Inferninho Trabalho Sujo apresenta Yma

E a felicidade de ter ninguém menos que Yma como atração da edição desta semana do Inferninho Trabalho Sujo? Um dos grandes nomes da cena independente paulistana, a cantora e compositora está aos poucos burilando o que deverá ser seu segundo disco solo, mas mostra músicas do excelente Par de Olhos e outras novidades nesta noite de quinta-feira, que tem entrada livre até às 21h. O show deve começar pelas 22h e logo após a apresentação da Yma eu e a Fran atacamos uma saraivada de hits para não deixar ninguém parado! O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, na meiota de Pinheiros, e a noite vai longe… Vamos?

Sobre a música preta no Brasil

A aula nem havia começado e Bernardo Oliveira já erguia as sobrancelhas ao olhar para o material que havia preparado enquanto os alunos entravam na sala: “Matias, não vai dar tempo!”, dizia antes de começar as três horas sem intervalo que havia preparado sobre música negra brasileira dentro do curso História Crítica da Música Brasileira, que estou coordenando no Sesc Pinheiros. Não deu, mas deu: Bernardo nos conduziu rumo a jornada que comparava as culturas de diferentes povos africanos e seu impacto em nossa história – e não apenas cultural. Falando sobre ciência, técnica e tecnologia, mostrou tradições que atravessam séculos mesmo vivendo sob violenta opressão e mostrando como elas moldam o próprio conceito de identidade cultural brasileira. E tome doses pesadas de Clementina de Jesus com audições de rituais de celebração de exu por todo o país, citações de José Ramos Tinhorão, o verdadeiro modernismo do Estácio de Sá, o papel político dos terreiros das tias que abrigavam o samba carioca, loas tecida às transformações em Mario de Andrade e como o termo “funk” está sendo descartado para explicitar a raiz africana deste gênero urbano brasileiro, sendo referido atualmente como “macumbinha”. Bernardo poderia falar mais ainda o dobro de tempo porque assunto e eloquência não faltavam, mas conseguiu condensar as principais problemáticas relacionadas à música negra brasileira, principalmente no que diz respeito ao que pode ser considerado brasileiro ou não. “Racionais é música negra brasileira? Eu acho que é, tem gente que acha que não é”, provocou.

Três horas sem parar só pra começar

Três horas falando sem parar sobre identidade cultural brasileira, cultura e música no século 20, apagamentos e consensos fabricados, “linha evolutiva da MPB”, o próprio conceito de MPB e como isso não tem nada a ver (e ao mesmo tempo, paradoxalmente, tudo a ver) com o conceito de música boa ou música ruim. Assim foi a primeira aula do curso História Crítica da Música Brasileira, que começou neste sábado, no Sesc Pinheiros. O curso ainda tem algumas vagas em aberto (link na bio, povo do céu) e segue nos próximos cinco sábados, sempre às 16h30. A próxima aula terá a ilustre presença do mister Bernardo Oliveira, que conduzirá a conversa sobre música preta brasileira.

Desaniversário | 7.10.2023

Pouca festa? Pois neste sábado tem mais, quando eu, Camila e Clarice baixamos no Bubu com a benção do mister Claudinho pra mais um Desaniversário: você sabe, nossa festa para adultos que começa cedo e acaba cedo pra todo mundo dançar até não aguentar mais e ainda ter disposição para encarar domingo. Prepare as solas dos pés e os quadris porque é dia de dançar sem parar!

Do nada, um saxofonista

Tem coisas que só no Inferninho Trabalho Sujo… No meio do showzaço que a Grand Bazaar fez nessa sexta-feira do Picles, alguém da plateia chega nos saxofonistas João Barisbe e Fernando Sagawa. Conversa vai, conversa vem, o sujeito parece se entender com os dois e sai da frente do palco. Logo depois surge com um case, puxa um sax de dentro e rasga um solo no meio da folia balcânica do sexteto, que dominava a plateia sem a menor dificuldade, fazendo todo mundo agachar e pular, terminando a apresentação botando o público do Picles numa roda que tomava conta de todo o lugar. Depois da banda, eu e a Fran botamos a casa abaixo, como de praxe (ainda mais quando a festa cai na sexta, afff). E fica aqui o registro das ideias que brotaram no camarim: o show Grand Bazaar toca Skank (me chama que eu dirijo hahahah) e o bloco carnavalesco Grand Blooco. Pra ninguém dizer que esqueceu, hein.

Assista aqui:  

Inferninho Trabalho Sujo apresenta Grand Bazaar

Enquanto o tempo não se decide entre chuva, calorão ou frio, uma coisa a gente garante: a temperatura no Inferninho Trabalho Sujo é sempre quente! E em mais uma edição na sexta-feira, eu e Francesca Ribeiro estamos dispostos a fazer todo mundo se acabar de dançar ao chamado da renascença beyonceística, desbravando todas as fronteiras musicais que façam as pessoas sair do chão. Mas antes disso temos o prazer de começar a noite com o galope desenfreado do Grand Bazaar, hidra de multicabeças que também não deixa ninguém parado, seja canalizando energias dançantes do leste europeu ou do bom e velho rock’n’roll. E você já sabe: chegando antes das 21h não paga para entrar! O Picles fica no número 1838 da Cardeal Arcoverde, ali no coração de Pinheiros, e a noite sempre vai atéééé altas. Vamos?

