Transe guiado pelo Wilco

Domingo teve mais Tim Fest…, digo, C6Fest, com uma programação que confirma o festival como o melhor realizado em São Paulo, embora algumas considerações devam ser feitas (mais sobre isso mais tarde). Minha programação mais uma vez passou batido pelo genérico Cat Burns, que embora não fosse insuportável como Stephen Sanchez no dia anterior, parecia uma trilha sonora de rádio FM que toca no taxi sendo tocada ao vivo, e fui correndo para a tenda menor para acompanhar o arrebatamento coletivo que foi o show do Last Dinner Party, que reuniu o público mais jovem do festival conduzindo-o para uma catarse ao redor de uma versão feminina de rock progressivo, com Stevie Knicks e Kate Bush como principais referências musicais e estéticas.

Não é a minha praia, mas não é difícil admirar a empolgação das minas do palco, guiadas pelo carisma transcendental e mágico da vocalista Abigail Morris, ela mesma condutora de um ritual de puro delírio e entrega, que teve até cover de Blondie (“Call Me”) e encerrou com o hit “Nothing Matters”. Bom demais!

Depois do Last Dinner Party, o Wilco realizou outro ritual de catarse coletiva, embora para um público mais velho, masculino, roqueiro e essencialmente zona oeste de São Paulo, o que fez mudar bastante o perfil do C6Fest em relação à noite de sábado, em que o público era majoritariamente faria limer. E como nas outras vindas da banda liderada por Jeff Tweedy ao país, o show foi mais uma missa ao redor da obra destes sobreviventes dos anos 90 que mantém sua majestade indie principalmente por conta de shows como o deste domingo, em que comprimiram o show que normalmente ultrapassa as duas horas num compacto de uma hora e meia feito sob medida para os fãs brasileiros. “Por que a gente não mora aqui?”, perguntou Tweedy sempre gente boa com o público daqui, agora velho conhecido. Com ênfase nos discos da virada do milênio (embora apenas uma do meu favorito Summerteeth, a atordoante “Via Chicago”), Yankee Hotel Foxtrot e A Ghost is Born, a apresentação passou por todas as fases da banda, inclusive várias de discos mais recentes. Mas claro que o foco ficam em clássicos que ganham outras dimensões ao vivo, como equilíbrio de sussurro e esporro de “At Least That’s What You Said”, o astral de “Heavy Metal Drummer”, o transe de “Spiders (Kidsmoke)”, o conforto de “Jesus Etc.” e “I’m the Man Who Loves You” e a delicadeza de “I Am Trying to Break Your Heart” – sentimentos todos sintetizados numa unanimidade entre o público e minha música favorita da banda (ainda que por motivos sentimentais tortos), “Impossible Germany”, em que o guitarrista Nels Cline, esse filho bastardo do Neil Young com o Andy Gill, nos presenteia com seu solo clássico de mais de seis minutos, com trecho cantado pelo público (cantando solos feito um show do Iron Maiden!) e a finaleira em que a dinâmica de guitarras à Television do grupo vai para a estratosfera. Que momento! Que show!

Depois da sublimação espiritual via guitarras do Wilco, foi a vez de Nile Rodgers encerrar o C6Fest deste ano em grande estilo, desfilando um rosário invejável de hits que incluem não apenas sucessos de sua banda original (“Le Freak”, “Everybody Dance”, “Dance Dance Dance” e “I Want Your Love”, todas fuziladas na primeira sequência) como que gravou ao lado de Diana Ross, Sister Sledge, Madonna, Duran Duran, Daft Punk, Beyoncé e David Bowie. A nova formação do Chic, que agora chama-se Nile Rodgers & Chic, conta com um time de músicos de cair o queixo, a começar pelas vocalistas Kimberly Davis e Audrey Martells, o impressionante baixista Jerry Barnes e o carismático baterista Ralph Rolle (que cantou “Let’s Dance” da batera!), estrelas de uma big band irrepreensível. No centro do bailão, Rodgers sabe puxar os holofotes para si de uma forma menos egoísta que um tradicional band leader e conta histórias enquanto rege a plateia e humilha na guitarra, mostrando como a munheca mole prima da de Jorge Ben conduz o ritmo funky sem dificuldade, sempre na manha, na maciota. E por mais que tocasse basicamente hits superlativos (quem esperava “Cuff It” seguida de duas do Daft Punk? Ou um minimedley de Madonna antes de “Modern Love”?), atingiu a unanimidade em momentos-chave, como quando tocou “Get Lucky” sem dar tempo do público respirar da música da Beyoncé, quando mostrou que “Lady (Hear Me Tonight)” do Modjo descendia de “Soup for One” do Chic ou quando puxou “Good Times” para encerrar a noite, não sem antes emendar ELE MESMO o vocal de “Rapper’s Delight”, o primeiro rap gravado na história. O telão dava um ar de festa de formatura ou de casamento, ainda mais quando celebrou a vida do eterno parceiro Bernard Edwards ao tocar “Thinking of You”, das Sisters Sledge, em homenagem ao amigo baixista, enquanto um power point de fotos ia passando no telão enorme do Auditório Ibirapuera. Lavou a alma de todos os presentes – e quem foi herói continuou a dançar no absurdo set do Marky, que veio em seguida…

