aprofunda-se na viagem de Apká, levando seu disco para outras dimensões, no clipe da ótima “Corpocontinente”, que ainda traz Edgar como coadjuvante de uma viagem surrealista.
A menina-prodígio do ano passado começa o novo recuperando a deliciosa balada “Everything I Wanted” com a qual encerrou 2019. A novidade é que ela desta vez dirige o clipe (e o carro que o protagoniza) da canção dedicada a seu irmão, Finneas, melhor amigo e um de seus principais colaboradores. “Finneas é meu irmão e meu melhor amigo. Não importa as circustâncias, sempre estaremos lá um para o outro”, escreve logo no início do clipe.
Achei fofo.
Outra grande estrela de 2019, Rosalía passou o ano passado colhendo a boa safra que surgiu a partir de seu disco de 2018, o ótimo El Mal Querer, e já entra em 2020 disposta a não deixar ninguém recuperar o fôlego. No novo single “Juro Que” ela segue fundindo passado e futuro de seu ponto de vista espanhol, fazendo o mínimo de concessão possível (legendas) ao inglês.
“A vida só começou”, canta o cantor e compositor paulista Bruno Schiavo no single “Califórnia”, que lança em primeira mão no Trabalho Sujo. Gravado por Negro Leo e por Ana Frango Elétrico (com quem compôs “Tem Certeza?” de seu disco mais recente), Bruno está prestes a lançar seu primeiro disco solo, depois de passar pelo grupo Eueueu, que descreve como “um power trio entre a canção e o improviso de garagem baseado no ideal de horizontalidade em voga em 2013”, que montou ao lado de Daniel Scandurra e Chico França (autor da ótima “Promessas e Previsões”, lançada por Ana, no ano passado).
No novo trabalho, o foco é a canção pop. “De modo geral, esse primeiro trabalho é metade uma compilação entre o que fiz nos últimos dez anos, metade escrito no calor das gravações. Dá pra entender cada faixa como uma descoberta a seu modo, um álbum feito todo de começos”, me explica. “O disco teria uma definição específica ou pessoal de pop, possivelmente um metapop que envolve gradações de curiosidade do ouvido, exemplos: o quanto a escuta pôde ser ampliada em meio ao mainstream dos anos 90 e 2000; desde o pop de invenção dos Beatles; a partir de uma procura específica música popular brasileira adentro; do choque multicultural do download e da obsessão musical que ele democratizou. Um pop que passa pela noção de que estranhar intervalos, dissonâncias, contratempos e em seguida assimilá-los é um processo tão ou mais fundador da experiência quanto a repetição; que acredita na dialética entre tais modos como lugar privilegiado de investigação. Processo de composição tendente ao zero, ao utópico do presente imediato do improviso na canção, sem recurso a gênero, baseado na desmontagem da própria gestualidade musical afetada pelo pop, cujos resquícios são selecionados, mantidos e valorizados. Como numa investigação retroativa do ouvido programado: deixei iscas de superfície, especialmente melódicas e na sonoridade geral, e iscas de profundidade, que vão se apresentando nas escutas sucessivas, daí principalmente nas harmonias e nas letras.”
Gravado a partir de 2018 no estúdio Rockit!, o disco foi conduzido pelo mesmo Eduardo Manso que ajudou Ava Rocha a moldar seu Trança – e isso acabou aproximando ainda mais Bruno da cena carioca, trazendo um time pesado desses artistas para o álbum. “Além de uma percepção de estilo totalmente imune a quaisquer desvios mais caretas meus, Manso tem uma noção inacreditável da função do ‘inaudível’ numa faixa, do lugar fundamental de não-evidência”, ele continua. “O incrível Trança de Ava Rocha cuja direção musical foi dele e de Negro Leo habitava minha imaginação sonora nesse período inicial das gravações. Convidei muito honradamente músicos que observava de perto há anos, admiração e afinidades só cresciam: Thomas Harres, Marcelo Callado e Antônio Neves tocam bateria; Felipe Zenicola e Pedro Dantas, baixo; Thiago Nassif, o próprio Manso e Marcos Campello, guitarras; Chicão, piano e sintetizadores; Nana Carneiro, Raquel Dimantas, Ana Frango Elétrico e Ava Rocha participam em coros. Luxo total, maior presente da vida. Vários amigos também estiveram próximos, ouvindo, comentando, discutindo, me recebendo no Rio, ajudando na produção em geral, da capa, imagens de divulgação e clipe.”
