Leveza abstrata

Theo Ceccato criou o Pah! quase que instantaneamente. Nome que inventou para os dias que juntava-se com outros amigos para tocar o que desse na telha, transformou-se numa performance sonora em sua primeira apresentação que aconteceu na curadoria que o Mamãe Bar fez no Teatro de Arena no ano passado, quando reuniu todos os amigos que pode para uma longa jam noise de improviso que crescia ao redor do ataque batiza o experimento. Em sua segunda apresentação, nesta terça-feira no Centro da Terra, ele optou pelo extremo oposto e ao reunir-se apenas com seu compadre de Enorme Perda de Tempo Teo Serson, preferiu trabalhar no modo ambient estendido mostrando dois momentos de improviso em câmera lenta, com cada um dos dois pinçando notas em instrumentos diferentes, com bases de ruído pré-gravadas (a primeira com o repetitivo gongo que os relógios japoneses marcam a hora cheia, que o autor da noite sampleou de um filme do Ozu). Theo tocava uma guitarra distorcida aberta em dois acordes diferentes, um para cada momento da noite, trabalhando-a mais como um elemento de textura do que de melodia, esta ficava toda com o piano do outro Teo, tateando notas aleatórios que por vezes soavam como o arpeggio de um acorde e noutras uma melodia com notas fantasmas. Medindo a duração das duas apresentações, um filme que o próprio Theo fez no quintal de casa com um celular e uma lanterna, deixava o fluir da noite fechado e hermético, o que era reforçado na forma como os dois apareciam no palco: o guitarrista sempre na penumbra, o pianista sob um holofote seco. Mesmo sem parecer ou soar claustrofóbico, os dois nos conduziram rumo a uma leveza abstrata tão sem rumo quanto um sonho – ou um pesadelo.

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Pah!: Competição de Cuspe à Distância

Nessa terça-feira, o Centro da Terra recebe a Competição de Cuspe à Distância proposta pelo projeto Pah! Idealizado por Theo Cecato, baterista das bandas Sophia Chablau & Uma Enorme Perda de Tempo, Pelados e Fernê, o Pah! é um projeto instantâneo que só teve uma única apresentação até agora, quando reuniu mais de uma dezena de músicos numa mesma performance de improviso livre. Nesta segunda apresentação, Theo convida seu companheiro de banda, o baixista e poeta Téo Serson, para visitar o outro extremo de seu projeto, buscando o efeito do silêncio entre as músicas enquanto um toca guitarra e o outro piano. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda no site do Centro da Terra.

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Barisbe nas cordas

Mais uma segunda-feira teleguiada por João Barisbe, que nos convidou a mais um capítulo de seu Turismo Inventado, em que nos convida a conhecer lugares imaginários através de suas próprias composições, a cada semana com novos arranjos. Desta vez foi o momento em que ele exercitou o naipe de cordas, convidando o sublime Quarteto Ibá (formado pelas violinistas Leticia Andrade e Mica Marcondes, pela violista Elisa Monteiro e pelo violoncelista Thiago Faria) para voltar às músicas que apresentou na semana passada, mas sem sequer subir no palco para regê-las, juntando-se ao grupo apenas para tocar seu saxofone, deixando claro seu papel de arranjador mais do que de regente . Além do quarteto, Barisbe também convidou dois músicos reincidentes da semana passada para mostrar suas próprias canções – primeiro a maravilhosa Thais Ribeiro, que trouxe seu acordeão para mostrar sua “Meu Velho” e Gabriel Milliet, que primeiro visitou “Jardim da Fantasia”, de Paulinho Pedra Azul, que ele conheceu na versão definitiva que Renato Teixeira gravou com Pena Branca e Xavantinho no disco ao vivo que gravaram em 1992 em Tatuí, e depois a inédita “Prefiro Infinito”, parceria com o próprio Barisbe, quando apresentou-a ao lado do quarteto tocando violão. A noite terminou como a anterior, quando Barisbe voltou ao palco com o sax para cantar – sem texto, só com a voz de seu instrumento – a épica “Cometa Javali”, a mesma com a qual encerrou a primeira apresentação e cujo verso central parece não apenas resumir a temática de sua temporada quanto o que pode ser feito a partir do trabalho com a arte em seu verso central, “imaginação e possibilidade”. Bravo!