E conversando com várias pessoas após o show do Nile Rodgers e ouvindo Marky – o melhor DJ do Brasil, sem dúvida – fazendo o pau comer numa pista delirando entre Prince e Donna Summer, havia quase um consenso sobre a escolha do festival de fazer sua noite mais dançante num domingo, em vez de aproveitar o groove pra noite de sábado render ainda mais – e deixar o Air pro domingo, pra todo mundo dormir flutuando… São pequenas decisões que acabam por ferir a reputação que o C6Fest vem consolidando como o melhor festival em São Paulo (ainda mais depois que o Primavera Sound não realizou sua edição por aqui no ano passado – será que vai ter esse ano?). Outras incluem a insistência num número exagerado de atrações por dia (algumas completamente insípidas, quando não insuportáveis, deixando artistas brasileiros no sovaco do evento), que faz muitos sacrificar algumas atrações caso queiram ver outras – seja por ser um show muito cedo ou por encavalar atrações umas com as outras desnecessariamente. O tempo que levava para se ir de um palco para o outro (justificável devido à eterna reforma da marquise do Ibirapuera) ou a insistência de deixar árvores no meio da visão das pessoas que foram assistir a um show no palco menor ainda são problemas a serem contornados. Mas o principal defeito do festival é um que tem atacado o estilo de vida em São Paulo como um todo: o preço. Não bastasse ser bancado por um banco, o festival faz questão de esfregar na cara que não é pra qualquer um, seja com preços absurdos mesmo nos primeiros lotes, seja no preço dos itens dentro do lugar, como se usasse a arte e a música – e o velho papo furado do bom gosto – para separar as pessoas em duas castas: as que compram ingressos sem ver o preço e as que penam para juntar dinheiro pra ver seus artistas favoritos, quando conseguem. Algo ainda mais gritante quando o evento coincidiu com a Virada Cultural de São Paulo, com shows gratuitos em espaços públicos. Seria interessante se o festival pudesse ser mais inclusivo para não se tornar apenas um nicho para endinheirados, como parecia ser o público da primeira noite – gente, como de praxe, não está nem aí pra música, nem pra nada, a não ser para dizer que estava lá. Vamos lá C6Fest, não é porque o festival é bom que não pode melhorar…

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Sonho guiado pelo Air

Cheguei tarde ontem no C6 Fest, mas passei batido pelo Stephen Sanchez (até tentei, mas soou tão genérico e sem graça que a única vontade que me deu foi sair) pra chegar a tempo do A.G. Cook, que fez um set absurdo, selecionando músicas próprias com músicas que produziu e remixou, misturando Charli XCX (tinha que ter, né? E ele tocou “Club Classics” e “Mean Girls”, que originalmente era uma demo pro disco dele do ano passado) com drum’n’bass, distorcendo tempos e pitches numa pequena aula de hyperpop para, nos minutos finais, sair de trás do set e ir para o microfone, derretendo-se em uma balada emotiva cheia de distorção vocal e entrega. Foi frenético – e bonito.

Depois corri pra pegar a bênção da matriarca Chrissie Hynde, que trouxe seus Pretenders mais uma vez para o Brasil, sete anos depois de sua última vinda, quando abriram o show para o Phil Collins no estádio do Palmeiras em 2018, em sua terceira vinda para o país (ela também tocou aqui em 1988 e 2004, quando tocou com Moreno Veloso, Kassin e Domenico Lancelotti e passou uma temporada morando aqui, entre Rio de Janeiro e São Paulo).

Nesta quarta vinda, trouxe uma banda completamente nova, que inclusive dispensava o único Pretender original, o baterista Martin Chambers, substituído pelo jovem Rob Walbourne. O quarteto, completo pelo baixista Dave Page e pelo guitar hero James Walbourne, tocou pouco mais de uma hora no festival e é claro que o foco estava em Chrissie, carisma tão intacto quanto sua voz, que fez o que se espera de um show de rock para uma plateia faria limer (a maior parte do público do festival bancado por um banco, por motivo$ óbvio$) que não parava de conversar o show inteiro, reagindo apenas quando ela tocou os hits: as imortais “Back on the Chain Gang”, “Don’t Get Me Wrong” e “Middle of the Road” (minha favorita, quando puxou a gaita do bolso após a contagem no miolo da música) e a balada “I’ll Stand by You”. “Amo essa cidade, sou paulistana”, brincou Hynde, 73 anos muitíssimos bem vividos e com uma disposição e humor invejáveis. Pecou apenas por não tocar outro clássico (“Brass in Pocket”) e por não tocar sua versão para “Forever Young”, de Bob Dylan (número frequente em seus shows) exatamente no dia em que o mestre completava 84 anos.

Perdi o Gossip (eu sei, eu sei, todo mundo falou que foi catártico, mas culpa do festival, que espremeu duas ótimas atrações quase no mesmo horário) porque queria ver o Moon Safari que o Air tocou na íntegra desde o começo do show, principalmente porque minha música favorita do disco é sua longa e lenta introdução “La Femme d’Argent”. E foi tão bonito que Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel conseguiram manter o aspecto camerístico do disco – que vinha sendo apresentado em salas de concerto nos shows que deram início à comemoração dos 25 anos do álbum, no ano passado – para um público bem maior – e mais interessado que o dos Pretenders. A atmosfera ambient e o groove onírico do disco contaminou a audiência, hipnotizada não apenas pela música mas também pelo pontual telão gigantesco acima da banda, que tocava na parte de trás do Auditório do Parque Ibirapuera, que já é uma assinatura visual do evento. A dupla francesa – que agradeceu pela primeira vez em inglês, num ato falho logo corrigido para os “merci” – preferiu ela mesma assumir os vocais das canções do disco de 1997, inclusive de “All I Need” e “You Make It Easy” (cantadas originalmente pela autora das letras, a norte-americana Beth Hirsch), também cantados pelo baterista, o ótimo Louis Delorme, que completava a anda como um trio, deixando Godin dividindo-se entre teclados, synth, baixo e violão enquanto Dunckel ficava entre as teclas do piano, do synth e do teclado elétrico. O show foi um transe do início ao fim, as dez músicas do Moon Safari repetidas como uma sinfonia e funcionando também como isca para a segunda parte do show, um bis de quase meia hora em que visitaram músicas de seus outros discos, não tão clássicos, mas que mostravam doçura e periculosidade aprofundadas para além do disco de estreia, com números frenéticos (como “Run” e “Don’t Be Light”) e acolhedores (como “Cherry Blossom Girl” e a eterna “Playground Love”, que eles preferiram não cantar, em vez de assumir os vocais que, na música original, são do vocalista do Phoenix, Thomas Mars). Space rock com lounge, krautrock com música eletrônica e a sensação de ser o mais perto de um show do Pink Floyd que qualquer um presente ali poderia sentir. Um show de sonho, que foi além da promessa cumprida e que me impediu de continuar com o festival na parte eletrônica da festa (que, além de estar lotada com mais faria limers, tocava um pop genérico que estava estragando o retrogosto deixado pelo Air). Mas domingo tem mais C6 e é bom estar bem pro dia seguinte – e atenção que o Wilco hoje toca no palco menor, que pode lotar e deixar gente de fora, por isso não dê mole).

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Os novos horários do C6 Fest

Eis os novos horários do C6 Fest desse ano. Deu uma melhorada, deu pra ver que valeu a pena falar pelas redes sociais e deu até pra ver a boa intenção nos horários do sábado, mas o Gossip ainda ficou espremido entre os Pretenders e o Air…

Veja abaixo:  

C6Fest 2024, entre o neo soul e o velho indie


Fotos: Barbara Monfrinato

Fim de semana intenso graças à segunda edição do C6Fest, que mais uma vez aconteceu no parque do Ibirapuera, consertando um problema da edição anterior, quando não era possível circular entre os diferentes palcos do festival. O problema foi que, devido à reforma que está sendo feita na marquise do palco, o percurso entre os dois palcos que antes era direto agora exigia que você desse uma longa volta para chegar do outro lado do evento. E assim o festival dividiu-se entre prós e contras: uma boa escalação com gente de todo mundo mas poucos artistas brasileiros (que sempre são deixados naqueles horários ingratos); uma boa estrutura mas com pouca assistência ao público (sinalização? Área de informações? Água gratuita?) e aquele ingresso salgado que se por um lado nos faz comemorar a facilidade de chegar perto do palco, por outro nos lembra que o festival em si é uma enorme área VIP. Ainda houve problemas com a capacidade da tenda ser menor que a do palco principal, o que fez muita gente ficar de fora do set dos 2ManyDJs. Mas as apresentações compensaram esses perrengues (mesmo divididas entre palcos preto – puxando pro neo soul – e branco – puxando pro indie velho): a vocalista do Xx Romy derreteu o público com seu house sofisticado, a cantora Raye mostrou que tem a faca e o queijo na mão pra se tornar uma das próximas grandes cantoras (presença de palco, liderança nata, carisma impecável e que voz!), Jaloo e Gaby Amarantos fizeram bonito em show conjunto, Ayra Starr eletriziou o público e Paris Texas se jogou na galera, entre outras boas apresentações. Mas o filé do fim de semana pode ser sintetizado em cinco shows: Soft Cell, 2ManyDJs, Fausto Fawcett, Cat Power e Pavement.

Leia mais abaixo:  

Eis a escalação completa do C6Fest 2024

Cat Power canta Dylan, 2ManyDJs, Squid, Pavement, Jaloo com Gaby Amarantos, Soft Cell, Black Pumas, Jair Naves, Young Fathers, Cimafunk, Romy do XX, Raye, Pista Quente, tributo a Cassiano dirigido por Ganjaman, Ayra Star, Jihye Lee Orchestra, Charles Lloyd Quartet, Chief Adjuah, Daniel Caesar, Daniel Camargo e Pedro Martins, Fausto Fawcett, Dinner Party do Kamasi Washington, Jakob Bro Trio, Young Fathers, Paris Texas, David Morales, Valentina Luz e DJ Memê. Eis o elenco da edição de 2024 do C6fest. Leia a escalação completa abaixo:  

Pavement no Brasil em 2024!

A Monica Bergamo antecipou a notícia que todos queríamos ouvir! Pavement estará entre nós no ano que vem – é a primeira atração confirmada da segunda edição do C6, que acontece nos dias 18 e 19 de maio de 2024. Que maravilha!

C6Fest já marcou a data de sua edição de 2024

O banco dono do melhor festival de São Paulo desse ano até agora já mandou avisar que a edição de 2024 tá com data marcada. A primeira edição do C6Fest esmerilhou bonito ao trazer atrações tão diversas quanto Weyes Blood, Kraftwerk, Jon Batiste, Samara Joy e Tim Bernardes cantando Gal (mas pecou por separar públicos e palcos uns dos outros com ingressos carésimos) acontecerá nos dias 18 e 19 de maio do ano que vem, marcando uma redução de um dia em relação à versão deste ano. O anúncio também não menciona se haverá edição no Rio de Janeiro, já que o famigerado “save the date” (quando vamos voltar a falar português?) só mencionava São Paulo, mas também não sabemos se seguirá no Ibirapuera. Não há nenhuma especulação sobre atrações, mas entre os nomes que acho que tem a ver com o festival que queria que viessem para cá cogito Kali Uchis, Blur (só pra dar uma cutucada no Primavera haha), Neil Young, Boygenius (nem curto, mas o show deve ser massa) e Aphex Twin (com Arca, de repente?).

CFest: Balanço final

O C6Fest terminou neste domingo estabelecendo um novo padrão de realizar festivais de música em São Paulo. Conseguiu provar que é possível fazer um bom festival com boa estrutura e curadoria equilibrando-se entre o comercial e o pouco previsível trazendo tanto artistas novos e relevantes quanto nomes consagrados – e, principalmente, dissociar a ideia de festival de música estar atrelada a dia de perrengue, como o que fizeram os festivais realizados em São Paulo na última década. Obviamente a questão do preço extorsivo do ingresso é um ponto central nos poucos contras do evento: não bastasse ser caro pra cacete, só era permitido que se frequentasse um dos três palcos em que se realizavam os shows, algo que é uma irrealidade longe da vida de qualquer fã de música que não nasceu em berço de ouro. Eu mesmo já estava conformado em não ir caso não estivesse credenciado. Mas falo disso abaixo.  

C6Fest: Dia 2 – agora sim!

Agora sim o C6Fest disse a que veio. Depois de um primeiro dia irregular (pouco público, atrações que não empolgaram tanto e pouca circulação entre o público de diferentes palcos, o que não valorizava a ótima estrutura do evento), o festival feito pelo time que criou o Free Jazz e o Tim Festival em outras aeons mostrou não só que está disposto a entrar de vez no mapa cultural de São Paulo como superou quaisquer outros festivais realizados por aqui desde os tempos do saudoso Planeta Terra. A utilização dos espaços do Parque Ibirapuera e um elenco ousado e pouco trivial transformou o festival em uma experiência única, que talvez só pecasse pela falta de sinalização entre o Auditório do parque e a área comum em que se localizavam outros dois palcos, maior distância a ser percorrida pelo público – ou será que monitores humanos usando lâmpadas e megafones para apontar o caminho são mais eficazes do que placas bem posicionadas?

Leia o resto do texto e assista aos vídeos abaixo:  

C6Fest: Dia 1

O grande show do primeiro dia do festival C6, embora tenha reunido mais gente pra ver a Arlo Parks e Christine & The Queens, foi do grupo inglês Dry Cleaning. A mistura da estética pós-punk com timbres dos anos 90 e o vocal fantasmagórico da dama de gelo Florence Shaw mostra que o rock pode continuar se reinventando mesmo usando apenas elementos conhecidos sem que isso torne-se repetitivo ou apenas referencial. O único problema foi que o grupo foi escalado para tocar às seis da tarde numa sexta-feira, o que fez muita gente perder boa parte do show (além do primeiro show da noite, da Xênia França), isso quem chegou a tempo. Logo em seguida Arlo Parks fez o show mais esperado do dia, mas para mim ficou aquém da expectativa. Desenvolta e carismática (e vestindo uma camiseta do Bob Dylan), ela estava claramente exultante por estar fazendo seu primeiro show no Brasil, mas a estética minimalista e intimista de seu disco ficou em segundo plano, fazendo seu som soar mais pop e mais acessível – talvez este seja o rumo de seu segundo disco, My Soft Machine, que será lançado em uma semana. Mas isso deixou a apresentação com um tom meio monocórdico e repetitivo, mesmo que o público estivesse tão animado quanto ela. Só o show que encerrou a apresentação naquele palco, do grupo francês Christine & The Queens, que não bateu. A banda era boa e a vocalista tinha presença de palco, mas o que não era apenas caricato tornava-se constrangedor (como quando ela tocou “Under The Bridge”, do Red Hot Chili Peppers) e fez com que boa parte do público tenha deixado o show muito antes do final. Não pude assistir a nenhum show no Auditório do Ibirapuera porque não consegui credenciamento para este palco, então só posso supor que a homenagem ao Zuza Homem de Mello tenha sido bonita. E das vezes que passei no palco dos DJs, a pista estava quase literalmente vazia, consequência de um dos principais defeitos do evento: o fato de que o público só poderia comparecer a palcos específicos caso tivesse comprado ingresso para este – ou seja, se as pessoas que saíram no decorrer do último show da noite pudesse ir pra pista de dança, certamente esta teria enchido e talvez deixado quem saiu frustrado um pouco mais animado com o fim da noite – em vez de ter a única opção de ir embora. E amanhã tem mais…

Assista aqui.