“Califórnia” é mais do que uma boa amostra de seu trabalho como uma introdução perfeita para o disco, um fio da meada que puxa para um universo tão estranho quanto pop, que mistura camadas de ruídos sonoros a melodias assobiáveis e letras contemplativas – e reconstruídas (“Amores Incríveis” é minha favorita). “O olhar pelo lado mortificante da rotina por si só propõe um distanciamento das coisas do mundo que, então, podem reaparecer tão objetivas e frias no plano da linguagem a ponto de exigirem do sujeito um ato de reconexão, de refundação de sentidos. Penso nas ‘superfícies plásticas coloridas desiludindo no sol’ do refrão de ‘Amores Incríveis’, uma canção só superficialmente alegre. A ironia, inapreensível de primeira pra muitos, é um produto da desconfiança na naturalidade dos gestos gastos, dos vícios do comportamento apesar de suas repetidas manifestações. O teatro que revela uma verdade ou a emulação da sinceridade parecem efeitos complementares em mão dupla que podem ambos engendrarem deslocamentos ‘desejantes’. Por esse caminho, não existe afirmação da vida sem trazer à baila negativa a transparência de segunda ordem. Há correspondências evidentes entre escalas, estilos, gêneros musicais cristalizados e afetos-padrão, ou seja, encontros que são o material incontornável da canção. Seria possível uma história da música popular enquanto provocação astuciosa a esse absolutismo sentimental, irmão mais velho da parte anestesiada do ouvido?”
Pergunto sobre as referências musicais para esse disco e a resposta é tão difusa – e passageira – quanto as próprias canções, embora dê uma bela medida do que pode ser ouvido. “Sou fascinado por gravações caseiras de versões demo de compositores que gosto, Cobain, Macalé, Lennon, Michael Jackson. Minha primeira aquisição fonográfica consciente – com muitas aspas – foi Dangerous. A segunda, Mamonas. Os Mutantes e os desdobramentos de Rita Lee e Arnaldo Baptista foram irreversíveis junto com João Gilberto na adolescência; o Gilberto Gil da apresentação na USP e do Luminoso; Low de Bowie, a estranheza pop ali. Noel Rosa e Assis Valente, Duke Ellington, Nina Simone e todos os songbooks da Ella Fitzgerald, Djavan, Björk, Lupicínio, Radiohead, Super Diamono, Antena 1. Essa pergunta sempre evoca um palimpsesto perigoso, essa é uma lista hoje, só, e hoje também posso trocar com a diversidade da minha geração, o que certamente é o melhor de tudo.”
E já que o assunto é geração, pergunto sobre a influência desta cena carioca da última década, em constante reinvenção, tão presente no disco, e ele aponta para o selo Quintavant. “O conhecimento da cena musical carioca em torno da noite e do selo Quintavant me causou espanto: avanços intensos do free jazz ao ruído, sempre permeado por uma grave consciência minimalista e por uma ética técnica sem engessamento. O que é muito incrível, acompanhado por uma crítica forte e ao mesmo tempo generosa como a de Bernardo Oliveira. Algo que com certeza merece um aprofundamento histórico e cuja influência ainda não sabemos como medir, mas com certeza será profunda.”
Have We Met, o novo disco do alter ego de Dan Bejar, Destroyer, sairá no último dia deste mês – e ele mostra mais uma de suas canções, depois de apresentar “It Doesn’t Just Happen” e “Crimson Tide” no ano passado, criando uma boa atmosfera de expectativa para o novo disco. “Cue Synthesizer” mantém a atmosfera anos 80 dos dois primeiros singles, mas pesa a mão e soa ainda mais pop.