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Estreito e solto

Festa boa que Valetim Frateschi fez no Centro da Terra nesta terça-feira quando aproveitou a véspera do lançamento de seu primeiro disco solo, batizado, como o espetáculo, de Estreito, e seu próprio aniversário para reunir todos que quisessem ver ao vivo o álbum que nem havia sido lançado. Ao cercar-se de uma banda absurdamente boa – Amanda Camargo na guitarra e teclados, Thiago Pucci no baixo, Nina Maia no teclado e vocais e Quico Dramma (da dupla Kim e Dramma) na bateria -, ele não contentou-se apenas em mostrar as músicas de seu novo disco, como trouxe músicas ainda mais novas e abriu espaço para seus companheiros de palco (além de si mesmo, que alternava entre a guitarra e o baixo synth) soltarem-se musicalmente em improvisos, o que reforçou ainda mais a maestria absurda de Amanda e o maravilhoso vocal de Nina Maia em vocalises encantadores, abrindo uma porta para o lado instrumental e para a dança que o disco em si parece só acenar, mas que no palco torna-se intensamente irresistível. Showzaço.

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Valentim Frateschi: Estreito

Um dos músicos mais ativos da nova cena paulista mostra seu primeiro espetáculo autoral nesta terça-feira no Centro da Terra, quando o baixista Valentim Frateschi apresenta seu primeiro disco solo, Estreito, antes do lançamento do álbum, que acontece nesta semana. No disco e no show ele assume a guitarra como seu instrumento e vem acompanhado de músicos com quem vem tocando há um tempo, como a cantora Nina Maia e o baterista Quico Dramma (da dupla Kim e Drama), além de contar com Amanda Camargo e Thiago Pucci no baixo. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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Imaginação e possibilidade

Soberba a primeira noite da obra em processo que João Barisbe está fazendo às segundas de setembro no Centro da Terra. Seu Turismo Inventado – título da temporada – é uma desculpa para que ele possa conduzir o público a essa mescla de música popular, erudita, jazz e pop, desconstruída em quatro apresentações que mostrarão um mesmo repertório dividido em diferentes naipes, de um mesmo conjunto musical. Na primeira noite, ele dedicou-se ao seu próprio território, o do sopro (pois João é saxofonista), reunindo Fernando Sagawa, Thais Ribeiro, Guizado, Filipe Nader e Gabriel Milliet entre metais e palhetas, todos ancorados pela cozinha precisa e jazzística que foi o encontro perfeito de Helena Cruz com Biel Basile, enquanto o próprio Barisbe ficava na regência de sua pequena orquestra. Como atração vocal da noite, ele convidou Loreta Colucci, que cantou uma canção própria, “Algo Grande Me Vê”, e outra do próprio maestro, “Cometa Javali”, cujo verso-chave, “imaginação e possibilidade”, parecia resumir o ímpeto da noite, que ainda teve um cântico do século 12 na abertura e uma versão de derreter para “Starman”, de David Bowie. Um primeiro capítulo deslumbrante para uma temporada que merece ser vista na íntegra.

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João Barisbe: Turismo Inventado

Maior prazer começar o mês de setembro com a temporada que o maestro saxofonista João Barisbe apresenta todas as segundas do mês, chamada de Turismo Inventado, em que convida o público a visitar paisagens sonoras entre a música pop e a música de concerto, visitando referências tão distintas quanto Rogério Duprat, Moacir Santos, David Axelrod e Quincy Jones. Ele apresentará a cada semana o mesmo repertório arranjado para diferentes formações, sempre ancorado por famílias de instrumentos distintas. Na primeira noite, no primeiro dia do mês, ele visita os sopros e convida Thais Ribeiro (flauta), Guizado (trompete), Filipe Nader (sax alto), Gabriel Milliet (sax tenor e flauta) e Fernando Sagawa (sax barítono), todos acompanhados por Helena Cruz (baixo) e Biel Basile (bateria), além de trazer Loreta Colucci como cantora convidada. Na segunda noite, dia 8, ele chama o Quarto Ibá (formado pelas violinistas Leticia Andrade e Mica Marcondes, pela violista Elisa Monteiro e pelo violoncelista Thiago Faria) e conta com Thais Ribeiro e Gabriel Milliet como vocalista. No dia 15, ele foca em percussão com Charles Tixier na bateria, Beto Angerosa nas percussões, Pedro Abujamra no piano e Arthur Decloedt no baixo, além de ter como cantores convidados Sophia Chablau e Pedro Pastoriz. Na última segunda da temporada, dia 22, ele reúne todos os 19 convidados no formato orquestra. Vai ser épico. Os espetáculos começam pontualmente sempre às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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Transe delicado

O encontro de Gabriel Milliet, Stephanie Borgani e Lucca Francisco no Centro da Terra nesta terça-feira consagrou a parceria que os três vêm trabalhando há dois anos, entrelaçando canções próprias, temas instrumentais e músicas de outros autores num longo transe delicado, quase meditativo, em que poucos instrumentos, tocados de forma minimalista, preenchem os espaços mínimos deixados pelo encontro das vozes dos três, quase sempre cantando em sincronia. Na apresentação desta terça, eles conseguiram chegar a um ponto de equilíbrio entre flauta, violão, guitarra, piano, sintetizador e efeitos que funcionou como uma base instrumental magnética para mantras de voz ou instrumentais que ainda passearam por “Ponta de Areia” (do Milton Nascimento), “Banana” (da Joyce) e “Cidade Nova” (do Edu Lobo).

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Gabriel Milliet + Lucca Francisco + Stephanie Borgani: Espaço Semelhante

Encerramos nesta terça-feira a programação de música de agosto no Centro da Terra quando recebemos uma apresentação formal de um projeto que vem sendo burilado por três cantores e musicistas a partir das composições próprias e alheias. O espetáculo Espaço Semelhante reúne Gabriel Milliet, Lucca Francisco e Stephanie Borgani visitando, de forma meditativa, lúdica e com aberturas para o improviso, canções em forma de transe, acompanhadas de poucos instrumentos, como guitarra, violão, flauta, piano e sintetizador, em arranjos minimalistas. O espetáculo começa sempre às 20h e os ingressos já estão à venda no site do Centro da Terra.

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Rita e o titã

Rita Oliva encerrou com chave de ouro a temporada Em Brisas bolada com seu nome artístico Papisa, em que recebeu diferentes convidados a cada segunda-feira deste mês. E o convidado da noite se materializou a partir de sua coragem, como ela comentou no meio da apresentação, ao chamar o titã Paulo Miklos para dividir o palco do Centro da Terra com ela, que ela não conhecia pessoalmente, abordado através de mensagens no Instagram. A cara de pau deu certo e os dois não só fizeram uma linda apresentação a dois – visitando o repertório um do outro sempre em dupla -, como passearam por canções alheias (passando por músicas de Tim Bernardes, Evinha, Sabotage e, claro, Titãs) e mostraram até músicas que compuseram juntos especialmente para esta ocasião. Trocando de instrumentos, passaram do baixo para a guitarra para o violão para o bandolim para o piano e para a flauta, além de contar com a participação do pernambucano Arquétipo Rafa, que havia tocado com Rita na semana passada, e voltou ao palco do teatro para encerrar a noite. Foi demais.

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