A economia de Taylor Swift
Escrevi sobre o impacto da atual turnê de Taylor Swift na economia norte-americana em mais uma colaboração para o site da CNN Brasil e aproveitei para conversar com gente do mercado de shows sobre como atrações internacionais – inclusive a vinda da própria Taylor, que estará entre nós no fim deste mês – mexem na economia do Brasil.
Leia abaixo:
Taylor Swift vai além da música e impacta economia dos EUA e do Brasil
Como a The Eras Tour, que passa pelo Brasil neste mês de novembro, já virou filme e deve se tornar a turnê mais lucrativa da história
No final de outubro, Taylor Swift lançou a reedição de seu disco de 2014, batizado com seu ano de nascimento (1989), álbum considerado um marco por colocar a antiga menina prodígio da country music na arena do pop com P maiúsculo.
A partir daquele disco, Taylor começa uma escalada rumo ao topo do pop que atingiu mais um marco no mesmo dia do lançamento do disco, quando tornou-se pública a informação que, graças à turnê The Eras, que começou em março deste ano e vai até novembro do ano que vem, ela tornou-se uma das poucas estrelas da música pop a ter o título de bilionária.
Mais do que isso, a própria turnê atual, que passa pelo Brasil no final de novembro (17, 18 e 19 no Rio de Janeiro e 24, 25 e 26 em São Paulo), já é a segunda turnê mais rentável da história e ela é a artista mulher que mais ganhou dinheiro em uma única excursão, que só agora começa sua fase internacional.
Depois de mais de cinquenta datas circulando nos Estados Unidos, ela começa a viajar com o show pela América Latina, Oceania, Ásia e Europa e a expectativa é que os shows ultrapassem a marca do faturamento de US$ 1 bilhão em março de 2024.
Quando isso acontecer, Taylor Swift estará no topo do mundo: a turnê mais rentável da história foi a despedida de Elton John, Farewell Yellow Brick Road, que durou cinco anos e 330 apresentações ao vivo, faturando 939 milhões de dólares. O trono bilionário já espera por Taylor.
O sucesso da turnê de Taylor Swift mexeu com a economia dos Estados Unidos, segundo relatório do próprio Banco Central norte-americano, que associou a alta na indústria do turismo (tanto local quanto internacional) às datas que a popstar passeou na parte da excursão realizada no país. “Taylor Swift é um fenômeno”, explica o jornalista especializado em shows internacionais José Norberto Flesch, “na Filadélfia, seus shows aumentaram as receitas dos hotéis pela primeira vez desde o início da pandemia”. Foi exatamente este tipo de impacto que fizeram seus shows mexer no PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA.
O jornalista acredita que esse fenômeno se repita na passagem de Taylor Swift pelo Brasil. “Ainda não vi números referentes ao efeito da turnê passar por São Paulo e Rio de Janeiro, mas com certeza que as prefeituras das duas cidades estão super contentes com o fluxo de turistas e as vendas durante o período dos shows da cantora. E você percebe que todo esse mercado de serviços e consumo acabou sendo privilegiado por um período específico, em 2023, que vai de setembro, com o festival The Town, até dezembro, com a vinda de Paul McCartney. Quatro meses com a economia também muito bem alimentada pelo mercado de shows internacionais.”
“Taylor Swift é o exemplo mais forte dentro de uma onda de shows”, continua Flesch, citando outros nomes como RBD, Red Hot Chili Peppers, Paul McCartney, Roger Waters, Evanescence e os festivais The Town e Primavera Sound. “Se você reparar, na agenda de shows internacionais de novembro, em São Paulo, há apenas três dias em que não há um show gringo de enorme ou grande relevância. São 12 shows importantes em um período de 15 dias!”
Pepeu Correa, CEO da empresa 30e, que realiza os festivais Mita, GPWeek e Ultra e está trazendo para o Brasil nomes como Roger Waters e Paul McCartney, cita Beyoncé como outro exemplo do impacto dos shows na economia. “A passagem de sua tour por Estocolmo teria acrescentado entre 0,2 e 0,3 pontos percentuais à taxa de inflação da Suécia”, compara e, logo em seguida analisa a situação brasileira.
Impacto no Brasil
“Quando trazemos para a realidade brasileira, podemos pensar em como essas turnês impactam no mercado hoteleiro, gastronômico e também na geração de empregos”, continua o executivo. “A SPturis mapeou 202 grandes eventos no segundo semestre de 2023 em São Paulo, entre shows, festivais, conferências e esporte, e calcula-se que eles receberão 6,5 milhões de participantes. O impacto na economia é enorme”, conclui.
Não que isso seja novidade neste mercado. “No final dos anos 60, os Beatles significavam 10% da movimentação financeira da Inglaterra”, emenda o executivo Paulo Baron, da empresa Top Link Music, que já trouxe para o Brasil nomes como Bruce Dickinson, Santana, Anthrax, Bon Jovi e Chuck Berry, entre outros. “Porque nós movimentamos o turismo, hotéis, gastronomia e toda essa movimentação faz que essa economia que roda em torno dos shows seja enorme: passagens de avião, transporte, fora os impostos que o estado ou cidade recebem por essa movimentação. Em um momento que se passou em uma crise pós-pandêmica, todas essas entradas financeiras se tornam uma fonte de renda impressionante para o Estado.”
E a turnê não para nos shows, como quando Swift a lançou nos cinemas, neste mês. Negociando diretamente com a rede de cinemas AMC sem ter nenhum estúdio de Hollywood como intermediário, o filme estreou em cinemas do mundo inteiro e já faturou mais de 200 milhões em bilheteria. O filme chega ao Brasil neste fim de semana, para aquecer a expectativa pela vinda de Taylor para o Brasil e ajuda a encorpar a fortuna da popstar. E ela não é a única a fazer isso: Beyoncé acaba de anunciar que sua turnê também vai se transformar em um filme, chamado de Renaissance: A Film by Beyoncé.
Dos palcos para os cinemas
O aspecto visual é imprescindível nas grandes turnês atuais, mesmo porque parte dessa movimentação financeira também passa por posts nas redes sociais registrados e publicados por fãs, celebridades e influenciadores.
Mas não é novidade nesse mercado, como lembra Baron, citando Elvis Presley (em seus filmes) e Ozzy Osbourne (com o seriado “The Osbournes”) como artistas que já eram grande e cresceram ainda mais com suas versões audiovisuais.
E lembra que entre as décadas de 1980 e 1990, vários artistas considerados clássicos atualmente se tornaram clássicos justamente por terem lançado filmes: “Agora também, com esse surgimento tão forte das distribuidoras de como Amazon, Netflix e entre outras tantas que necessitam de produtos e isso tornou-se mais propenso justamente a termos filmes e documentários musicais. É uma renda extra para o artista e o perpetua também.”
“Hoje, consumir música não é mais comprar um disco ou ir a um show, mas toda a experiência que pode ser gerada a partir disso – antes, durante e depois da apresentação”, explica Pepeu, falando que todo artista atualmente conta com uma equipe de vídeo em seus shows.
“Nesse ano, estamos fazendo a turnê Titãs Encontro, que reúne a formação clássica da banda, e temos uma equipe de audiovisual enorme acompanhando os shows”, conta, sem descartar a possibilidade de levar os Titãs para o cinema.
“Com certeza é um novo filão”, arremata Flesch. “O filme da Taylor Swift dominou 73% da bilheteria dos cinemas dos Estados Unidos no fim de semana de estreia e faturou US$ 96 milhões na abertura. Na semana seguinte, rendeu mais US$ 31 milhões, além de bater o novo do Scorsese, que era um um dos filmes mais esperados do ano.”
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