História Crítica da Música Brasileira no Sesc Pinheiros

E outubro chegou chegando: a partir do próximo sábado começo mais uma série de aulas do curso História Crítica da Música Brasileira, em que repasso nosso histórico musical do último século – o da música gravada – para mostrar como os cânones e as linhas narrativas que constroem o que chamamos de música brasileira foram criadas. Desta vez o curso acontece no Sesc Pinheiros, sempre aos sábados, a partir das 16h30, e mais uma vez posso contar com a presença dos mesmos queridos intelectuais que ajudaram a tornar a primeira edição tão especial: Bernardo Oliveira, Pérola Mathias, Rodrigo Faour e Rodrigo Caçapa, cada um deles abordando um critério específico da nossa história musical, cultural, social e política. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas neste link. Abaixo, a descrição completa do curso:  

“O céu retirado como livro que se enrola”

Ave Waly! Celebramos a obra deste monstro da poesia brasileira de forma intensa nesta quarta-feira, quando apresentamos o espetáculo de som e poesia Waly Salomão: Dito e Lido, em que Joca Reiners Terron, Julia de Carvalho Hansen e Natasha Felix despejaram a verborragia sensível e forte do poeta baiano sobre camadas elétricas de textura e melodia cogitadas pelo encontro das guitarras e pedais de Jadsa e Guilherme Held. Cada poeta teve seu bloco, pontuado pelas canções que eternizaram as letras de Waly apresentadas de forma desconstruída: Julia costurou quatro poemas (entre estes uma inspirada e ritmada versão de “Mãe dos Filhos Peixes”) com os versos de “Mal Secreto” para depois, ao lado de Natasha, perambular pelos versos e notas de “Vapor Barato”, logo depois da cascata de prosa poética despejada por Joca, ao ler um trecho de “Self Portrait”. Natasha emendou “Babilaque” e “Balada de um Vagabundo” para arrematar tudo com “Negra Melodia”, deixando, nas três, sua musicalidade nascer entre as palavras. Uma noite inesquecível.

Assista aqui:  

Como Assim? | 30.9.2023

Os amigos já sabem faz tempo, os conhecidos souberam aos poucos mas ainda não entenderam e os seguidores já foram avisados: estou tocando numa banda com três compadres e o primeiro show acontece neste sábado. Toco violão desde moleque e já tive bandas de farra com amigos em diferentes momentos da vida, mas parei com isso nos idos de 1995, antes de completar vinte anos, mas segui tocando sozinho em casa. Até que durante o período da pandemia comentei com o compadre Pablo Miyazawa que estava tirando uma hora por dia pra matar o tempo tocando violãoe, naquele segundo semestre de 2020, quando descobríamos que era possível encontrar aos poucos algumas pessoas seguindo os famigerados protocolos de segurança, ele me chamou para tocarmos juntos. Como nós dois moramos sozinhos e não havia muito o que fazer naquela época, transformamos nossos encontros em possíveis baladas a dois, quando passávamos domingos tocando, bebendo e falando besteira. No ano seguinte Pablo puxou dois outros compadres pra brincadeira – Mateus Potumati para a bateria e Carlão Freitas para o baixo -, ele mesmo assumiu uma das guitarras e me passou a segunda, me incumbindo também de cantar. Todos jornalistas com tempo de sobra, um deles dono de um estúdio que estava parado por conta da pandemia, e logo estávamos ensaiando regularmente, nos encontrando para passar o tempo tocando músicas que gostamos. Quando comecei a comentar com algumas pessoas o que estávamos fazendo, a reação de algumas delas acabou batizando a banda e o Como Assim? estreia neste sábado, último dia de setembro de 2023, três anos depois de começar a rascunhar uns “Harvest Moon” com Tears for Fears no apartamento do Pablo. De lá pra cá mudamos as músicas que tocamos, a banda conseguiu parar em pé e faremos nossa primeira apresentação ao vivo abrindo para a banda Earl Greys, que o Vini – que também trabalha no Aurora – tem ao lado do Martim e do Aloízo, dedicada a tocar música pop britânica. Nosso show de estreia acontece no próprio estúdio Aurora, que fica no número 503 da Rua João Moura, ali em Pinheiros. O estúdio abre às 20h e não cabe muita gente, por isso o lance é chegar cedo ou comprar ingresso com antecedência pra ver o que a gente tá tocando… O flyer tá aí embaixo:  

Bruxaria noise

Mais um Inferninho Trabalho Sujo que deixou o Picles intenso, dessa vez com jorros de energia elétrica capturados por duas bandas que mal têm registros fonográficos e puxadas por vocalistas endiabradas. A noite começou com a força do Fernê, grupo que conta com dois Pelados (o baterista Theo Cecato e a vocalista Manu Julian) e um Chico Bernardes em sua formação, cada um deles mostrando facetas musicais bem diferentes das que são mais conhecidas. A banda é completa com a guitarra noise de Max Huszar e o baixo de Tom Caffé, passeou por músicas próprias e versões personalíssimas para “Terra” (Caetano Veloso) e “Hunter” (Björk) e é impressionante como Manu torna-se outra vocalista com essa formação, completamente entregue ao palco e deixando sua voz voar solta. Logo depois foi a vez do quinteto Madrugada solapar o público com sua parede de krautrock improvisado, com os irmãos Dardenne (Yann na bateria e Otto no baixo), puxando bases hipnóticas e pesadas desta vez acompanhadas de um novo integrante, o percussionista Thalin, que também toca na Dupla 02, nos Fonsecas e no Eiras e Beiras, e deu um tempero especial ao molho dos irmãos. À frente, dois dos donos do Porta (o guitarrista Raphael Carapia e a tecladista e vocalista Paula Rebellato) soltam os cachorros do barulho em cima do público, Paula especialmente catártica, conduzindo a pequena massa com seus gritos dilacerantes, efeitos sonoros entre o terror e o pesadelo e o carisma enfeitiçado de sempre. Depois desse choque de som, eu e Fran seguimos à noite quase sem fôlego, mas lá pelas duas da manhã a pista estava pegando fogo! E a próxima edição é na sexta que vem, hein!

Assista aqui: